Manoel Antero da Silva nasceu no dia 3 de setembro de 1897 no Município de Catolé do Rocha, que está localizado no Sertão paraibano, distante 411 quilômetros da cidade de João Pessoa, sendo filho de Antero José da Silva e de Maria Rachel do Espírito Santo.
O nome dos seus avós paternos ainda nos são desconhecidos, já os maternos eram Francisco Pereira Diniz e Rachel Maria do Espírito Santo.
Na época em que veio ao mundo residia com os seus pais em uma localidade denominada de “Sítio Poço do Canto”, próximo de um povoado que era denominado de “Brejo dos Cavalos”, que algum tempo depois, ao receber a sua emancipação política, mudou o seu topônimo para “Brejo dos Santos”.
“O Distrito foi criado com a denominação de Brejo dos Santos pela lei estadual nº 2.641, de 20 de dezembro de 1961, subordinado ao Município de Catolé do Rocha. Foi elevado à categoria de Município com a denominação de Brejo dos Santos pela lei estadual nº 3.320, de 3 de junho de 1965, desmembrado de Catolé do Rocha, com sede no atual Distrito de Brejo dos Santos. O Município foi instalado em 27 de dezembro de 1966.” (IBGE, 2000: Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=250290&search=paraiba|brejo-dos-santos|infograficos:-historico. Acesso no dia 29 de outubro de 2017)
Muitos anos antes dessa mudança, segundo informações existentes no Cartório de Registro Civil de Catolé do Rocha, tombo nº 146, página 229, no dia 15 de dezembro de 1923, aos 27 anos de idade, contraiu matrimônio com a sua prima, Porcina Luíza dos Santos, que nasceu no dia 25 de novembro de 1906, sendo filha de Alexandre José dos Santos e de Luíza Maria do Espírito Santo.
Desse matrimônio foram gerados dezessete filhos, mas só foram registrados com vida nove, dois homens e sete mulheres, sendo eles: Moisés Antero da Silva, Enoque Antero da Silva, Ezenir Antero da Silva, Noemi Antero Lima, Marta Antero da Silva, Eunice Antero Rodrigues, Salomé Antero de Oliveira, Diva Antero Araújo e Luiza Antero da Silva.
Pouco tempo depois de seu casamento, um simples acontecimento foi determinante para muitas mudanças que aconteceram na trajetória de sua vida e na de sua família.
“Tudo teve início quando uma simples revista, que acreditamos ser de escola dominical, chegou às mãos de Cícero Vieira de Freitas através de um protestante, que se chamava Adão e morava no Sítio Jericó, uma localidade vizinha.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 142)
Essa revista, que se tornou objeto de profundo interesse dos moradores daquela pequena localidade, principalmente entre alguns dos membros de sua família, deu origem a uma série de questionamentos sobre o comportamento e a fé cristã.
Dentro de pouco tempo, um dos mais interessados nesse assunto, Cícero Vieira de Freitas, um parente bem próximo, conseguiu entrar em contato com o Rev. Harry George Briault, pastor da Igreja Evangélica Congregacional de Campina Grande, que gentilmente atendeu ao convite.
“Em pouco tempo era o maior trabalho evangélico do Sertão, com uma animada escola dominical, com mais de cem alunos matriculados. Em 1927, para ajudar os irmão Cícero Vieira de Freitas e Amadeu Alves da Silva, o Evangelista Eulálio, que prestou bons serviços ao Evangelho, levando várias famílias ao conhecimento da Palavra de Deus.” (CARNEIRO, 2006: p. 25)
O Rev. Briault, quando visitava o Sítio Jacu, ocasionalmente utilizava o alpendre da casa de Cícero Fragoso Vieira como ponto de exposição das Escrituras Sagradas, momento em que costumava reunir um grande número de pessoas, sendo também quem lhe ministrou o sacramento do batismo.
Naquele tempo, declarar-se de uma confissão diferente da católica romana era correr o risco de receber diversas punições da comunidade em que se vivia, mas isso não o desanimou em testemunhar publicamente de sua fé.
