Pe. José Antônio Cavalcante

José Antônio Cavalcante nasceu no dia 2 de abril de 1839 no Município de Mombaça, que está localizado no Sertão do Estado do Ceará, distante 296 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo os seus pais Raimundo Ferreira Leitão e Maria da Silva Chaves.
Mais tarde, no dia 7 de junho, seguindo os ritos da confissão religiosa de seus pais, foi batizado pelas mãos do Pe. João do Nascimento e Sá.
Na época do seu nascimento o Município de Mombaça, que era conhecido pelo topônimo de “Maria Pereira”, era apenas um pequeno Distrito pertencente ao Município de Quixeramobim e projetava-se economicamente na intenção de receber a sua autonomia política:

“Com a criação da freguesia em 6 de setembro de 1832, desmembrado o seu território da antiga freguesia de Santo Antônio de Quixeramobim, o Distrito passou a ser chamado de freguesia de Nossa Senhora da Glória de Mombaça, compreendendo os territórios dos atuais Municípios de Mombaça, Pedra Branca, Senador Pompeu e Piquet Carneiro. Depois, com a elevação a Município, em 27 de novembro de 1851, conforme resolução nº 555, batizaram o novo Município com o nome de Maria Pereira, em uma homenagem à antiga proprietária da fazenda de mesmo nome. Em 9 de julho de 1892, pelo decreto nº 69, o nome do Município foi mudado para Benjamin Constant, voltando a denominar-se Maria Pereira em 21 de setembro de 1918, através da lei nº 1.565. Todavia, havia uma tradição mais livre, pois o povo, apesar de reconhecer Maria Pereira, como fundadora do lugar, sempre chamou a esta terra de Mombaça, topônimo legado pelos portugueses e que foi sempre o da primitiva povoação. E assim, atendendo a este fato, como a estudos históricos também dos filhos desta região, o decreto-lei nº 1.114, de 30 de dezembro de 1943, fez voltar o topônimo a sua mais antiga denominação de Mombaça.” (S.N.T)

No dia 6 de março de 1867, sentindo-se vocacionado, foi encaminhado por sua paróquia aos estudos necessários ao exercício do sacerdócio no Seminário Episcopal do Ceará, atual Seminário da Prainha, que está localizado na Rua Tenente Benévolo, nº 201, Centro, na cidade de Fortaleza.
Algum tempo depois, no dia 30 de novembro de 1873, aos 34 anos de idade, foi ordenado ao presbitério na cidade de Fortaleza pelo bispo diocesano, D. Luís Antônio dos Santos.
Logo após a sua ordenação, no dia 9 de fevereiro de 1874, foi designado vigário coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, na freguesia de Tauá, localizada no Sertão dos Inhamuns, permanecendo nessa função até o dia 4 de setembro de 1876. Depois disso, em janeiro de 1877, solicitou de seu bispo Carta Comendatícia pois desejava migrar da Província.
Sobre esse assunto, através do periódico abolicionista O Libertador, ano IX, nº 244, página 3, edição do dia 24 de outubro de 1889, temos um relato autobiográfico de seu punho enviado ao editor desse jornal, com data de 25 de setembro de 1889, que nos diz o seguinte:

“Nascido e criado no centro da Província do Ceará, tive de emigrar em junho de 1878 para a capital, d’onde segui para a do Maranhão; d’ahi para o centro dessa Província; mais tarde para a Província do Goyaz, que percorri desde as suas imediações com o Sul do Pará até as vertentes do Rio do Somno, e finalmente no Piauhy, de onde regressei a minha Província natal, e n’ella exerço, ainda que indignamente, o cargo de vigário encomendado. No período de oito annos que passei por aquellas Províncias, a cada passo encontrei co-provincianos meus, cujo estado de miséria era lastimável.”

Segundo o escritor Leonardo Mota, alguns anos depois, de volta ao Ceará, no dia 28 de março de 1888, foi designado pelo bispo de Fortaleza, Dom Joaquim José Vieira, vigário da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, em substituição do Pe. Raimundo Teles de Sousa.

“Ofício de 28 de março de 1888 – O bispo diocesano, D. Joaquim José Vieira, comunica ao presidente da Província, Enéas de Araújo Torreão, que o Pe. José Antônio Cavalcante foi nomeado vigário de Boa Viagem em substituição ao Pe. Raimundo Teles de Sousa.” (MOTA, APEC: p. 217)

Assumiu as funções na Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem na véspera de seu 49º aniversário, 1º de abril de 1888, e logo que chegou tentou dar uma nova dinâmica aos trabalhos eclesiásticos desenvolvidos pela igreja, ficando nesse cargo até o dia 4 de janeiro de 1896:

“O Padre José Antônio Cavalcante fundou, em 1888, o Apostolado da Oração.” (NASCIMENTO, 2002: p. 83)

Logo que chegou à vila de Boa Viagem, enfrentou também o duro problema da seca, que dificultava ainda mais a vida do sertanejo, conforme relata a sua carta enviada ao periódico O Libertador, de 24 de outubro de 1889.
Nessa carta, percebemos a sua nítida insatisfação com o Governo da Província em ter nomeado um cidadão, morador do Município de Quixeramobim, como presidente da Comissão de Socorros e que pouco conhecia a realidade vivida pelos habitantes de sua paróquia:

“Entretanto, no princípio de agosto próximo passado sorprehendeu-nos a notícia de ter sido nomeado para a cidade de Quixeramobim, cabeça da comarca, um commissário geral de toda a comarca. Todos nós protestamos contra aquella medida e deliberamos mandar uma pessoa fidedigna a presença de sua excelência o presidente da Província; afim de representar a necessidade que temos de um commissário independente de Quixeramobim, que morasse entre nós e conhecesse as nossas necessidades.”

