Ednardo Rodrigues Brasil
Luís Caetano, para sobreviver, tinha que fazer diversas tarefas, já que não tinha profissão definida e porque o lugar onde morava também oferecia poucas oportunidades. Então, seu Luís se virava como dava. Como todo bom sertanejo, tinha sua rocinha, de onde tirava o básico para manter-se e à família. O homem tinha, também, o que se chamava na região de veia poética e, quando aparecia convite, fazia suas cantorias acompanhado de seu velho pinho. Além disso, Seu Luís saía pelas pequenas bodegas vendendo alho em tranças para complementar a renda.
Certo dia, estando eu na pequena bodega de Dona Lildenir, eis que surge na estrada, a pé, Luís Caetano. Viola em um dos ombros e no outro algumas tranças de alho. Ao chegar, cumprimentou, cordialmente, os presentes e logo foi indagado pela comerciante:
– Seu Luís, o senhor cantando?
Ao que ele respondeu, de imediato:
– Não, senhora! Eu ando calado, que não tô doido!
Dona Lildenir, que já o conhecia bem, sorriu levemente, meio desconcertada com a resposta do vendedor e com a presença de alguns fregueses que ali estavam. A comerciante percebeu que o dedo indicador da mão esquerda de Seu Luís estava bastante inchado e, sem resistir à curiosidade, novamente arguiu o homem:
– O que foi isso no dedo do senhor?
– “Num foi a peste duma cobra que me mordeu, Dona Lildenir!”
– Foi agora, Seu Luis?
– Não, senhora. Foi ontem. Agora, eu tô contando a “istória”. A patroa vai querer um alhinho hoje?”.
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