José Borba da Silva Neto nasceu por volta de 1928 na cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco. e por falta de registros não sabemos os nomes dos seus pais.
Pouca coisa sabemos sobre a sua vida, mas dividimos a sua história em três fases: a primeira delas é a infância, da qual não temos nenhuma notícia; a segunda é a juventude, momento em que se dedicou ao ministério pastoral; e por fim a última fase, quando involuntariamente foi afastado dessas funções por conta de um escândalo.
Temos conhecimento que em sua juventude aprendeu o ofício de alfaiate e trabalhava com um de seus irmãos no 3º andar de um edifício que está localizado na Avenida Guararapes, s/nº, Centro, na cidade do Recife, onde confeccionava paletós e outros artigos de moda masculina.
Posteriormente essa alfaiataria, nos fins dos anos 1960, denominada de “Alfaiataria Zequinha”, mudou o seu endereço para outro edifício, dessa vez localizado na Rua da Assembleia, nº 67, 1º andar, sala 11, Centro.
De acordo com algumas de suas anotações, que infelizmente não informam datas, teve contato com o protestantismo através do Evangelista Manoel Bernardo, membro da Igreja Evangélica Pernambucana, que está localizada na Rua do Príncipe, esquina com a Rua Bispo Cardoso Ayres, nº 328, no Bairro da Boa Vista, também na cidade do Recife.
Nessa época, quando congregava nessa igreja, teve o prazer de conhecer Aliete de Freitas Carvalho, que era nascida no dia 23 de julho de 1932, sendo filha de Antônio Ribeiro de Carvalho com Auta de Freitas Carvalho.
Nessa época, a proximidade com essa jovem causou muitas mudanças no curso de sua vida, por conta de um relacionamento que não chegou a ser permitido. Alguns anos antes a mãe dela, que era uma alagoana do Município de Arapiraca, contraiu matrimônio na cidade do Recife com um português que era natural da cidade do Porto, com quem gerou três filhos, sendo eles: Aliete de Freitas Carvalho, Audinete Carvalho de Alcântara e Aquidovel Freitas de Carvalho.
O pai de Aliete, que era um comerciante de confissão católica, não aceitava o fato de sua esposa congregar em uma igreja protestante, fato que tornou impossível o relacionamento conjugal dos dois jovens, que mesmo assim trocaram correspondências por muitos anos.
Esse amor proibido, digno de uma novela, que desconfiamos que nunca tenha chegado a ser consumado, se manteve vivo por meio de cartas e a composição de muitas poesias, que por seu inestimável valor, durante muitos anos, foram guardadas em uma pequena caixa sob valioso sigilo.
Bem antes disso, nos primeiros anos da década de 1950, despertada a sua vocação ao ministério, por indicação do Rev. Arthur Pereira Barros, foi encaminhado aos estudos eclesiásticos no Seminário Teológico Congregacional do Nordeste, que está localizado na Rua Arealva, nº 19, no Bairro Tejipió, na cidade do Recife.
Nessa época, mesmo residindo na cidade do Recife, desejando uma melhor formação acadêmica, optou por ser um dos alunos do internato, dividindo um dos dormitórios com o Rev. Ezequiel Fragoso Vieira, um de seus colegas de turma.
Depois disso, logo que encerrou as suas atividades acadêmicas, nos últimos meses de 1955, ainda como licenciado, se deslocou para o Município de Boa Viagem, no Estado do Ceará, no intuito de prestar auxílio ao Rev. Antônio Francisco Neto, que nessa época pastoreava a Igreja Evangélica Congregacional de Catolé do Rocha, no Sertão Estado da Paraíba, e não tinha condições físicas de dar uma melhor assistência aos cristãos protestantes desse Município que congregavam na Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira:
“Mesmo nessas lutas não hesitou em estender a sua tenda às cidades de Sousa, Marizópolis e São José de Piranhas, na Paraíba; Almino Afonso, no Rio Grande do Norte e Boa Viagem, no Ceará. Em Boa Viagem, em 24 de junho de 1956, oficiou a organização da Igreja Evangélica Congregacional, com a celebração de uma festa histórica e ficou ali como pastor visitante até a posse do Pastor José Borba da Silva Neto.” (CARNEIRO, 2006: p. 140)
Nesse período, a Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira mantinha alguns pontos de pregação, dentre eles o da cidade de Boa Viagem, que dentro de pouco tempo se transformou em uma igreja quando muitos protestantes passaram a residir na sede do Município.
Na cidade, preenchendo a ausência do pastor titular, foi o responsável pela redação do Regimento Interno da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem, que na época estava sendo construída na Rua Antônio Domingues Álvares, nº 255, equina com a Rua Padre Mororó, no Centro da cidade.
No início de 1956, conforme registros do livro de atas da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem do dia 9 de janeiro de 1957, para manutenção de seu sustento, deu início a uma pequena escola de alfabetização, projeto que mais tarde veio a ser o Instituto de Educação Paulo Moody Davidson, que funcionava na sala de sua residência e estava localizada na Rua José Rangel de Araújo, nº 36, Centro.
“Com boas informações os senhores oficiais prosseguiram dizendo que o Lic. José Borba da Silva Neto realizou trabalhos que merecem admiração, tanto por haver empregado todo seu tempo na obra da evangelização, como também na organização da igreja, ou seja, na criação dos Estatutos e na publicação dos mesmos, deixando o patrimônio oficializado, além disto, elaborou o Regimento Interno, que foi aprovado por unanimidade, também bondoso e voluntariamente nos deu uma escola de alfabetização gratuita para todos os crentes, além de muitos outros benefícios prestados que deixamos de mencionar, a que, maravilhado com estas declarações, o presidente sugeriu que esta igreja pedisse a ordenação do Licenciado José Borba da Silva Neto e o convidasse para ser seu pastor, proposta que foi aprovada e apoiada por unanimidade.”
