Solon Ximenes de Araújo

Solon Ximenes de Araújo nasceu no dia 24 de março de 1911 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Manoel Araújo Marinho e de Júlia Ximenes de Aragão.
Os seus avós paternos se chamavam Manoel Duarte de Araújo e Maria Amélia de Araújo, já os maternos eram Antônio Ximenes de Aragão e Ana Benvinda Ximenes.
Alguns dias depois do seu nascimento, em 28 de março, seguindo o costume da confissão religiosa de seus pais, recebeu o batismo pelas mãos do Mons. José Cândido de Queiroz Lima.
Nos primeiros meses de 1914, prestes a completar três anos de idade, a sua querida mãe veio a óbito deixando-lhe órfão, juntamente com os seus dois irmãos.
Pouco tempo depois desse episódio, no dia 21 de agosto de 1915, o seu pai contraiu um novo relacionamento conjugal, dessa vez com Maria Gabrielina Queiroz Araújo, senhora que dignamente assumiu às crianças do primeiro relacionamento de seu esposo.

“No Livro B-03, existente no Cartório Geraldina, 1º Ofício, Folha nº 13, Tombo nº 4, encontra-se o registro de casamento de Manuel Araújo Marinho com Maria Gabrielina de Queiroz diante do juiz de casamentos, Severino Ernesto Tavares, tendo como escrivão Manuel Honor da Costa Mendes e as seguintes testemunhas: José Cândido de Carvalho e José Leal de Oliveira.” (SILVA JÚNIOR, 2014: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/manoel-araujo-marinho/. Acesso em 13 de janeiro de 2015)

Sendo motivado pela triste perda de sua mãe, desde a infância dedicou-se aos estudos em Boa Viagem no intuito de ser médico, época em que o seu avô materno era inspetor escolar.
A sua capacidade de aprendizagem e de reter conhecimento lhe destacava das demais crianças de sua época, fato que motivou ao seu pai e a sua madrasta a investirem em sua educação.

Imagem de infância, onde está entre dois irmãos, Maria Zeuta e Gervázio.

Pouco tempo depois de receber instrução elementar, sem ter como avançar nos estudos, os seus pais lhe encaminharam para capital cearense, onde, juntamente com um de seus primos, Francisco Rangel de Araújo, deu continuidade aos seus estudos no Colégio Cearense do Sagrado Coração, que está localizado na Rua Duque de Caxias, nº 101, Centro.
Essa escola, uma das referências dessa época, foi dirigida inicialmente por três religiosos: Pe. Misael Gomes, Pe. Climério Chaves e o Pe. José Quinderé, sendo entregue, algum tempo depois, aos irmãos maristas, uma missão religiosa de confissão católica voltada para educação.

Imagem do Colégio Cearense do Sagrado Coração, em 2014.

Nesse período, enquanto esteve na cidade de Fortaleza, o seu pai iniciou a sua brilhante trajetória política, tradição herdada de família:

“Embora ainda existam fatos obscuros na história política do Município de Boa Viagem, podemos dividir a trajetória política de Manoel Araújo Marinho em três fases: a primeira no fim da década 1920, onde temos poucas informações; a segunda no início de 1930 até o fim da República Velha, onde foi impedido de concluir o seu mandato por conta da ascensão do Dr. Getúlio Dornelles Vargas ao Governo Federal; e por fim a terceira fase, a da República Nova, sendo eleito para o exercício do mandato que teve início em 25 de março de 1948 e foi encerrado no dia 24 de maço de 1951.” (SILVA JÚNIOR, 2014: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/manoel-araujo-marinho/. Acesso em 13 de janeiro de 2015)

