Pe. Raimundo Teles de Sousa

Raimundo Teles de Sousa nasceu  no dia 15 de março de 1854 no Município de Santana do Acaraú, que na época era uma pequena vila pertencente ao Município de Sobral, localizada na região Noroeste do Estado do Ceará, distante 228 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Vicente Teles de Sousa e de Ana Teles de Sousa.

“Depois de chamar-se ‘Olho d’Água’ foi a povoação elevada a vila com a denominação de ‘Curral Velho’, em virtude da lei nº 1.012, de 3 de novembro de 1862, sendo instalada a 27 de junho de 1863… A elevação do Distrito a categoria de Município ocorreu com a lei nº 1.740, de 30 de agosto de 1876, com denominação de ‘Santana’. Além dos topônimos citados, acrescente às antigas denominações ‘Licânia’ e o atual ‘Santana do Acaraú’.” (RIBEIRO, 2005: p. 71)

Pouco sabemos sobre a sua infância, descobrimos apenas que em 1863, com apenas 11 anos de idade, foi matriculado por seus pais na primeira turma do Ateneu Cearense, na cidade de Fortaleza, onde com esforço conseguiu concluir a sua formação primária.

“Portanto, no dia 8 de janeiro de 1863, foi fundado o Ateneu Cearense, que foi organizado com a finalidade de complementar a ação do Liceu, oferecendo outras possibilidades de estudos para os jovens da capital e do interior da Província. Foi estruturado pelo Prof. João de Araújo da Costa Mendes, o portador dos novos métodos pedagógicos do glorioso Ginásio Baiano, do Prof. Abílio César Borges.” (GIRÃO, 1962: p. 286)

No dia 7 de março de 1872, com 18 anos de idade, tendo despertada a sua vocação ao exercício do sacerdócio, com a matricula nº 245, ingressou em uma das turmas do Seminário Episcopal do Ceará, atual Seminário da Prainha, que está localizado na Rua Tenente Benévolo, nº 201, Centro, na cidade de Fortaleza, onde cursou Filosofia e Teologia, até ser finalmente ordenado no dia 3 de agosto de 1879 pelo bispo diocesano, Dom Luís Antônio dos Santos.

Imagem do Seminário Episcopal do Ceará, na cidade de Fortaleza.

Nessa época, embora no claustro do rigoroso seminário, foi testemunha de uma das mais terríveis secas que se abateu sobre o solo cearense. Muitos indigentes, em desespero, fugiam do Sertão buscando algum tipo de socorro na capital da Província, que pouco podia fazer:

“Até então os ricos de Fortaleza não tinham presenciado cenas tão fortes e tão arrebatadoras, não tinham ainda conhecido uma seca em seus sinais tão negativos. Nas secas anteriores, no embargo de ter havido migração de sertanejos, o fenômeno não tinha alcançado as cores sombrias que se via naquele ano de 1877.” (FERREIRA NETO, 2006: p. 80)

No dia 22 de agosto de 1879, logo após a sua ordenação sacerdotal, em sua primeira experiência pastoral, foi designado vigário cooperador da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, que está localizada no Município de Maranguape, distante 30 quilômetros da cidade de Fortaleza.
Tomou posse de sua função no dia 24 de agosto, permanecendo nesse local até o dia 31 de maio de 1882.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, em Maranguape.

Nesse tempo, por determinação do bispo, assumiu a coadjutoria da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Boa Viagem, na vila de Boa Viagem, comunidade que está localizada no Sertão Central do Estado do Ceará.
De acordo com as informações publicadas no periódico O Libertador, ano 3, nº 162, de 28 de julho de 1883, participou ativamente do movimento antiescravagista que havia nesse Município.
Nessa época, para isso, foi criada a Sociedade Libertadora de Boa Viagem, uma entidade filantrópica que congregou aqueles que queriam por fim à escravidão no Brasil e representou o movimento abolicionista em Boa Viagem:

