Luiz Paulino de Holanda Valença nasceu por volta de 1830 no Município de Garanhuns, que está localizado no agreste pernambucano, distante 230 quilômetros da cidade do Recife, sendo filho de Joaquim Rodrigues Valença e de Paulina de Holanda Valença.
Os seus avós paternos se chamavam José Rodrigues Valença e Cosma Maria da Conceição Caluête.
Na época de seu nascimento veio ao mundo pelas mãos de uma parteira nas proximidades de uma localidade que alguns anos mais tarde foi denominada de São Bento do Una.
“No fértil vale do Ipojuca, nasceu no final do século XIX a cidade de São Bento, originária da Fazenda Santa Cruz e considerada berço da pecuária leiteira e da avicultura na região. O nome da cidade teve origem na invocação que os moradores faziam ao santo, para se livrarem das cobras durante o desbravamento da fazenda na formação da cidade. A complementação do nome foi feita em 1941, homenageando ao Rio Una e distinguindo a cidade de outras com o mesmo nome.” (IBGE, 2000: Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pe/sao-bento-do-una/historico. Acesso no dia 5 de junho de 2019)
Em sua juventude, em uma data ainda desconhecida, foi surpreendido pela notícia do falecimento de seu pai, que era um próspero agropecuarista e morreu por conta da queda em um cavalo.
Algum tempo depois, explorando o mesmo ramo econômico de seu pai, a criação extensiva de gado, descobrimos que possuía uma propriedade que era denominada de “Fazenda Agulhão”, onde mantinha escravos.
Durante o curso de sua existência registramos que teve dois relacionamentos conjugais, o primeiro deles, celebrado por volta de 1854, quando tinha 22 anos de idade, contraiu matrimônio com Maria de Jesus Dantas Valença, com quem gerou alguns filhos, sendo eles: Numeriano de Holanda Valença, Luiz Paulino de Holanda Valença Filho, Paulina de Holanda Valença, Cândida Valença Barbosa, Águida Valença Leite e Maria da Saúde Holanda Valença.
Mais tarde, estando viúvo, contraiu matrimônio com Guilhermina da Cunha e Silva, natural de Pesqueira, nascida em 1842, com quem gerou Elvira Valença Borba, Amélia Holanda Valença, Sipião de Holanda Valença, Luiz da Cunha Valença e Virginia de Holanda Valença.
No dia 27 de fevereiro de 1852, por meio de um ofício, temos conhecimento de que era professor e habitou durante algum tempo em um povoado denominado de Correntes, no limite com a Província de Alagoas, conseguido logo depois a transferência para São Bento, nessa época pertencente a comarca de Garanhuns.
“Ofício ao diretor geral da instrução pública, inteirando-o de haver deferido, em 15 de janeiro último, o requerimento em que os professores de instrução elementar Luiz Paulino de Holanda Valença, da povoação de Correntes, e Antônio dos Santos Falcão, de São Bento, pediram permutar as respectivas cadeiras. Neste sentido, fizeram-se as convenientes comunicações.” (CALADO, 2017: Disponível em https://portalsbu.com.br/?sec=coluna_orlando&id=246&/histria-de-so-bento-do-una-pernambuco-brazil-parte-1. Acesso no dia 31 de maio de 2019)
Em São Bento participou ativamente das transformações sociais de seu tempo, sendo um dos membros da Irmandade do Senhor Bom Jesus Pai dos Pobres, uma agremiação que juntou esforços para construção de sua capela.
Desde a sua juventude, já bastante envolvido na política do interior, foi um dos principais nomes da corrente liberal existente naquela região, recebendo ocasionalmente indicação para desempenhar várias funções públicas, dentre elas a de 2º suplente de juiz de paz da comarca de São Bento, fato ocorrido no dia 2 de outubro de 1856, algo que se repetiu em outra oportunidade.
