Manuel Honor da Costa Mendes

Manuel Honor da Costa Mendes nasceu no dia 23 de janeiro de 1857 no Município de Quixeramobim, que está localizado no Sertão Central do Estado do Ceará, distante 203 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de José Gomes da Costa Mendes e de Maria Francelina Mendes.
Os seus avós paternos se chamavam Ignácio Mendes Guerreiro e Joana Gomes da Silva.
Na época do seu nascimento a cidade de Boa Viagem, que também era conhecida pelo topônimo de “Cavalo Morto”, era apenas um pequeno povoado existente dentro dos limites geográficos do Município de Quixeramobim:

“Distrito criado com a denominação de Boa Viagem, ex-povoado de Cavalo Morto, pela lei provincial nº 1.025, de 18 de novembro de 1862. Elevado à categoria de vila com a denominação de Boa Viagem, pela lei provincial nº 1.128, de 21 de novembro de 1864, desmembrado de Quixeramobim.” (IBGE, 2000: Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017)

No dia 7 de setembro de 1884, aos 27 anos de idade, segundo informações existentes no livro B-01, destinado aos casamentos ocorridos na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, página 185v, em uma cerimônia que foi celebrada pelo Pe. Raimundo Teles de Sousa, contraiu matrimônio com Maria Turbilina Rabêlo Mendes.
Desse matrimônio foram geradas duas filhas, sendo elas: Leontina Rabêlo Mendes e Maria Ernestina Rabêlo Mendes, que foi casada com Francisco Inácio Mendes, pais do amigo José Arlindo Mendes, que no dia 14 de abril de 2016 comemorou os seus 90 anos ainda com lucidez e pouco de vigor, concedendo entrevista ao Prof. Cícero Pinto do Nascimento.

“O seu José Arlindo Mendes é casado com Maria Mazarelo de Aragão Mendes, sobrinha do Prefeito Aluísio Ximenes de Aragão.”

Antes disso, segundo registros, nos primeiros meses de 1882, era o responsável pela coleta e a entrega da mala postal do Município de Boa Viagem, acumulando também a função de agente e correspondente do jornal O Libertador, periódico abolicionista e órgão oficial da Sociedade Libertadora Cearense, que tinha a sua sede localizada na Rua da Boa Vista, nº 48, no Centro da cidade de Fortaleza.
Conforme matéria contida nesse periódico, ano VI, nº 277, página 4, edição do dia 4 de dezembro de 1886, foi substituído nessa função por Ignácio José de Carvalho:

“Foi nomeado Ignácio José de Carvalho para o cargo de Agente do Correio da Villa de Boa Viagem, em substituição a Manuel Honor da Costa Mendes.”

Era declarado abolicionista e segundo registros foi um dos fundadores da Sociedade Libertadora de Boa Viagem, que foi uma entidade filantrópica que congregava aqueles que queriam por fim à escravidão, conforme registro a seguir:

“Era impossível que o Município de Boa Viagem continuasse por mais tempo estacionário, sem receber um impulso do magno e generoso movimento libertador que se desenvolve, estendendo-se por todos os ângulos da Província. Omnia tempus habent. Era pois chegada também a vez de Boa Viagem tomar um lugar, embora dos últimos, no grande festim da liberdade. No dia 1º de Julho, reunidos no salão da municipalidade, diversos cavalheiros dos mais prestantes da localidade, a convite do Revmo. Vigário da freguesia, e presente grande número de senhoras, instalou-se uma sociedade denominada Libertadora de Boa Viagem, cujo fim será promover, por todos os meios legítimos, a libertação do Município… O presidente declarou instalada a sociedade, apresentando 17 cartas de liberdade, todas oferecidas espontaneamente, dos quais 7 foram oferecidas pelo Capitão Antônio Sabino de Araújo, sendo declarados libertos os seus últimos escravos: Maria, Maria, Magdalena, Anna e Francisca; 2 por parte de sua digna mãe, D. Maria Sabina da Conceição, concedendo liberdade aos seus dois últimos escravos: João e Luíza; e 1 por parte de sua irmã, D. Maria de Jesus Araújo, a sua única escrava, Raymunda; 3 oferecidos pelo prestante cidadão Joaquim Cavalcante Bezerra, libertando as suas escravas: Benedicta, Galdina e Águeda; 2 pelo Capitão Vicente Alves da Costa, concedendo liberdade aos seus dois escravos: Caetano e Nicácio; 1 pelo cidadão José Rabêlo e Silva, libertando a sua escrava Maria; 1 pela digna professora pública dessa vila, D. Joaquina Beleza de Macêdo Nogueira, libertando a sua única escrava,  Joana; 1 oferecido pelo cidadão João Lobo dos Santos, dando liberdade a sua escrava Alexandrina e finalmente 1 oferecido pelo cidadão Manoel Mendes Machado. São poucos os escravos que restam no Município, talvez não excedam a 40. Mas a sociedade não conta com bastantes recursos para acelerar, como desejara, a sua completa extinção. Entretanto, convencidos como já devem estar os senhores de que improfícua será a resistência que por ventura poderão opor, serão levados a libertar voluntariamente os poucos que ainda restam. E prazam a Deus que se realizem as aspirações do digno presidente da Libertadora de Boa Viagem, isto é, que brevemente possamos dizer por nossa vez a Província: não há mais senhores e nem escravos no Município de Boa Viagem.”

