Paulo Moody Davidson nasceu no dia 15 de março de 1910 na cidade de Zanesville, sede do Condado de Muskingum, no Estado de Ohio, que está localizada na região Centro-Oeste dos Estados Unidos da América, sendo filho de José Davidson e de Ruth Moody Davidson.
Os seus pais eram cristãos de confissão protestante, membros de uma Igreja Presbiteriana da pequena cidade onde moravam.
Nada sabemos dos primeiros anos de sua vida, o que podemos deduzir é que recebeu uma forte influência de sua mãe, que era prima do Rev. Dwight Lyman Moody, pastor de uma conhecida Igreja Congregacional na cidade de Boston e que é considerado por muitos protestantes como o maior evangelista do século XIX.
Nascido e educado em um lar presbiteriano podemos concluir que fez a sua profissão pública de fé no início de sua juventude, mas só demonstrou pendor para à vocação ministerial quando já estava na universidade.
Os seus primeiros anos escolares foram em uma “charter”, um tipo de escola pública independente que não era administrada por um distrito escolar, mas que dependia das verbas públicas para funcionar.
Como sabemos, nos Estados Unidos da América, o atendimento escolar é compulsório para todas as crianças com mais de seis anos de idade até a conclusão do ensino médio e as escolas estadunidenses estão subdivididas, ocasionalmente, em Junior High School ou Middle School e Senior High School.
Conseguiu concluiu o ensino secundário na Senior High School de New Concord, no mesmo condado em que nasceu e graças ao seu bom desempenho escolar, logo após o término de seu curso, ingressou imediatamente na Universidade de Princenton.
A Universidade de Princenton, que está situada no Condado de Mercer, no Estado de Nova Jersey, localizado na região Centro-Atlântico dos Estados Unidos, foi fundada como uma instituição de educação, mantida com recursos da Igreja Presbiteriana, e é reconhecida até os dias de hoje como uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas no mundo.
Foi nessa universidade que ele conseguiu concluir o seu Bacharelado em Artes, equivalente ao nosso curso de Filosofia, nos últimos meses de 1932.
Despertado pela vocação pastoral, logo após a conclusão do curso em Princenton, mudou-se para o Estado do Texas com o intuito de ingressar no Seminário Teológico de Dallas, um famoso seminário teológico interdenominacional que foi fundado em 1924 e que conseguia atrair jovens de todo o mundo para o preparo de futuros pastores, onde, no final do ano de 1935, concluiu a sua formação recebendo desta instituição o titulo de Mestre em Teologia.
“Um excelente exemplo é o Seminário Teológico de Dallas fundado, em 1924, como Faculdade Teológica Evangélica pelo Rev. Lewis Chafer (1871-1952), professor presbiteriano de Bíblia. O objetivo do Rev. Chafer era fundar uma instituição que promovia o dispensacionalismo – uma forma específica de interpretar a Bíblia – assegurando, assim, um suprimento de pastores que pregariam essa abordagem.” (MCGRATH, 2012: p. 239)
Ainda no final de 1935, na cidade de Dallas, contraiu núpcias com Dorotéia Burt, uma jovem piedosa, possuidora de muita cultura e que lhe auxiliou durante todo o seu ministério pastoral.
Depois de graduado seguiu com a sua estimada esposa para a sua primeira experiência pastoral como pastor auxiliar em uma Igreja Presbiteriana existente no Estado de Iowa, localizado na região Centro-Oeste de seu país.
Nessa época, era comum nos seminários a existência de escritórios de agências missionárias que auxiliavam no envio de pastores para os vários países do mundo.
Entre essas agências estava a União Evangélica da América do Sul, ou simplesmente UESA, que mantinha um contato direto com a América Latina, principalmente com o Brasil, graças à fusão dessa agência com a “Help for Brazil”, agência missionária criada em 1893 pelo Rev. James Hudson Taylor e a senhora Sarah Poulton Kalley, esposa do Dr. Robert Reid Kalley, pastor da primeira igreja protestante em língua portuguesa a se estabelecer em solo brasileiro.
“A UESA nasceu durante uma das célebres convenções de Keswick, na Inglaterra, onde os líderes das igrejas protestantes daquele país não se conformaram com a decisão tomada na Conferência Mundial de Missões Estrangeiras realizada em 1910, em Edimburgo, determinando excluir a América Latina da esfera missionária sob a alegação de que a região já vinha sendo cristianizada pela Igreja Católica Apostólica Romana, igreja de credo cristão.” (S.N.T)
Acreditamos que o desejo do Rev. Paulo Moody Davidson não era de apenas ser um pastor, aspirava desde cedo ser um missionário em favor da divulgação da Palavra de Deus em solo estrangeiro.
Imaginamos que bem antes de iniciar os seus estudos em Teologia já procurava estudar a língua portuguesa para concretizar o seu pendor vocacional, como também mantinha constante contato com os membros dessa missão.
Esse intento se concretizou ainda em março de 1936, poucos meses após o seu casamento e início de pastorado, quando nessa época recebeu o aval dessa missão para partir para o Brasil, onde contribuiria com a expansão missionária da Igreja Congregacional e Cristã Evangélica.