“Luiz Paulino de Holanda Valença, Chefe do Partido Liberal, que tomou posse do cargo de 1º Suplente de Juiz Municipal do Termo, no dia 21 de abril de 1866.” (CINTRA, 1984: p. 132)
Nessa época, graças ao desenvolvimento de sua região, por meio da lei provincial nº 309, de 3 de março de 1853, o povoado de São Bento foi elevado a categoria de vila, constituindo-se em um dos Distritos ainda subordinados ao Município de Garanhuns, conseguindo a sua autonomia política no dia 6 de fevereiro de 1861, quando foi desmembrado.
Pouco tempo depois, segundo matéria publicada no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província de Pernambuco, edição de 1860, página 57, foi nomeado na função de 1º suplente de delegado, ocupando mais tarde, entre 1869 e 1881, a função de delegado de sua cidade natal.
“O Coronel Luiz Paulino de Holanda Valença tomou posse do cargo de Delegado de Polícia do Termo de São Bento no dia 19 de janeiro de 1867.” (CINTRA, 1984: p. 132)
Nessa época, já possuindo a carta patente de tenente-coronel da esquadra de cavalaria da Guarda Nacional, sendo o comandante do 50º Batalhão de São Bento, foi indicado pelo governo para cuidar dos índios da aldeia de Panema, na freguesia de Águas Belas.
Ainda nesse período, por conta da Guerra do Paraguai, foi um dos principais responsáveis pela organização do batalhão dos voluntários da pátria que seguiram para o teatro de guerra, informação que foi publicada no dia 27 de setembro de 1865 no Jornal Gazetilha.
“Em boa hora venham informam-nos que o Sr. tenente-coronel Luiz Paulino de Holanda Valença, comandante de um dos corpos efetivos da Guarda Nacional do Município de São Bento, comarca de Garanhuns, vem em viagem para esta cidade, trazendo consigo cerca de 50 voluntários que conseguiu arrolar ali, para apresentá-los pessoalmente ao Sr. conselheiro, presidente da Província, mostrando assim o interesse que toma pela causa do seu país. Não é a primeira vez que o tenente-coronel Valença dará tão exuberante prova de patriotismo e incansável atividade nesta quadra melindrosa. Já na administração do Sr. Dr. Castelo Branco trouxe Sua Senhoria para alistarem-se muitos voluntários. Possa o seu procedimento servir de estímulo e modelo aos que exercendo, como ele, no interior uma legítima influência, tanto podem concorrer para o brilho de sua província.” (CALADO, 2017: Disponível em https://portalsbu.com.br/?sec=coluna_orlando&id=246&/histria-de-so-bento-do-una-pernambuco-brazil-parte-1. Acesso no dia 31 de maio de 2019)
O seu esforço organizando esse contingente chegou a reunir um efetivo de aproximadamente 400 praças, recrutas que foram incorporados ao 3º corpo da Guarda Nacional, algo que lhe rendeu enorme prestígio nos altos escalões do governo, bem como poderosos inimigos.
Esse prestígio tornou-se evidente quando recebeu de D. Pedro II, imperador do Brasil, a Imperial Ordem da Rosa, uma comenda honorífica que premiou militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado.
Nos primeiros meses de 1867, diante da escassez d’água para os habitantes da vila de São Bento, foi contratado pelo Governo da Província para executar uma obra de reforma da barragem pública existente naquela localidade, que é denominado de Açude Provincial, pela quantia de 3:000$000 (três contos de réis), serviço que foi entregue no dia 18 de novembro.
Em acordo com uma carta escrita no dia 6 de outubro de 1872, onde existe o registro de distúrbios políticos por conta de uma eleição que acontecia em São Bento, temos conhecimento que nessa época residia no Município de Pesqueira.
