Francisca Ione Vieira Assef nasceu no dia 15 de junho de 1919 na cidade de Nova Russas, que está localizada no Sertão de Crateús, distante 316 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filha de Venceslau Vieira Batista e de Bernardina Martins Vieira, que era carinhosamente conhecida pelo apelido de “Sinhá”.
Os seus avós paternos se chamavam José Batista Evangelista Vieira e Francisca Rodrigues da Conceição Mesquita Pinto, já os maternos eram Francisco de Sousa Barros e Maria Eugênia Martins.
Poucos dias depois do seu nascimento, no dia 20 de junho, na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Graças, seguindo os costumes da confissão religiosa de seus pais, recebeu o sacramento do batismo, tendo como padrinhos o seus tios, Simão de Barros Martins e Otília Lopes.
Para compreendermos um pouco de sua vida precisamos fazer o levantamento biográfico de seus pais, que durante muito tempo levaram uma “vida cigana”, sem manter raízes profundas nos relacionamentos e nos vários locais onde habitaram.
Foi a primeira entre os oito irmãos e durante a sua infância, logo que nasceu, por conta da profissão de seu genitor, que era professor, a sua família estava instalada na cidade de Nova Russas:
“Esse notável benfeitor, além de ter cuidado da saúde das pessoas, também foi um dedicado professor.” (NASCIMENTO, 2002: p. 190)
Passando alguns meses de seu nascimento, desejando melhoras econômicas, a sua família transferiu-se para vila de Telha, atualmente denominada de Monsenhor Tabosa, onde o seu pai montou uma pequena quitanda, que depois se transformou em uma loja de tecidos e aviamentos para costura.
Mais tarde, por volta de 1926, o seu genitor resolveu transferir os seus negócios comerciais para cidade Tamboril, onde ganhou projeção política e conseguiu ser eleito vereador, chegando inclusive, nessa ocasião, a presidir a mesa diretora do Poder Legislativo.
Depois de tudo isso, nos primeiros anos da década de 1930, ao fim de seu mandato, o seu pai resolveu regressar para vila de Telha, onde reinstalou a sua loja de tecidos, envolvendo-se diuturnamente com os problemas sociais da região e ingressando nas fileiras do integralismo, algo que durante anos gerou muitos problemas para sua família.
“Empolgado com essa nova filosofia, mesmo residindo na cidade de Monsenhor Tabosa, envolveu-se com os integrantes do movimento integralista, conhecidos na época como os ‘camisas-verdes’, um movimento político de extrema direita. Esse movimento ideologicamente não aceitava o capitalismo, embora defendesse a propriedade privada, o resgate da cultura nacional e o moralismo. Essa corrente combatia abertamente o comunismo e o liberalismo econômico. Conhecendo as pessoas e mantendo estreitos laços de amizade com o pároco, envolveu-se também em grande parte dos eventos sociais e cívicos promovidos pela Igreja Matriz de São Sebastião.” (SILVA JÚNIOR, 2016: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/venceslau-vieira-batista/. Acesso no dia 13 de junho de 2018)
Diante desse envolvimento político, em 1936, por conta das agitações politicas e sociais da época, como também pelo prenúncio da II Guerra Mundial, os seus pais resolveram se estabelecer comercialmente no povoado de Nossa Senhora do Livramento, na Zona Rural do Município de Boa Viagem, onde permaneceu até 1939, quando passaram a residir na localidade de Ibuaçu, também na Zona Rural do Município de Boa Viagem.
Nos últimos meses de 1943, por conta de uma estiagem, foi a vez de sua família passar a residir em Groaíras, que está localizada na região Noroeste do Estado do Ceará e nessa época era conhecida como Riacho dos Guimarães, sendo uma pequena vila pertencente ao Município de Sobral.
Nessa vila, que depois se tornou cidade, o seu pai conseguiu a façanha de fundar uma pequena escola primária, que logo foi prejudicada em seu funcionamento pelo pároco local.
“Esse pároco, segundo informações de seus contemporâneos, justificava as suas ações pelo fato de não querer ver os jovens de sua comunidade contaminados pelas ideias integralistas.” (SILVA JÚNIOR, 2016: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/venceslau-vieira-batista/. Acesso no dia 13 de junho de 2018)
Pouco tempo depois desses acontecimentos, os seus pais decidiram transferir-se para cidade do Crato, uma suntuosa cidade para essa época que está localizada na região do Cariri, a 567 quilômetros da cidade de Fortaleza, estabelecendo-se em uma casa alugada no Bairro da Cruz.