Durante o exercício de seu ministério, nessa freguesia, sofreu dura e constante perseguição movida por parte de alguns membros da família Rabêlo, por conta de questões políticas, até  que, a partir do dia 4 de abril de 1896, saiu definitivamente da cidade de Boa Viagem.
Depois disso a freguesia passou a ser assistida pelo vigário do Município de Pedra Branca, Pe. José Jatahy de Sousa, que ficou celebrando nessa função até 1898, enquanto aguardava a designação de um titular por parte da diocese que assumisse os trabalhos dessa freguesia.

Imagem da Igreja Matriz de Santo Antônio, na cidade de Caridade, em 2010.

Ao sair do Município de Boa Viagem o Pe. José Antônio Cavalcante foi designado vigário coadjutor da Igreja Matriz de São Francisco das Chagas, que está localizada no Município de Canindé, onde foi nomeado capelão de uma pequena comunidade que por sua importância econômica pouco tempo depois se tornou a sede de um próspero Distrito.

“Em 1860 o Cel. Antônio Gaspar da Silveira situou este lugar à margem esquerda das nascentes do Rio Macaco, elevando-se na sua vizinhança, ao leste, um pequeno Serrote chamado Kágado, nome que tomou a nascente fazenda. A sua especial situação, ao lado da mui transitada estrada dos sertões do interior para Maranguape e Fortaleza aumentou depressa o seu desenvolvimento e em pouco tempo, de fazenda, tornou-se um povoado importante pelo seu comércio e pela feira de gados transportados dos sertões criadores de Boa Viagem, Santa Quitéria e Inhamuns. Numa missão de penitência pregada pelo Rvdmo. Pe. José Tomais, mais ou menos no ano de 1880, edificou-se uma capela sob o patrocínio de Santo Antônio de Lisboa, em cuja ocasião o missionário mudou o nome da povoação de Kágado para o de Caridade. O patrimônio de nova capela foi doado pelo Sr. Cel. Antônio Gaspar da Silveira, constando uma área de terreno de 500 metros de frente e 200 de fundo, até a base do referido Serrote. A povoação sempre crescente pelo aumento de sua população e a prosperidade de seu comércio depressa se desenvolveu, tornando-se a capela insuficiente para abrigar o povo que a frequentava; pelo que, os seus habitantes decidiram construir uma capela mais ampla e conveniente.” (BRAGA, 1967: p. 284)

Nessa época, essa comunidade era constantemente frequentada por tropeiros, tangerinos e penitentes oriundos das romarias da basílica de Canindé. Percebendo isso, logo que assumiu essa função na vila Caridade, tratou de motivar o povo a melhorar as acomodações e o conforto da pequena Capela de Santo Antônio.

“Graças aos esforços abnegados do virtuoso Padre José Antônio Cavalcante, que então era o capelão da igreja, e à louvável cooperação do senhor Capitão Raimundo Lopes Ferreira e o concurso generoso dos habitantes da já nascente vila, foi completamente reconstruída e aumentada a antiga capela, transformando-se numa Igreja bem regular e suficiente ao recolhimento dos fiéis.” (BRAGA, 1967: p. 284)

Algum tempo depois, aos 75 anos de idade, depois de anos prestando abnegados serviços à Paróquia de São Francisco de Canindé, faleceu no Município de Caridade no dia 8 de novembro de 1914, deixando aquela comunidade coberta de luto, tendo sido sepultado no cemitério local.

“No cemitério local, há mausoléus relativamente artísticos. Em um deles o ‘Aqui Jaz’ se refere ao Padre José Antônio Cavalcante, nascido em 1839 e falecido em 1914. A ele se devem bons trabalhos realizados na capela local.” (LUSTOSA, 1986: p. 19)

BIBLIOGRAFIA:

  1. BRAGA, Renato. Dicionário Geográfico e Histórico  do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1967.
  2. LIRA, João Mendes. Subsídios para a História Eclesiástica e Política do Ceará. Fortaleza: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1984.
  3. LUSTOSA, Dom Antônio de Almeida. Notas a lápis. Fortaleza: Arquidiocese de Fortaleza, 1986.
  4. MACÊDO, Deoclécio Leite de. Notariado Cearense – História dos Cartórios do Ceará. V II. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1991.
  5. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  6. SILVEIRA, Aureliano Diamantino. Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará (1700-2004). 1º Vol. Fortaleza: PREMIUS, 2004.

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