“Aos 6 de outubro de 1872, Antônio Bento de Oliveira e outros lançaram ‘seu protesto perante o Juiz e o mundo inteiro contra a ilegalidade praticada pelo delegado de polícia deste Termo, o Capitão Luiz Felipe Cavalcanti de Albuquerque, que privou não só os abaixo-assinados, como aos demais cidadãos votantes, que os acompanhavam, de entrar na Matriz para organização da mesa paroquial, e de assistirem os trabalhos eleitorais, dizendo que na Matriz não entrava pessoa alguma além das que o Juiz de Paz mais votado, Major João da Porciúncula Valença, quisesse. Preveniu o Delegado, que fizesse isso com as forças armadas, não só desta freguesia, como de outras, bem como uma força de trinta homens armados vindos da freguesia de Pesqueira, capitaneada pelo chefe político liberal, Luiz Paulino de Holanda Valença, ali residente, e de outra vinda de Panelas. Reunida toda tropa, colocou dentro da Matriz; comandando a brigada, impediu a entrada dos cidadão.” (CINTRA, 1984: p. 137 – 138)
No dia 23 de fevereiro de 1880, segundo informações existentes no jornal Diário de Pernambuco, ano LVI, nº 46, edição do dia 26 de fevereiro, por uma portaria do presidente da Província, o Dr. Inácio Joaquim de Sousa Leão, foi exonerado do cargo de delegado do termo de São Bento.
Nesse mesmo ano, segundo matéria publicada no mesmo periódico, nº 182, edição do dia 10 de agosto, no governo do Dr. Joaquim José de Oliveira Andrade, foi reconduzido ao seu posto, e que “há pouco [havia sido] demitido por ter dado fuga ao preso Joaquim Simões, o que tudo consta documentalmente na secretaria de polícia”.
Pouco tempo depois, no fim desse ano, segundo nota da edição nº 263 do periódico já mencionado, publicação do dia 13 de novembro, somos informados de que no dia 5 de novembro, com a patente de coronel, foi nomeado comandante superior da Guarda Nacional do Município de Caruaru.
Em 7 de dezembro de 1880, sob a presidência do Vereador Joaquim Ferreira de Sousa, no Paço da Câmara Municipal de São Bento, tomou posse de seu mandato de vereador, sendo conduzido nessa ocasião à presidência da mesma, permanecendo com essa função até os últimos dias de 1883.
“Essa eleição foi antecipada. Luiz Paulino já estava destituído das funções da Câmara e afastado da administração do Município… A última sessão que presidiu foi a 31 de janeiro de 1882.” (CINTRA, 1984: p. 167)
Antes disso, no dia 17 de fevereiro de 1881, no periódico acima mencionado, ano LVII, nº 38, foi divulgada uma matéria dando conta de que no dia 15 desse mês a secretaria da Província emitiu uma nota responsabilizando-o pela Guarda Nacional de Cabrobó.
Mais tarde, em 10 de agosto, sendo um dos responsáveis pela segurança de sua região, por meio de uma carta publicada no Jornal do Recife, um crime misterioso revelou-lhe um inimigo político, sendo ele o Capitão Luiz Felipe Cavalcanti de Albuquerque.
