Ednardo Rodrigues Brasil
O futebol sempre foi uma paixão brasileira, se espalhando desde os grandes centros até os mais longínquos do país. Não era diferente no meu amado Boqueirão, localidade fincada no mais “brabo” Sertão cearense, onde reinava soberano o Juventude, com suas tradicionais listras verdes e brancas no seu velho uniforme. O alviverde boqueirãoense era um ótimo time e, por isso, era sempre convidado a visitar outras comunidades, onde desfilava o seu amador, mas belo futebol. Particularmente, me sentia muito orgulhoso em defender aquela equipe.
Na falta de ônibus àquela época, nosso time era transportado em caminhão pau-de-arara, em particular, o Chevrolet 76 do Sr. Rodrigues. O proprietário do veículo sempre foi conhecido pelo seu mau humor, pouca paciência e respostas nada sutis a provocações.
Certo domingo, fomos visitar a comunidade de Barrigas, no vizinho Município de Madalena. Saímos no velho Chevrolet, por volta do meio dia, e esperávamos uma viagem tranquila. A resenha sorria solta embaixo da lona o velho caminhão, cujo desconforto único eram seus duríssimos bancos de Aroeira, o que no fulgor de nossa jovialidade, não nos incomodava e até fazíamos piadas sobre o fato.
Tudo parecia normal, até que, pouco depois da saída, Seu Rodrigues parou o caminhão, retirou um galão de vinte litros de água de um canto da carroceria e colocou no radiador. A peça de refrigeração estava furada. Poucos quilômetros adiante, nova parada e o mesmo procedimento. Quando encontrava um açude, o motorista enchia os galões e o processo continuava.
Uma hora depois da partida, tínhamos percorrido cerca de, apenas, nove quilômetros. Chegamos ao açude da localidade de Poltrinho. Seu Rodrigues pegou dois galões e se dirigiu ao reservatório para, novamente, encher os recipientes, a fim de reabastecer o radiador. O homem, de meia idade, parecia já cansado e bastante suado. Quando este deu as costas e se afastou um pouco do veículo, um gaiato gritou de cima da carroceria:
– Seu Rodrigues, este carro comeu foi peixe?
Mais do que imediatamente e vermelho igual pimentão, o motorista virou-se e bradou:
– Não! Foi o (…) da tua mãe, seu filho de uma égua!
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