Natanael Alves da Silva

Natanael Alves da Silva nasceu no dia 14 de setembro de 1944 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo o nono entre os doze filhos do casal Sebastião Alves da Silva e Delfina Vieira da Silva.
Os seus avós paternos se chamavam José Alves da Silva e Maria Delfina do Amor Divino, já os maternos eram Martins José da Silva e Francisca Vieira de Freitas.
Na época em que nasceu o Município de Boa Viagem não dispunha de uma casa de parto, fato que obrigou aos seus pais a contar com os valiosos serviços de uma parteira na Fazenda Pitombeira, onde passou grande parte de sua infância.

“Durante muitos anos, os únicos profissionais de saúde existentes em nossa região foram às parteiras, mulheres que normalmente recebiam esse aprendizado de forma hereditária, ou seja, a filha de uma parteira acompanhava a sua mãe no atendimento às mulheres em trabalho de parto auxiliando-a de acordo com as necessidades do momento, possibilitando, assim, após algum tempo de prática, o aprendizado para continuidade do ofício.” (SILVA JÚNIOR, 2016: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/saude/. Acesso em 25 de outubro de 2016)

Logo que nasceu tornou-se o xodó da casa de seus pais, pois era um garoto muito agitado e esperto, nessa época a sua mãe e as suas irmãs se dividiam em seus cuidados e nos muitos afazeres domésticos.
Mais tarde, aos oito anos de idade, segundo o relato de alguns de seus parentes, um tombo de rede deixou-lhe consequências graves na audição, deficiência que o acompanhou durante toda a sua existência. Outra deficiência não sanada em sua infância, e que perdurou pela fase adulta, foi o problema popularmente conhecido como língua presa.
Nessa época o Município de Boa Viagem não dispunha de um médico apto para realizar a cirurgia de “frenectomia lingual” e o tempo foi passando e o pequeno Natanael nunca conseguiu sanar os problemas de dificuldades na fala, todavia isto não o fazia tímido e nem o impedia de ser muito brincalhão e comunicativo.
Em seu lar, em meio às brincadeiras com os seus irmãos, o apelidaram com as poucas palavras que costumava balbuciar, chegando ao ponto de poucos conhecerem o seu nome de batismo, esse apelido carinhoso tornou-se o seu segundo nome, “Bobô”.
Morando distante da cidade de Boa Viagem e sem condições de frequentar uma escola regular teve a oportunidade de receber instruções elementares de língua portuguesa e matemática com a Profª Ana Loureiro.
Nos últimos meses de 1956, com 12 anos de idade, depois da morte de um de seus irmãos, os seus pais resolveram deixar o campo e passaram a residir na cidade de Boa Viagem, onde nessa época conciliava às atividades do comércio do seu pai existente no Mercado Público Municipal com às lutas na agricultura:

“Em 1955 uma morte prematura marca a vida dessa família, um de seus filhos, Martins Alves da Silva, de apenas 17 anos, cursando o primeiro ano de Bacharelado em Teologia no Seminário Teológico Congregacional do Nordeste, é acometido de uma terrível doença, o câncer. Em seu dormitório, na cidade do Recife, recebe uma pancada na perna direita que mais tarde veio a se originar em uma doença maligna. O período de convalescença foi sentido por toda a família. O seminarista, por medo, não quis aceitar a opinião médica de amputação. Conta-se que seus últimos dias foram marcantes sobre a terra. Os seus contemporâneos afirmam que Martins era um jovem que fazia sentir a presença de Deus, as pessoas que o vinham confortar saiam admirados com a confiança que ele possuía nos desígnios do Criador. Antes de sua morte chegou a preparar um grupo de pessoas para celebrarem cânticos de exaltação a Deus em seu velório, o seu enterro foi feito no cemitério da Várzea da Ipoeira, foi uma despedida muito triste, ao ponto de seus familiares se desfigurarem em lágrimas. O testemunho do jovem Martins era muito apreciado na comunidade em que residia, tão marcante que, entre os amigos de confissão católica, foram feitos pedidos para que ele, depois de morto, rogasse a Deus por um copioso inverno. Coincidentemente, até esse dia, 26 de abril, a estação chuvosa parecia não começar, todos acreditavam que o ano seria de seca, mas, após a morte de Martins, depois que o seu corpo, dentro de uma rede, repousou no fundo da cova, veio um enorme temporal e todos regressaram para seus lares debaixo de uma forte tempestade.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 193-194)