Essa agremiação antiescravagista, que foi fundada no dia 1º de julho de 1883, recebeu publicidade de seus atos através de uma nota publicada no periódico O Libertador, ano 3, nº 162, de 28 de julho de 1883, e tinha o seu nome na função de procurador em sua diretoria.
Pouco tempo depois, no dia 18 de setembro de 1883, na qualificação do conselho dos guardas ativos do 52º Batalhão da Guarda Nacional de Boa Viagem, o seu nome figurou com a matrícula nº 51 no “Quarteirão da Vila”, onde era designado como guarda de linha.
O 52º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional foi criado através do decreto nº 4.520, de 28 de abril de 1870, sendo desmembrado do Município de Quixeramobim e tinha como comandante o Tenente Coronel José da Silva Bezerra.

“A Guarda Nacional foi uma força paramilitar organizada por lei no Brasil durante o período regencial, em agosto de 1831, para servir de ‘sentinela da constituição jurada’, e desmobilizada em setembro de 1922. No ato de sua criação lia-se: ‘Com a criação da Guarda Nacional foram extintos os antigos corpos de milícias, as ordenanças e as guardas municipais.’ Em 1850 a Guarda Nacional foi reorganizada e manteve as suas competências subordinadas ao ministro da Justiça e aos presidentes de província. Em 1873 ocorreu nova reforma que diminuiu a importância da instituição em relação ao Exército Brasileiro. Com o advento da República a Guarda Nacional foi transferida em 1892 para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Em 1918 passou a Guarda Nacional a ser subordinada ao Ministério de Guerra através da organização do Exército Nacional de 2ª Linha, que constituiu de certo modo sua absorção pelo Exército.” (S.N.T)

Segundo algumas informações existentes no periódico A Constituição, ano XXV, nº 110, edição do dia 25 de julho de 1888, página 2, foi nomeado escrivão da coletoria de rendas provinciais do Município de Boa Viagem.
Entre o dia 15 de outubro de 1891 e o dia 31 de agosto de 1892, logo após a Proclamação da República, acontecida no dia 15 de novembro de 1889, por conta das ligações políticas de seu pai, que foi vereador, foi designado pelo Governo do Estado como um dos membros do Conselho de Intendência do Município.

Imagem da Casa de Câmara e Cadeia do Município de Boa Viagem, fim da década de 1940.

Nesse período o Conselho de Intendência do Município manteve constante correspondência com o Governo do Estado informando sobre a quantidade de escolas, igrejas e outros patrimônios públicos do Município; responderam relatório sobre obras públicas e a Comissão de Socorros; organizaram as mesas eleitorais para escolha dos deputados; reorganizaram a coleta de impostos.
Nessa legislatura os funcionários públicos passaram meses sem receber os seus pagamentos e ocorreu a autorização para formação de uma Guarda Municipal, ocorrendo também algumas intrigas relacionadas a sua presidência, que era assumida mensalmente por um dos membros da intendência.

“Art. 1º – Até definitiva Constituição dos Estados Unidos do Brasil e do Estado Confederado do Ceará, ou antes, se assim convier, o poder municipal nesse Estado será exercido por um Conselho de Intendência Municipal, composto de cinco membros, sob a presidência de um deles, eleito na primeira sessão de cada mês…” (RIBEIRO, 2005: p. 12)