Procurando outra forma para conseguir juntar alguns trocados, ministrou aulas de língua inglesa para alguns moradores da cidade, dentre eles o Dr. Manuel Vieira da Costa – o Nezinho, que alguns anos depois chegou a ser o prefeito desse Município.
No dia 24 de junho de 1956, às 19h37min, conforme o registro da ata mencionada anteriormente, esteve presente e foi o responsável pela redação da ata da Assembleia Especial de Organização, Consagração e Instalação da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem.
Pouco tempo depois disso, conforme informações da ata anteriormente mencionada, em fevereiro de 1957, necessitando de um pastor residente, por decisão da assembleia de membros, foi convidado formalmente pela Igreja Evangélica Congregacional para assumir o seu pastorado:
“Foi sugerido que o salário para o futuro pastor fosse de C$ 3.000,00 (três mil cruzeiros) a partir da sua investidura no referido cargo e que a igreja lhe desse férias até dia 20 de fevereiro do ano em curso; mil cruzeiros para auxilio nas despesas de viagem a convenção, proposto e apoiado foi votado e aprovado por todos.”
Nessa época, logo após a conclusão do seu estágio probatório, foi indicado pelo seu tutor a ser ordenado por uma comissão de pastores em uma Convenção Regional das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil que aconteceu no templo da Igreja Evangélica Pernambucana, tomando posse de seu pastorado poucos dias depois.
Depois disso, ao retornar para Boa Viagem, presidiu a sua primeira assembleia de membros no dia 2 de abril de 1957.
Antes disso, na cidade de Boa Viagem, durante o seu estágio probatório, segundo informações de alguns contemporâneos, conseguiu conquistar grande simpatia do povo da cidade, era músico, poeta e um excelente orador.
Em Boa Viagem, durante à noite, quando era oportuno, costumava receber em sua casa alguns amigos da sociedade para recitar poesia e dedilhar o seu violão, reunião que costumava chegar ao fim quando as luzes da cidade eram apagadas.
Conta-se ainda que, em suas viagens pela zona rural do Município, quando ia assistir as congregações, por ser da cidade grande, tinha muita dificuldade em cavalgar e não sabia nadar.
Nessa época, mesmo gozando de um bom conceito na cidade, enfrentou graves problemas na igreja com os membros e congregados que eram comerciantes, que insistiam em vender fumo e bebidas alcoólicas, algo que não é aceito pela ética dos protestantes brasileiros.
Por conta desses mesmos problemas passou grande necessidade financeira, tendo em vista que esses comerciantes, por retaliação, deixaram de contribuir com os seus dízimos e as suas ofertas.
Em meados de 1958, enfrentou graves problemas de intolerância religiosa, que eram rotineiramente movidas pelo Pe. José Patrício de Almeida, pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem:
“O Rev. Antônio Neto continuou dando assistência pastoral até 1957, quando o licenciado em teologia José Borba da Silva Neto foi consagrado e assumiu o pastorado da igreja, permanecendo até o meio do ano de 1959. Durante o seu pastorado houve um período de perseguição, tendo os inimigos da causa evangélica intentado derrubar o templo.” (SANTANA FILHO & FERREIRA, 2016: p. 94)
Em uma dessas oportunidades, quando o padre insuflou os ânimos do povo para derrubar o templo da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem, pediu auxílio das autoridades constituídas da cidade para disponibilizar policiais para impedir qualquer tipo de vandalismo, solicitação que foi imediatamente atendida.
Depois que saiu dessa cidade, em virtude da perda do seu pastorado, conforme registro da ata da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem do dia 27 de dezembro de 1958, foi substituído pouco tempo depois pelo Rev. Ezequiel Fragoso Vieira:
“O senhor presidente, Rev. José Borba Neto da Silva Neto, pastor da igreja, passou à direção da assembleia para o Presbítero Bernardino Fragoso, que submeteu a uma votação se o senhor Rev. José Borba ficaria ou não em nosso campo como pastor da igreja; a votação contrária foi 17 votos, a favor que ele ficasse 3 votos; votos nulos, um voto. Logo depois o nosso pastor foi automaticamente dispensado no campo de Boa Viagem.”
Ao sair do campo de Boa Viagem foi indicado pela Junta Regional do Nordeste para assumir os trabalhos pastorais da Igreja Evangélica Congregacional de Natal, que está localizada na Rua Borborema, nº 1.083, no Bairro Alecrim, onde passou pouco tempo.
Certa noite, na cidade de Natal, de forma inesperada, recebeu em sua porta a sua querida Aliete, que resolveu fugir da casa de seus pais, na cidade do Recife, para consumar o proibido relacionamento.
Sem alternativa, impossibilitado de deixar à donzela no meio da rua, resolveu abrigar a jovem sob o seu teto, causando um escândalo e consequentemente perdendo o seu pastorado.
Retornando ao Recife, ainda impedido pelos pais da moça de consumar o relacionamento e afastado de suas funções pastorais por conta do escândalo, voltou a trabalhar na alfaiataria de seu irmão e pouco tempo depois, no início dos anos 1970, padecendo de grave enfermidade, provavelmente tuberculose, foi socorrido no Hospital Evangélico de Pernambuco, que está localizado na Rua Frei Jaboatão, nº 301, no Bairro da Torre, onde veio a óbito.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, foi sepultado por seus familiares no Cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção, que está localizado na Rua dos Palmares, s/nº, no Bairro de Santo Amaro.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, através da lei nº 985, de 19 de dezembro de 2007, uma das ruas do Bairro de Nossa Srª de Fátima, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.
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