Ignácio José de Carvalho

Ignácio José de Carvalho nasceu no dia 17 de julho de 1847 no Município de Quixeramobim, que está localizado no Sertão Central do Estado do Ceará, distante 203 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Joaquim Pinheiro Milhômem.
Na época do seu nascimento a cidade de Boa Viagem, que também era conhecida pelo topônimo de “Cavalo Morto”, era apenas um pequeno povoado existente dentro dos limites geográficos do Município de Quixeramobim:

“Distrito criado com a denominação de Boa Viagem, ex-povoado de Cavalo Morto, pela lei provincial nº 1.025, de 18 de novembro de 1862. Elevado à categoria de vila com a denominação de Boa Viagem, pela lei provincial nº 1.128, de 21 de novembro de 1864, desmembrado de Quixeramobim.” (IBGE, 2000: Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017)

Segundo informações existentes no livro B-01, página 104, destinado aos casamentos realizados na Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, no dia 20 de abril de 1873, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, diante do Pe. Francisco Ignácio da Costa Mendes, contraiu matrimônio com Maria de São José de Jesus, nascida em 1862.
Desse matrimônio foram gerados três descendentes, dois homens e uma mulher, sendo eles: João Inácio de CarvalhoJosé Inácio de Carvalho e Luíza Mendes de Carvalho.
Foi agropecuarista e durante muitos anos ocupou parte do cenário político do Município de Boa Viagem ocupando vários mandatos no Poder Legislativo.
De acordo com as informações existentes na caixa nº 27, que trata sobre os ofícios da Câmara do Município de Boa Viagem, existente no Arquivo Público do Estado do Ceará, descobrimos que na época do Império do Brasil, na gestão de 1873 a 1877, foi um dos vereadores suplentes, participando de diversas reuniões.

Imagem da Casa de Câmara e Cadeia do Município de Boa Viagem, fim da década de 1940.

Nessa legislatura, que teve início em julho de 1873, o Município passou por uma estiagem e os produtores sofreram com graves problemas financeiros, mesmo assim, no exercício de seu mandato, deu apoiou a execução das seguintes ações: o recebimento de um imóvel para servir de cadeia, uma doação que foi realizada por José Duarte de Araújo; o recebimento de doação financeira feita por Ana Gonçalves Leal para construção de uma Casa de Cadeia e Câmara; o acompanhamento da arrematação e aplicação dos impostos camarários, entre eles o da décima urbana; o acompanhamento da adequação do comércio do Município ao novo sistema de pesos e medidas determinado pelo Governo Imperial; a aprovação do orçamento para manutenção da escola existente na vila; o acompanhamento da comunicação com o Governo da Província sobre os produtos cultivados no Município; o acompanhamento da resolução do litígio de limites com o Município de Tamboril, quando Boa Viagem perdeu autonomia sobre o perímetro do povoado de Telha, atual cidade de Monsenhor Tabosa.
Mais tarde, na legislatura de 1877 a 1881, que foi eleita na disputa ocorrida no dia 1º de outubro de 1876, recebeu a confiança de 118 dos 258 eleitores aptos a votarem, ficando com uma das vagas do Poder Legislativo municipal para o exercício de seu segundo mandato, período que enfrentou grandes desafios, dentre eles uma grande seca, que ficou conhecida como a “seca dos 1000 dias”, ocorrida entre 1877 e 1879.

“Todas as correspondências enviadas do interior da província nos primeiros anos de seca tinham em comum os espantosos relatos acerca da terrível condição dos moradores do sertão, mesmo os que podiam ser chamados de pessoas de posse… a solução foi a emigração em massa. Os pequenos e médios proprietários abandonaram terras e venderam ou trocaram seus escravos.” (FERREIRA NETO, 2006: p. 69)

No dia 15 de janeiro do primeiro ano de seu mandato, por conta da seca, alguns vereadores solicitaram o adiamento de suas posses, sendo que muitos deles não compareciam às reuniões, passando a Câmara de Vereadores pouco mais de 2 anos sem funcionar, quando até as arrematações dos impostos camarários foram desprezadas diante da falta de interessados, deixando as contas e outras responsabilidades do Município em atraso.

