O pleito eleitoral de 2000, que escolheu prefeito e vereadores, trouxe muitas novidades para Boa Viagem, dentre elas a utilização das urnas eletrônicas, todavia a maior delas foi o fato da Justiça Eleitoral passar a exigir alguma comprovação de que os candidatos sabiam ler e escrever.
Como era de se esperar algumas lideranças políticas ficaram muito preocupadas com esse fato, pois nem todos os seus candidatos ao Poder Legislativo tinham “segurança” em decodificar aquilo que tinha no papel e o juiz eleitoral, Dr. Pedro Pia de Freitas, era muito exigente.
Essa barreira a transpor, para algumas coligações, significava perder importantes nomes de sua vitrine, bem como a certeza de muitos votos, especialmente na zona rural, onde os “matutos” ficariam praticamente soltos e a mercê da oposição. Considerando esse fato, choveram denúncias!
Entre as denúncias à Justiça Eleitoral, não tardou mencionarem o nome de Herminio Veras Jorge, que embora já fosse vereador, os seus pares fariam de tudo para tirá-lo do páreo no intuito de encamparem os votos de sua região.
Dentro de poucos dias o referido foi convocado pelo juiz, e como era de se esperar foi constatada a sua dificuldade em ler, algo que forçou ao corpo jurídico da coligação em pedir uma reavaliação do caso, algo prontamente atendido pelo magistrado, que teve o seguinte diálogo com o candidato: – “Senhor Hermínio, vamos reavaliar o seu caso, vou colocar uma palavra nesse quadro negro e peço que o senhor leia.”
Como disse o juiz, assim foi feito, e o Hermínio, depois de algum tempo olhando para o quadro, não conseguiu ler a simples palavra. Já impaciente com o caso, o magistrado passou a soletrar a referida palavra no intuito de ver se “saia alguma coisa”, disse ele: – “Seu Hermínio, veja, não é difícil: um C com um A, CA, um D com um E mais um I, DEI, mais um R e um A, RA, como fica essa palavra?”
Nascido e criado no interior, sem possuir o hábito de chamar o móvel da palavra por este nome, encheu o peito e respondeu o Hermínio: – “Ah excelência, agora ficou muito fácil de dizer, especialmente com essa ‘dica’ que o senhor me deu. TAMBORETE!”
Depois de muitas risadas, o juiz autorizou o registro de sua candidatura e o referido, ao fim da campanha, esteve entre os eleitos desse concorrido pleito.
Pingback: CRÔNICAS E POESIAS | História de Boa Viagem