Antônio de Queiroz Marinho nasceu no dia 19 de maio de 1919 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Manoel Araújo Marinho e de Maria Queiroz Marinho.
Os seus avós paternos se chamavam Manoel Duarte de Araújo e Maria Amélia de Araújo, já os maternos eram José Queiroz da Cunha e Silva e Maria das Mercês de Queiroz.
Alguns dias depois do seu nascimento, em 6 de junho, seguindo o costume da confissão religiosa de seus pais, recebeu o batismo pelas mãos do Mons. José Cândido de Queiroz Lima.
Pouco tempo depois desses fatos, já no final da década de 1920, quando ainda era uma criança, o seu pai assumiu a chefia do Poder Executivo do Município de Boa Viagem, fato que aconteceu outras vezes.
Em uma dessas vezes o Município de Boa Viagem, por um ato do Governo do Estado, perdeu a sua autonomia política e voltou à condição de Distrito do Município de Quixeramobim.
Quando tinha 12 anos de idade assistiu a duros anos de seca, a queda na safra agrícola, a drástica diminuição dos rebanhos e o constante êxodo rural de nosso Município até que, no dia 20 de maio de 1931, no início do período denominado de “Era Vargas”, no governo do Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Távora, interventor do Estado do Ceará, aconteceu à emissão do decreto de extinção do Município de Boa Viagem:
“O interventor federal do Estado do Ceará, Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Távora, considerando que a atual organização municipal deve ser modificada por não atender ao interesse público; Considerando que, para a constituição de qualquer Município, se torna necessária uma população nunca menor de quinze mil habitantes, uma renda anual não inferior a trinta contos de reis e outros fatores de valor; Considerando que muitos dos atuais Municípios não preenchem esses requisitos, sendo meras expressões territoriais, sem vida própria. Considerando que, dest’art, para proporcionar aos Municípios uma existência normal, se impõe a supressão de alguns deles, decreta: Art. 1º – O território do Estado divide-se, administrativamente; em 51 Municípios e estes em Distritos. Art. 4º – Ficam extintos os seguintes Municípios:…. Campos Sales, Conceição do Cariry, Santa Cruz, Várzea Alegre…. Boa Viagem que passará respectivamente a fazer parte do Município de Quixeramobim…” (CAVALCANTE MOTA, 1989: p. 38-39)
Depois disso, desejando conhecer “o mundo” em busca de oportunidades de trabalho, resolveu tentar a sorte na capital federal da época, a cidade do Rio de Janeiro, onde passou alguns anos.
Nessa cidade, no dia 14 de março de 1943, segundo informações existentes no livro B-236, pertencente ao Cartório da 6ª Circunscrição, na Freguesia de Santa Ana, tombo nº 15.222, folha 151, contraiu matrimônio com Maria Júlia Catão Marinho, nascida no dia 28 de março de 1925, sendo filha de um oficial da FAB – a Força Aérea Brasileira, o General Sylvio Alves Catão e Irene Serrão Alves Catão.
No mês seguinte, no dia 15 de maio, confirmou os seus votos em uma cerimônia religiosa ocorrida na Igreja Matriz de São Francisco de Xavier.
Desse matrimônio foram gerados três filhos, duas mulheres e um homem, sendo eles: Sônia Queiroz Marinho, Maria Irene Catão Marinho e Antônio Sylvio Catão Marinho.
Depois de algum tempo casado, juntamente com a sua família, decidiu retornar para o Estado do Ceará, passando a residir e a explorar uma pequena mercearia em sua cidade natal na Rua Agronomando Rangel, nº 417, esquina com a Rua Antônio de Queiroz Marinho, no Centro da cidade.
Descendente de uma das famílias mais tradicionais e abastadas de nossa região decidiu entrar na vida pública concorrendo a uma das vagas da Câmara Municipal de Vereadores, logo que teve início o período de redemocratização no nosso país:
“Os Araújos, família rica e filiada a outras das mais antigas do norte do Ceará, vivia na mesma região [Sertão de Canindé], tendo como sede principal a povoação de Boa Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 190)
Nesse pleito, acontecido no dia 7 de dezembro de 1947, militando nos quadros políticos do PSP – o Partido Social Progressista, ao lado de seu pai, que retornava ao comando do Poder Executivo, conseguiu ser o vereador com a maior votação entre os seus pares ao receber 167 votos.
Depois de eleito assumiu a presidência da mesa diretora do Poder Legislativo do dia 25 de março de 1948 ao dia 24 de março de 1951, ocasião em que deu lastro de sustentabilidade política ao governo do Prefeito Manoel Araújo Marinho.
