Antônia Fragoso da Silva nasceu no dia 10 de maio de 1923 no Município de Pombal, que está situado no sertão paraibano, distante 371 quilômetros da cidade de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, sendo filha de Cícero Fragoso Vieira e de Maria Vieira de Andrade.
Os seus avós paternos se chamavam Manoel Maria de Jesus e Antônia Vieira de Freitas, já os maternos eram Lucas Vieira de Freitas e Raquel Vieira de Andrade.
Nos primeiros anos de sua infância, quando residia no Sítio Jacu, que está localizado na zona rural do Município de Pombal, propriedade pertencente ao seu avô paterno, um simples acontecimento foi determinante para muitas mudanças que aconteceram na trajetória de sua vida:
“Tudo teve início quando uma simples revista, que acreditamos ser de escola dominical, chegou às mãos de Cícero Vieira de Freitas através de um protestante, que se chamava Adão e morava no Sítio Jericó, uma localidade vizinha.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 142)
Em acordo com SILVA JÚNIOR (2015: p.180): em Jacu, Manoel Maria de Jesus e Antônia Fragoso Vieira tinham uma pequena propriedade, onde acolhiam seis filhos e as suas famílias, que eram parceiras no trabalho comum de uma pequena fazenda; entre eles, Cícero Fragoso Vieira, que era casado com Maria Vieira de Andrade.
Nessa mesma época, o evangelho no ponto de vista Reformado, estava sendo propagado em Jacu, conseguindo nessa ocasião alguns adeptos, entre os quais, estavam incluídos Manoel Maria de Jesus e seus filhos.
No período, inicialmente, a casa de Cícero era um ponto de pregação, onde os cultos eram realizados, celebrados abertamente ao público, sendo depois disso transferidos para a casa de seu irmão, Daniel Fragoso Vieira, pelo fato de Cícero ser alfaiate e, ocasionalmente, passar temporadas na sede do Município.
“Sendo filha de Cícero Fragoso Vieira e de Maria Vieira de Andrade, Antônia cresceu em um ambiente profundamente piedoso e congregacional; seguia com devoção os ensinamentos da Bíblia e procurava cumprir o mandamento maior, segundo as palavras do Santo Livro: ‘Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo’. Lucas 22:37.” (SILVA & SILVA, 2023: p. 1)
Em Jacu, como em qualquer localidade da zona rural nordestina, a vida era muito simples e bem natural; porém, a calamidade das secas, que eram regulares, com seus efeitos físicos e morais, faz do sertanejo um ser fervoroso em sua religiosidade, otimista quanto ao seu futuro e de sua família, esperançoso com a próxima estação chuvosa, e resistente ao sofrimento.
O sofrimento ensina-lhe a ser forte e a ter coragem, mesmo perdendo os seus mais queridos animais e outros bens, seja por compra ou herança. Coragem de ser livre quando se submete resignadamente ao árduo trabalho, apenas para não perder a vida ou mesmo manter-lhe. Livre para abandonar o torrão natal, e de cabeça erguida ganhar o mundo, nunca se dando por vencido, e sempre atento aos ciclos da natureza, na esperança de retornar para no quase nada, recomeçar. Tudo isso, faz do sertão uma fonte, um reservatório de virtudes.
Enquanto viveu, o amor foi a virtude fundamental que motivou a sua vida na condição de filha, irmã, esposa, mãe, amiga e cidadã. O seu testemunho de cristã foi exemplo de alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si. Nesse contexto, sendo mulher virtuosa, teve a sua história construída sobre quatro pilares espirituais: fé, mansidão, paciência e acima de tudo generosidade.
No dia 11 de julho de 1941, na cidade de Pombal, ainda bem jovem, com apenas 18 anos de idade, uniu-se pelos laços do matrimônio com Francisco Manoel da Silva, nascido no dia 24 de maio de 1923, sendo filho de Manoel José da Silva e de Rosa Maria da Conceição.
Depois dessa decisão, deixou a casa paterna e foi residir com o seu esposo nas terras do seu sogro, denominadas de Madeira Cortada, também na zona rural do Município de Boa Viagem.
“A Madeira Cortada está localizada na zona rural do Município de Boa Viagem, distante pouco mais de 42 quilômetros do Centro da cidade de Boa Viagem, no Estado do Ceará. Dentro da divisão politico-geográfica, em relação ao Marco Zero, esse povoado está na região oeste do Município, dentro dos limites geográficos do território do Distrito de Poço da Pedra.” (SILVA JÚNIOR, 2015: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/madeira-cortada/. Acesso no dia 23 de abril de 2023)
Em Madeira Cortada, para sua alegria, nasceram três filhos: Edith Fragoso da Silva (8 de outubro de 1942); Rui Fragoso da Silva (16 de abril de 1944) e Irenilda Fragoso da Silva (4 de junho de 1945).
