Pe. José da Cunha Pereira

José da Cunha Pereira nasceu no dia 17 de junho de 1823 no Município de Quixeramobim, que está localizado no Sertão Central do Estado do Ceará, distante 203 quilômetros da cidade de Fortaleza.
Pouco tempo depois do seu nascimento, seguindo os preceitos da confissão religiosa de seus pais, recebeu o sacramento do batismo pelas mãos do Pe. João Rodrigues Leite.
Ainda bem jovem, almejando seguir a vocação sacerdotal, foi encaminhado aos estudos eclesiásticos no Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Graça, que está localizado na Rua Bispo Coutinho, s/nº, no Bairro do Carmo, na cidade de Olinda, na Província de Pernambuco.

“O Seminário de Olinda era um estabelecimento de cunho marcadamente iluminista […] O seu plano de estudos previa a formação do clero pelo cultivo das ciências, mas a instituição também era aberta aos leigos, recebendo como alunos muitos jovens de famílias abastadas. As suas cadeiras serviam como disciplinas preparatórias para os estudos superiores e incluíam gramática latina, grego, retórica, poética, filosofia (lógica, metafísica e ética), filosofia natural (história e ciências naturais) e matemática, além de teologia moral e dogmática.” (VEIGA, 2007: p. 66)

Algum tempo depois, nos últimos meses de 1843, aos 20 anos de idade, foi ordenado ao sacerdócio pelo bispo diocesano, Dom Frei João da Purificação Marques Perdigão.
Depois disso, após a sua ordenação sacerdotal, foi enviado de volta ao Ceará, onde assumiu a coadjutoria da Paróquia de Santo Antônio de Pádua, na cidade de Quixeramobim, a sua terra natal, sendo pouco tempo depois, nos primeiros meses de 1852, designado capelão do povoado de Boa Viagem, também conhecida pela alcunha de “Cavalo Morto”, ocasião em que substituiu o Pe. Luiz Teixeira da Fonseca.

“Com a finalidade de ressaltar a importância da freguesia, consta que o ofício dirigido pela Câmara da então vila de Campo Maior ao presidente da Província, datado de 8 de janeiro de 1831, dava conta de que a Matriz de Santo Antônio possuía as seguintes capela importantes: Nossa Senhora da Conceição – Barra do Sitiá; Nossa Senhora da Glória – Maria Pereira; Jesus, Maria e José – Quixadá; Nossa Senhora da Boa Viagem – Boa Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 101)

Exerceu essa função pastoral até os últimos meses de 1853, antes disso, por uma infeliz coincidência do destino, o seu nome está diretamente relacionado a um crime, que posteriormente transformou-se em um romance do escritor Manuel de Oliveira Paiva, que ficou famoso em nossa literatura com o título de Dona Guindinha do Poço.

Imagem da Igreja Matriz de Santo Antônio de Pádua, na cidade de Quixeramobim.

Conforme uma matéria noticiada pelo jornal o Cearense, edição do dia 21 de setembro de 1853, graças a um bárbaro crime acontecido na cidade de Quixeramobim, no dia 15 de setembro, por inferência descobrimos que esse sacerdote, ao que nos parece, não residia no povoado de Boa Viagem e só vinha a ele quando na obrigação de celebrar algum ofício religioso.

“Ontem, pelas 8 horas do dia, a vista da maior parte dos habitantes desta vila, e defronte do quartel da força de linha que aqui está destacada, foi barbaramente assassinado o infeliz Coronel Domingos Victor de Abreu. Os seus gritos pedindo socorro foram ouvidos […] A primeira pessoa que chegou em socorro da infeliz vítima foi o Pe. José da Cunha Pereira, que mora paredes em meio com ele e seu primo […]” (SIMÃO, 1996: p. 198)

Depois de sua saída da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem essa comunidade passou a ser assistida pelos cuidados do Pe. Manoel Rodrigues Campos.
Nessa época a área circunscrita à Província do Ceará era totalmente dependente das decisões tomadas pela Cúria Diocesana de Olinda, localizada na Província de Pernambuco.
Diante da imensidão da área eclesiástica pernambucana, e desejando melhorar os serviços religiosos prestados ao povo da Província do Ceará, a diocese alencarina só foi criada em 1853 através de um decreto emitido pelo Imperador Dom Pedro II.
No ano seguinte, no dia 6 de junho de 1854, o Papa Pio IX expediu a bula “Pro Animarum Salute”, que finalmente criou a diocese nos trâmites da Igreja.

“A Diocese de Fortaleza foi criada a 6 de junho de 1854, pelo Papa Pio IX. O desmembramento da Diocese de Olinda deu-se através da lei  provincial nº 693, de 10 de agosto de 1853, e depois confirmada pelo papa.” (LIRA, 1984: p. 85)

Nesse período as dioceses no Brasil só podiam ser criadas pelo Papa após o decreto imperial, essa bula papal só foi oficializada em 1860, depois de sete anos de brigas entre o Vaticano e o Estado brasileiro.
Em poucas palavras, podemos dizer que nessa época civilmente à Província do Ceará já havia se emancipado da Província de Pernambuco, mas, eclesiasticamente, até 1854, era apenas uma vigararia forânea pertencente a Diocese de Olinda.

