José Duarte de Araújo

José Duarte de Araújo nasceu no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza.
Na época de seu nascimento a vila de Boa Viagem era conhecida pela alcunha de “Cavalo Morto” e pertencia ao Município de Quixeramobim.
Foi casado com Isabel de Araújo, com quem gerou vários filhos, dentre eles destacamos José Duarte de Araújo e Manoel Duarte de Araújo.
Era um dos mais prósperos agropecuaristas da região quando o Município de Boa Viagem recebeu do Governo da Provincial, através do seu presidente, o Dr. Lafayette Rodrigues Pereira, que ficou conhecido na história cearense pela alcunha de “Conselheiro Lafayette”, a sua tão almejada autonomia política através da lei nº 1.128, de 21 de novembro de 1864.
Nessa época, dentro dos critérios estabelecidos pela nova lei, exigia-se dos cidadãos a construção de um local destinado e apropriado para servir de Câmara Municipal e Cadeia Pública.

“Art. 4º – A Villa será inaugurada quando tiver Casa de Câmara e Cadeia.”

Alguns anos antes, na época de sua juventude, o nosso país passou por significativas transformações no âmbito político e social e esses efeitos aos poucos conseguiram chegar até ao distante Sertão da Província do Ceará.

“O período compreendido entre os anos de 1780-1850, em geral, foi palco de intensas transformações no Brasil. O final do século XVIII assistiu a decadência da exportação açucareira no Nordeste, como também a gestação da lavoura cafeeira paulista. A vida nas áreas urbanas se intensificou havendo um significativo crescimento populacional; concomitantemente, a metrópole apostava na criação e proliferação das vilas enquanto fórmula de disciplinar a população e implementar estruturas administrativas e de fisco.” (VIEIRA JÚNIOR, 2004: p. 12)

Nessa mesma época, a economia conduzia a pauta de algumas transformações sociais e começava a surgir um abismo entre os sertanejos cearenses com o surgimento de uma frágil elite agropastoril que dependia exageradamente das boas estações chuvosas para manter a sua vitalidade.

“Entre os anos de 1780-1850 o Ceará assistiu a efetivação de sua colonização, a ascensão e decadência do ciclo pecuarista na pauta de exportação, o fortalecimento da vida urbana e o crescimento populacional… A partir dos anos 40 do século XIX o Ceará passou a conhecer um novo ciclo econômico, dominado essencialmente pelo algodão.” (VIEIRA JÚNIOR, 2004: p. 13)

Diante do desejo do Governo Imperial em ver a diminuição e até mesmo o fim do nomadismo sertanejo a vila de Boa Viagem começou a tomar forma e passou a exercer certa influência no Sertão de Canindé por conta de seu principal potencial econômico, a cotonicultura.

“A formação de vilas se impunha como solução para o combate a dispersão, e tentativa de organizar o crescimento da população, principalmente no sertão, área tida como distante do controle metropolitano. As vilas e as residências fixas iam paulatinamente ganhando um sentido especial no processo de ordenação dos habitantes; combatiam o deslocamento das famílias sertanejas, instigavam a formação de uma incipiente agricultura e, acima de tudo, aumentavam o poder fiscalizador das autoridades administrativas.” (VIEIRA JÚNIOR, 2004: p. 54)

Passado alguns anos, um sentimento de independência surgiu no coração de nossa elite agropastoril e fez-se de tudo para comprovar junto ao governo provincial de que Boa Viagem tinha condições de se manter e possivelmente até melhorar o sistema de arrecadação da Província.
Depois disso, nos primeiros meses de 1869, nesse espírito de autonomia, desejando o desenvolvimento do Município que nascia, juntamente com a sua esposa realizou a doação de uma casa para satisfazer às exigências da lei provincial.
Essa casa era localizada na esquina da Rua 25 de Março com a Rua 7 de Setembro, atual Rua José Leal de Oliveira, nº 371, esquina com a Rua Antônio Domingues Álvares, no Centro da cidade.

Imagem da Casa de Câmara e Cadeia do Município de Boa Viagem.

Segundo informações existentes no Arquivo Público do Estado do Ceará, Caixa nº 27, ofício do dia 1º de junho de 1873, algum tempo após essa doação, temos conhecimento das condições precárias de nosso Município e de que esse não tinha condições financeiras de reformar o seu único prédio público:

“A Câmara Municipal d’esta villa, em observância das ordens d’essa Presidência, contida em offícios circulares nº 8 e 9, de 12 de abril findo, informam a vossa excelência o seguinte: 1º O cidadão José Duarte de Araújo e a sua mulher fizeram donactivo d’uma casa que possuíam n’esta villa para servir a mesma de cadeia, isto no ano de 1869, quando foi inaugurada esta villa. Deu-se o facto de ter cahido este prédio em consequência das estações invernosas n’estes últimos tempos, convindo a declarar vossa excelência… se acha essa villa sem um prédio que sirva para cadeia, isto por que os habitantes que os possui não querem allugar. Clama portanto esta Câmara a maior attenção de vossa excelência a fim d’que o corpo legislativo em sua próxima reunião vote uma quantia afim de que se compre um prédio ou mesmo se edifique, contanto que tenha os precisos compartimentos para tal fim…”

Sem imaginar, José Duarte de Araújo foi o patriarca de uma das principais oligarquias políticas que o Município de Boa Viagem já conheceu, “os Araújos”.

“Os Araújos, família rica e filiada a outras das mais antigas do norte do Ceará, vivia na mesma região [Sertão Central], tendo como sede principal a povoação de Boa Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 190)

BIBLIOGRAFIA:

  1. CARVALHO FILHO, José Cândido de. Boa Viagem da Minha Infância. São Paulo: Thesaurus/Itiquira, 2008.
  2. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1930-1945). Fortaleza: Stylus Comunicações, 1989.
  3. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  4. SIMÃO, Marum. Quixeramobim, Recompondo a História. Fortaleza: Multigraf, 1996.