Nos últimos meses de 1931, concluído os estudos necessários e consciente de sua vocação profissional, foi encaminhado para o Estado da Bahia para cursar medicina na Universidade Federal, que na época era chamada de Faculdade de Medicina da Bahia, considerado o curso de medicina mais antigo do Brasil.
Residindo na cidade de Salvador, inicialmente enfrentou serias dificuldades para dar continuidade aos seus estudos, visto que, nessa época, sem as facilidades bancarias de nosso tempo, passava boas temporadas sem receber o dinheiro enviado pelo seu pai, e quando o recebia fazia de tudo para manter-lhe na mão, gastando o mínimo necessário.
Outro motivo para essa economias foi comunicado através de cartas, onde tomou conhecimento do flagelo da seca de 1932, que causou enormes prejuízos a produção agrícola nas propriedades de seu pai.
Nos últimos meses de 1935, com apenas 24 anos de idade, finalmente concluiu o seu curso e decidiu ter a sua primeira experiência profissional na capital do país, a cidade do Rio de Janeiro, que nessa época assistia ao lento declínio da República Velha.
Algum tempo depois, decidindo regressar para o Estado da Bahia, estabeleceu-se por pouco tempo em Bonito, um pequeno povoado pertencente ao Município de Utinga, que está localizado na região Centro-Sul daquele Estado.
Saindo novamente do Nordeste brasileiro passou a trabalhar na cidade de Altamira, que está localizada na região Sudoeste do Estado do Pará, onde finalmente decidiu retornar para o Estado do Ceará, estabelecendo-se por algum tempo na cidade de Quixadá.
Nessa época, segundo informações existentes no livro B-06, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 235, página 81, no dia 21 de julho de 1937, aos 26 anos de idade, às 16 horas, na residência de seu pai, diante do juiz de casamentos, José Augusto Carneiro, contraiu matrimônio com Nair Lima Araújo, de 27 anos de idade, nascida em Boa Viagem no dia 20 de janeiro de 1910, sendo filha do casal Benevinuto José de Lima e de Cisalpina da Cunha Lima.
Nesse matrimônio serviram de testemunhas as seguintes pessoas: José Bezerra do Vale, Isaura Bezerra do Vale, Aluísio Ximenes de Aragão, Maria Alice Aragão, Cisalpina da Cunha Lima, Delfino de Alencar Araújo e José Bezerra de Farias.
Poucos dias depois, no dia 31 de julho, segundo informações existentes no livro B-09, pertencente à secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, tombo nº 33, página 15, confirmou os seus votos em uma cerimônia religiosa diante do Pe. Irineu Limaverde Soares.
Desse matrimônio foram gerados quatro filhos, três homens e uma mulher, sendo eles: Paulo Maria Lima de Araújo, Augusto César Lima de Araújo, Júlio César Lima de Araújo e Júlia Lima de Araújo.
Por volta de 1950, quando o seu pai voltou a assumir a chefia do Poder Executivo municipal, decidiu regressar com a sua família para o Município de Boa Viagem e se estabelecer como médico e comerciante em uma pequena farmácia.
No ano seguinte, decidido a permanecer em sua cidade natal, iniciou a construção de um suntuoso sobrado que até hoje está localizado na Rua 26 de Junho, nº 321, Centro, onde residiu durante muitos anos.

Imagem do sobrado do Dr. Solon Ximenes de Araújo, em 2014.

O sua clínica, que também possuía uma farmácia, denominada de Farmácia Alvorada, inicialmente foi estabelecida na Rua Agronomando Rangel, nº 351, e logo depois na Praça Monsenhor José Cândido de Queiroz Lima, nº 151, esquina com a Rua Agronomando Rangel, próximo ao edifício dos correios.

“Dispensou ao nosso povo os seus serviços médicos de 1952 a 1973, atendendo na sua Farmácia Alvorada e em domicílio, sempre prestativo e atencioso. Também deu aulas de inglês e francês no Colégio Dom Terceiro durante alguns anos, dando provas irrefragáveis de sua competência de poliglota.” (NASCIMENTO, 2002: p. 219)