“Lendo hoje no jornal “Tempo” uma correspondência contra mim, assinada de São Bento, pelo Capitão Luiz Felipe Cavalcanti de Albuquerque, em que me atribui um fato horroroso, cujas tristes impressões, ainda, lhe torturam o espírito, por amor ao público e ao partido, a que pertenço, e a quem nunca comprometi, vou responder, com minha consciência tranquila, e da forma porque posso fazer, sem pedir, como o Capitão Luiz Felipe, ao juiz municipal de São Bento, uma resposta mais cabal e satisfatória. Estava em minha casa, no dia 31 de julho próximo passado, com meus hóspedes, o Major Luciano Nogueira e o subdelegado de Tacaíté, pelas sete horas da noite, mais ou menos, quando ouvi perfeitamente um estalo, e depois um pequeno tiro, que me pareceram traques ou bombas que os meninos de rua costumavam soltar. Ainda cheguei à porta e olhei para a rua, receando que os meus meninos estivessem na calçada, e não os vendo, sentei-me onde estavam meus referidos hóspedes. Dez minutos depois, mais ou menos, chega à minha porta um meu afilhado com este recado: O Capitão Luiz Felipe lhe manda dizer que deram um tiro na mulher e, quase ao mesmo tempo, vejo em minha porta o mesmo capitão, que assim me falou: ‘Coronel, acuda-me, estou parvo, minha mulher e minha cunhada receberam um tiro, e só me queixo do Capitão Antônio Bento e do meu colega José de Lemos, únicos inimigos que tenho nesta vila’. Ainda, com o sangue frio do meu costume, lhe disse estas formais palavras: ‘Não seja leviano e indiscreto! Antônio Bento, velho e nas portas da morte, não se lembra de você, quando em moço, nunca matou ninguém’. Nesta ocasião, gritei pelo Alferes Paulino, comandante do destacamento, e corri para a casa do Capitão Luiz Felipe, onde já o achei acusando, em altas vozes, com toda sua família, ao mesmo Capitão Antônio Bento, presente o Dr. Aristarco, que o fez moderar um pouco, pedindo-lhe que, por ora, não encrespasse pessoa nenhuma e que suspendesse o seu juízo, confiando na polícia e principalmente em mim, o mais habilitado para descobrir o autor do crime, pois desde que eu prendi os verdadeiros assassinos do infeliz João de Deus, morto em lugar deserto, que para ele era eu o homem mais perspicaz, que ele conhecia. É verdade que o Dr. Aristarco precisava de mim, enquanto passava a noite, para durante ela melhor urdir o seu mesquinho parto na volumosa cabeça do Sr. capitão torturado. Mil juízos e fizeram quer da parte dos amigos do Sr. Aristarco, quer dos meus amigos da vila que todos, surpreendidos, concorreram à casa onde se deu o decantado e horroroso fato. Poucos ouviram o estampido do tiro que todo nas duas senhoras se empregou em duas senhoras inocentes e bem educadas. O assassino achou a porta entreaberta, viu e conheceu as vítimas. O Capitão Luiz Felipe e o Sr. Amador, seu parente, não estavam na direção do tiro, que todo se empregou nas duas senhoras, as quais receberam toda carga, constantes de três bagos de chumbo fino, não se achando, nem dentro da casa, nem na porta ou paredes, nem um outro vestígio de chumbo ou bala. O Sr. capitão e seu parente são dois ‘santos’, e não têm inimigos. Os meus dois parentes, dos quais o mesmo torturado por melhor juízo, que de mim, são seus amigos e não meus. O Capitão Antônio Bento não é mais assassino, nem o colega Lemos! A vítima correu para a casa do carrasco, e dele valeu-se! Eis a razão do mistério do semelhante crime e não os meus ardis e vilanias. O delegado, nesta mesma noite, esteve em casa do Capitão Luiz Felipe, com quem combinou as diligências que fez, prendendo quatro indivíduos que se justificaram, entre os quais Manoel Caboclo, cuja prisão se pedia com empenho, não podendo ser efetuada pelo ativo comandante do destacamento e sim pelo delegado, que andou para tal fim toda a noite. O corpo de delito foi feito a contento, sendo os peritos dois amigos do peito, indicados pelas vítimas, e de tão almados que julgaram um dos ferimentos grave quando são levíssimos. Ainda precisavam do delegado, meu irmão!