“Era impossível que o Município de Boa Viagem continuasse por mais tempo estacionário, sem receber um impulso do magno e generoso movimento libertador que se desenvolve, estendendo-se por todos os ângulos da Província. Omnia tempus habent. Era pois chegada também a vez de Boa Viagem tomar um lugar, embora dos últimos, no grande festim da liberdade. No dia 1º de julho, reunidos no salão da municipalidade, diversos cavalheiros dos mais prestantes da localidade, a convite do revmo. vigário da freguesia, e presente grande número de senhoras, instalou-se uma sociedade denominada Libertadora de Boa Viagem, cujo fim será promover, por todos os meios legítimos, a libertação do Município… O presidente declarou instalada a sociedade, apresentando 17 cartas de liberdade, todas oferecidas espontaneamente, dos quais 7 foram oferecidas pelo Capitão Antônio Sabino de Araújo, sendo declarados libertos os seus últimos escravos: Maria, Maria, Magdalena, Anna e Francisca; 2 por parte de sua digna mãe, D. Maria Sabina da Conceição, concedendo liberdade aos seus dois últimos escravos: João e Luíza; e 1 por parte de sua irmã, D. Maria de Jesus Araújo, a sua única escrava, Raymunda; 3 oferecidos pelo prestante cidadão Joaquim Cavalcante Bezerra, libertando as suas escravas: Benedicta, Galdina e Águeda; 2 pelo Capitão Vicente Alves da Costa, concedendo liberdade aos seus dois escravos: Caetano e Nicácio; 1 pelo cidadão José Rabêlo e Silva, libertando a sua escrava Maria; 1 pela digna professora pública dessa vila, D. Joaquina Beleza de Macêdo Nogueira, libertando a sua única escrava, Joana; 1 oferecido pelo cidadão João Lobo dos Santos, dando liberdade a sua escrava Alexandrina e finalmente 1 oferecido pelo cidadão Manoel Mendes Machado. São poucos os escravos que restam no Município, talvez não excedam a 40. Mas a sociedade não conta com bastantes recursos para acelerar, como desejara, a sua completa extinção. Entretanto, convencidos como já devem estar os senhores de que improfícua será a resistência que por ventura poderão opor, serão levados a libertar voluntariamente os poucos que ainda restam. E prazam a Deus que se realizem as aspirações do digno presidente da Libertadora de Boa Viagem, isto é, que brevemente possamos dizer por nossa vez a Província: não há mais senhores e nem escravos no Município de Boa Viagem.”

Pouco tempo depois, no dia 14 de janeiro de 1884, depois de receber uma nova provisão, foi encarregado por assumir os trabalhos deixados pelo Mons. José Cândido de Queiroz Lima na Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, respondendo por essa função a partir do dia 10 de fevereiro, quando tomou posse.
Logo que se estabeleceu nesse Município passou a residir com alguns familiares nas proximidade da cidade em uma localidade denominada de Jantar, onde conciliava as atividades religiosas com a de agropecuarista:

“Nela, esse sacerdote morou com a sua mãe e irmãos, cuidando também de atividades agrícolas e do criatório de ovelhas.” (NASCIMENTO, 2002: p. 40)

Segundo informações colhidas no Arquivo Público do Estado do Ceará permaneceu nessa freguesia até o dia 28 de março de 1888, quando foi substituído pelo Pe. José Antônio Cavalcante:

“Ofício de 28 de março de 1888 – O bispo diocesano, D. Joaquim José Vieira, comunica ao presidente da Província, Enéas de Araújo Torreão, que o Pe. José Antônio Cavalcanti foi nomeado vigário de Boa Viagem em substituição ao Pe. Raimundo Teles de Sousa.”

