Rev. Francisco Manoel da Silva

Francisco Manoel da Silva nasceu no dia 24 de maio de 1923 no Município de Catolé do Rocha, que está localizado no Sertão paraibano, distante 411 quilômetros da cidade de João Pessoa, capital daquele Estado, sendo filho de Manoel José da Silva e de Rosa Maria da Conceição.
Os seus avós paternos se chamavam José Antônio da Silva e Delfina Maria da Conceição, já os maternos eram Francisco de Andrade Maciel e Maria Antônia da Conceição.
Na época do seu nascimento, sendo o nono entre os seus irmãos, veio ao mundo pelas mãos de uma parteira nas proximidades da vila de Brejo dos Santos, que nesse período era conhecida pelo topônimo de “Brejo dos Cavalos”, sendo uma pequena localidade rural pertencente ao Município de Catolé do Rocha.
Alguns anos depois do seu nascimento, no fim da década de 1930, a modificação desse nome ocorreu por conta de uma grande onda de intolerância religiosa entre católicos e protestantes.

“A Igreja Evangélica Congregacional instalou-se nesse  Município em 1928. O pastor era o Rev Henry Briault, de nacionalidade inglesa, que trabalhou, de certo modo, pelo progresso do lugar. Pelos anos de 1937 a 1939, as duas forças religiosas do lugar tiveram divergências, desentendimento este que gerou até violência.”  (IBGE, 2000: Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/brejo-dos-santos/historico. Acesso no dia 24 de fevereiro de 2018)

Em sua infância, sendo criado na roça, desenvolveu a sua vida social, moral e espiritual galgado na experiência de seus ancestrais, que fora cadenciada pelas circunstâncias crepitadas da natureza, seguindo o rito tradicional dos costumes de sua humilde vizinhança.
Nessa época, os catingueiros de sua terra natal, como eram chamados os sertanejos de sua região, eram pessoas dispostas e diligentes na manutenção das suas vidas. Também eram pessoas destemidas e de corpos ligeiros nas lutas e fortes na defesa contra seus adversários.
Desde cedo, como se esperava, revelou ser um verdadeiro catingueiro, pois se dedicou as coisas da roça. Ainda menino, forte e corajoso, numa bravura sem igual, muitas vezes ele enfrentou o fogo das queimadas, preparou o terreno e lançou sementes, na esperança de, um dia, a chuva cair, a plantação florescer, e poder colher os frutos.
Mas a chuva não vinha, e o sol causticante rachava a terra, fazendo morrer as sementes que plantou com tanto sacrifício. As secas e a falta de frutos, por vezes, lhe abatiam o ânimo, mas nunca o venceram. Atento aos ciclos da natureza, estava sempre pronto a fazer tudo outra vez.
Em acordo com SILVA JÚNIOR (2015, p. 198), no dia 15 de novembro de 1937 o seu pai veio com a sua família para o Município de Boa Viagem, no Estado do Ceará, onde havia comprado uma propriedade denominada de Madeira Cortada, distante 37 km da sede deste Município, e aqui viveu, com a sua família, por aproximadamente dezessete anos.

“A Madeira Cortada está localizada na zona rural do Município de Boa Viagem, distante pouco mais de 42 quilômetros do Centro da cidade de Boa Viagem, no Estado do Ceará. Dentro da divisão politico-geográfica, em relação ao Marco Zero, esse povoado está na região oeste do Município, dentro dos limites geográficos do território do Distrito de Poço da Pedra.” (SILVA JÚNIOR, 2015: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/madeira-cortada/. Acesso no dia 23 de abril de 2023)

Depois disso, ainda bem moço, no dia 11 de julho de 1941, na cidade de Pombal, no Estado da Paraíba, uniu-se pelos laços do matrimônio com Antônia Fragoso da Silva, uma jovem de 18 anos que era filha de Cícero Fragoso Vieira e de Maria Vieira de Andrade.

