Raimundo Gonçalves Vieira do Nascimento nasceu no dia 12 de dezembro de 1920 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Joaquim Gonçalves Vieira do Nascimento e de Francisca Cristina do Vale.
Na época em que nasceu o Município de Boa Viagem não dispunha de uma casa de parto, fato que obrigou aos seus pais a contar com os valiosos serviços de uma parteira na localidade de Várzea do Canto, onde passou grande parte de sua infância e juventude.
“Durante muitos anos, os únicos profissionais de saúde existentes em nossa região foram às parteiras, mulheres que normalmente recebiam esse aprendizado de forma hereditária, ou seja, a filha de uma parteira acompanhava a sua mãe no atendimento às mulheres em trabalho de parto auxiliando-a de acordo com as necessidades do momento, possibilitando, assim, após algum tempo de prática, o aprendizado para continuidade do ofício.” (SILVA JÚNIOR, 2016: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/saude/. Acesso em 25 de outubro de 2016)
Nessa época, ainda criança, acompanhava o seu pai nas obrigações do campo, sendo também um requisitado músico pela comunidade nos horários de folga, de quem tomou o exemplo.
“…trabalhava na roça, era carpinteiro e tocava harmônica, a velha sanfona de oito baixos, ‘pé-de-bode’, tão difícil de ser domada quanto uma rabeca… O casal teve cinco filhos: Raimundo, Chico, João, finada Maria e Luzia. Raimundo admite que ‘não sabe nada, não’, quando questionado sobre o tempo que passou na escola e sobre o que teria aprendido nos tempos da palmatória. O pai tocava sanfona, rabeca e violão. Ele aprendeu vendo o pai tocar, ‘rapazinho bem novinho, frangote’. Tinha o ouvido bom para escutar e aprendeu a afinar por si próprio. Daí para tocar, era apenas um passo ou uma questão de dias…” (CARVALHO, 2018: p. 291)
Mais tarde, já adulto, sendo conhecido como “Raimundo Gonçalo”, fez a sua primeira rabeca quando morava na vila de Guia, na zona rural do Município de Boa Viagem, sendo o animador de muitas festas que regularmente aconteciam na região.
Foi casado duas vezes, a primeira com Anita Gurgel, relacionamento que durou menos de um mês; já a segunda, Luiza Alves Bezerra, viveu com ela cerca de dez anos.
“… Não teve filhos com nenhuma das duas, mas teve ‘filho de mulher solteira’. Tem companhia e recebe cuidados, hoje, da prima, Maria Salete do Nascimento. Dona Salete, comunicativa, gosta de brincar com seu Raimundo. Diz que ele é ‘manhoso’ e explica, aos risos, a acepção da palavra: ‘nunca gostou de trabalhar’. Acompanhou o reisado do Mestre Zacarias, do Olho d’Água dos Facundos, onde vivem seu Zé Martins e Antônio Serafim. Não tocou acompanhando os devotos da Dança de São Gonçalo, que é mais penitência que dança. Relembra com alegria quando perguntado pelos bonecos: ‘toquei para eles dançar’, diz se referindo à trupe do Casemiro Coco. Perdeu a conta dos forrós que animou pelo sertão afora: Barra da Onça, Pocinhos, Retiro, ‘todo canto’, resume. Nunca compôs. Tocou muito Luiz Gonzaga: ‘sei o xote dele’. Admite ter ganhado algum dinheiro com a rabeca, o que não deve ter sido fácil e deve ter deixado muitas e boas lembranças por este sertão das memórias.” (CARVALHO, 2018: p. 291)
Já maduro, passou a residir na casa de uma de suas irmãs na localidade de Capitão-Mor, nas cercanias da cidade de Boa Viagem.
“No Capitão-Mor, periferia de Boa Viagem, vivem músicos que estariam condenados ao esquecimento, não fosse a importância que a rabeca vem ganhando e leva a que eles sejam mostrados, como argumento da força da tradição.” (CARVALHO, 2018: p. 291)
BIBLIOGRAFIA:
- CARVALHO, Gilmar de. Tirinete – Rabecas da tradição. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2018.
- FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
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