Francisco Rangel de Araújo nasceu no dia 3 de janeiro de 1911 no Município de Independência, que está localizado no Sertão de Crateús, distante 310 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de José Rangel de Araújo e de Luzia Albina de Araújo.
Os seus avós paternos se chamavam Manoel Duarte de Araújo e Maria Amélia de Araújo, já os maternos eram Francisco Nunes de Rezende Oliveira e Maria Ditosa do Vale.
Poucos dias depois, em 5 de fevereiro, seguindo o costume da confissão religiosa de seus pais, na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Santana, recebeu o batismo pelas mãos do Pe. Joviniano Barreto.
Descendente de uma das famílias mais influentes e poderosas de sua época, apesar da sua breve existência, deu uma significativa contribuição à emancipação política do Município de Boa Viagem quando esse, por um ato do Governo do Estado, perdeu a sua autonomia administrativa para o Município de Quixeramobim.
“Os Araújos, família rica e filiada a outras das mais antigas do norte do Ceará, vivia na mesma região [Sertão de Canindé], tendo como sede principal a povoação de Boa Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 190)
Na infância, logo depois que os seus pais retornaram do Município de Independência, conseguiu aprender as primeiras letras com os professores que ensinavam na rede pública e que era integralmente financiada com os poucos recursos arrecadados pela Câmara Municipal.
Nesse período, embora ainda não entendesse com toda a clareza, tinha a oportunidade de ouvir em sua residência as articulações políticas promovidas pelo seu pai e o seu tio, Manoel Araújo Marinho, que teve um mandato no Poder Executivo na década de 1920 e outro no fim da década de 1940.
Outro personagem que certamente influenciou em sua vida, apesar de estar em oposição a “Oligarquia Araújo”, foi o marido de uma de suas tias, o empresário Salviano de Sousa Leitão, que por duas vezes, embora por pouco tempo, gerenciou o nosso Município.
Acreditamos que essa avultada influência política familiar desde cedo o fez ciente do papel desempenhado pelos seus ancestrais na formação daquilo que viria a ser o Município de Boa Viagem.
Depois de algum tempo, quando se tornou um rapazinho, seguindo o exemplo de alguns de seus primos, foi estudar na capital do Estado, sendo matriculado no Colégio Cearense do Sagrado Coração, escola que era localizada na Avenida Duque de Caxias, nº 101, Centro.
Nessa época, enquanto esteve na cidade de Fortaleza, o Município de Boa Viagem enfrentou duros anos de seca, queda na safra agrícola, diminuição dos rebanhos e o constante êxodo rural até que, no dia 20 de maio de 1931, o Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Távora, interventor federal do Estado, por meio do decreto nº 193, extinguiu o Município.
Ninguém poderia imaginar, mas o Município de Boa Viagem perdeu a sua autonomia administrativa e voltou à condição de Distrito do Município de Quixeramobim.
“O interventor federal do Estado do Ceará, Manoel do Nascimento Fernandes Távora, considerando que a atual organização municipal deve ser modificada por não atender ao interesse público; Considerando que, para a constituição de qualquer Município, se torna necessária uma população nunca menor de quinze mil habitantes, uma renda anual não inferior a trinta contos de reis e outros fatores de valor; Considerando que muitos dos atuais Municípios não preenchem esses requisitos, sendo meras expressões territoriais, sem vida própria. Considerando que, dest’art, para proporcionar aos Municípios uma existência normal, se impõe a supressão de alguns deles, decreta: Art. 1º – O território do Estado divide-se, administrativamente; em 51 Municípios e estes em distritos. Art. 4º – Ficam extintos os seguintes Municípios:…. Campos Sales, Conceição do Cariry, Santa Cruz, Várzea Alegre…. Boa Viagem que passará respectivamente a fazer parte do Município de Quixeramobim…” (CAVALCANTE MOTA, 1989: p. 38-39)
Dentro desse contexto de forte declínio político, no dia 2 de fevereiro de 1935, recebeu a dura notícia do falecimento de sua avó paterna, que veio a óbito aos 81 anos de idade e foi sepultada no mausoléu da família que está localizado no Cemitério Parque da Saudade, no Centro da cidade.
Concluindo os estudos secundários imediatamente se matriculou no curso de Agronomia da Escola de Agronomia do Ceará, hoje o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, que está localizado na Avenida Mister Hull, nº 2.977.
“Ao Agronomando Rangel, que faltava apenas um ano para concluir o curso de Agronomia, devemos a abnegada luta em prol do desmembramento do Município de Boa Viagem do de Quixeramobim, pois no dia 20 de maio de 1931, o nosso Município foi anexado àquele até o ano de 1936, quando, novamente, obteve a sua autonomia.” (NASCIMENTO, 1986: p. 4)
Muito envolvido com a nata da sociedade fortalezense, participava ativamente da boemia, das atividades políticas e sociais da vida noturna da capital cearense, gozando inclusive da amizade pessoal do interventor federal do Estado, o Dr. Francisco de Menezes Pimentel.