Imagem de sua residência, que depois ficou para o seu filho, José Inácio de Carvalho, em 2013.

Mais tarde, no dia 28 de outubro de 1881, por meio de ofício, o Governo da Província, preocupado com a capacidade hídrica da região, solicitou o número de açudes públicos existentes, bem como os seus proprietários.
No dia 7 de janeiro de 1883, depois de uma nova eleição, tomou posse de seu terceiro mandato na Câmara de Vereadores, legislatura que se estendeu até 1887.
Nessa legislatura, juntamente com os outros vereadores, reorganizou os trabalhos ordinários da Câmara Municipal, que foram interrompidos pelos efeitos da “Seca Grande”; reativou a cobrança da décima urbana e de outros impostos; realizou a organização e o leilão dos impostos camarários; aprovou o Código de Posturas, que regulamentava o comportamento e a ordem que deveria existir na vila; recebeu o equipamento médico, uma seringa, e o soro antiofídico encaminhado pelo Farmacêutico Rodolpfho Marcos Theópfhilo; implantou no Município o novo sistema de pesos e medidas determinado pelo Governo Provincial; forneceu informações da retomada da produção agrícola da região e aprovação do desejo da Câmara Municipal em promover melhorias nas ruas da vila.
Nesse período, no dia 18 de setembro de 1883, na qualificação do conselho dos guardas ativos do 52º Batalhão da Guarda Nacional de Boa Viagem, o seu nome figurou com a matrícula nº 24 no “Quarteirão da Vila”, onde foi designado como guarda de linha.

“A Guarda Nacional foi uma força paramilitar organizada por lei no Brasil durante o período regencial, em agosto de 1831, para servir de ‘sentinela da constituição jurada’, e desmobilizada em setembro de 1922. No ato de sua criação lia-se: ‘Com a criação da Guarda Nacional foram extintos os antigos corpos de milícias, as ordenanças e as guardas municipais.’ Em 1850 a Guarda Nacional foi reorganizada e manteve as suas competências subordinadas ao ministro da Justiça e aos presidentes de província. Em 1873 ocorreu nova reforma que diminuiu a importância da instituição em relação ao Exército Brasileiro. Com o advento da República a Guarda Nacional foi transferida em 1892 para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Em 1918 passou a Guarda Nacional a ser subordinada ao Ministério de Guerra através da organização do Exército Nacional de 2ª Linha, que constituiu de certo modo sua absorção pelo Exército.” (S.N.T)

O 52º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional foi criado através do decreto nº 4.520, de 28 de abril de 1870, sendo desmembrado do Município de Quixeramobim e tinha como comandante o Tenente Coronel José da Silva Bezerra Júnior.
Ainda nessa época, segundo informações do periódico abolicionista O Libertador, ano VI, nº 277, página 4, edição do dia 4 de dezembro de 1886, assumiu a responsabilidade pela mala postal do Município no lugar de Manuel Honor da Costa Mendes:

“Foi nomeado Ignácio José de Carvalho para o cargo de Agente do Correio da Villa de Boa Viagem, em substituição a Manuel Honor da Costa Mendes.”

Mais tarde, no dia 14 de fevereiro de 1890, logo após a Proclamação da República, foi designado a compor uma das cadeiras do Conselho de Intendência do Município de Boa Viagem, permanecendo nela até o dia 11 de agosto, deixando a sua vaga para Manoel do Vale Ribeiro.
Nesse período o Conselho de Intendência do Município manteve constante correspondência com o Governo do Estado informando sobre a quantidade de escolas, igrejas e outros patrimônios públicos do Município; responderam relatório sobre obras públicas e a Comissão de Socorros; organizaram as mesas eleitorais para escolha dos deputados; reorganizaram a coleta de impostos.
Nessa legislatura os funcionários públicos passaram meses sem receber os seus pagamentos e ocorreu a autorização para formação de uma Guarda Municipal, ocorrendo também algumas intrigas relacionadas a sua presidência, que era assumida mensalmente por um dos membros da intendência.

