Gervásio de Queiroz Marinho nasceu no dia 18 de abril de 1917 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Manoel Araújo Marinho e de Maria Queiroz Marinho.
Os seus avós paternos se chamavam Manoel Duarte de Araújo e Maria Amélia de Araújo, já os maternos eram José Queiroz da Cunha e Silva e Maria das Mercês de Queiroz.
Foi herdeiro político de uma das mais tradicionais famílias do Município de Boa Viagem:
“Os Araújos, família rica e filiada a outras das mais antigas do norte do Ceará, vivia na mesma região [Sertão Central], tendo como sede principal a povoação de Boa Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 190)
Seguindo o mesmo caminho trilhado por alguns de seus irmãos, realizou os seus estudos secundários no Colégio Cearense Sagrado Coração, que depois passou a se chamar de Colégio Marista Cearense, e pouco tempo depois cursou o preparativo para o curso jurídico no Liceu do Ceará.
No início da gestão do Prefeito José Rangel de Araújo, seu tio, foi nomeado guarda-livros da Prefeitura de Boa Viagem. Pouco tempo depois, no dia 18 de maio de 1938, conforme as informações existentes no livro de registros das correspondências da Prefeitura de Boa Viagem, página nº 54, aos 21 anos de idade, foi indicado como Delegado de Terras da 5ª Zona do Departamento de Terras e Colonização do Estado do Ceará.
“Solicito a vossa fineza de nomear para exercer as funções de Delegado de Terras deste Município o cidadão Gervásio de Queiroz Marinho, moço que corresponderá e saberá executar com a máxima eficiência as atribuições do cargo que virá a ocupar.”
Residindo na cidade de Fortaleza, conseguia conciliar o seu trabalho com os estudos na Faculdade de Direito do Ceará, onde cursou a graduação em Ciências Jurídicas e Sociais na turma de 1942, filiando-se em 1944 a OAB – a Ordem dos Advogados do Brasil.
Nessa época, por conta da 2ª Guerra Mundial, ingressou na primeira turma do CPOR – o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, unidade de ensino do Exército Brasileiro responsável pela formação básica, moral, física e técnico-profissional dos oficiais subalternos da 2ª classe da reserva, sendo aspirante estagiário do 23º BC – o Batalhão de Caçadores, de onde saiu 2º Tenente da Reserva do Exército Brasileiro.
Depois disso, na eleição estadual que ocorreu no dia 19 de janeiro de 1947, compondo os quadros políticos do PSP – o Partido Social Progressista, concorreu a uma das vagas da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e conseguiu receber à confiança de apenas 1.121 eleitores, ocupando a 9ª suplência de seu partido.
Poucos dias depois, no dia 29 de março, segundo informações existentes no livro B-30, pertencente ao Cartório Cavalcânti Filho, folha 185, termo nº 268, contraiu núpcias com Maria Eugênia Teófilo Marinho, nascida no dia 23 de julho de 1924, sendo filha de Humberto Albano Teófilo e de Eloisa Beatriz de Holanda Teófilo.
Desse matrimônio foram gerados três filhos, duas mulheres e um homem, sendo eles: Régia de Queiroz Araújo e Gervásio de Queiroz Marinho Filho.
No pleito eleitoral seguinte, ocorrido no dia 3 de outubro de 1950, conforme a ata da 122ª sessão extraordinária do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Ceará, realizada no dia 4 de outubro de 1951, ainda concorrendo a uma das vagas da Assembleia Legislativa, dessa vez nos quadros políticos do PSD – o Partido Social Democrático, ficou na 11ª suplência do seu partido, quando recebeu apenas 3.230 votos.
Algum tempo depois, ainda militando nos quadros do PSD, com o apoio do Prefeito Delfino de Alencar Araújo, conseguiu ser eleito como prefeito do Município de Boa Viagem no pleito eleitoral que aconteceu no dia 3 de outubro de 1958, quando conseguiu vencer com pouco menos de trezentos votos a chapa que era formada pelo dentista Dr. José Maria Sampaio de Carvalho e José Bruno Maciel.
