José Silvino da Silva

José Silvino da Silva nasceu no dia 11 de maio de 1917 na cidade de Guaiuba, que está localizada na região metropolitana de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, sendo filho de Silvino Ângelo da Silva e de Joana dos Anjos Machoca da Silva.
O nome dos seus avós paternos ainda nos são desconhecidos, já os maternos se chamavam João Facundo Machoca dos Anjos e Maria Antônia da Conceição Machoca dos Anjos.
Os seus ancestrais exerceram grande influência em sua vida pessoal, principalmente nas escolhas que determinaram o seu futuro.
O seu trisavô materno se chamava Serafim Machoca, casado com Severa Leonardo Maia, ele era descendente de judeus-portugueses que saíram da Europa motivados pela intolerância religiosa e se espalharam pelo sertão do Nordeste brasileiro:

“Mais atingidos pela crise inflacionária, aos pobres do reino português restava um último motivo de orgulho, oriundo da hegemonia da mentalidade aristocrática: a identidade cristã. Os seus olhares rancorosos se voltaram para as comunidades que viviam nos bairros judaicos, as judiarias, e os cristãos-novos, vistos sempre com desconfiança. Ataques a essa comunidade e denúncia de seus membros ao Tribunal de Santo Ofício eram práticas correntes da população empobrecida e mercadores cristãos-velhos, estes motivados por interesses e disputas mercantis. Por ironia, tantos judeus e cristãos-novos quanto os cristãos-velhos tinham na América uma alternativa para as dificuldades verificadas na Metrópole. Por sua extensão e possibilidades de enriquecimento, a América tornou-se um lugar de refúgio para a comunidade judaica portuguesa.” (CAMPOS & GARCIA MIRANDA, 2005: p. 2011)

Ao chegarem em terras brasileiras esses judeus da península ibérica costumavam modificar as suas identidades no intuito de esconderem a sua origem judaica, muitos deles adotaram nomes ligados ao campo e até regiões onde habitavam na Europa, daí o sobrenome incomum de “Machoca”.
No Ceará os “Machoca” habitaram durante algum tempo no Município de Ipu, que está localizado na região Noroeste do Estado. Os outros trisavós maternos se chamavam João Francisco Rodrigues e Antônia Rodrigues, portugueses que moravam em Guaiuba.
Do lado paterno, de onde os nomes ainda nos são desconhecidos, os seus trisavós possuíam sangue indígena de uma tribo que habitava a região do Município de Anadia, que está localizado na Região Leste do Estado de Alagoas, distante 94 quilômetros da cidade de Maceió.
Por volta de 1914, desejando receber uma benção do Pe. Cícero Romão Batista, esses ancestrais decidiram vir ao Estado do Ceará e alguns deles se estabeleceram na cidade de Juazeiro.
Pouco tempo depois disso o seu pai, Silvino Ângelo da Silva, decidiu transferir-se para cidade de Fortaleza, onde passou a compor as fileiras da Polícia Militar do Estado do Ceará, na época denominada simplesmente de Força Pública Militar, fato que determinou algumas das escolhas de seu filho.
Logo que nasceu, primogênito entre seis irmãos, seguindo um acordo de seus pais, o pequeno José Silvino receberia o nome de Roberto Ângelo da Silva, mas ao dirigir-se para o cartório o seu genitor percebeu que na família já existiam pessoas com esse mesmo nome e que o homônimo poderia gerar certos problemas para ele no futuro.
Diante dessa possibilidade resolveu colocar o seu nome como sobrenome do garoto, que passou a figurar como herança de identidade para ele e anos mais tarde para alguns de seus herdeiros.
Pouco tempo depois, assim que demonstrou aptidão aos estudos, em casa, foi cuidadosamente alfabetizado por sua mãe.
No dia 24 de julho de 1935, pouco tempo depois de completar 18 anos de idade, ingressou como recruta na Força Pública do Ceará e ainda bem jovem conseguiu ascender no quadro de oficiais dessa corporação aposentando-se com a patente de coronel.

Imagem do Aspirante-a-Oficial PM José Silvino da Silva, sentado à máquina de escrever, em 1944.