Prontamente seguiu para a cidade de Nova York, que está localizada no Estado de mesmo nome, onde embarcou em um navio com destino ao Nordeste brasileiro.
Chegando ao nosso litoral desembarcou no porto de Cabedelo, na época um Distrito do Município de João Pessoa, e em junho desse mesmo ano seguiu para o Município de Patos, que está localizado no Sertão paraibano, na companhia de outro casal de missionários, os Briault.
“Por conta do arcadismo e fervor da religião católica, muitas foram as dificuldades encontradas pelo grupo de evangelizadores denominados protestantes, ao ponto de alguns comerciantes se negarem, até mesmo, a lhes vender leite. Depoimentos dão conta de que houve até a tentativa de homicídio contra o Pastor Harry Briault. Tal fato teria sido causado pela revolta do Padre Jesuíta de Patos, após ter sido desafiado para um debate em praça pública, desistindo de última hora e passando a ser motivo de fofocas dando conta de sua derrota moral, ter organizado um grupo de centenas de homens e se dirigido à casa do referido cidadão com o objetivo de tirar-lhe a vida, no que só foi contido graças à intervenção do prefeito da época.” (LUCENA, S.N.T)
Em fevereiro de 1937, percebendo a grande necessidade da formação de obreiros para o quadro de ministros da UIECCB, União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs no Brasil, fundaram o Instituto Bíblico Nordestino na cidade de Patos, que depois, em 1944, foi transferido para Rua Monsenhor Tabosa, nº 575, Itaperi, na cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará, e por fim, em 1952, se estabeleceu definitivamente na Rua Arealva, nº 19, no Bairro Tejipió, na região metropolitana da cidade do Recife, em Pernambuco.
“Em 1937, liderado pelo Rev. Herry Briault, florescia o campo evangelístico da Paraíba e, com o apoio da UESA, foi criado o Instituto Bíblico de Patos, onde prestaram colaboração vários entre os quais destacamos o Rev. Paulo Davidson e o Rev. Percy Bellah. Em 1944 o IBP foi transferido para cidade de Fortaleza, mudando o nome para Instituto Bíblico Nordestino. Em 1949 ficou decidido que o Instituto Bíblico de Fortaleza seria transferido para o Recife e oficializado como instituição denominacional. Localizou-se a princípio na Avenida 17 de Agosto, no Bairro do Monteiro, tendo como diretor o Rev. Paulo Davidson. Somente em 1952 foi adquirido o terreno com mais de 9.000 m² no Bairro Tejipió onde, em 1954, foi construído o atual prédio principal do Seminário.” (OLIVEIRA, 1984: p. 49)
O Rev. Paulo Moody Davidson assumiu o desafio de ser o reitor deste seminário a partir de 1938, onde foi um de seus professores por mais de 20 anos.
“Transferiu-se para Fortaleza em 1945, ficando à frente da Casa de Profetas. Em 1949 era Diretor de nosso Seminário, já no Recife, onde permaneceu até regressar à pátria, até 1960.” (LEITÃO, S.N.T)
Nessa época, costumeiramente, visitava as igrejas pelo interior do Nordeste no intuito de abrir novos campos missionários e despertar vocações.
Em uma dessas viagens, no dia 12 de dezembro de 1941, quando o seminário ainda estava estabelecido em nossa capital, veio ao Município de Boa Viagem no intuito de organizar a Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira, uma pequena comunidade de cristãos oriundos do Estado da Paraíba que se estabeleceu em Cachoeira dos Fragoso, na zona rural desse Município, por conta das fortes perseguições religiosas acontecidas em seu Estado natal.
“Após o ministério do Rev. Briault em Jacu assumiu o pastorado da igreja o Rev Paulo Moody Davidson. Dando assistência pastoral ao mesmo grupo de evangélicos… foi à Cachoeira e, em sessão em dezembro de 1941, na residência de Manoel Maria de Jesus, foi organizada a Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira.” (MARQUES FERREIRA & SANTANA FILHO, 2015: p. 92)
Nessa difícil tarefa, no longínquo Sertão Central cearense, contou com apoio de dois colegas da UESA, o Rev. Eduardo Knechetel e o Rev. Cecil Flechtel, que ainda hoje são lembrados pela comunidade pela alcunha de “galegos”.
Por esse motivo, por volta de 1960, um de seus alunos, o Rev. Francisco Souto Maior, fundou nessa cidade uma escola que leva o seu nome, o Instituto de Educação Paulo Moody Davidson.
Alguns de seus alunos nos relataram que o Rev. Paulo Davidson era um educador de temperamento calmo, era muito paciente com as pessoas e sabia compreender as limitações de seus alunos, principalmente os calouros que vinham das regiões menos assistidas pelo Governo.
“Nós, que com ele convivemos vários anos e tivemos o privilégio de aprender aos seus pés, lhe devotávamos imenso afeto e profunda admiração.” (LEITÃO, S.N.T)
Os seus contemporâneos nos dão conta de que possuía um amplo conhecimento das ciências de sua época, a ponto de ficar conhecido entre os seus companheiros de ministério como uma “enciclopédia ambulante”, mas isso não manchava o seu caráter com a soberba.