“Sendo filha de Cícero Fragoso Vieira e de Maria Vieira de Andrade, Antônia cresceu em um ambiente profundamente piedoso e congregacional; seguia com devoção os ensinamentos da Bíblia e procurava cumprir o mandamento maior, segundo as palavras do Santo Livro: ‘Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo’. Lucas 22:37.” (SILVA & SILVA, 2023: p. 1)

Pouco tempo depois, inicialmente fixou residência em Madeira Cortada, seguindo mais tarde, em 1946, para as terras de seu sogro, na localidade de Cachoeira, propriedade que antes pertencia ao avô paterno de sua esposa, Manoel Maria de Jesus, local onde também se instalou um núcleo protestante de orientação congregacional oriundo de sua terra natal.

Imagem da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira, em 2020.

Nesse tempo, para manter sua família, que não era pequena, prestava serviços aos herdeiros do pai de seu sogro como lavrador e regularmente, com a sua família, frequentava a igreja congregacional da localidade, onde era membro ativo, sendo eleito inicialmente como diácono, depois presbítero, além de desempenhar o papel de tesoureiro e de evangelista.
Nessa localidade, com apenas trinta e dois anos de idade, em um ato de coragem e fé, resolveu atender um chamado. Tinha nas mãos o destino de nove crianças quando deixou para trás a terra e a abundância dos frutos para preparar novos terrenos, agora com a água da vida e as sementes da fé.

“Em Madeira Cortada, para sua alegria, nasceram três filhos: Edith Fragoso da Silva (8 de outubro de 1942); Rui Fragoso da Silva (16 de abril de 1944) e Irenilda Fragoso da Silva (4 de junho de 1945)… Em Cachoeira, Antônia e Francisco tiveram mais seis filhas: Iracilda Fragoso da Silva (28 de outubro de 1946); Ilza Fragoso da Silva (7 de junho de 1948); Edissa Fragoso da Silva (8 de junho de 1950); Ercília Fragoso da Silva (23 de janeiro de 1952); Elizabeth Fragoso Vieira (23 de junho de 1953) e Eduvirges Fragoso da Silva (14 de abril de 1955).” (SILVA JÚNIOR, 2023: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/antonia-fragoso-da-silva/. Acesso no dia 25 de abril de 2023)

Em sua nova jornada, agora como evangelista, nada foi diferente dos anos iniciais de sua vida como lavrador, onde alegremente preparou terrenos áridos e secos para receberem uma delicada semente. Ao receber o chamado divino, fechou os olhos para suas próprias condições de roceiro e, pela fé, entregou-se tal como estava, como bolão de barro nas mãos do grande oleiro, onde foi perfeitamente moldado e transformado em um vaso de bênçãos.
Essa oportunidade surgiu no início do ano de 1955, porém teria que professar a doutrina batista passando pelo rito de imersão, ofício ocorrido nesse mesmo ano, sendo oficiado pelo Rev. Isaías Vieira, seu primo-irmão, na barragem do Açudezinho, que foi assistido por vários membros da família pertencentes a Igreja Congregacional de Cachoeira.
No ano seguinte, acompanhado de sua enorme família, se instalou no Aracati, Município do Estado do Ceará, situado no litoral à margem leste do rio Jaguaribe, a 150 km da capital cearense.
Em sua missão evangelística, inicialmente  dirigiu a 1ª Igreja Batista na cidade e, além disso, visitou os grupos de crentes batistas nos vilarejos, que ficavam em torno da cidade. Para tais visitas teve, muitas vezes, que viajar de barcos à vela, pelo oceano ou pelo rio Jaguaribe.
Na segunda metade do ano de 1957, o campo missionário recebeu um pastor, que veio residir em Aracati para pastorear a Igreja Batista. Sendo assim, a Junta Batista de Missões o enviou para o Município de Sobral, uma importante cidade do sertão cearense.
Nessa cidade o seu trabalho evangelístico seria mais necessário, pois colaboraria com o pastor da igreja, o Rev. Luiz Gonzaga, que já desenvolvia um profícuo trabalho evangelístico em diversas congregações.
Ainda nessa cidade, foi incentivado pelo pastor a obter o diploma do antigo primário, objetivando ingressar em um futuro próximo no curso teológico para a formação de pastores leigos.
Essa oportunidade ocorreu em 1959, quando estava fixo no campo de Carolina, uma cidade localizada ao sul do Estado do Maranhão, à margem direita do rio Tocantins, a 850 km de São Luiz, capital do Estado.
Nesse período de curso, prestou assistência à Igreja Batista em Filadélfia, que ficava situada à margem esquerda do rio, limítrofe de Carolina, inicialmente como evangelista e, depois, como pastor, consagrado.
Ainda nesse ano, antes de terminar o curso, de acordo com o Conselho de Pastores que o consagraram, ele se enquadrava no perfil traçado pelo Apóstolo São Paulo, especialmente nos versículos de 2 a 6 da primeira epístola a Timóteo. O seu comportamento era irrepreensível, e dirigia bem sua família. “Pois, se alguém não sabe dirigir bem a própria casa, como poderá dirigir bem a igreja de Deus?” (V. 5).