Nos primeiros dias de março de 1891 foi designado capelão da Irmandade de São Francisco das Chagas, no Município de Canindé, pelo bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira, função que ocupou até o dia 16 de novembro de 1894.
Nessa paróquia, além das atividades eclesiásticas, orientado pela diocese, conseguiu desenvolver com denodo serviços ligados à educação. Nessa época as aulas eram ministradas durante três horas, seis dias por semana, conforme o programa observado e seguido pelo Seminário de Fortaleza:

“Dom Joaquim José Vieira cuidou que certa quantia do patrimônio de São Francisco se aplicasse à manutenção de uma escola, cujo mestre vinha a ser o próprio capelão da irmandade, a saber, de 1892 a 1894, o Pe. Raimundo Teles de Sousa e, de 1895 a 1898, o Pe. Luís de Sousa Leitão.” (WILLEKE, 1973: p. 76)

Algum tempo depois, no dia 20 de dezembro de 1894, por decisão da diocese, assumiu as atividades religiosas da Paróquia do Divino Espírito Santo, que está localizada no Município de Morada Nova, na região do Jaguaribe cearense, onde permaneceu até o dia 27 de abril de 1896.

Imagem da Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, na cidade de Morada Nova.

Em 1898, segundo registros, esteve auxiliando o vigário da Igreja Matriz do Bom Jesus dos Navegantes, no Município de Camocim, que está localizado no litoral do Estado do Ceará. Nesse mesmo ano substituiu o Mons. Vicente Martins, vigário de Maranguape que atendia em Soure, atual Caucaia.
Algum tempo depois, no dia 2 de novembro de 1902, tomou posse da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no Município de Pacatuba, permanecendo nessa função até o dia 20 de abril de 1907, quando foi desligado da função de pároco por motivos de saúde.

Imagem da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Pacatuba.

No dia 14 de abril de 1910, ainda residindo em Pacatuba, depois de ter o seu estado de saúde melhorado, voltou a exercer a capelania em um local denominado de Cachoeira, atual Solonópole, função que quase não pôde cumprir por conta da mesma enfermidade, sendo substituído pouco tempo depois pelo vigário da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Frade, conhecido hoje como Jaguaretama:

“Residiu em Pacatuba de 1907 a 1910. Foi vigário de Cachoeira, de 1910 a 1912, mas quase não paroquiou a freguesia por perdurar enfermo. Encarregou-se de substituí-lo o vigário do Frade, hoje Jaguaretama, Pe. Henrique Raulino Mourão.” (PINHEIRO, 2009: p. 372)

Nessa época, assumindo a sua designação pastoral, que foi conferida no dia 5 de maio de 1910, e mesmo enfermo, conseguiu mobilizar os seus paroquianos para construção da capela do Distrito de São José, no Município de Solonópole, e a futura Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Milhã, até que, tendo agravado o seu estado de saúde, foi afastado temporariamente de suas funções eclesiásticas no dia 14 de outubro de 1912.
Algum tempo depois, ainda sem melhoras em seu quadro de saúde, foi internado na Santa Casa de Misericórdia, na cidade de Fortaleza, onde veio a óbito no dia 13 de agosto de 1916, aos 62 anos de idade.

BIBLIOGRAFIA:

  1. ARAÚJO, Francisco Sadoc de. Dicionário Biográfico de Sacerdotes Sobralences. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1985.
  2. FERREIRA NETO, Cicinato. A Tragédia dos Mil Dias, a Seca de 1877-79 no Ceará. Fortaleza: PREMIUS, 2006.
  3. LIRA, João Mendes. Subsídios para a História Eclesiástica e Política do Ceará. Fortaleza: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1984.
  4. MACÊDO, Deoclécio Leite de. Notariado Cearense – História dos Cartórios do Ceará. V II. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1991.
  5. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  6. PAZ LOUREIRO, Francisco. Pacatuba. Formação histórica e política. (1873-2004). Fortaleza: Intergráfica, 2006.
  7. RIBEIRO, Valdir Uchôa. Conselhos de Intendência do Ceará. Fortaleza: PREMIUS, 2005.
  8. STUDART, Guilherme. Datas e Factos para a História do Ceará. 2º v. Edição Fac-simile. Fortaleza: SECULT, 2001.
  9. SILVEIRA, Aureliano Diamantino. Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará (1700-2004). 1º Vol. Fortaleza: PREMIUS, 2004.