Obedecendo ao seu pai, juntamente com os seus irmãos, costumeiramente realizava viagens de bicicleta, ou no lombo de algum animal, no intuito de cuidar da lavoura ou do gado que possuíam na propriedade de Pitombeira.
Nessa época a sua mãe, Dona Delfina, havia contratado os serviços de um fabricante de malas, que era conhecido pelo apelido de “Deca Venâncio”, para que esse o ensinasse o oficio. Muito curioso e desejando aprender uma arte para ganhar dinheiro logo aprendeu a profissão.
Residindo com os seus pais na Rua 26 de Junho, nº 325, Centro, teve a oportunidade de conhecer a jovem Suzete Amaro de Sousa, que era nascida no dia 15 de julho de 1951, sendo filha de Francisco Dionísio de Sousa com Grasiela Costa de Sousa, que na época habitualmente vinha à cidade e ficava na residência de uma de suas irmãs, que se chamava Raimunda Barros e coincidentemente morava vizinho a sua casa.
Dentro de pouco tempo, e depois de algumas cartas, o flerte tornou-se algo mais sério e finalmente no dia 30 de maio de 1968, segundo informações existentes no livro B-21 pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 4.762, folha 24, diante do juiz Dr. Luís Feitosa Noronha foi oficializado o tão desejado matrimônio.
Mais tarde, no dia 1º de junho de 1977, na gestão do Prefeito Benjamim Alves da Silva, seu irmão, foi contratado como artífice de obras da Secretaria de Obras, Viação e Agricultura da Prefeitura Municipal de Boa Viagem.
Pouco tempo depois disso, na manhã do dia 30 de maio de 1977, juntamente com a sua família, foi surpreendido pela notícia do trágico acidente sofrido pelo seu irmão mais velho, Samuel Alves da Silva, que lamentavelmente veio a óbito:

“Em uma dessas viagens, quando buscava o entroncamento que levasse à Rodovia Federal Alberto Santos Dumont, a BR-116, trafegava pelo Estado de Goiás e estava atrasado para a entrega dos animais. Nessa oportunidade o veículo era conduzido por um inexperiente motorista, de apenas 23 anos de idade, visto que não sabia dirigir e provavelmente estava bastante cansado da enfadonha viajem. O seu caminhão Mercedes Bens 1113, de cor vermelha, sofreu um grave acidente frontal envolvendo uma caçamba que estava carregada de arroz, nesse desastre todos os envolvidos vieram a óbito.” (SILVA JÚNIOR, 2009: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/samuel-alves-da-silva/. Acesso no dia 30 de abril de 2016)

Pouco tempo depois dessa perca, no dia 24 de novembro de 1979, em uma infeliz coincidência, uma nova tragédia se abateu sobre a sua família, quando foi surpreendido pelo falecimento de seu sobrinho, Hélio Alves da Silva, filho de seu irmão mais velho, também em um acidente automobilístico:

“Apesar da significativa perda tudo caminhava bem em sua vida até que, na noite do dia 24 de novembro de 1979, sozinho em sua cabine, trafegando pela Rodovia Estadual CE-060, conhecida como ‘a rodovia do algodão’, quando voltava da cidade de Juazeiro do Norte, ao atingir a localidade de Sítio Bravo, prestes a entrar na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, o seu veículo sofreu um gravíssimo desastre. Nessa ocasião o caminhão já vinha descarregado e em alta velocidade até que, quando chegou a um local de declive e em curva, perdeu a direção e bateu violentamente contra um corte que ainda existe na rodovia. No impacto o veículo tombou violentamente na pista danificando todo o lado direito, deixando o seu motorista gravemente ferido.” (SILVA JÚNIOR, 2009: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/helio-alves-da-silva-2/. Acesso no dia 30 de abril de 2016)