Imagem de sua turma de formatura.

Pouco tempo depois, nos últimos meses de 1960, colou grau na turma de formandos do Instituto Teológico Batista, onde, durante dois anos, com muito esforço, competência, coragem e determinação resultaram em vitória final na luta pelo ideal de ser ele um pastor, cursando em dois anos um curso geralmente de quatro.
Depois da conclusão dessa etapa em seu aperfeiçoamento, a Junta Batista Cearense o indicou para um novo desafio, abrir um campo missionário na cidade de Caucaia, para onde partiu com a sua família.

“Em Caucaia, deu a luz a mais um filho, Jônatas Fragoso da Silva (22 de abril de 1962) e, em Cajazeiras, engravidou mais uma vez, porém, sua filha faleceu antes de vir ao mundo.” (SILVA JÚNIOR, 2023: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/antonia-fragoso-da-silva/. Acesso no dia 25 de abril de 2023)

Na cidade de Caucaia, logo o seu trabalho resultou em uma pequena congregação, formada por 15 pessoas até que, antes de chegar o momento de organizá-la em igreja, e ser o seu pastor, atendeu ao convite da Igreja Batista de Cajazeiras, no Estado da Paraíba, onde foi investido da função pastoral.
Entre os anos 1963 e 1964, residindo na cidade de Cajazeiras, pastoreou a igreja local e a Igreja Batista de Gravatá, um sítio do Município de Antenor Navarro, as quais pertenciam a Junta Batista da Paraíba.

Imagem da Igreja Batista de Gravatá.

Em 1965, dessa vez a convite da Junta Batista Piauiense, se instalou na cidade de Teresina, onde trabalhou como pastor interino, dando assistência as igrejas batistas da região de acordo com as suas necessidades teológicas.
Mais tarde, em 1968, voltou para o campo paraibano e durante o período de dois anos foi pastor da Igreja Batista do Pilar e, com a sua família, administrou também o Instituto Batista do Pilar, bem como a Igreja Batista em Sapé.
No início de 1970, juntamente com a sua família, se mudou para cidade de Guarabira, no brejo paraibano, permanecendo ainda como responsável pela Igreja Batista em Sapé.
Depois disso, em Guarabira, no dia 5 de abril de 1973, um triste fato marcou sua carreira ministerial, quando repentinamente perdeu a sua esposa, companheira fiel do seu ministério, que mesmo diante das incertezas e durezas da missão, apoiava seu esposo no cumprimento do chamado divino.

“No dia 5 de abril de 1973, na cidade de Guarabira, no brejo paraibano, deixou este mundo, vítima de um colapso cardíaco; porém, a sua atuação missionária continuou nos seus descendentes e em todos aqueles cuja semente de fé do eterno nunca murchou.” (SILVA JÚNIOR, 2023: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/antonia-fragoso-da-silva/. Acesso no dia 25 de abril de 2023)