Quando o delegado acabou o corpo de delito, chamou os senhores Capitão Luiz Felipe e Amador para lhes fazer auto de perguntas; estes responderam que se achavam incomodados, porque ainda não tinham combinado ou concertado com o Dr. Aristarco as suas respostas. Depois mandou-os chamar para a casa do escrivão Lemos, ainda não quiseram lá ir! Queriam somente o delegado em suas casas e as suas descrições. O delegado fez tudo que humanamente pôde para fazer descobrir o autor do crime, e conhecendo depois do corpo de delito, que um plano infernal se preparava contra inocentes, reservou-se um pouco, sem poder continuar logo o inquérito em razão da falta dos autos de perguntas. O Sr. capitão só queria acusar-me em sua própria casa, e não tinha mais coragem de negar o que havia dito contra o Capitão Antônio Bento e seu genro, e nem seria capaz de em minha presença sustentar a calúnia que tinha levantado contra mim, intrigando-me mais com os meus dois parentes democratas nos termos em que a urdiu. O tiro disparado na cara do Capitão Luiz Felipe, certeiro em duas mulheres, para mim é um mistério. O Sr. capitão e o Sr. Amador não têm como dizem, inimigos particulares e sim políticos! Agora me responda Sr. Capitão Luiz Felipe, mesmo como político. Que vultos são sua senhoria e seu cunhado, como políticos? Será sua senhoria ou o Dr. Aristarco o chefe do Partido Conservador em São Bento? Será o major Maciel, o mais afamiliado, prudente, honesto e inteligente dentre os mesmos conservadores? Será o Capitão Antônio Bento, com serviços reais a seu partido, com família, perseguido dos seus amigos políticos e mártir de sua própria política? Será o Tenente Eduardo, de Canhotinho, ex-presidente da Câmara, que dispõe da força bruta e gasta só o seu dinheiro? Será o Sr. Paizinho ativo e laborioso moço e que o conhece mais de perto? Será o Major João Valença que gastou o que mais possuía, sacrificou seus dias de vida bem preciosos? Creio e todos sabem que qualquer dos mencionados estão em melhores condições que sua senhoria, que não passa de escrivão de aldeia, que agrada o juiz a quem serve, máquina de escrever, ave de arribação, covarde como um veado, e que não passa na vila de São Bento de um pobre bobo, que tem a fraqueza de dizer que, com seu pirão compra amigos e faz política, mas de quem mais zombam os seus próprios amigos. Seu cunhado, se é valentão, ainda não é conhecido e se acha na Alagoa do Monteiro, na Paraíba, esperando o dia da morte da tísica que o consome. Quer que lhe responda quem mandou espancar meu afilhado João Ferreira, Coriolano de Paiva e Melo, Francisco de Assis, Manoel Cândido, João Valeriano, Lourenço Bezerra da Costa, quem espalhou que havia de dar surras pelo Altinho, e finalmente quem soltou Joaquim Simões? Eu satisfarei completamente. Foi, Sr. Capitão Luiz Felipe, aquele mesmo que mandou espancar por Manoel Caboclo e Zeca, filho da Zeferina. Foi aquele que recebeu na rua de baixo um empurrão de Vicente, filho de dona Maroca. Foi aquele que levando Vicente uma tremenda facada, alguns dias depois do empurrão foi visitar Vicente. Foi aquele que fez os peritos julgarem os ferimentos de Vicente leves, sendo gravíssimos, e dos quais ainda não ficou bom. Foi aquele escrivão que todas as noites vai cacetear-me em minha casa, procurando o escuro da noite para fingir aos amigos, que é meu inimigo, quando sempre me procurou importunamente. Foi o homem inimigo figadal do vigário, que não teve escrúpulos de entrar na casa de um padre inimigo, a quem tem feito todas as picardias, intrigas e calúnias as mais revoltantes. Foi aquele que veio