Conseguia lecionar as disciplinas elementares da Teologia, era um profundo exegeta e um dos mais respeitáveis expositores da bíblia em seu tempo.
Impressionava a todos que o conheciam pelo forte apego aos livros e aos estudos, constantemente o encontravam entre os livros, muitas vezes até as altas horas da madrugada.
Constantemente dizia aos seus alunos que adotara por norma de vida a advertência dada pelo Apóstolo São Paulo ao jovem Timóteo: “Dedica-te à leitura….”
“Respeitávamos o Mestre, que sempre se revelou uma enciclopédia ambulante, capaz de, quando necessário, ministrar quase todas as disciplinas do curso: Geografia, Matemática, Ciências, Inglês, Grego, Velho Testamento, Novo Testamento, e sobretudo Teologia, matéria favorita. E com que paciência enfrentava as limitações dos ‘calouros’ e com quanta habilidade e proficiência conseguiu aos poucos incutir nas mentes mais rudes os mistérios intricados da Teologia e os segredos da Revelação.” (LEITÃO, S.N.T)
Apesar de nunca ter recebido um reconhecimento por parte de nosso Governo Federal, o Rev. Paulo Davidson prestou relevantes serviços à educação brasileira, muitos de seus alunos tiveram êxito em suas profissões, tendo em vista que nem todos abraçaram o ministério pastoral.
Sempre que voltava a sua terra natal levantava fundos entre as igrejas para garantir a manutenção do Seminário Teológico Congregacional do Nordeste com às portas abertas aos alunos carentes.
Nos últimos anos da década de 1950, para tristeza de muitos, estava acontecendo uma grande onda de desarmonia dentro das igrejas protestantes brasileiras entre os pastores nacionais e os estrangeiros.
Não eram apenas temas como o pentecostalismo ou a maçonaria que causava essa forte dissensão, os pastores brasileiros acreditavam que não necessitavam mais do auxílio ou intervenção dos pastores de outros países.
Infelizmente a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, a UIECB, não estava imune a estas tristes polêmicas e aos poucos começaram a acontecer mudanças desagradáveis que “apimentaram” a relação de diplomacia que existia entre a UIECB e a UESA.
Essas mudanças se estenderam aos seminários e aos seus reitores, entre eles estava o Rev. Paulo Moody Davidson, que imediatamente acatou as novas resoluções e com lágrimas nos olhos deixou a direção daquela casa que tanto lutou para que viesse a existência.
Em 1962, depois de 26 anos no Brasil, todos eles dedicados ao Nordeste, retornou a sua pátria deixando uma enorme lacuna no ensino teológico daquela casa e uma vertiginosa saudade no coração dos brasileiros que o conheceram.
Regressando a sua terra natal dedicou-se ao pastorado em sua antiga denominação e ao ensino de Teologia Sistemática e Missões no Mid-South Bible College da cidade de Memphis, que está localizado no Estado do Tennessee.
Durante o tempo em que esteve no Brasil pastoreou diversas igrejas, sendo elas: a Igreja Evangélica Congregacional de Patos, a Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira e a Igreja Evangélica Congregacional de Belo Jardim, a maioria delas como visitante.
Em julho de 1980, vinte anos depois de seu regresso aos Estados Unidos, recebeu a oportunidade de regressar ao Brasil a convite de alguns de seus ex-alunos, onde pode contemplar uma pequena parte de seu árduo e valoroso trabalho.
Nessa viagem incluiu em seu roteiro o Estado do Ceará, onde durante três dias, a convite de um de seus ex-alunos, o Rev. Ezequiel Fragoso Vieira, acompanhou o início da construção do suntuoso templo da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem que está situado na Rua 26 de Junho, nº 253, Centro.
Nessa ocasião, foi surpreendido também com uma bela homenagem prestada ao seu nome no projeto de uma escola que era mantida pela igreja, o Instituto de Educação Paulo Moody Davidson.
Pouco tempo depois, no dia 28 de maio de 1981, com 71 anos de idade, já em seu país, foi acometido de um derrame cerebral e lamentavelmente veio a óbito, deixando viúva a sua amada esposa e uma filha que se chamava Ruth, que fora adotada na época em que eram missionários no Brasil e residiam no Estado da Paraíba.
BIBLIOGRAFIA:
- FERREIRA, J. M. & SANTANA FILHO, M.B. Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. Origens, Histórias e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: EDIGRÁFICA, 2016.
- MCGRATH, Alister. A Revolução Protestante: Uma provocante história do protestantismo contada desde o século 16 até os dias de hoje. Brasília: Editora Palavra, 2012.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SANTANA FILHO, M.B. Desbravadores do Sertão. A Inserção do Protestantismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão: A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Boa Viagem, CE: PREMIUS, 2015.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, nos primeiros meses de 1960, por iniciativa do Rev. Francisco Souto Maior, uma escola da rede privada recebeu a sua nomenclatura na cidade de Boa Viagem.
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