De acordo com SOUZA (2014: p. 126–128), acreditando que o segundo casamento seria uma maneira de superar sua grande tristeza, no dia 21 de janeiro de 1974, contraiu matrimônio civil com Cecira Gomes da Silva, nascida no dia 3 de setembro de 1940, sendo filha de Eusébio Gomes de Souza e de Maria Rosa de Souza.
A sua nova esposa vinha de um lar católico, sendo uma recém convertida ao protestantismo que frequentava a Igreja Congregacional de Guarabira, com que gerou dois filhos, sendo eles: Ruth Gomes da Silva (30 de maio de 1976), natural de Paulo Afonso – BA e Moisés Gomes da Silva (15 de janeiro de 1982), natural de Cabedelo – PB.
Depois de casado, passou um pequeno período em Guarabira, quando foi requisitado pela missão a se estabelecer em Paulo Afonso – BA, onde pastoreou a Igreja Batista local, permanecendo nessa função entre os anos  de 1975 e 1976.
Mais tarde, juntamente com a sua família, foi transferido para São Bento do Una, em Pernambuco, onde permaneceu no período de 1977 a 1985. Nesse local, promoveu um grande trabalho evangelístico.
Nesse tempo, devido ao aumento significativo do número de pessoas que se congregavam, conseguiu mobilizar a sua comunidade para construção do templo, até que, quando finalmente deixou São Bento, a congregação já estava organizada em igreja, tendo cinquenta membros.
No ano seguinte, já aposentado, migrou com a sua família para cidade de João Pessoa, onde fixou residência até os seus últimos dias.
De acordo com alguns de seus contemporâneos era um homem muito disposto e dedicado ao trabalho pois, mesmo depois de aposentado, voltou ao cultivo da terra, colhendo diariamente: macaxeira, inhame, manga, caju, amendoim, batata-doce, entre outros.
Para complementar sua renda, além das hortaliças e frutas, vendia também remédios naturais de um laboratório fabricante de suplementos vitamínicos. Mesmo com esse trabalho, jamais negligenciou suas leituras, principalmente, a leitura da Bíblia, sempre aproveitando as oportunidades para evangelizar, promover estudos bíblicos e colaborar com os trabalhos de algumas igrejas, pastoreando ainda a Igreja Batista de Bayeux durante um ano.
Depois disso, por conta de um AVC – Acidente Vascular Cerebral, passou muito tempo com sequelas, andando devagarinho, sem fala e as vezes preso a uma cadeira de rodas ou a uma cama.
Em janeiro de 2011 veio para cidade de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, onde permaneceu aos cuidados dos filhos que moravam ali até o seu falecimento, ocorrida no dia 19 de dezembro do mesmo ano, onde foi sepultado.

“Os seus familiares, do primeiro e do segundo casamentos, e amigos prestaram as últimas homenagens para um herói que depois de oitenta e oito anos de luta pela vida, encerrava no peito o troféu da vitória, o qual se manifestava na grande prole (12 FILHOS), que, atenta como se fosse nos tempos idos rodeava-o para captar suas palavras, seus gestos, seu silêncio e, como se não bastasse, seu exemplo de fé. O herói dessa história foi um verdadeiro pregador do dom da graça: como homem de Deus, procurou a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão, dedicando sua vida ao combate pela fé cristã, mesmo tendo que enfrentar as duras dificuldades. Ao final de tudo, conquistou a vida eterna, para a qual foi chamado, pois guardou, com perseverança, o mandamento puro, de modo irrepreensível, até se encontrar, na glória eterna, com Jesus Cristo.” (SILVA & SILVA, 2023: p. 1)

BIBLIOGRAFIA:

  1. CARNEIRO, Osmar de Lima. Fotografando o Amor. História de Uma Igreja Perseguida. João Pessoa: JRC, 2006.
  2. FRAGOSO VIEIRA, Ezequiel. A História da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem. Disponível em www.adoreisnet/iecbv/nossahistoria. Acesso em 11 de janeiro de 2011.
  3. IBGE. A história de Brejo dos Santos. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/brejo-dos-santos/historico. Acesso no dia 24 de fevereiro de 2018.
  4. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  5. SILVA, Edissa Fragoso & SILVA, Jônatas Fragoso. Traços biográficos de Antônia Fragoso da Silva. Cabo de Santo Agostinho – PE: Texto não publicado, 2023.
  6. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
  7. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Madeira Cortada. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/madeira-cortada/. Acesso no dia 23 de abril de 2023.
  8. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Antônia Fragoso da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/antonia-fragoso-da-silva/. Acesso no dia 25 de abril de 2023.
  9. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/igreja-evangelica-congregacional-de-cachoeira/. Acesso no dia 23 de abril de 2023.
  10. SOUZA, José Gomes de. Família Gomes de Souza: mais de um século de história. João Pessoa, PB: Ideia, 2014.