“Os cultos, inicialmente, eram celebrados abertamente ao público na casa de Cícero Fragoso Vieira, sendo depois transferidos para casa de seu irmão, Daniel Fragoso Vieira.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 180)
Depois disso, seguindo o exemplo de Martins José da Silva, que era cunhado de José Santos Filho, seu cunhado, depois de receber informações por cartas, resolveu deixar o Estado da Paraíba para morar no Estado do Ceará, habitando durante algum tempo na zona rural do Município de Boa Viagem em uma localidade denominada de Santa Cruz, também chamada de “Marmilona”, nas proximidades da vila de Domingos da Costa.
Nessa jornada, além de seu sogro e da família de seu cunhado, por conta da morte de seu pai, que ocorreu em 1922, trouxe com ele alguns de seus irmãos, sendo eles: Pedro Antero da Silva, Raimunda Antero da Silva, Isabel Antero da Silva e Simplício Antero da Silva.
Já estabelecidos no Município de Boa Viagem, empolgados com a sua confissão religiosa, juntamente com o seu sogro e o seu cunhado, resolveram compartilhar de sua fé com os habitantes da cidade de Boa Viagem, passando enorme perigo por conta da intolerância religiosa existente no local, quando foram heroica e piedosamente socorridos pelo Farmacêutico Antenor Gomes de Barros Leal.
“Revelou que, anos antes, quando se dirigia à cidade de Sobral, visitara um grupo de protestantes que se estabeleceu em nosso Município, na localidade de Marmilona, a 10 quilômetros da cidade de Boa Viagem, e tentou evangelizar na zona urbana da cidade juntamente com José dos Santos e Manoel Antero da Silva… o culto foi celebrado em frente à Farmácia Cruz Vermelha… Por pouco essa tentativa não lhes custou muito caro, uma turba desordeira interrompeu o culto atirando pedras, ovos, madeira e tudo o que tinha disponível à mão contra o pequeno grupo…” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 183 – 184)
Sobre esse lamentável episódio o Rev Ezequiel Fragoso Vieira fez um pequeno relato da expansão protestante no Município de Boa Viagem e da intolerância religiosa alimentada pelas pessoas naquela época:
“O trabalho evangélico se desenvolvia no Município de Boa Viagem. Na cidade não havia nenhum crente. A comunidade boa-viagense não conhecia o Evangelho. Foi o Rev. Harry George Briault que fez a primeira penetração nesta cidade, ainda antes da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira. Veio visitar Manoel Antero da Silva e alguns outros crentes… O culto foi interrompido pelos perseguidores e o missionário teve de deixar a cidade, enfrentando emboscadas e ameaças de morte.” (FRAGOSO VIEIRA, 1997: p. 3)
Mais tarde, nos primeiros meses de 1932, por conta de uma feroz estiagem que se abateu sobre o Sertão, resolveu novamente migrar com a sua família, dessa vez o destino escolhido foi Estado do Pará, local que foi habitado pelo seu sogro na juventude, negociando antes disso a sua pequena propriedade com o Agropecuarista Francisco Deoclécio Ramalho.
“Esse grupo permaneceu na localidade de Marmilona durante cinco anos, e ali testemunhavam publicamente de sua fé até que, em 1932, desanimados pela seca, decidiram vender as suas posses para Francisco Deoclécio Ramalho, por 120 contos de réis, o equivalente ao preço de três vacas na época. Quando estavam prestes a viajar para Região Norte, a situação climática se modificou. Começou a chover e o comprador do terreno quis abrir mão de sua aquisição, pois havia como recuperar parte da plantação, mas o grupo não desistiu do seu propósito.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 209)
Depois da efetivação desse negócio, seguiu com a sua família para cidade de Quixeramobim e de trem partiram para cidade de Fortaleza, onde embarcaram em um navio com destino à cidade de Capanema, que na época era chamada de “Siqueira Campos”, estando localizada na região nordeste desse Estado.
