José Rodrigues Valença

José Rodrigues Valença nasceu por volta de 1778 na cidade de Valença do Minho, um Município localizado dentro do perímetro do Distrito de Viana do Castelo, distante 424 quilômetros da cidade de Lisboa, sendo filho de Manoel da Cunha e de Bárbara Rodriguez.
O nome de sua avó materna era Francisca Rodriguez
Em sua juventude, provavelmente estando órfão, desejando fazer fortuna, semelhantemente a outros de seus conterrâneos, migrou para colônia portuguesa existente na América do Sul, que alguns séculos antes de seu nascimento foi denominada de Brasil.
Já estabelecido nesta terra, por volta de 1794, aos 16 anos de idade, contraiu matrimônio com uma índia de nome Cosma Maria da Conceição Caluête, nascida em 1778 na região de São João do Rio do Peixe, na Paraíba, sendo filha do Capitão José Moreira Teixeira Mendes e de Luiza Maria de Jesus.
Desse matrimônio foram gerados vários filhos, dentre eles destacamos: Ana Joaquina Valença, Silvana Rodrigues Valença, Pe. José Rodrigues Valença, Joaquim Rodrigues Valença, Francisco Rodrigues Valença, Teodoro Rodrigues Valença, Antônio Rodrigues Valença, João da Porciúncula Valença, Maria de Jesus Valença, Josefa Valença, Tereza Valença e Luíza Rodrigues Valença.

“Luiz Paulino de Holanda Valença, filho de Joaquim Rodrigues Valença e Paulina Pessoa Cavalcanti, neto de José Rodrigues Valença e Cosma Maria da Conceição, casado com Maria Dantas de Oliveira.” (CINTRA, 1988: p. 113)

Depois de casado, estabeleceu-se com a sua família inicialmente na terra natal de sua esposa, e logo mais tarde, desejando melhores condições para sobrevivência, migrou para o vale do Rio Una, em Pernambuco, onde aos poucos viu se espalhar os seus descendentes.

“Desse modo, começou o povoamento de Pernambuco, através da penetração do Rio São Francisco, com o estabelecimento dos currais de gado e fazendas de criação, no vasto interior do Estado, subindo os vaqueiros os afluentes da margem esquerda e, uma vez descobertas as suas nascentes, transpuseram os seus divisores d’água e alcançaram os cursos dos rios da bacia do Atlântico, pelos quais desceram.” (CINTRA, 1984: p. 46 – 47)

Nessa época, entre 1825 e 1832, período em que acontecia o movimento pela independência do Brasil, por conta de uma seca, viu aos poucos exaurir grande parte de seus bens, principalmente o gado, sendo socorrido com aquilo que era enviado por um de seus filhos da Paraíba, o Pe. José Rodrigues Valença.
Antes disso, com o dinheiro enviado por esse filho, para acomodar os seus poucos bens e a sua família, adquiriu uma propriedade denominada de Fazenda Velha pela quantia de 200$000, duzentos mil réis, ao Capitão Antônio Machado Dias.
Ainda nesse tempo, não sabemos por qual motivo, resolveu mudar parte de seu nome, que era José Rodrigues da Cunha, adotando em sua nomenclatura o nome da cidade em que nasceu, “Valença”.

“De 1815 a 1822 as capitanias do Nordeste foram agitadas pelos movimentos patrióticos dos brasileiros em favor da independência. Pombal e Souza, na Paraíba, ficam no vale do Rio do Peixe ou das Piranhas, que vai desaguar no litoral do Rio Grande do Norte, com o nome de Açu. Essa região paraibana do Rio do Peixe também esteve em ebulição e aí habitavam muitos portugueses que se retiraram de lá e vieram para o Brejo da Madre de Deus, Cimbres e Pesqueira. Pouco antes de 1830, o lugar SANTA CRUZ, onde ainda não chegara o rumor patriótico, veio do Brejo da Madre de Deus, José Rodrigues da Cunha, por intermédio do seu velho conhecido José Venâncio de Benevides Falcão. Ele deixou o cognome de Cunha e juntou ao seu nome Valença, cidade portuguesa donde viera.” (GENEALOGIA VALENCIANA. Disponível em http://valencadominho.forumeiros.com/t453-genealogia-valenciana. Acesso no dia 7 de junho de 2019)