Nesse segundo endereço, no dia 5 de agosto de 1954, por volta das 7 horas da manhã, presenciou a trágica morte de seu irmão, o Vereador Antônio de Queiroz Marinho, que foi covardemente assassinado em uma emboscada no Centro da cidade pelo genro de seu tio materno.
Pouco tempo depois desse fato, no dia 19 de abril de 1956, uma nova perda lhe abateu, o seu avô materno, Antônio Ximenes de Aragão, que aos 93 anos de idade veio a óbito e foi sepultado no mesmo túmulo de sua mãe.
No balcão de sua farmácia era famoso por ser um comerciante de “fino trato” com os seus clientes, além de ser muito educado costumava chamar a todas as suas freguesas pela alcunha de “Maria”, atendendo também a domicílio.
Nessa época, para manter o estoque de medicamentos de sua farmácia, costumeiramente passava dias na capital e nesse tempo procurava aproveitar as noitadas com à boemia da capital.
Em uma dessas noitadas, andando pela capital, conheceu uma bela jovem de nome Francisca Dantas de Macêdo, nascida no Município de São Rafael, que está localizado no Estado do Rio Grande do Norte, que de um simples fascínio se transformou em um caloroso romance.
Aos poucos esse romance foi se tornando público, e para os padrões morais daquela época um avultado escândalo, dando fim ao seu matrimônio, que mesmo com as dificuldades existentes e da forma como veio ao público ainda se mantinha com diálogo.
Desse novo relacionamento foram gerados dez filhos, cinco homens e cinco mulheres, sendo eles: Cláudio César Dantas de Araújo, Elizabeth Dantas de Araújo, Régia Maria Dantas de Araújo, Solon Ximenes Araújo Filho, Ângela Maria Dantas de Araújo, Flávio César Dantas de Araújo, Francisco de Assis Dantas Araújo, Hiltom Dantas de Araújo, Ana Maria Dantas de Araújo e Clécia Maria Dantas de Araújo.

Imagem da solenidade de inauguração da Escola de Ensino Fundamental Osmar de Oliveira Fontes, em 1964.

Curiosamente nunca quis se envolver com política partidária, mesmo tendo em suas veias o sangue da “Oligarquia Araújo”, que dominou o cenário político do Município de Boa Viagem até a metade dos anos 1960.

“Os Araújos, família rica e filiada a outras das mais antigas do Norte do Ceará, vivia na mesma região [Sertão Central], tendo como sede principal a povoação de Boa Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 190)

Nessa época, com a fundação da Escola de Ensino Médio Dom Terceiro, durante alguns anos lecionou inglês e francês naquela instituição.
Mais tarde, por volta de 1973, decidiu morar novamente na cidade de Fortaleza, e nessa cidade, trabalhando pelo Governo do Estado, prestou os seus serviços nos Bairros do Pirambu e Panamericano, postos da periferia da cidade e durante algum tempo no Município de Aracoiaba.
Na cidade de Fortaleza residiu em um apartamento no Edifício Paraguaçu, que está localizado na Rua Pedro I, nº 233, Centro, próximo da Praça Coração de Jesus.
Algum tempo depois, no dia 14 de dezembro de 1980, desatentamente caminhando pela Rua Senador Pompeu, chegou ao cruzamento com a Rua Antônio Pompeu e ao cruzar esse endereço foi atropelado por um veículo.
No mesmo instante foi socorrido e encaminhado para o HGF – o Hospital Geral de Fortaleza, onde passou dez dias internado sendo assistido pelos médicos, que infelizmente pouco puderam fazer.
Faleceu na cidade de Fortaleza, aos 69 anos de idade, no dia 24 de dezembro de 1980.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares em um túmulo existente no Cemitério Parque da Paz, que está localizado na Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, nº 4.454, no Bairro do Passaré, na cidade de Fortaleza.

HOMENAGENS PÓSTUMAS:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, através da lei nº 459, de 21 de março de 1988, a rua que divide os Bairros Várzea do Canto e Padre Paulo do Tibiquari e da Boaviaginha, nome urbano da Rodovia Federal Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, a BR-020, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura;
  2. Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho, embora ainda sem amparo legal, foi dada ao edifício que abriga à Secretaria Municipal da Saúde, que recebeu o seu nome.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Recordações de um Boticário. 2ª edição. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1996.
  2. BEZERRA DE MELO, Maria José. Ex-Educadores de Boa Viagem. Monografia apresentada ao departamento de pós-graduação e pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú, 2002.
  3. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. Boa Viagem, Realidade e Ficção. Fortaleza, MULTIGRAF, 1996.
  4. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  5. PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro de batismos. 1909-1912.  Livro A-10. Tombo nº 162. Página 94.
  6. PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro de casamentos. 1936-1939. Livro B-09, Tombo nº 33. Página 15.
  7. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Manoel Araújo Marinho. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/manoel-araujo-marinho/. Acesso em 13 de janeiro de 2015.
  8. SIMÃO, Marum. Quixeramobim: Recompondo a História. Fortaleza: MULTIGRAF, 1996.