no dia 13 de julho próximo passado, às 7 horas da noite, valer-se de mim seu ‘assassino’, em minha própria casa, esperando que meu irmão, o delegado do termo, prendesse o Capitão Antônio Bento e o colega José de Lemos. Foi aquele que entende que o meu parente democrata tem de fazer em mim o que fez no português Fraga e em mais alguém […] Foi aquele que recebendo em sua casa um tiro que feriu sua mulher e uma cunhada, só dez minutos depois correu para a casa do seu ‘matador’, depois de ter preparado o seu ardil bem caladinho, Deus sabe se esse não foi um sucesso que em toda casa pode dar-se, e que o perverso aproveitou para se livrar da pessoa que mais odeia, e a quem infelizmente frequentava, quase sempre com o escuro da noite. Sr. Capitão Luiz Felipe, a arma do covarde, do pusilânime e traidor sempre é a calúnia. Que mal lhe fiz para me considerar seu assassino? A quem eu já matei em meus dias? Quais os meus precedentes mais antigos, que o autorizaram para semelhante juízo? Venha com eles e então minha resposta será mais completa. Quer processar-me porventura? Tem juiz de direito, promotor e juiz municipal amigos e corpo de delito a seu jeito? Quer a demissão do delegado para facilitar a candidatura de algum irmão ou amigo do Dr. Aristarco? Empregue os meios e prove suas queixas que o governo da província lhe fará justiça. Que ser chefe e mártir do Partido Conservador? Procure meios mais decentes, porém desengane-se, que onde está não passará de um caluniador. O fato que se deu em São Bento é todo misterioso, e quem sabe se não será uma pura invenção somente para prejudicar-me. Um dia, os fatos provarão. Está na consciência de todos, em São Bento, até do mesmo Sr. Luiz Felipe, que o eleitorado, em sua maioria, está de meu lado, embora o mau resultado da qualificação. O chefe ostensivo do Partido Conservador ali é o Dr. Aristarco, este não pode negar que pelo meu lado, sempre foi e continua a ser muito acatado. Meu irmão é o delegado do termo, as posições oficiais são do meu partido e que interesse quer político quer particular me obrigaria a cometer um crime? O resultado de tal crime, encarado, por todas as formas, não me pode aproveitar. O Sr. Capitão Luiz Felipe pede garantias ao governo, eu só responsabilizo ao Dr. Aristarco por qualquer coisa, que me aconteça, e, então, provarei a quem tanto bem me quer, que tenho recursos meus para me desafrontar sem medir a altura de ninguém, e sem os auxílios dos Antônios Lopes condenados à pena última e outros. Desde a idade de 16 anos que dirijo política, onde moro, nunca comprometi aos meus amigos, e nunca lutando com outros inimigos mais cavalheiros, me imputaram crime de semelhante ordem, só as aves de arribação, que com as penas de pavão se querem enfeitar, me arguem de fatos, que só os comparsas e amigos de Antônio Lopes são capazes de praticar. Já que o Sr. Capitão Luiz Felipe, por seu agente, promete voltar-me à carga, eu deixarei para mais logo o que por certas conveniências, deixo de declarar! […] Por ora, limito-me a pedir ao público, a quem somente respeito, que me julgue depois. Recife, 9 de agosto de 1871.” (CALADO, 2017: Disponível em https://portalsbu.com.br/?sec=coluna_orlando&id=246&/histria-de-so-bento-do-una-pernambuco-brazil-parte-1. Acesso no dia 31 de maio de 2019)
Algum tempo depois, no dia 9 de janeiro de 1883, conforme matéria publicada no dia seguinte no Jornal do Recife, ano XXVI, nº 7, foi noticiado na primeira página o assassinato de seu filho Numeriano de Holanda Valença, algo que lhe causou profundo sentimento de desgosto e certamente o desejo vingança.