Segundo alguns de seus contemporâneos, nessa época, quando o Governo Municipal fazia cumprir o artigo 53 da lei municipal nº 2, de 30 de maio de 1937, o Código de Posturas, muitos proprietários irresponsavelmente passavam dias até descobrir e a vir buscar os seus animais que perturbavam os moradores da cidade e estavam presos no estábulo mantido pela prefeitura:
“É proibido qualquer animal pastar nas ruas e praças desta vila. Os animais que forem encontrados pastando ou danificando as casas, durante o dia ou noite, serão levados ao depósito municipal, quer por funcionários, quer por particulares.”
Enquanto isso, os animais que ficavam presos no curral municipal esperando serem reclamados pelos seus proprietários nem sempre eram bem alimentados pelos funcionários da prefeitura.
Nesse meio tempo, era comum ver o “Totonho”, como era popularmente conhecido, alimentado os animais as suas próprias custas, alegando que os animais não tinham culpa de estar perambulando pela cidade e sim os seus donos.
Desempenhando um bom mandato, no pleito eleitoral seguinte, acontecido no dia 3 de outubro de 1950, dessa vez militando nos quadros políticos do PSD – o Partido Social Democrático, conseguiu ser reeleito ao Poder Legislativo recebendo a confiança de 320 eleitores, a maior votação dessa disputa.
Nessa legislatura, depois de eleito, voltou a presidência da mesa diretora da Câmara Municipal, tendo ao seu lado o seu cunhado, Otacílio de Alencar Araújo, que havia sido eleito pela UDN – a União Democrática Nacional.
Nessa legislatura, inicialmente prestou apoio aos projetos encaminhados pelo gabinete do Prefeito Aluísio Ximenes de Aragão, ex-cunhado de seu pai, sendo eles: a aprovação da compra de máquinas agrícolas, que posteriormente foram destinadas ao auxílio de pequenos agricultores; a reforma e construção da área interna do Mercado Público Municipal Jessé Alves da Silva, que foi destinado à venda de carne; a abertura e pavimentação em paralelepípedo de ruas do Centro da cidade; o serviço de abertura e manutenção de rodovias municipais; a manutenção do funcionamento de 39 escolas; a reforma da cadeia pública; a manutenção do motor e do gerador de iluminação da cidade e de campanhas em favor da vacinação do rebanho.
Ainda nessa época, deu parecer favorável a consulta que foi encaminhada pelo Governo Federal em favor da estatização do petróleo e acompanhou os trabalhos do Governo Municipal na luta contra um surto de varíola que atingiu o Município.
Pouco tempo depois, ao romper com o grupo do prefeito, encabeçou um forte movimento de oposição, pois tinha o seu nome cotado como futuro candidato do partido na eleição que se aproximava.
Essa oposição começou a tomar vulto a partir da reprovação das contas do prefeito, que ocorreu no dia 31 de março de 1954 e foi registrada na página 52 do livro de atas da Câmara Municipal da seguinte forma:
“Estando presente o prefeito municipal, solicitou este do sr. presidente que lhe fosse facultada a palavra, o que sendo atendido passou ele a fazer a leitura enfadonha e maçante de suas prestações de contas, ao invés de entregar o balancete a esta casa, como é de lei e conforme a solicitação do Vereador Otacílio de Alencar Araújo aprovada na sessão anterior… usou a mesma o Vereador Otacílio de Alencar Araújo para não só criticar aquela prestação de contas, bem como para comprovar os seus pareceres anteriores de que a prestação de contas do atual prefeito, sem um exame cuidadoso de todos os documentos pela Comissão de Finanças não merece aprovação desta casa, no que foi apoiada pelos demais.”
No calor dessa provável candidatura, utilizou uma importante ferramenta para exposição de suas ideias, o microfone de uma rádio comunitária que era chamada de “A Voz da Liberdade” e que diariamente tecia inúmeras críticas aos atos do prefeito e de seus aliados:
“Serviço de som instalado pelo Dr. Gervásio de Queiroz Marinho, no final da década de 1940, em frente à Praça Antônio de Queiroz Marinho. Foi de grande utilidade pública aos habitantes da nossa cidade, transmitindo-lhes músicas, notas sociais, avisos, propagandas políticas e outros.” (NASCIMENTO, 2002: p. 262)
Certo dia, segundo os relatos de algumas testemunhas, expôs comentários desonrosos à família do genro do prefeito, que se chamava Casimiro Nogueira Filho e era o responsável pela pasta de finanças da prefeitura, fato que acirrou ainda mais as disputas políticas e gerou um clima de ofensa pessoal entre os dois.