Logo após esse período, como um dos componentes do Conselho de Intendência, decidiu dar continuidade a sua carreira política colocando o seu nome na disputa por uma das vagas do Poder Legislativo municipal, que aconteceu no dia 29 de maio de 1892, conseguindo uma das cadeiras do Poder Legislativo para desempenhar o seu mandato entre os dias 15 de outubro de 1892 ao dia 10 de junho de 1896.
Nesse período, juntamente com os seus pares, elegeu como intendente Manoel Benício Bezerra de Menezes, responsável pelo Poder do Executivo do Município.
Nessa legislatura, quando o Município de Boa Viagem atravessava os rigores de uma estiagem, seguindo o que previa o Projeto Pompeu-Sinimbú, juntamente com os seus companheiros de vereança acompanhou a última fase da construção da Casa de Câmara e Cadeia Pública, onde também passaria a funcionar a escola da vila; acompanhou a construção da base do Mercado Público Municipal Jessé Alves da Silva, que só foi concluído por volta de 1919; assinou o manifesto do desejo de instalação de uma linha de telégrafo para cidade de Boa Viagem, um verdadeiro avanço para época; acompanhou os trabalhos de assistência médica que atenderam às pessoas que sofriam por conta de uma epidemia de varíola que ocorreu no Município; promoveu a abertura de novas ruas e o melhoramento no saneamento e limpeza das ruas já existentes.
Antes disso, no dia 30 de maio de 1893, aos 36 anos de idade, estando viúvo, segundo às informações existentes no livro B-02, destinado ao registro dos casamentos da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, página 42, tombo nº 23, contraiu matrimônio com Ana Tereza de Albuquerque Tavares, popularmente conhecida por “Donana”, sendo filha de Raimundo Francisco Tavares e de Josefa Albuquerque Tavares, cerimônia que foi celebrada pelo Pe. José Antônio Cavalcante.
Desse novo matrimônio foram gerados treze filhos, quatro homens e nove mulheres, sendo eles: Euclides Costa Mendes, Manuel Honor da Costa Mendes Filho, Cesário da Costa Mendes, Artur Fernandes Mendes, Josefa Costa Mendes, Nascimenta Costa Mendes, Ester Costa Mendes, Anísia Costa Mendes, Laura Costa Mendes, Joana Costa Mendes, Lídia Costa Mendes, Zilda Costa Mendes e Hilda Costa Mendes.

“Das filhas de seu segundo casamento apenas Josefa, que era conhecida por Zefinha casou-se, e não gerou filhos. Lídia Mendes era professora formada e contratada pelo Governo do Estado, prestando grande serviço ao Município de Monsenhor Tabosa.”

De acordo com o jornal A República, ano IV, de 28 de dezembro de 1895, na primeira página, compunha o diretório do PRP – o Partido Republicano Federalista.

“No inicio da República não havia partidos nacionais. Assim, no Ceará, o Partido Republicano cindiu-se em busca do poder.” (CAVALCANTE MOTA, 1999: p. 23)

No ano seguinte, no dia 5 de maio, em uma nova disputa eleitoral, conseguiu ser reeleito para uma nova legislatura, que se estendeu do dia 10 de junho de 1896 ao dia 10 de junho de 1900.
Nesse período acompanhou a aplicação do orçamento apresentado pelo Intendente José do Vale Pedroza na Câmara Municipal; a entrega de sementes de milho, feijão e arroz para mil agricultores do Município e a qualificação de seus eleitores.
Antes disso, em 1905, de conformidade com às informações existentes no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição 63, página 1.401, era o 3º suplente do juiz substituto seccional e professor particular da vila de Boa Viagem.
Alguns anos depois, após um tempo afastado da vida pública, decidiu aceitar o desafiou de assumir a intendência de nosso Município entre os dias 25 de setembro de 1909 ao dia 8 de fevereiro de 1912.

Imagem da residência de Manuel Honor da Costa Mendes, em 2010.

Na cidade de Boa Viagem, residiu durante muitos anos em uma charmosa casinha próximo à Praça Monsenhor José Cândido de Queiros Lima, nº 126, no Centro, onde mantinha uma padaria e uma loja de tecidos.
De acordo com as informações fornecidas pelo Mons. Francisco José de Oliveira, que estão registradas no livro C-02, existente na secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, tombo nº 77, página 112v, “recebeu a extrema unção e o seu corpo foi encomendado previamente”, falecendo às 11 horas da manhã do dia 26 de novembro de 1931, aos 74 anos de idade.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado em um túmulo pertencente a sua família existente no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, n° 297, no Centro da cidade.

Imagem do mausoléu de Manuel Honor da Costa Mendes, em 2014.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, através da lei nº 818, de 12 de dezembro de 2002, uma das ruas do Bairro José Rosa, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.

BIBLIOGRAFIA:

  1. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará. (1889-1930). Fortaleza: ABC, 1999.
  2. IBGE. Histórico do Município de Boa Viagem. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017.
  3. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  4. PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro de casamentos. 1863-1886. Livro B-01. Página 185v.
  5. PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro de casamentos. 1886-1903. Livro B-02. Tombo nº 23. Página 42.
  6. PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro de óbitos. 1916-1931. Livro C-02. Tombo nº 77. Página 112v.
  7. PEIXOTO, João Paulo M. & PORTO, Walter Costa. Sistemas Eleitorais no Brasil. Brasília: Instituto Tancredo Neves, 1987.
  8. RIBEIRO, Valdir Uchôa. Conselhos de Intendência no Ceará. Fortaleza: Premius, 2005.
  9. STUDART, Guilherme. ANTONIO CUNHA MENDES In: Dicionário Bibliográfico Cearense. 1º v. Edição Fac-simile. Fortaleza: SECULT, 2012, p. 72.
  10. VIANA, João de Deus. Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil e Industrial do Estado do Ceará para 1896. Fortaleza: Tipografia d’A República, 1896.

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