José Custódio Bezerril

José Custódio Bezerril nasceu por volta de 1811 em uma localidade denominada de Riacho dos Cavalos, hoje dentro dos limites geográficos do Município de Arneiroz, na região dos Inhamuns, distante 383 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Leandro Custódio Bezerril e de Josefa Álvares Feitosa.
Os seus avós paternos se chamavam Leandro Custódio Bezerril de Oliveira e Castro e Ana Teresa da Anunciada, já os maternos se chamavam Francisco de Holanda Cavalcanti e Leonor Pereira de Morais.
Muitos anos depois de seu nascimento, por volta de 1836, segundo notas do Pe. Neri Feitosa, já sendo adulto, contraiu matrimônio com a sua sobrinha, que era órfã e se chamava Matilde Alves Cavalcante, nascida possivelmente em 1815, sendo filha de Vicente Pereira e de Francisca Alves Cavalcante:

“O casal Vicente Pereira e Francisca Alves Cavalcante, Feitosas dos Inhamuns, era muito rico e morreram os dois, deixando três filhos órfãos, portanto menores: João Evangelista, Matilde e Maria Alves Cavalcante. O Capitão José Custódio Bezerril, sobrinho de Vicente Pereira, foi nomeado tutor dos três primos órfãos e muito ricos. Logo que Matilde atingiu a idade de casamento, o Capitão José Custódio Bezerril, bem mais velho, casou com ela. No tempo do noivado, o capitão deu uma linda aliança de ouro a Matilde. Quando já tinha dois filhos deu-se um casamento… Já ia alta a noite e Dona Matilde ficou conversando com a noiva e outras moças para os lados do curral. O capitão, sem nenhuma razão, levou isto a mal e começou a enciumar-se.” (FEITOSA, 2004: p. 2)

Desse matrimônio foram gerados dois filhos, sendo eles: Maria Custódio Bezerril e José Custódio Bezerril.
O texto do Pe. Neri Feitosa nos mostra claramente ainda que o capitão, que era mais velho do que a sua prima, imaginou que as moças traziam algum tipo de recado para Dona Matilde e depois desse episódio, mesmo com as explicações de sua esposa, o capitão não se convenceu da traição e arquitetou uma forma de lavar a sua honra, que depois originou outros crimes.

“O capitão aproveitou a ocasião e combinou o crime… Espalhada a notícia da morte de Dona Matilde, morte trágica de uma inocente, o Capitão Antônio Alves de Castro, irmão do Capitão José Custódio Bezerril, saiu de sua fazenda… e convidou Joaquim Murici, o cabra que matou Dona Matilde asfixiada… Antes contratou o serviço de José Holanda Cavalcante, tio de Dona Matilde, para ele entrincheira-se… e forneceu a ele um bacamarte do papo amarelo, apelidado de canário. Quando ia passando no rochedo… botou Joaquim Murici abaixo… Hoje, a gente chamaria o assassinato de Murici de queima de arquivo.”  (FEITOSA, 2004: p. 3)

Depois desses bárbaros crimes, possivelmente ocorrido em 1839, o Capitão José Custódio Bezerril passou a ser um fugitivo da justiça e durante algum tempo se escondeu com algumas pessoas de sua confiança no Olho d’Água, depois denominado com o sobrenome de Bezerril, no presente dentro dos limites geográficos do Município de Boa Viagem, que na época pertencia ao Município de Quixeramobim.

“O Capitão José Custódio Bezerril, o mandante e arquiteto do crime, em vez de ir ao Ico… veio juntamente com alguns pajens parentes para o Município de Boa Viagem, que naquela época era chamado de Cavalo Morto e escondeu-se no lugar que passaria a ser chamado de Olho d’Água do Bezerril, então ermo e de acesso difícil.”  (FEITOSA, 2004: p. 4)

Enquanto esteve nessa região de Boa Viagem o Capitão José Custódio Bezerril mantinha uma equipe de prontidão para garantir-lhe a segurança, que estavam em localidades ainda existentes em nossos dias, sendo algumas delas: Cachoeira dos Silvestres, Conceição, Ibuaçu e outros.

“Os seus agregados não ficaram juntos num só lugar, mas em pontos estratégicos de proteção ao olho d’água, onde se fixou… Silvestre Martins Chaves ficou ao poente, no pé da Serra do Jacampari, onde havia acesso para o Município de Crateús e deu nome ao lugar de Cachoeira do Silvestre; outro olheiro deve ter ficado onde hoje é o lugar denominado de Conceição, onde havia acesso ao lugar Cavalo Morto – Nossa Senhora da Conceição, padroeira da vila do Cococi, era a devoção dos Feitosas… Outro olheiro ficou no lugar Socorro, hoje vila do Ibuaçu, passagem para Várzea Queimada, hoje cidade de Madalena, com acesso aos Município de Canindé e Quixeramobim. No Ibuaçu também prevaleceram os Martins. Ao Sul o capitão estava protegido pela Serra da Guia… Tudo leva a crer que na cidade de Madalena o capitão tinha dois olheiros: Antônio e Joaquim de Pinho… Os olheiros ficavam a serviço do patrão protegido. Em qualquer aparência de diligência policial, era logo furtivamente comunicado.”  (FEITOSA, 2004: p. 4-5)

Depois de algum tempo, graças ao seu prestígio social, o Capitão José Custódio Bezerril retornou para sua propriedade na região dos Inhamuns e contraiu um novo matrimônio por volta de 1839, dessa vez com Eufrásia Alves Feitosa, nascida por volta de 1827, sendo filha de Bernardo Freire Castro Jucá e de Antônia Joana Cedrim Maia.

“Se  hoje a justiça é lenta, naquele tempo ainda era mais. O processo rolou, muita gente teve de depor; todos sabem que, sobretudo naquele tempo, o processo seguia rumo determinado pelo coronel regional. Terminou que preso mesmo só foi João Evangelista: O Muricí não teve tempo de falar e revelar os mandantes. Passado o perigo de prisão, o Capitão José Custódio Bezerril retornou à Fazenda Riacho dos Cavalos. Casou de novo, com uma filha de Bernardo Freire de Castro Jucá, sua parenta, chamada Eufrásia e teve mais seis filhos.” (FEITOSA, 2004: p. 7)

Desse casamento foram gerados alguns filhos, dentre eles destacamos: Ana Bezerril, Josefa Bezerril, Raimundo Bezerril, Bernardo Custódio Bezerril, Leandro Custódio Bezerril, José Custódio Bezerril (Casé); Vicente Custódio Bizarria, Pedro Custódio Bezerril  e outros.
O Capitão José Custódio Bezerril faleceu no território do Município de Tauá por volta de 1859.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, embora sem legislação remetida para aprovação na Câmara Municipal de Vereadores, uma pequena represa foi construída e recebeu a sua denominação;
  2. Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, por meio da lei municipal nº 1.003, de 2 de outubro de 2008, o Distrito de Olho d’Água do Bezerril foi criado, tendo a localidade com o mesmo nome sendo elevada a categoria de vila.

BIBLIOGRAFIA:

  1. FEITOSA, Neri. História do Povoado de Olho d’Água do Bezerril. Canindé: Instituto Memorial de Canindé, 2004.
  2. FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
  3. LOUREIRO, Francisco Paz. Arneiroz – 150 ano de história (1864-2014). De Leonardo Feitosa a Monteiro Filho. Canindé: Gráfica e Editora Canindé, 2014.
  4. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  5. PELOSI FALCÃO, Marlio Fábio. Dicionário Toponímico, Histórico e Geográfico do Nordeste. Fortaleza: Artlaser, 2005.