Nessa mesma época, precisando ampliar a sua propriedade, pois suas terras eram poucas para alimentar sua família, que crescia dia-a-dia, Manoel Maria de Jesus estudava sair da Paraíba e, por influência de alguns parentes, que já moravam no sertão cearense, comprou o sítio Cachoeira, que distava 20 km da cidade de Boa Viagem, onde foi implantada a Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira.
“Dentro de pouco tempo, juntamente com os outros congregados, percebeu a necessidade da construção de um templo, que mais tarde veio a se tornar em símbolo da organização e do trabalho em mutirão daquela pequena comunidade. Alguns anos depois, juntamente com a sua família, fixou residência na localidade de Cachoeira dos Fragoso, no Estado do Ceará, sendo um dos fundadores da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira.” (SILVA JÚNIOR, 2015: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/igreja-evangelica-congregacional-de-cachoeira/. Acesso no dia 23 de abril de 2023)
Em Boa Viagem, juntamente com sua esposa e seus filhos, estabeleceram-se no final do ano de 1941 até que, pouco tempo depois, no dia 18 de janeiro de 1943, faleceu em sua propriedade, sendo enterrado no Cemitério Parque da Saudade, no Centro da cidade Boa Viagem.
Depois disso, em 1946, ela e a sua família passaram a residir em Cachoeira na herança de seu pai, onde viveram até 1955, período em que o seus esposo, depois de eleito, exerceu a função de presbítero da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira.
Durante esse tempo, contribuiu para o sustento de seus filhos costurando roupas, algo que aprendeu com os seus pais, fiando algodão, tecendo redes, plantando alho e cebola, enquanto isso o seu esposo trabalhava lavrando nas terras do sogro e, também, prestava serviços aos outros herdeiros quando procurado.
Em Cachoeira, Antônia e Francisco tiveram mais seis filhas: Iracilda Fragoso da Silva (28 de outubro de 1946); Ilza Fragoso da Silva (7 de junho de 1948); Edissa Fragoso da Silva (8 de junho de 1950); Ercília Fragoso da Silva (23 de janeiro de 1952); Elizabeth Fragoso Vieira (23 de junho de 1953) e Eduvirges Fragoso da Silva (14 de abril de 1955).
Juntamente com o seu esposo, em um domicílio humilde, construiu um lar aconchegante e hospitaleiro, cujos filhos, instruídos para o bem, eram obedientes e respeitosos.
Sendo uma esposa digna de deferência, era fiel em todas as coisas e nas intempéries da vida, se comportava com resignação, não se maldizia e, com bom senso, buscava soluções dentro de sua realidade.
No trabalho doméstico, todos os dias, fazia sua devoção a Deus e, com disposição, colocava em ação a força dos seus braços, onde suas mãos trabalhavam com prazer, valorizava o seu labor, e mesmo à noite, estava sempre pronta a atender, seja qual fosse a situação; seu corpo vestia-se de força e dignidade, e com fé todos os dias sorria para um futuro melhor.
Na direção do lar, falava com sabedoria e ensinava tudo com bondade, amava a sabedoria e a buscou desde a sua juventude, decidindo, portanto, tomá-la por companheira de sua vida, sabendo que ela seria boa conselheira e lhe traria conforto nas preocupações e no sofrimento, pois a sabedoria não traz nenhuma dor, mas contentamento e alegria.
Com generosidade, abria as portas de sua casa e recebia a todos com gentileza e dedicação, dando o melhor de si, mesmo com o sacrifício; seu espírito magnânimo era desprendido e colaborava com o outro sem nenhum interesse próprio: a virtude bastava-lhe, pois seu espírito generoso agia, unicamente, em função das exigências do amor, da moral ou da solidariedade. Como lâmpada brilhando no candelabro sagrado, tal era a beleza do seu rosto sereno, que, no seu lar, manifestava as virtudes de um espírito iluminado.
Nos últimos meses de 1955, com apenas trinta e dois anos, em um gesto de fé e coragem, marcou uma nova etapa em sua vida: nas mãos tinha o destino de nove crianças, quando deixou para trás a parentela em Boa Viagem para acompanhar o marido na preparação de novos terrenos, agora com a água da vida, semeando a semente do cristianismo.