“Art. 1º – Até definitiva Constituição dos Estados Unidos do Brasil e do Estado Confederado do Ceará, ou antes, se assim convier, o poder municipal nesse Estado será exercido por um Conselho de Intendência Municipal, composto de cinco membros, sob a presidência de um deles, eleito na primeira sessão de cada mês…” (RIBEIRO, 2005: p. 12)

Depois disso, estando algum tempo fora da vida pública, militando nos quadros políticos do PRC – o Partido Republicano Federalista, conseguiu ser reconduzido para o desempenho de seu quinto mandato parlamentar, que teve início no dia 10 de junho de 1904 e foi encerrado no dia 10 de junho de 1908.
Segundo matéria publicada no Jornal do Ceará, edição do dia 22 de abril de 1904, nº 20, página 4, a disputa eleitoral que definiu os componentes dessa legislatura ocorreu no dia 1º de maio, uma eleição que ficou marcada em todo Estado por fraudes e violência, especialmente em Boa Viagem, onde segundo esse periódico José Rabêlo e Silva criou meios para garantir o sucesso eleitoral daqueles que apoiavam a Oligarquia Accioly.

Imagem do artigo de jornal.

Nessa legislatura participou da escolha do intendente municipal, cadeira que foi ocupada nesse período primeiramente por Francisco de Assis Marinho e logo depois por Manoel de Assis Marinho.
Mais tarde, no pleito eleitoral ocorrido em 1912, participou de uma nova disputa eleitoral, exercendo o seu sexto mandato eletivo de 1912 a 1916.
Depois disso, no dia 5 de maio de 1914, invocando o artigo 10 da lei nº 33, de 10 de novembro de 1892, possivelmente por conta da seca e na intenção de migrar para outros locais, no plenário da Câmara, foi informado por três dos seus companheiros da renuncia de seus mandatos, sendo eles: Manoel Herminio de Sousa Leitão, José Rodrigues de Oliveira e André Corsino do Vale.
Nesse mesmo período, em um curto espaço de tempo, ocorreram algumas turbulências políticas, quando os habitantes do Município foram pegos de surpresa com a renúncia de dois intendentes: Josias Barbosa Maciel e Benjamim Bastos.
Mais tarde, no dia 5 de julho de 1928, juntamente com os seus familiares, foi surpreendido pelo inesperado falecimento de sua esposa, que veio a óbito aos sessenta e seis anos de idade.
No anos seguinte, no dia 9 de abril, segundo informações existentes no livro B-07, pertencente à secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, tombo nº 6, folha 138, diante do Mons. José Cândido de Queiroz Lima, aos 80 anos de idade, contraiu matrimônio com Luiza Rosa Alves de Lima, nascida em 1881, sendo filha de Gonçalo Alves Uchôa e de Maria de Nazaré dos Prazeres.
Nesse mesmo ano, já em avançada idade, retornou a sua cadeira na Câmara Municipal de Vereadores para o exercício de seu sétimo mandato eletivo, que foi concluído em 1930.
Segundo informações existentes no livro C-01, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º ofício, tombo nº 46, folha 48, temos conhecimento de que faleceu às 9h30min do dia 10 de outubro de 1932, aos 85 anos de idade, na residência de um de seus filhos.

“Compareceu João Inácio de Carvalho e declarou que hoje, às 9 e meia horas, em sua residência, nesta vila, faleceu de arteriosclerose, segundo atestou duas testemunhas.”

Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, n° 295, no Centro da cidade de Boa Viagem.

Imagem do túmulo da Família Carvalho, em 2013.

BIBLIOGRAFIA:

  1. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1889-1930). Fortaleza: ABC, 1996.
  2. FERREIRA NETO, Cicinato. A Tragédia dos Mil Dias: A seca de 1877-79 no Ceará. Fortaleza: Premius, 2006.
  3. FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
  4. IBGE. Histórico do Município de Boa Viagem. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017.
  5. PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro dos casamentos. 1844-1859. Livro B-01. Página 104.
  6. PEIXOTO, João Paulo M. & PORTO, Walter Costa. Sistemas Eleitorais no Brasil. Brasília: Instituto Tancredo Neves, 1987.
  7. RIBEIRO, Valdir Uchôa. Conselhos de Intendência no Ceará. Fortaleza: Premius, 2005.

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