Assumiu ao seu mandato eletivo no dia 25 de março de 1959 no lugar de seu primo, e tinha como vice o nome de Manuel Stênio de Queiroz Ribeiro.
“A família Araújo exerceu forte liderança política e comercial no Município de Boa Viagem, desde sua fundação até 1963.” (CAVALCANTE MOTA, 2000: p. 21)
Em seu mandato, conseguiu mobilizar a comunidade para construção da Associação Atlética Boa-viagense, sendo eleito pelos sócios como o seu primeiro presidente.
“A sua carreira política foi iniciada em 1958, quando foi eleito prefeito de Boa Viagem para o mandato de 1959 a 1963. No exercício do cargo deu grande impulso ao desenvolvimento da cidade. Concluiu o Açude José de Alencar Araújo, de grande relevância para a população, obra iniciada por seu progenitor, Manoel Araújo Marinho. Implantou o Sistema de Abastecimento d’Água da cidade através de um complexo de caixas d’água, adutoras e rede de distribuição, em funcionamento até os dias de hoje. Construiu o açude municipal em convênio com o DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra Secas, estruturou a organização urbana da cidade denominando ruas e avenidas com as suas respectivas numerações. Realizou várias obras de infraestrutura, entre as quais o calçamento em paralelepípedos e pedra tosca das ruas e a construção de algumas praças públicas.”
No dia 17 de agosto de 1962, desejando uma das cadeiras da Assembleia Legislativa, licenciou-se temporariamente do cargo de prefeito para disputar a eleição que aconteceu no dia 7 de outubro.
Depois dessa eleição, não obtendo sucesso nas urnas, retornou ao exercício do seu mandato, que foi encerrado no dia 25 de março de 1963, entregando à Prefeitura de Boa Viagem nas mãos do Prefeito Dr. Manuel Vieira da Costa – o Nezinho.
Pouco tempo depois, no pleito eleitoral ocorrido no dia 15 de novembro de 1966, o primeiro depois do golpe militar de 1964, militando nos quadros políticos da ARENA – a Aliança Renovadora Nacional, legenda nº 11.131, voltou a concorrer por uma das vagas da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, recebendo à confiança de 4.383 eleitores, finalmente conseguido uma das cadeiras do Poder Legislativo.
Nessa eleição, por conta do AI-3, o Ato Institucional nº 3, que definiu o processo de escolha de nossos representantes, a disputa ocorreria em duas etapas, a primeira delas, acontecida no dia 3 de setembro, de forma indireta, foi escolhido o governador do Estado, e no dia 15 de novembro, de forma direta, os senadores, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores.
Pouquíssimo tempo depois de sua eleição, por conta de ciúmes e fofocas que ocorriam nos bastidores do poder, rompeu politicamente com José Vieira Filho – o Mazinho, candidato que ajudou a eleger a prefeito do Município de Boa Viagem:
“Era o meu líder. Eis, porém, que, em virtude do nosso êxito e da empolgação dos eleitores, muitos deles chegavam para o Dr. Gervásio, comentavam o pleito e diziam: ‘Doutor, o senhor dê todo apoio ao Mazinho, pois, se não fosse o trabalho dele, o senhor não teria sido eleito’.” (VIEIRA FILHO, 2008: p. 48)
Esse rompimento político, como também a distância de suas bases eleitorais no Município de Boa Viagem, marcou o início do fim da “Oligarquia dos Araújo” e o surgimento de outro grupo político nesse Município, que recebeu alguns anos depois o nome de “Oligarquia dos Paraibanos”.
Nessa legislatura, no dia 23 de fevereiro de 1969, conseguiu figurar na mesa diretora da Assembleia Legislativa figurando como seu 4º secretário.
“Conseguiu ser eleito deputado estadual para a legislatura de 1967/70, cumpriu com competência e dignidade o mandato parlamentar que lhe foi confiado. Assumiu a quarta secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa em 1969.”