“Antes de tomarem o navio, na cidade de Fortaleza, resolveram procurar o auxílio do Rev. Natanael Cortez, pastor presbiteriano e deputado estadual, mas esse pouco os ajudou, e isso lhes causou uma grande decepção. Nessa época, para embarcarem no navio que os levou à cidade de Belém, foram para a Ponte dos Ingleses, onde tomaram um bote que os levou ao alto mar, onde subiram a bordo.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 210)
Em Capanema, logo conseguiu um emprego na construção de uma estrada de ferro, onde foi infectado pela febre amarela, que por muito pouco não provocou o seu óbito, fato que, juntamente com a sua família, depois de ter a notícia do bom inverno de 1934, os fizeram decidir voltar para o Estado do Ceará.
Nesse mesmo tempo, o seu sogro, que ao se estabelecer nessa cidade cuidou em plantar um enorme campo de mandioca, tentou a todo custo se desfazer de sua produção para levantar o dinheiro da passagem de retorno.
“Quando estavam se organizando para retornar ao Estado do Ceará, procuraram, a todo custo, vender a grande plantação de mandioca que tinham feito no intuito de conseguir dinheiro para as passagens. Lamentavelmente, ninguém quis comprar, haja vista a grande quantidade desse produto na região.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 210)
Passando algum tempo, o regresso para o Estado do Ceará só foi possível por conta da sensibilidade de um pastor batista, ao qual não sabemos o nome, que por sua influência e amizade com o capitão de um navio mercante os conseguiu embarcar para o destino desejado.
A viagem de retorno durou onze longos dias e ao chegarem ao Porto do Mucuripe, na cidade de Fortaleza, depois de desembarcarem, seguiram para estação de trem, onde tomaram destino para cidade de Quixeramobim e de lá, sem dinheiro para uma condução, colocaram as suas poucas bagagens no comboio de um tropeiro conhecido pelo apelido de “Chico Grande”.
Depois dessa “aventura pelo Norte”, se estabeleceram durante pouco tempo em uma localidade que é denominada de Fazenda Pitombeira, na zona rural de Boa Viagem, que nessa época havia perdido a sua autonomia política e voltado a pertencer ao Município de Quixeramobim.
A razão da escolha dessa localidade foi por conta do fato de seu cunhado residir naquela região, onde havia também outros conhecidos:
“Por volta de 1935, chegando do Estado do Pará, e por questões de parentesco, a família de Manoel Antero da Silva se instalou por um período nas terras de Martins José da Silva. Nesse tempo, José Santos Filho, seu cunhado, residia na Fazenda Pitombeira.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 191)
Mais tarde, a convite do Agropecuarista Theóphfilo da Costa Oliveira, passaram a residir em sua propriedade na localidade de Olho d’Água Seco, onde durante dois anos trabalhou como vaqueiro e por conta de boas colheitas conseguiu juntar alguns recursos.
Nos primeiros meses de 1938, desejando melhoras, resolveu retornar com a sua família para o Município de Catolé do Rocha, estabelecendo-se dessa vez no Sítio Brejinho, onde passou pouco tempo, pois no ano seguinte novamente regressou para o Ceará, instalando-se mais uma vez na Fazenda Pitombeira, local onde perdeu uma de suas filhas, que se chamava Edite.
Depois disso, adquiriu uma pequena propriedade em uma localidade denominada de “Pedra Branca”, nas proximidade da vila de Ibuaçu, onde havia outros paraibanos, entre eles Sebastião Alves da Silva, que mantinha um trabalho religioso em sua residência.
Nesse mesmo período, enfrentando outra seca, foi alistado nas frentes de trabalho que foram patrocinadas pelo Governo do Estado na construção da represa denominada de Açude da Vazante, localizado nas proximidade da vila do Ibuaçu.
“Durante a semana, enquanto estava na construção do açude, a propriedade era cuidada por seus filhos e, aos domingos e todas as noites da semana, tiravam parte do tempo para insistir na plantação e verificar as necessidades mais urgentes da pequena propriedade.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 191)
Ainda nessa época, percebendo o valioso nicho de mercado, resolveu investir na compra de alguns animais de carga, sendo constantemente contratado como almocreve pelos comerciantes da região para realizar o transporte de mercadorias pelas difíceis e perigosas estradas do Sertão.