Nessa época a gestão dos Municípios cearenses enfrentavam séria instabilidade política, os seus interventores oscilavam de acordo com os compromissos firmados no gabinete do interventor do Estado.
Graças a essa amizade entre Francisco Rangel e o interventor do Estado, depois de anos em ocaso político, o Município de Boa Viagem retomou a sua autonomia política através da lei nº 260, de 28 de dezembro de 1936.
Em 1937, “coincidentemente”, por indicação do Governo do Estado, José Rangel de Araújo, pai de Francisco Rangel de Araújo, assumiu a interventoria do Município.
Algum tempo depois, no dia 6 de agosto de 1938, juntamente com outros amigos, quando voltava de uma festa, sofreu um grave acidente automobilístico na conhecida Curva do Cágado, no Município de Maranguape.
“Em 6 de agosto de 1938 morrem, em desastre automobilístico na estrada de Maranguape, na Curva do Cágado, na altura da entrada para Maracanaú, os jovens Sinobilino Pinheiro Maia, Sinó Pinheiro, aos 22 anos e Francisco Rangel de Araújo, estudantes em Fortaleza. Foi colocado no local um marco com o nome de Sinobilino Pinheiro, mas com a recente reforma da estrada foi retirado. Sinobilino era cearense de Jaguaribe nascido em 12 de dezembro de 1916.” (RIBEIRO, 2004: 24-25)
O seu companheiro que faleceu no desastre, Sinobilino Pereira Maia, era um jovem e promissor advogado jaguaribense que lecionava História no Liceu do Ceará e já era bastante conhecido no meio acadêmico e intelectual da época como jornalista e orador.
O Dr. José Cândido de Carvalho Filho, primo do jovem Agronomando Rangel, nos forneceu um rico e detalhado relato sobre esse triste desastre automobilístico.
“Ao falar do Agronomando Rangel, filho do ex-prefeito José Rangel de Araújo, meu tio, lembro-me perfeitamente dele quando adolescente, como aluno do Colégio Cearense. Às tardes, no período de férias, costumava vestir sua farda para seus passeios pela cidade. Morreu tragicamente, em 1938, já no final do curso de Agronomia, em um desastre de automóvel, um conversível com capota de pano arreada, quando seguia para um baile em Guaramiranga, na Serra do Baturité. Viajava com três amigos, dois companheiros concluintes do curso de agronomia e o seu primo, Glaydstone Alencar de Araújo. Seu colega Sinobilino Pinheiro, rapaz de valor intelectual, estava ao volante do carro. Chico Rangel, como era conhecido, viajava ao seu lado. E, no banco traseiro, formado com o encosto da porta da mala aberta, viajavam o Glaydstone e o outro colega. Numa curva da estrada depois de Maranguape, o carro capotou, matando, na hora, o Chico e o Sinobilino. Os outros dois saíram gravemente feridos, mas escaparam.” (CARVALHO FILHO, 2008: p. 48-49)
Depois de socorrido foi rapidamente encaminhado para cidade de Fortaleza, vindo a falecer um dia depois do desastre, no dia 7 de agosto de 1938, aos 24 anos de idade, na Casa de Saúde São Lucas, hospital que era dirigido pelo Dr. Abdenago da Rocha Lima e estava localizado na Avenida Tristão Gonçalves, ao lado da Praça da Lagoinha, atual Praça Capistrano de Abreu.
Logo após o atestado médico de seu óbito, o seu corpo foi velado pelos amigos e os poucos familiares que tiveram tempo de chegar à capital, sendo em seguida sepultado no Cemitério São João Batista, que está localizado na Rua Padre Mororó, nº 487, Centro.
BIBLIOGRAFIA:
- BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Recordações de um Boticário. 2ª edição. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1996.
- CARVALHO FILHO, José Inácio de. Boa Viagem da Minha Infância. Brasília: Thesaurus/Itiquira, 2008.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1930 – 1945). Fortaleza: Stylus Comunicações, 1989.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DE SANTANA. Livro de registro de batismos. 1911-1912. Livro A-15. Tombo nº 275. Página 25.
- RIBEIRO, Valdir Uchôa. Jaguaribe Minha Terra: O Poeta Sinó. Fortaleza: Premius, 2004.
- SIMÃO, Marum. Quixeramobim, Recompondo a História. Fortaleza: MUITIGRAF, 1996.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Gervásio de Queiroz Marinho, através da lei nº 30, de 3 de outubro de 1959, uma das ruas que se estendem pelos Bairros Boaviaginha e Centro, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.
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