Algum tempo depois, no dia 27 de abril de 1989, através da Portaria nº 86, novamente na administração do Prefeito Benjamim Alves da Silva, recebeu uma promoção dentro dos quadros do serviço público, passando a ser o encarregado da oficina mecânica.
Mais tarde, nos primeiros meses de 1991, com base no Decreto nº 126 e obedecendo ao inciso II do Artigo 37 da Constituição Federal, foi realizado o concurso para provimento de 490 cargos e empregos no quadro de pessoal do Poder Executivo municipal, pois até essa época os únicos concursos realizados no Município de Boa Viagem tinham por objetivo contratar professores.
Pela Constituição Federal de 1988 o servidor público quem tinha mais de cinco anos de serviço já tinha conseguido a sua estabilidade funcional, quem tinha menos do que isso teria de se submeter ao concurso.
Surgiu então a grande oportunidade dos funcionários municipais contratados passarem a efetivação, deixariam de ser celetistas e passariam para o regime estatutário engajando-se assim definitivamente no serviço público.
O concurso público municipal foi dividido em duas etapas: a primeira, de prova de conhecimentos, acontecida nos dias 16 e 17 de fevereiro na Escola de Ensino Fundamental e Médio Dom Terceiro e no Centro Administrativo Governador Virgílio de Morais Fernandes Távora, sede da administração pública municipal; a segunda etapa ocorreu nos dias 23 e 24 de fevereiro, quando foi atestada a aptidão prática dos candidatos aprovados.
Mesmo sem precisar se submeter ao concurso público, dada a sua experiência comprovada, foi admitido no serviço com louvor, passando a funcionário efetivo na função de marceneiro.

Imagem de Natanael Alves da Silva.

Para os seus contemporâneos era um sujeito simpático e humilde, conseguindo reunir qualidades que todos admiravam, amando profundamente a sua família e tendo uma verdadeira paixão pelo Fortaleza Esporte Clube.
Nos dias em dias em que ocorriam os jogos do Fortaleza era comum ver-lhe vibrando com o rádio ao pé do ouvido torcendo pelo “Leão do Pici”.
No dia 20 de janeiro de 1990, juntamente com a sua família, foi surpreendido pelo falecimento de seu pai.
Mais tarde, consciente de seu papel como cristão, afirmava categoricamente que só receberia o batismo quando conseguisse vencer o vício do fumo, hábito ganho na mocidade e que muito entristecia os seus pais.
Reunindo forças, abandonou o vício e recebeu o batismo no templo da Igreja Evangélica Boa-viagense no dia 18 de abril de 1999 pelas mãos do Rev. Ezequiel Fragoso Vieira Júnior.
Algum tempo depois, no dia 20 de outubro de 2006, às 17h45min, na capital do nosso Estado, segundo informações existentes no livro C-285 do Cartório Norões Milfort, tombo nº 240.554, folha 74, faleceu aos 62 anos de “septicemia, infecção respiratória e insuficiência renal”, deixando viúva e duas filhas, sendo elas: Patrícia Sousa e Silva e Yana Sara Sousa da Silva.
Logo após o seu falecimento, depois das despedias fúnebres que são de costume, teve o seu corpo sepultado no mausoléu da família existente no Cemitério Parque da Saudade, que ertá localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, no Centro da cidade de Boa Viagem.

Imagem do mausoléu da Família Alves, em 2013.

BIBLIOGRAFIA:

  1. CARNEIRO, Osmar de Lima. Fotografando o Amor. História de uma igreja perseguida. João Pessoa: JRC, 2006.
  2. CARNEIRO FILHO, David Vieira. A Perseguição aos Protestantes em Catolé do Rocha. Boa Viagem: Sem Editora, 2008.
  3. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  4. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
  5. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Samuel Alves da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/samuel-alves-da-silva/. Acesso no dia 30 de abril de 2016.
  6. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Hélio Alves da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/helio-alves-da-silva-2/. Acesso no dia 30 de abril de 2016.
  7. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. A História da Saúde no Município de Boa Viagem. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/saude/. Acesso em 25 de outubro de 2016.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, através da lei nº 985, de 19 de dezembro de 2007, um dos logradouros do Bairro Vila Azul, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.