Algum tempo depois, no dia 29 de maio de 1943, aos 26 anos de idade, contraiu núpcias com Isabel Diogo da Silva, nascida no dia 28 de abril de 1922, sendo filha de Antônio José de Lima e de Maria Diogo Lima.
Desse feliz matrimônio foram gerados doze filhos, sendo oito homens e quatro mulheres: Silvio Ângelo Neto, Maria Izaíra Silvino da Silva, José Francisco Diogo da Silva, Catarina Maria Diogo da Silva, José Aparício Diogo da Silva, Antônio José Silvino da Silva, José Silvino da Silva Filho, Domingos José Diogo da Silva, Inácio de Loiola Diogo da Silva, Maria Verônica Diogo de Oliveira, Francisco de Assis Silvino da Silva e Maria Aparecida Silvino da Silva.
Na segunda metade da década de 1940, destacando-se entre os seus companheiros de caserna, recebeu designação do General José Machado Lopes, na época governador do Estado do Ceará, para assumir a interventoria do Município de Boa Viagem, que na época era administrado por Aluísio Ximenes de Aragão.
Nesse tempo esse Município, que está localizado no Sertão Central, distante 217 quilômetros da capital, passava por graves problemas de lei e ordem por conta de algumas denúncias formuladas contra o seu antigo gestor e pouco tempo depois, no dia 28 de dezembro de 1946, o misterioso assassinato do ativista político José Inácio de Carvalho, formulador dessas denúncias.
Para garantir a elucidação desse crime, de claras motivações políticas, o governo estadual resolveu sufocar os envolvidos em duas frentes, inicialmente através da administração pública, e logo depois por meio da repressão policial, assumida nessa feita pelo Major Antônio Leite Furtado.

“Na cidade de Boa Viagem o Major Furtado Leite implantou o seu quartel general na Pensão da Maria Antônia, na Praça da Matriz, lado sul, no meio do quarteirão, numa casa de propriedade do Sr. Deoclecio Ramalho, ligado aos Araújo, onde já residia com a sua mulher, Isabel Diogo da Silva, o interventor, Tenente José Silvino da Silva.” (MOTA, 1996: p. 63-64)

Exerceu a função de interventor entre o dia 28 de novembro de 1946 e o dia 4 de maio de 1947, quando foi transferido desse posto, deixando à interventoria de Boa Viagem aos cuidados de Joaquim Vieira Lima.
Pouco tempo depois, nos primeiros anos da década de 1950, por sua dedicação e vida acadêmica, foi indicado como um dos diretores de ensino da Academia de Polícia Militar Edgar Facó.
Nessa instituição, em 1957, pela Gráfica Ranulfo, condensou material para publicação da primeira edição da “Cartilha do Policial”, que durante muitos anos serviu de referência para os praças formados nessa academia e recebeu outras edições.
Alguns anos depois, no dia 27 de abril de 1959, quando era major, participou como um dos membros da comissão que definiu o Brasão de Armas da Polícia Militar do Estado do Ceará, que pouco tempo depois foi determinado pelo Coronel Aluísio Brígido Borba.

“De acordo com o Coronel QOPM José Silvino da Silva, na época Major PM, nenhum dos componentes tinha conhecimento na arte e ciência heráldica, bem como ‘a equipe estava desfalcada com um integrante doente e outro ausente’. Dessa forma, coube ao próprio Major QOPM Silvino, buscar auxílio ao Ministério da Guerra, sendo orientado a contatar o heraldista Alberto Lima, Chefe do Gabinete Fotocartográfico do Exército Brasileiro, e reconhecido na época como uma das maiores autoridades em heráldica do Brasil. A resposta veio em 21 de junho de 1960, em carta endereçada ao Major QOPM Silvino, contendo a proposta que fora aceita pela comissão. A arte original foi enviada como se configura abaixo na padronização incolor conforme a regra que orienta a arte.” (S.N.T)

Esse brasão, até os dias de hoje, é orgulhosamente estampado no fardamento, viaturas e em tudo que identifica a Policia Militar do Estado do Ceará.