Ao encerrar o seu mandato na Assembleia Legislativa, na cidade de Boa Viagem, o grupo político do Prefeito José Vieira Filho encenou um episódio de deboche que lamentavelmente representava o ódio existente entre as duas correntes políticas, ficando na memória de muitas pessoas por muitos anos.
Nessa ocasião, alguns dos principais apoiadores do grupo político do prefeito desfilaram com um caixão pelas principais ruas da cidade simulando o enterro político da “Oligarquia dos Araújo”:
“Nesse tempo, o cenário político de Boa Viagem era totalmente dominado pela família Araújo, que durante quase quarenta anos, conseguiu a façanha de conduzir o destino deste Município… Atribuímos a essa mudança no cenário político a três fatores: a família Araújo, mais tarde conseguida como “Oligarquia Araújo”, não tinha um nome da família para sucessão municipal; novos quadros de eleitores chegaram ao Município, os paraibanos, que aos poucos foram se aliando ao seu principal adversário, José Vieira Filho, o Mazinho, e por fim o desgaste natural de sua legenda.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 166 – 167)
Por coincidência ou não, mesmo tendo sido uma das principais figuras políticas dos anos de 1960, não existe no Município de Boa Viagem nenhum equipamento público com o seu nome, deixando claro que a “Oligarquia dos Paraibanos” fez questão de apagar a sua trajetória política nesse Município.
Na área pública ocupou, entre outros, os cargos do Diretor Administrativo da Legião Brasileira de Assistência; Delegado de Investigações e Capturas; Advogado do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem e Procurador do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
No dia 30 de abril de 1990, depois de algum tempo de desgastes em seu relacionamento conjugal, o seu casamento chegou ao fim depois de homologada a sua separação consensual.
Algum tempo depois, no dia 4 de abril de 2005, faleceu aos 88 anos de idade no Bairro da Parangaba, na cidade de Fortaleza.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado no mausoléu da família existente no Cemitério Parque da Paz, que está localizado na Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, nº 4.454, Passaré.
Alguns dias depois do seu falecimento, conforme ata da 26ª reunião do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, ocorrida no dia 1º de junho de 2005, presidida pelo Desembargador Dr. José Eduardo Machado de Almeida, o seu nome e um pouco de sua trajetória política foi divulgada pelo advogado Dr. José Aroldo Cavalcante Mota na sessão do plenário:
“Logo após, o advogado Aroldo Mota solicita o registro, em ata, de votos de pesar pelos falecimentos do Dr. Mauro Botelho, ex-secretário de Agricultura, bem como do Dr. Gervásio de Queiroz Marinho, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Boa Viagem, devendo dos fatos ser dada ciência à família enlutada, nas pessoas da viúva, Sr.ª Zuleica Palhano Botelho, e do filho, Sr. Gervásio de Queiroz Marinho Filho. A Corte, unanimemente, acata a proposição, acostando-se à iniciativa o douto Representante Ministerial.” (DJCE: p. 184)
BIBLIOGRAFIA:
- AZEVEDO, Stênio & NOBRE, Geraldo. O Ceará na Segunda Guerra Mundial. Fortaleza: ABC Editora, 1998.
- BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Avivando Retalhos – Miscelânea. 2ª edição. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1983.
- BRASIL, Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Primeiras Eleições e Acervo Documental do Tribunal Regional Eleitoral/Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Fortaleza, TRE-CE, 2007.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. As “sete irmãs” e a história política do Ceará. Fortaleza: MULTIGRAF, 2000.
- FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
- GIRÃO, Raimundo. História da Faculdade de Direito do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1960.
- MARUM, Simão. Quixeramobim, Recompondo a História. Fortaleza: MULTIGRAF, 1996.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
- VIEIRA FILHO, José. Minha História, Contada por Mim. Fortaleza: LCR, 2008.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, no Município de Itaitinga, que está localizado na Região Metropolitana da cidade de Fortaleza, uma escola infantil recebeu a sua nomenclatura.
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