“Em 1950, desempregado, depois dessa aventura política, desistiu da vida pública e resolveu atender a uma proposta de emprego em uma das casas comerciais do Município do Crato, que anteriormente havia sido feita por um amigo dos tempos de militância partidária, Otávio de Sousa.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/jose-assef-fares/. Acesso em 3 de julho de 2016)
Nessa mesma época, contando com o consentimento de seus pais, passou uma curta temporada na cidade de Fortaleza na residência de uma de suas irmãs, oportunidade em que conheceu um jovem que era companheiro de trabalho de seu cunhado, o Telegrafista Brício de Oliveira Cardoso:
“Aos poucos José Assef Fares passou a ganhar a confiança de seus superiores e de forma inteligente foi crescendo dentro da empresa, passando a ser conhecido entre os seus colegas e pessoas da rua como ‘Zé Galego dos Correios’ devido a sua pele clara. Algum tempo depois, nessa feira em frente aos Correios, avistou uma moça e logo se encantou por ela. Curioso em saber informações ao seu respeito descobriu que ela, Francisca Ione Martins Vieira… era cunhada de um de seus colegas de trabalho, o Telegrafista Brício de Oliveira Cardoso.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/jose-assef-fares/. Acesso em 3 de julho de 2016)
Esse jovem, que se chamava José Assef Fares, nascido no dia 12 de julho de 1923 na cidade de Fortaleza, era filho de Tufí Assef Abudai e de Júlia Assef Fares Abdala, que eram libaneses.
Diante da notícia desse flerte o seu pai resolveu trazê-la para casa no intuito de dar-lhe uma profissão rentável, comprando imediatamente uma máquina de costura e recebendo lições de sua mãe.
Certo dia, sem imaginar, recebeu uma carta de seu pretendente marcando um dia de encontro para conversar com os seus pais, que assustado decidiu ir imediatamente para cidade de Fortaleza no intuito de colher informações sobre o suposto rapaz.
Chegando à capital descobriu com o seu genro, o Telegrafista Brício de Oliveira Cardoso, das boas procedências do rapaz, fato que quebrantou-lhe o coração e fez-lhe permitir o relacionamento.
O namoro passou algum tempo sendo feito através de cartas até que, no dia 26 de janeiro de 1951, ela com 32 e ele com 28 anos de idade, tiveram a celebração religiosa do matrimônio sendo realizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha, e logo depois, à tarde, no Cartório de Registro Civil, quando foram finalmente assinados os papéis cumprindo as obrigações perante o Estado.
Desse matrimônio foram gerados três filhos, um homem e duas mulheres, sendo eles: Fernando Antônio Vieira Assef, Maria das Graças Assef e Ana Célia Vieira Assef.
Sobre a experiência de ser mãe e desejando a continuidade do bom relacionamento de sua filha o seu pai enviou-lhe uma carta cheia de experiências e conselhos, expressando também a grande alegria pelo acontecimento:
“Agora que és mãe, recebe das mãos divinas esta graça que é a maior graça que o céu pode dar a uma mulher. Tens agora uma dupla responsabilidade: fazer de teu esposo um santo e santificar teu filho. O lar cristão é o produto da mulher, ela é a dona da casa… Ao pai, compete viver tão puro que o filho nunca se envergonhe dele… pois a criança é como o espelho que reproduz o que tem na frente.”
Logo pós a celebração do matrimônio o novo e humilde casal organizou os seus poucos pertences e partiu de trem para capital, onde começariam uma nova vida juntos.
Assim que chegaram à cidade de Fortaleza, sem ter uma residência própria, passaram uma curta temporada morando com o seu sogro na Avenida Domingos Olímpio, s/nº, Centro, que por conta do falecimento de sua primeira esposa já vivia com uma nova companheira e já tinha outros filhos dessa relação:
“Pouco tempo depois, percebendo as dificuldades de convivência e relacionamento entre a sua esposa e a numerosa prole de seu pai, decidiu alugar uma casa na Rua Assunção, Centro, onde residiu por oito anos e logo depois na Rua Floriano Peixoto, ainda no Centro.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/jose-assef-fares/. Acesso em 3 de julho de 2016)
Alguns anos depois a ECT – a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, estava passando por um reestruturação em seus quadros funcionais e algumas cidades do interior do Estado do Ceará estavam sendo contempladas com novos servidores e agências.
Por força do destino o seu esposo recebeu transferência para uma cidadezinha do interior do Estado que, por coincidência, o seu pai há pouco tempo tinha passado a residir e era o proprietário de uma farmácia em sociedade com Antenor Gomes de Barros Leal.
“Diante dessa dúvida, no dia 10 de maio de 1953, quando menos esperava, um valioso convite veio de Fortaleza com uma proposta vantajosa de sociedade feita por Antenor Gomes de Barros Leal. Antes disso, quando residiu nas proximidades do Município de Boa Viagem, estabeleceu forte vínculo de amizade com esse comerciante, que nessa época estava de mudança para capital e relutava em se desfazer de sua farmácia, que era denominada de ‘Apolo’.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/jose-assef-fares/. Acesso em 3 de julho de 2016)
Essa cidade, chamada de Boa Viagem, estava localizada praticamente no centro do Estado do Ceará, em uma região denominada de Sertão de Canindé, onde o acesso e as condições de vida não eram das mais fáceis.