Brasão da Polícia Militar do Estado do Ceará.

Imagem do Brasão da Polícia Militar do Estado do Ceará.

Mais tarde, por conta dos seus bons serviços na corporação, recebeu promoção para patente de coronel e durante a sua carreira militar as seguintes condecorações: Medalha Marechal Caetano de Faria e Medalha do Mérito da Polícia Militar.
No dia 2 de fevereiro de 1966, prestes a completar 49 anos de idade, depois de 35 anos de bons serviços prestados à sociedade, pediu afastamento de sua atividades e foi conduzido com louvor para reserva.
No fim desse mesmo ano, depois de algum tempo nos bancos universitários, conseguiu concluir o curso de Direito ofertado na UFC – a Universidade Federal do Ceará, prestando logo em seguida o exame da OAB – a Ordem dos Advogados do Brasil, de onde recebeu o registro nº 1605.
No ano seguinte, depois do esgotamento de três edições, a pedidos do Secretaria de Segurança do Estado, a “Cartilha do Policial” foi reformulada e ampliada, passando a se chamar “Policiar é Civilizar”.
Depois disso, em 1969, pela Imprensa Universitária do Ceará, publicou a obra “Do Inquérito Policial”.
Nos primeiros anos da década de 1970, juntamente com o Dr. José Feliciano de Carvalho, foi um dos responsáveis pela reestruturação da CAACE – a Caixa de Assistência dos Advogados do Ceará, e durante muitos anos esteve na sua presidência ou em algum cargo de sua diretoria.

“Com o falecimento do presidente Dr. José Silvino da Silva, ocorrido no dia 22 de maio de 1984, foi necessário mais uma vez recompor a diretoria da CAACE, e na sessão do Conselho da OAB de 12 de setembro de 1984, foram eleitos os advogados Manuel Castelo Branco Camurça e Jussier Pires Vieira, sendo portanto, recomposta a diretoria da Caixa de Assistência dos Advogados do Ceará. Não é declinado quem passou a responder pela presidência.”

No dia 21 de maio de 1972, juntamente com os seus familiares, foi surpreendido pela notícia do trágico falecimento de seu quinto filho em uma grave explosão, José Aparício, que era químico industrial na Petroquímica Industrial S.A, em São Paulo.
Faleceu no Hospital da Policia Militar, na cidade de Fortaleza, com apenas 67 anos de idade, no dia 22 de maio de 1984, vitima de uma embolia pulmonar.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares no Cemitério São João Batista, que está localizado na Rua Pe. Mororó, s/nº, Centro, na cidade de Fortaleza.
Alguns anos depois de sua morte, através do Decreto nº 23.370, de 24 de agosto de 1994, que dispõe sobre a instituição da medalha José Martiniano de Alencar, da barreta de comando e da barreta de ensino e instrução a sua efígie foi gravada nas distinções honoríficas concedidas pela Policia Militar do Estado do Ceará:

“Art. 23 – A Barreta de que trata este Capítulo terá as seguintes características: De metal dourado de 40mm de comprimento com 15mm de largura, tendo ao centro a miniatura da efígie do Cel Pm José Silvino da Silva, sobre tecido de seda chamolatadas nas cores branca e vermelha.
Art. 24 – O Broche de Lapela de que trata este Capítulo será uma miniatura de efígie do Cel PM José Silvino da Silva, com 10mm de diâmetro.”

BIBLIOGRAFIA:

  1. HOLANDA, João Xavier de. Polícia Militar do Ceará. Origem, memória e projeção. V I. Fortaleza: Imprensa Oficial do Estado, 1987. 
  2. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, através da lei nº 459, de 21 de março de 1988, uma das ruas do Bairro Ponte Nova, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura;
  2. Em sua memória, na gestão do Prefeito Juraci Vieira de Magalhães, através da lei nº 7.204, de 21 de setembro de 1992, uma das ruas da cidade de Fortaleza receberá o seu nome;
  3. Em sua memória, em 1984, depois de sua morte, o edifício que abriga a CAACE – a Caixa de Assistência dos Advogados do Ceará, recebeu a sua denominação.