“Os almocreves transportavam em seus burros: grãos, farinha de trigo e de mandioca, café, açúcar, querosene, bebidas, estivas em geral, tecidos, miudezas, etc., com uma gama imensa de produtos além de uns raros medicamentos. Descendo do sertão almocrevavam: algodão em rama ou em pluma, couro de boi ou de bode, borracha de maniçoba e rapadura. Enfrentavam quase sempre o chão tórrido do semi-árido ou lamaçal e até correntezas de rios e riachos nas enxurradas súbitas.” (LORENA E SÁ, 2001: p. 100)
Nos últimos meses de 1946, depois de muitas economias, passou a residir com a sua família na localidade de Barra das Aroeiras, onde adquiriu uma pequena propriedade, constituindo-se em uma das colunas do trabalho protestante que se estabelecia na região.
Nessa localidade, juntamente com outros membros de sua família, deu inicio aos trabalhos da Igreja Evangélica Congregacional de Várzea da Tapera, que antes funcionou na localidade de Sussuarana.
“Com o passar do tempo, o trabalho foi se desenvolvendo, e logo começaram a surgir os primeiros frutos. Sempre que os missionários da UESA estavam na cidade de Boa Viagem costumavam visitar essa alegre congregação. Nesse tempo, a Congregação de Lembranças estava aos cuidados da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira, que posteriormente a transferiu para os cuidados da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem, na sede do Município.” (SILVA JÚNIOR: 2015: p. 216)
Nesse período, percebendo outra forma de melhorar a manutenção de sua família, resolveu investir na criação e no abate de suínos, como também no estabelecimento de uma sortida bodega, algo que lhe gerava um bom lucro e lhe permitia condições de aumentar o território de sua propriedade.
Ainda nessa época, por conta da venda de bebidas alcoólicas e de fumo, algo que não era permitido pelo estatuto da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira, no pastorado do Rev. Manoel Bernardino de Santana, o seu nome foi levado para disciplina eclesiástica.
Mesmo com esse afastamento da comunhão, rotineiramente recebia em sua residência os pastores da comunidade religiosa que o puniu, onde regularmente aconteciam os cultos da localidade.
Alguns anos mais tarde, por conta de problemas na saúde de sua esposa, passou a viver maritalmente também com Teonina Costa Rodrigues, nascida no dia 16 de fevereiro de 1939, sendo filha de Luiz Rodrigues Cavalcante e de Cândida Costa Rodrigues.
Desse relacionamento extraconjugal foram gerados cinco filhos, três mulheres e dois homens, sendo eles: Geracina Rodrigues da Costa, Géssica Rodrigues Costa, Celsina Rodrigues Costa, Gessé Rodrigues Costa e Gerniel Rodrigues Costa.
No dia 30 de novembro de 1977, juntamente com os seus familiares, partilhou da notícia do inesperado falecimento de uma de suas filhas, Salomé Antero de Oliveira, que faleceu aos 36 anos de idade por conta de um ataque cardíaco.
Mais tarde, no dia 19 de novembro de 1983, foi a vez de partilhar com os seus familiares a dor da perda de sua estimada esposa, que faleceu por conta de um câncer de útero prestes a completar 76 anos de idade.
Alguns anos depois, segundo informações existentes no livro C-05, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, folha 17v, tombo nº 2.738, faleceu em sua residência, na localidade de Barra das Aroeiras, nas proximidades da vila de Boqueirão, no dia 25 de maio de 1994, prestes a completar 97 anos de idade.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares em um mausoléu existente no Cemitério das Lembranças.
BIBLIOGRAFIA:
- IBGE. A História do Município de Brejo dos Santos. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=250290&search=paraiba|brejo-dos-santos|infograficos:-historico. Acesso no dia 29 de outubro de 2017.
- LORENA E SÁ, Luiz Conrado de. Serra Talhada. 250 Anos de História, 150 anos de Emancipação Política. Serra Talhada: Sertagráfica, 2001.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão da Prefeito José Carneiro Dantas Filho – o Régis Carneiro, por meio da lei nº, de 2024, uma das ruas do Bairro Oséas Facundo, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.
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