Imagem do Pe. José da Cunha Pereira.

Logo após o desmembramento da Diocese de Olinda a nova circunscrição eclesiástica passou a ser quase todo o território da Província do Ceará, faltavam apenas as paróquias de Nosso Senhor do Bonfim, na vila de Príncipe Imperial, hoje Crateús, e de Nossa Senhora Santana, que está localizada na vila conhecida como Pelo Sinal, hoje Independência, ligadas nessa época à Província de São Luiz do Maranhão.
Depois dessas discussões burocráticas a nova diocese passou a organizar a sua área geográfica, como também o quadro de seus párocos.
No ano seguinte, em 1861, o Pe. José da Cunha Pereira, por ordem do bispo diocesano, D. Luís Antônio dos Santos, passou a prestar serviços religiosos na Capela de Jesus, Maria e José, na vila de Quixadá, que semelhantemente ao Distrito de Boa Viagem pertencia também ao Município de Quixeramobim, ocasião em que substituiu o Pe. Antônio Correia de Sá.
Permaneceu durante pouco tempo nessa vila, sendo substituído algum tempo depois pelo Pe. Cláudio Pereira de Farias.
Em 1864, novamente por uma ordem diocesana, foi designado vigário coadjutor do Pe. Ernesto José Cavalcanti na Igreja Matriz de São Francisco das Chagas, na vila de Canindé, localizada no Sertão cearense, permanecendo nesse local até 1870.
Antes disso, por volta de 1868, esteve envolvido no movimento abolicionista em sua cidade natal, onde acumulava também a função de vigário coadjutor, estendendo essa mesma função em Boa Viagem, em 1866:

“Em Quixeramobim 10, metade pela cota e metade por pessoas generosas: Manuel Jacinto de Barros Leal, Antônio Francisco Saraiva, Justino Ferreira da Silva, Francisco Firmo Feliciano, Maria Matilde da Conceição, Josefa Maria da Silva e vários outros. A comissão formou-se do juiz municipal, Antônio Pinto de Mendonça; do Juiz de Direito, Francisco de Assis Bezerra de Meneses; do Pe. José da Cunha Pereira e do Dr. Cornélio José Fernandes, presidente da Câmara.” (MOTA JÚNIOR, 2014. A abolição no Ceará. Disponível em http://adautogmjunior.blogspot.com/2014/03/a-abolicao-no-ceara.html. Acesso em 7 de abril de 2015)

No dia 13 de fevereiro de 1870, no exercício de suas atividades pastorais, deu posse ao novo vigário da cidade de Quixeramobim, que se chamava Pe. Cláudio Pereira de Farias.

Imagem da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, na vila de Tucunduba.

Mais tarde, depois que saiu da freguesia de Canindé, foi designado pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, em Tucunduba, que está localizada no Município de Caucaia, próximo da cidade de Fortaleza.
Um fato curioso de sua vida é que, apesar de estar envolvido no movimento abolicionista, possuía um escravo e segundo informações colhidas no Arquivo Público do Estado do Ceará, enfrentando um grave problema em sua saúde, concedeu liberdade ao seu cativo na condição de que este mantivesse os seus serviços enquanto permanecesse vivo.

“Joaquim, ‘mulato’, 20 anos de idade, foi libertado pelo Padre José da Cunha Pereira, em 1878, ‘sob condição de servir enquanto este vivo fosse’.” (OLIVEIRA SILVA, 2002: p. 188)

Algum tempo depois, no dia 30 de junho de 1878, na cidade de Fortaleza, sofrendo de infecção pulmonar, pegou a todos de surpresa quando repentinamente veio a óbito com apenas 55 anos de idade.

BIBLIOGRAFIA:

  1. LIRA, João Mendes. Subsídios para a História Eclesiástica e Política do Ceará. Fortaleza: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1984.
  2. MACÊDO, Diocleciano Leite de. Notariado Cearense – História dos Cartórios do Ceará. V II. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1991.
  3. MOTA JÚNIOR, Adauto. A abolição no Ceará. Disponível em http://adautogmjunior.blogspot.com/2014/03/a-abolicao-no-ceara.html. Acesso no dia 7 de abril de 2015.
  4. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  5. OLIVEIRA SILVA, Pedro Alberto de. História da Escravidão no Ceará. Das Origens à Extinção. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2002.
  6. PAIVA, Manuel de Oliveira. Dona Guindinha do Poço. Fortaleza: ABC, 2002.
  7. SIMÃO, Marum. Quixeramobim – Recompondo a História. Fortaleza: MULTIGRAF, 1996.
  8. SILVEIRA, Aureliano Diamantino. Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará (1700-2004). 1º Vol. Fortaleza: PREMIUS, 2004.
  9. STUDART, Guilherme. JOSÉ DA CUNHA PEREIRA In: Dicionário Bibliográfico Cearense. 2º v. Edição Fac-simile. Fortaleza: SECULT, 2012, p. 93.
  10. VEIGA, Cinthia Greive. História da Educação. São Paulo: Editora Ática, 2007.