No início do ano seguinte, chegou com a família na cidade do Aracati, no litoral cearense, para começar essa nova fase, onde passou dois anos, seguindo para outros campos missionários, sendo eles: Sobral, cidade do sertão cearense (1958); Carolina, no sul do Estado do Maranhão (1959-1960); Caucaia, no litoral cearense (1961-1962); Cajazeiras e Gravatá, no sertão da Paraíba (1963-1964); Teresina, capital do Piauí (1965-1967); Pilar, na Paraíba (1968-1969) e, por fim, Guarabira, no brejo paraibano (1970-1973).
Em Caucaia, deu a luz a mais um filho, Jônatas Fragoso da Silva (22 de abril de 1962) e, em Cajazeiras, engravidou mais uma vez, porém, sua filha faleceu antes de vir ao mundo.
Nessa nova etapa de sua vida, apesar das incertezas que poderia enfrentar, o seu apoio a missão evangelística assumida pelo seu esposo era tão incondicional que, sua posição ao seu lado, era também de uma dedicada e fervorosa missionária.
Antes disso, em sua juventude, não frequentou nenhuma escola ou nenhum seminário teológico, como foi o caso de alguns dos seus irmãos, tendo aprendido a ler e a fazer as quatro operações matemáticas.
O seu livro predileto, desde cedo, foi as sagradas escrituras: fonte do seu estudo teológico. As lições espirituais eram exercitadas no dia-a-dia: nos afazeres domésticos e no relacionamento com as pessoas que pertenciam ao seu circulo social, portanto a sua formação como missionária foi não formal, não se enquadrando em nenhuma grade curricular.
Os seus sermões tinham características incomuns a todos os outros proferidos nos cultos evangélicos. Poderia ser no templo, em uma residência, uma rua, uma estrada, um açude ou qualquer outro ambiente social; as palavras do sermão, ditas ou não ditas, não se encerravam numa estrutura linguística, mas no seu exemplo de vida.
Como pessoa religiosa, esposa de um missionário, enfrentou muitas situações duras; no entanto a sua fortaleza superou a todas elas, pois tudo levava em oração a Deus e, com fé, pedia sua assistência, graça e poder. Procurava sempre está em comunhão com Deus; em conversa com Jesus seu espírito enfraquecido ganhava novas forças.
A linguagem e mansidão dos seus gestos lhe tornou uma missionária da paz. Nas situações conflituosas, sempre se posicionava com tranquilidade e, com serenidade ouvia todos, sem distinção e sem rigidez de argumentos, buscava sempre o consenso.
A paciência era uma virtude que adornava o seu espírito benigno e indulgente. Estava sempre do lado do bem; procurava solucionar as dificuldades e as situações conflituosas com harmonia, pois era tolerante e disposta a desculpar e perdoar. Além de tudo, quieta e confiante, esperava com paciência a intervenção Divina.
A generosidade foi a virtude que permeou toda sua história de vida, assumindo vários conteúdos e diversas designações: foi heroísmo nos momentos de extrema coragem; foi benevolência, quando se colocou no lugar do outro, numa terna compaixão; foi equidade, quando tratava todos de igual modo, mediante a justiça divina; foi indulgência, quando num ato de misericórdia abriu as mãos para o pobre e estendeu o braço para o indigente; porém considerando seu espírito dócil, a generosidade se fez, em toda a sua vida, uma manifestação de bondade.
Esta missão de bondade era discreta, modesta e singela; no entanto revelou sua grandeza no momento final de sua existente, onde muita gente, de todos os credos, crianças, adolescentes, jovens e adultos, e de diferentes posições sociais, como se fosse um só povo, rendeu uma homenagem póstuma, reconhecendo que foi uma mulher virtuosa e, de acordo com alguns, uma santa mulher.
No dia 5 de abril de 1973, na cidade de Guarabira, no brejo paraibano, deixou este mundo, vítima de um colapso cardíaco; porém, a sua atuação missionária continuou nos seus descendentes e em todos aqueles cuja semente de fé do eterno nunca murchou.
BIBLIOGRAFIA:
- CARNEIRO, Osmar de Lima. Fotografando o Amor. História de Uma Igreja Perseguida. João Pessoa: JRC, 2006.
- FRAGOSO VIEIRA, Ezequiel. A História da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem. Disponível em www.adoreisnet/iecbv/nossahistoria. Acesso em 11 de janeiro de 2011.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SILVA, Edissa Fragoso & SILVA, Jônatas Fragoso. Traços biográficos de Antônia Fragoso da Silva. Cabo de Santo Agostinho – PE: Texto não publicado, 2023.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Madeira Cortada. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/madeira-cortada/. Acesso no dia 23 de abril de 2023.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/igreja-evangelica-congregacional-de-cachoeira/. Acesso no dia 23 de abril de 2023.
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