Alguns dias depois da notícia da sua transferência o seu esposo, por insegurança, relutou pela repentina e não planejada mudança de endereço, mesmo assim, felicíssima pela oportunidade de morar próximo dos seus pais, tratou logo de organizar a mudança de seus poucos móveis e utensílios domésticos para o interior.
Logo que chegou ao Município de Boa Viagem a cidade não oferecia boas condições de moradia e nem de sobrevivência, não havia iluminação pública e nem água encanada, praticamente tudo dependia daquilo que vinha de outros centros mais desenvolvidos, como o Município de Quixeramobim.
Inicialmente residiu com a sua família em uma casinha no Bairro de Nossa Srª de Fátima, depois em uma casa na Rua Agronomando Rangel e por fim residiu na Rua Antônio de Queiroz Marinho, nº 205, Centro.
O seu esposo, aos poucos, foi se adaptando a nova cidade, passando a ser uma pessoa muito querida pela comunidade pelo grau de envolvimento com o esporte:
“Aos poucos foi tomando gosto na companhia da geração que surgia na cidade, tratando logo de organizar um time de futebol, o CRB – o Clube de Regatas de Boa Viagem, que tinha um campinho próximo ao velho matadouro público, aonde hoje é a Rua Alfredo Terceiro de Sousa, no Bairro Alto do Motor. Todas as tardes e aos finais de semana o local certo de encontrá-lo era na companhia da meninada, entre eles o seu filho, Fernando Antônio Vieira Assef.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível https://www.historiadeboaviagem.com.br/jose-assef-fares/. Acesso em 3 de julho de 2016)
No dia 15 de dezembro de 1973, juntamente com a sua família, partilhou da irreparável perda de seu pai, que faleceu na cidade de Fortaleza poucos meses depois de completar 79 anos de idade.
Alguns anos depois, no dia 30 de outubro de 1978, foi surpreendida pelo trágico falecimento de seu irmão, Ivo Martins Vieira, que por conta de uma grande desilusão amorosa tirou a sua própria vida disparando um tiro contra o peito.
Depois dessas mortes, cumprindo as suas obrigações como filha, passou a tutorar a sua mãe, que faleceu no dia 18 de agosto de 1985, depois de completar 96 anos de idade.
Nos últimos anos da década de 1980, depois da superação dessas perdas, sentiu o seu coração cheio de orgulho ao ver o seu filho concluir com louvor o curso de Direito e a projetar-se como personagem da política municipal depois de ser eleito para uma das cadeiras do Poder Legislativo, façanha repetida outras vezes.
Esse sentimento de orgulho e gratidão estendeu-se também para as suas duas filhas, que conseguiram bons esposos, foram contratadas como professoras do Estado e projeção como comerciantes.
Nos últimos anos da década de 1990 o seu filho, que chegou ao cargo de vice-prefeito do Município de Boa Viagem, assumiu a chefia do Poder Executivo depois do trágico falecimento do Prefeito Dr. Francisco Vieira Carneiro, o Major Carneiro, sendo reconduzido ao cargo de prefeito em outras oportunidades.
Poucos anos depois, no dia 14 de julho de 2001, foi a vez de lamentar a perda de seu estimado esposo, que faleceu depois de completar 78 anos de idade, passando nessa ocasião a ser carinhosamente tutorada por sua filha, Maria das Graças Vieira Assef.
Mais tarde, no dia 15 de junho de 2007, de forma inesperada, partilhou com a sua família da perca de seu genro, Jurandy Batista Carneiro Filho, que contava com apenas 41 anos de idade.
Depois desse triste fato, sentindo o peso da idade e necessitando de melhor assistência médica passou a residir com a sua filha viúva e seus netos na cidade de Fortaleza, ocasionalmente vindo para cidade de Boa Viagem.
Algum tempo mais tarde, no dia 3 de junho de 2016, na cidade de Fortaleza, depois de alguns dias hospitalizada, veio a óbito depois de completar 97 anos de idade.
Logo após o seu falecimento foi trazida da capital por seus familiares e depois das despedidas fúnebres que são de costume, que foram feitas na Central de Velórios da Funerária de Nossa Senhora da Boa Viagem, seguiu depois para o seu sepultamento em um mausoléu da família existente no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, no Centro da cidade de Boa Viagem.
BIBLIOGRAFIA:
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Venceslau Vieira Batista. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/venceslau-vieira-batista/. Acesso no dia 13 de junho de 2018.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. José Assef Fares. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/jose-assef-fares/. Acesso em 3 de julho de 2016.
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