Alguns dias depois desse triste episódio, ofendido e cheio de rancor pelos comentários publicados, à vingança não tardou em lhe atingir.
O escritor Dr. José Aroldo Cavalcante Mota, em seu romance “Realidade e Ficção”, nos ilustra o pano de fundo daquela época e nos dá um rico exemplo dos comentários “picantes” utilizados por quem manuseava aquele aparelho de rádio:
“Ao meio-dia o serviço de amplificadora ‘A Voz da Liberdade’, dirigida pelo Vereador Totonho Araújo, iniciou os seus trabalhos. Tocou o Hino Nacional (1ª parte) e o locutor Fransquinho leu uma nota deixando transparecer que a mudança de partido do Valdo teria sido um alívio para a Prefeitura. A nota chegou a dizer – ‘assim os cofres da Prefeitura ficam livres desse lalau…’” (CAVALCANTE MOTA, 1996: p. 9)
Na manhã do dia 5 de agosto de 1954, tendo um dos seus filhos doentes, saiu de sua casa e se dirigiu a poucos metros no intuito de comprar um remédio na Farmácia Alvorada, que era localizada bem próximo de sua casa, propriedade de seu irmão, o Dr. Solon Ximenes de Araújo.
Prestes a cruzar a Rua Agronomando Rangel, por conta dessas sérias desavenças políticas, foi surpreendido pelo Nogueira, que crivou-lhe de balas, tendo morte instantânea:
“Ainda na década de 1950, o Vereador Antônio de Queiroz Marinho, conhecido como Totonho, filho do Sr. Neo Araújo, foi assassinado pela manhã cedo na farmácia de seu irmão, o médico Dr. Solon Ximenes de Araújo, pelo Nogueira, secretário e genro do prefeito, Sr. Aluísio, que os próprios Araújo ajudaram a eleger.” (VIEIRA FILHO, 2008: p. 52)
Minutos depois de seu assassinato, testemunhas do fato afirmaram que a cidade virou um “deserto” por conta dos inúmeros disparos que foram efetuados por membros das duas famílias, deixando o seu pai ferido com uma bala alojada no pescoço.
O motivo e às circunstâncias de sua morte deixaram o Poder Legislativo do Município de Boa Viagem em recesso por mais de seis meses, bem como uma de suas cadeiras ociosa, que foi ocupada no dia 22 de fevereiro de 1955 pelo Cel. José Cândido de Carvalho.
Na reabertura desses trabalhos, que está registrado na página 52v do livro de atas da Câmara de Vereadores, sentimos o clima de mágoa existente entre os dois poderes:
“Aos 22 dias do mês de fevereiro de 1955, às 13 horas, no salão destinado ao funcionamento da Câmara Municipal de Boa Viagem… em virtude de haver falecido o sr. presidente desta casa, aliás de maneira trágica e traiçoeiramente, o vereador de saudosa memória Antônio de Queiroz Marinho… em seguida o sr. presidente usando da palavra relembrou a atuação benéfica e salutar do presidente extinto, Antônio de Queiroz Marinho. Concluindo a sua fala solicitou da casa um minuto de silêncio em memória daquele inesquecível vereador, que tanto soube corresponder ao mandato que o povo de sua terra lhe confiou e que as forças do mal tramaram covardemente contra a sua existência.”
O seu óbito está registrado no livro C-07, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 2.046, folha 20, onde consta que faleceu com apenas 35 anos de idade.
Logo após esse lamentável episódio, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, n° 295, no Centro da cidade de Boa Viagem.
BIBLIOGRAFIA:
- BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Avivando Retalhos – Miscelânea. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1983.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1930 – 1945). Fortaleza: Stylus Comunicações, 1989.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. Boa Viagem, Realidade e Ficção. Fortaleza: MULTIGRAF, 1996.
- MARUM, Simão. Quixeramobim, Recompondo a História. Fortaleza: MULTIGRAF, 1996.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro dos batismos. 1918-1920. A-14. Tombo nº 550. Página 55v.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão: A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Boa Viagem, CE: Premius, 2010.
- TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ. Primeiras Eleições e Acervo Documental. Fortaleza: TRE, 2007.
- VIEIRA FILHO, José. Minha História, Contada por Mim. Fortaleza: LCR, 2008.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Gervásio de Queiroz Marinho, através da lei nº 30, de 3 de outubro de 1959, uma das praças da cidade, que antigamente era chamada de Praça da Avenida, como também uma das ruas que se estendem pelos Bairros Centro e Alto do Motor, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua denominação;
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Delfino de Alencar Araújo, uma barragem existente na localidade que é denominada de Cais recebeu a sua nomenclatura.
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