Maria de Lourdes Sampaio de Carvalho nasceu no dia 7 de agosto de 1906 no Município de Caucaia, que está localizado na região metropolitana de Fortaleza, sendo filha de Joaquim Porfírio Sampaio e de Vicência Viana Xavier Sampaio.
Os seus avós paternos eram Manoel Porfírio Sampaio e Maria Alexandrina Sampaio.
Passou grande parte de sua infância em Catuana, que depois se transformou em um bairro da cidade de Caucaia.
Era sobrinha do Monsenhor Catão Porfírio Sampaio, que exerceu o seu longo ministério na Paróquia de São Francisco, na cidade de Itapajé.
Alguns anos mais tarde, no dia 31 de dezembro de 1924, segundo informações existentes no livro B-07, pertencente à secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, tombo nº 135, folha 18, diante do Mons. José Cândido de Queiroz Lima, contraiu matrimônio com José Inácio de Carvalho, que nasceu no dia 28 de outubro de 1899, sendo filho de Ignácio José de Carvalho e de Maria de José de Carvalho.
Desse consórcio matrimonial foram gerados doze filhos, nove homens e três mulheres, sendo eles: Zuleika Carvalho Martins, José Maria Sampaio de Carvalho, Walter Sampaio de Carvalho, Maria Salete Sampaio de Carvalho, Joaquim Sampaio de Carvalho, Ilka Sampaio de Carvalho, Francisco Sampaio de Carvalho, José Inácio de Carvalho Filho e Luciano Sampaio de Carvalho.
Durante muitos anos foi professora da rede estadual, costumando lecionar na sala de sua residência, que estava localizada próximo da Praça Monsenhor José Cândido de Queiroz Lima, s/nº, Centro, na cidade de Boa Viagem.
“Sua mulher era professora estadual. Aliás ele tinha um costume engraçado: a mulher ensinava na sala de visita de casa e ele quando chegava da fazenda adentrava a casa a cavalo até o quintal. Era criança correndo para todos os lados.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 26)
Antes disso, na construção dessa casa, suscitou-se uma grave questão jurídica com a Prefeitura de Boa Viagem, que no dia 26 de novembro de 1941, na administração do Prefeito José Rangel de Araújo, procurou-se os meios legais para intervir contra a sua edificação.
Por conta disso o juiz da comarca nomeou o Coletor Aluísio Ximenes de Aragão, que era funcionário público do Estado, para servir como perito no estudo do caso:
“O José Inácio, que era líder da oposição à nossa situação, entendeu de construir a sua casa residencial…, quase colada à Matriz. A prefeitura embargou a obra. Ele foi ao juiz e eu fui designado como perito. O laudo que lavrei foi o seguinte: ‘intimado de ordem do Sr. Dr. juiz de Direito da Comarca, para esclarecer o 2º quesito – (esse terreno é de todo imprestável para construção de qualquer edifício ou prédio, nos termos e na conformidade das leis municipais (Código de Posturas?) – na qualidade de perito nomeado na ação executiva movida pela prefeitura dessa cidade contra o cidadão José Inácio de Carvalho, passo a prestar os seguintes esclarecimentos: 1° – O terreno em apreço está cercado por José Inácio de Carvalho, fica dentro da área urbana e mede 61,50 metros de frente por 132 metros de fundo, sendo que na parte da frente (virada para o sul) apenas 17 metros obedece ao alinhamento da rua e se presta para a construção, o restante, 44,50 metros fica um pouco afastado do referido alinhamento por ter sido este, interrompido com a construção da Igreja Matriz desta cidade e, em parte, é banhado por um riacho, dentro do qual no terreno se acham construídos um cacimbão e um banheiro; 2º – Na parte correspondente aos 132 metros (frente para o nascente) obedecendo ao alinhamento da travessa, também se presta para construção, exceto a parte banhada pelo dito riacho, calculadamente de 20 a 30 metros. Julgando assim desempenhada a espinhosa missão de que fui incumbido, dou fido ao presente laudo.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 11)