“Segundo opiniões assentes na tradição popular, o Coronel Luiz Paulino, primeiro suplente de juiz municipal, ex-delegado de polícia, político atuante, um dos patriarcas históricos da estirpe Valença, homem de influência no seu tempo e espaço, teria visto justiçar o matador de seu filho Numeriano, brutalmente sacrificado nos dias de mocidade, em uma praça da Vila de São Bento. É possível que o fato delituoso, dadas as peculiaridades de ordem pessoal e política de que então se revestira, teria sensibilizado o Tribunal do Juri, na hora da decisão. E que o réu [Manoel Francisco de Souza], por razões obvias, palmilhara, cabisbaixo, o caminho do calabouço… Também é possível – e há, velada mas não ilógica, a suspeita de que o Coronel Luiz Paulino, por iniciativa própria, mandara eliminar o soldado assassino, vingando a morte de Numeriano. E tal suspeição corrobora-se, dada a intenção do outorgante, explicita no instrumento precatório, quando, ao constituir patronos da causa da vítima, atribuíra-lhes ‘poderes necessários para falarem em todos os processos-crimes em que EU FOR AUTOR OU RÉU’ (sic), antecipando, na salvaguarda de um mandato, – uma possibilidade, próxima ou remota, de ação delituosa.” (CINTRA, 1986: p. 360)
Pouco tempo depois desse bárbaro crime, no dia 24 de fevereiro de 1884, no Diário de Pernambuco, ano LX, nº 46, foi nomeado como 1º suplente de juiz municipal de São Bento pelo Dr. José Manoel de Freitas, presidente da Província, para o exercício dessa função no quadriênio que se estende de 1884 a 1887.
Nesse período, no dia 8 de junho de 1885, segundo informações existentes no livro C-02, pertencente ao Cartório de São Bento, página 33, foi surpreendido com o inesperado falecimento de sua esposa Guilhermina, que veio a óbito com apenas 43 anos de idade.
Nesse mesmo ano voltou a lecionar, sendo exonerado dessa atividade nos últimos meses de 1887. Mais tarde, no dia 16 de março de 1889, passou para reserva do Exército, voltando a tomar posse, em 10 de julho, da função de delegado de sua terra natal.
Ainda nesse ano, no dia 29 de setembro, segundo matéria publicada nos jornais da capital pernambucana, embarcou no Vapor São Francisco com destino a Ilha de Fernando de Noronha.
Em 1891, com à Proclamação da República, conforme edição do dia 14 de abril, no Jornal a Província, ano XIV, nº 81, divulgando o resultado da eleição provincial ocorrida no dia 7 março, pleiteando um mandato eletivo, entrou na disputa por uma das cadeiras da ALEPE – a Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco, quando recebeu a confiança de 1608 eleitores, sendo um dos deputados da 24ª legislatura.
Mais tarde, no dia 10 de outubro de 1891, segundo informações existentes no periódico a Província, ano XIV, nº 226, página 2, desejando outro mandato eletivo, concorreu na disputa pela chefia do Poder Executivo do Município de São Bento, sendo o seu primeiro prefeito eleito.
“Aos 30 de setembro de 1891, teve lugar a eleição para prefeito, sub-prefeito e conselheiros municipais, no triênio a começar de 1º de janeiro de 1892 à 31 de dezembro de 1894. Foi eleito prefeito: Luiz Paulino; Sub-prefeito: Joaquim Soares da Rocha; Conselheiros: Manoel Raimundo Ferreira da Silva, Gregório Simões de Macêdo, Vicente Rodrigues de Paula, Antônio de Almeida Calado e Joaquim de Almeida Valença.” (CINTRA, 1984: p. 194)
Poucos meses depois desse pleito, por conta das divergências políticas que ocorriam no Estado de Pernambuco, essa eleição foi inexplicavelmente anulada pelo Governo do Estado, lhe impedindo de tomar posse.
“No dia 1º de janeiro de 1892, no Paço da Câmara Municipal, foi aclamada pelo povo uma Junta Governativa, dissolvido pela Junta Governativa do Estado, o Conselho Municipal desta mesma vila, eleito no dia 30 de setembro do ano próximo passado.” (CINTRA, 1984: p. 194)
Algum tempo depois, nos primeiros meses de 1904, aos 60 anos de idade, veio a óbito no Município de São Bento do Una, sendo sepultado por seus familiares em um túmulo existente no cemitério da cidade.
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TERRAS DE BARAÚNAS. Cosma Caluête. Disponível em http://terrasdebaraunas.blogspot.com/2015/06/cosma-caluete.html. acesso no dia 7 de junho de 2019.
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