Edite Carvalho Câmara

Edite Carvalho Câmara nasceu no dia 13 de dezembro de 1906 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filha do Cel. José Cândido de Carvalho e de Maria Emília Araújo de Carvalho.
Os seus avós paternos se chamavam Francisco Alves Madeira e Izabel Fausta de Carvalho, já os maternos eram Manoel Duarte de Araújo e Maria Amélia de Araújo.
Durante a sua infância, embora ainda fosse uma criança, foi testemunha da projeção politica de seu pai, que exerceu vários mandatos no Poder Legislativo e no Poder Executivo do Município de Boa Viagem.
Em meados de 1925, segundo o relato de um de seus irmãos, o Dr. José Cândido de Carvalho Filho, acompanhou os seus pais, que decidiram morar na cidade de Fortaleza e se estabelecerem comercialmente, aproveitando essa oportunidade para estudar.

“Meu pai adquiriu uma casa comercial em Fortaleza, na Rua Floriano Peixoto, esquina ao lado da antiga Biblioteca Pública. Na mesma rua, na outra esquina do quarteirão, dando para a Praça do Ferreira, estavam o ‘Café Baturité’ e o ‘Café Globo’.” (CARVALHO FILHO, 2008: p. 20)

Nessa época, mesmo distantes de sua terra natal, por conta de suas propriedades, a sua família não perdia o contato com os problemas do Município de Boa Viagem, que enfrentava terríveis estiagens e um rápido empobrecimento de sua população.
Diante disso, por força do Decreto nº 193, de 20 de maio de 1931, seguindo as ordens do Dr. Getúlio Dornelles Vargas, um dos líderes da Revolução de 1930, o Dr. Manuel do Nascimento Fernandes Távora, governador provisório do Estado do Ceará, extinguiu o Município de Boa Viagem, que voltou a pertencer ao Município de Quixeramobim:

“O Interventor Federal do Estado do Ceará, Manoel do Nascimento Fernandes Távora, considerando que a atual organização municipal deve ser modificada por não atender ao interesse público; Considerando que, para a constituição de qualquer Município, se torna necessária uma população nunca menor de quinze mil habitantes, uma renda anual não inferior a trinta contos de reis e outros fatores de valor; Considerando que muitos dos atuais Municípios não preenchem esses requisitos, sendo meras expressões territoriais, sem vida própria. Considerando que, dest’art, para proporcionar aos Municípios uma existência normal, se impõe a supressão de alguns deles, decreta: Art. 1º – O território do Estado divide-se, administrativamente; em 51 Municípios e estes em distritos. Art. 4º – Ficam extintos os seguintes Municípios:…. Campos Sales, Conceição do Cariry, Santa Cruz, Várzea Alegre…. Boa Viagem que passará respectivamente a fazer parte do Município de Quixeramobim…” (CAVALCANTE MOTA, 1989: p. 38-39)

Mais tarde, depois dessa temporada na cidade de Fortaleza, voltou a residir na cidade de Boa Viagem, depois que o seu pai decidiu regressar para o sobrado ainda existente na Rua Agronomando Rangel, nº 345, no Centro da cidade.
Nessa mesma época, através da lei nº 260, de 28 de dezembro de 1936, o Município conseguiu ser restaurado, começando uma nova fase de sua história.

Imagem do Comercial J. Cândido por volta de 1950.

Em acordo com o expediente da Secretaria do Interior do dia 22 de junho de 1946, como escrevente compromissada do único cartório do termo do Município de Boa Viagem, requereu inscrição para o provimento vitalício do primeiro tabelionato:

“Por Edital de 8 de abril de 1946, achando-se vagos os ofícios de 1º tabelião, com seus anexos, inclusive de oficial do Registro Civil do Termo de Boa Viagem, Comarca de Quixeramobim, criados pelo Decreto nº 486, de 29 de dezembro de 1938, parágrafo único, artigo 6º, combinado com a alínea “d”, do parágrafo de 1º do artigo 24, do Decreto nº 947-A, de 22 de novembro de 1926, foram postos em concurso, de acordo com o instituído no Decreto nº 2, de 3 de junho de 1935, combinado com o artigo 2º da lei nº 2.707, de 16 de setembro de 1920.” (MACÊDO, 1991: p. 143)

Poucos meses depois, no dia 5 de outubro, conseguiu receber a nomeação para exercer o ofício de tabeliã no Cartório de 1º Ofício em nosso Município, segundo esse ato, em vista de haver sido a única candidata aprovada e classificada no concurso, prestou compromisso e assumiu o respectivo exercício no dia 31 de outubro de 1946.

Imagem da família Carvalho em um dia de passeio.

Antes disso, durante pouco tempo, uma de suas irmãs, Enedina de Carvalho, foi nomeada como interventora do Município de Boa Viagem, constituindo-se na primeira mulher a ocupar esse cargo:

“Durante o período da história do Brasil que ficou conhecido como o Estado Novo, foi uma das pessoas nomeadas pelo interventor Federal do Estado, o Dr. Benedito Augusto Carvalho dos Santos, para assumir o comando do Governo Municipal, tornando-se a primeira mulher a assumir essa função. Nessa ocasião, assumiu a função de interventora do Município de Boa Viagem, no lugar do Dr. Lourival Soares e Silva, do dia 4 ao dia 21 de dezembro de 1945, quando assumiu um novo interventor, Aluísio Ximenes de Aragão.” (SILVA JÚNIOR, 2015: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/enedina-de-carvalho/. Acesso no dia 6 de agosto de 2017)

Mais tarde, no dia 2 de dezembro de 1958 contraiu núpcias com Rui Câmara e nunca chegou a gerar filhos, embora tenha adotado duas crianças algum tempo depois, sendo elas: Helena e outro que tinha o apelido de “Cheque”.
No dia 28 de novembro de 1973, por ato do Governo do Estado, depois de mais de 40 anos de serviços prestados ao Estado do Ceará, foi aposentada de suas atividades funcionais, passando a residir na capital do Estado, onde teria melhores condições de sobrevivência.
Certa noite, na cidade de Fortaleza, enquanto caminhava com uma acompanhante pela calçada, foi assaltada e covardemente espancada na rua por um marginal, que desferiu-lhe vários chutes e lhe quebrou várias costelas, fato que lhe deixou vários dias hospitalizada.
Poucos dias depois desse grave incidente, no dia 6 de agosto de 1976, na cidade de Fortaleza, veio  óbito prestes a completar setenta anos de idade.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, foi sepultada por seus familiares no Cemitério Parque da Paz, que está localizado na Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, nº 4.454, no Bairro Passaré, na cidade de Fortaleza.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, através da lei nº 818, de 12 de dezembro de 2002, uma das ruas do Bairro Osmar Carneiro, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.

BIBLIOGRAFIA:

  1. CARVALHO FILHO, José Cândido de. Boa Viagem da Minha Infância. São Paulo: Thesauros/Itiquira, 2008.
  2. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1930-1945). Fortaleza: Stylus Comunicações, 1989.
  3. MACÊDO, Deoclécio Leite de. Notariado Cearense. História dos Cartórios do Ceará. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1991.
  4. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  5. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. A História da Instrução Pública no Município de Boa Viagem: A sua formação pedagógica e social entre 1864 e 1931. Dissertação apresentada a Flórida Christian University, 2019.
  6. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Enedina de Carvalho. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/enedina-de-carvalho/. Acesso no dia 6 de agosto de 2017.