Mais tarde, no dia 4 de março de 1938, conforme informações existentes no livro de protocolos da Prefeitura de Boa Viagem, da página 17 a 20, temos o curioso relato das correspondências mantidas pelo Governo Municipal com a Secretaria do Interior e com o diretor de educação do Governo do Estado sobre o episódio de seu não comparecimento em uma importante solenidade organizada pelo Governo Municipal, que na ocasião recepcionava o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, o Dr Valdemar Cromwell do Rego Falcão, na cidade de Boa Viagem:
“Comunicando ao ilustríssimo Secretário do Interior, que nas manifestações realizadas ultimamente neste Município em homenagem ao Dr. Valdemar Falcão, digníssimo Ministro do Trabalho, foram deveras concorrida, reinando grande entusiasmo nos que estavam presentes, na qual compareceu todas as autoridades locais, notando-se porem a ausência da Professora Maria de Lourdes Sampaio de Carvalho, que apesar de ter sido convidada por esta repartição não compareceu e nem se que apresentou desculpas, por tanto solicito de vossa excelência o obséquio de tomar as providências que o caso requer, no sentido de que essa serventuária possa ter a lucidez de compreender a obrigação que lhe cabe a comparecer a um ato que tão dignamente se justifica.”
Diante desse texto, percebemos nitidamente que já nessa época existia um problemas de ordem política entre a professora, ou o marido desta, com o Prefeito José Rangel de Araújo.
Algum tempo depois desse episódio, por motivações políticas, conforme as informações existentes no livro C-04, fornecidas por seu cunhado, João Inácio de Carvalho, ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 1.126, página 62v, perdeu o seu marido às 21 horas, vítima de assassinato, aos 47 anos de idade, no dia 28 de dezembro de 1946.
“O fato ocorreu em uma noite escura, pois nessa época as ruas da cidade de Boa Viagem ainda não possuíam iluminação elétrica, só em algumas casas, que possuíam cata-ventos para alimentação das baterias. Essa tragédia se deu quando recepcionavam o Dr. Francisco Carneiro, candidato a deputado estadual, que pretendia reunir os votos de toda Família Vieira existente no Município.” (S.N.T)
Nesse dia, segundo o relato de algumas testemunhas, depois que o seu marido caiu abatido pelo tiro, ela correu para cima de seu corpo para que um segundo tiro não o atingisse.
Depois desse episódio, juntamente com o seu filho primogênito, assumiu o compromisso de prender os assassinos de seu esposo e de acabar com o poder político da “Oligarquia Araújo”.
Segundo as informações existentes no livro C-06, pertencentes ao Cartório Geraldina, tombo nº 1.627, folha 7, pouco tempo depois, no dia 24 de março de 1951, com apenas 45 anos de idade, veio inesperadamente a óbito na cidade de Boa Viagem.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado no mausoléu da família que existente no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, no Centro da cidade de Boa Viagem.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, através da lei nº 459, de 21 de março de 1988, uma das ruas do Bairro de Nossa Srª de Fátima, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.
BIBLIOGRAFIA:
- BEZERRA DE MELO, Maria José. Ex-Educadores de Boa Viagem. Monografia apresentada ao departamento de pós-graduação e pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú, 2002.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. Boa Viagem, Realidade e Ficção. Fortaleza, MULTIGRAF, 1996.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro dos batismos. 1898-1905. Livro A-08. Tombo nº 1. Página 33v.
- PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro dos casamentos. 1924-1930. Livro B-07. Tombo nº 134. Página 18v.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. A História da Instrução Pública no Município de Boa Viagem: A sua formação pedagógica e social entre 1864 e 1931. Dissertação apresentada a Flórida Christian University, 2019.
- VIEIRA FILHO, José. Minha História, Contada por Mim. Fortaleza: LCR, 2008.
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