Essa mudança de região, algo muito comum naqueles tempos, principalmente quando ocorriam as estiagens, foi motivada por José Venâncio da Cunha Benevides, um velho conhecido, que possivelmente até possua laços de parentesco, conforme relato existente no cartório de Garanhuns:

“Dos depoimentos prestados por Joaquim Pedro de Almeida, com 49 anos de idade, casado, agricultor, morador em Caldeirão, da freguesia de São Bento, desde 1838, e de Francisco Rodrigues Valença, filho do velho José Rodrigues Valença, com 66 anos de idade, casado, fazendeiro e morador em São Bento, em uma ação de reclamação movida pelo Major Bento José Alves de Oliveira, em 1864, cujos autos são do 2º cartório de Garanhuns, constata-se o seguinte: O Capitão José Rodrigues Valença chegou a São Bento em companhia da esposa e do filho Francisco Rodrigues Valença. O velho estava tão pobre que o próprio filho disse: ‘que se não fosse a caridade de José Venâncio de Benevides Falcão, falecido em 1840, e os recursos que lhe enviava o seu filho, Pe. José Rodrigues Valença, do Rio do Peixe, onde morava, ele teria morrido de fome.'” (CINTRA, 1984: p. 55)

Depois de estabelecido, voltando a prosperar por conta das boas estações climáticas, resolveu investir na construção de uma capela dentro dessa propriedade, algo que gerou controvérsia com José Clemente da Rocha, um de seus vizinhos, prevalecendo o seu desejo por conta do fato de seu filho migrar da Paraíba e regularmente celebrar em um oratório existente na propriedade.

Imagem do local onde foi construída a capela, hoje Matriz de São Bento.

Antes disso, nessa região, andou missionando o Pe. Francisco José Correia, de Bezerros, que sugeriu aos colonos a construção de uma capela sob a invocação do Senhor Bom Jesus Pai dos Pobres, marcando o local com uma cruz.

“Estes versos são alusivos à fundação da respectiva matriz, sob a invocação do Senhor Bom Jesus dos Pobres, o qual teve princípio em 1831. Havia divergência entre José Clemente da Rocha… e o Capitão José Rodrigues Valença, progenitor dos valenças, acerca do lugar em que se deveria colocar aquela igreja, querendo o primeiro que fosse na propriedade Santa Cruz, e o segundo que ela se erigisse em São Bento, que lhe pertencia, por compra feita ao Capitão Antônio Machado Dias, e que pelo lado do poente está muito perto dessa outra… Como o Padre José Rodrigues Valença, um dos protetores deste lugar, onde de 1838 e 1848, ensinou latim, com reconhecido aproveitamento de um grande número de discípulos, dos quais parte se formou, parte seguiu o estado clerical, morasse naquela época com seu pai, o Capitão José Rodrigues Valença, na sua propriedade de São Bento, bem antes do acabamento da igreja celebrava o santo sacrifício da missa, o povo que concorria para este ato religioso, costumava dizer: vamos ouvir missa em São Bento. Desta particularidade foi que se originou o nome de São Bento, para tal povoado, desaparecendo o primitivo de Santa Cruz.” (GONÇALVES DE MELLO,  1977: Diário de Pernambuco e a História Social do Nordeste (1840-1889). p. 773)

Mais tarde, em data ainda incerta, veio a óbito no Município de São Bento do Una, no Estado de Pernambuco.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BARBALHO, Nelson. Cronologia Pernambucana: Subsídios para a história do Agreste e do Sertão – (1825-1828). Volume 15. Centro de Estudos de História Municipal, Fundação de Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco, 1984.
  2. CINTRA, Ivete de Morais. Gado Brabo de Senhores e Senzalas. Centro de Estudos de História Municipal. Recife: Fundação de Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco, 1988.
  3. CINTRA, I. M.; PAIVA, Adalberto; FIRMINO, João. São Bento do Una: Formação Histórica. Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 1984.
  4. GONÇALVES DE MELLO, José Antônio. Diário de Pernambuco e a História Social do Nordeste (1840-1889). Seleção comemorativa ao sesquicentenário do Diário de Pernambuco. Disponível em https://archive.org/stream/dipern1940vol2/dipern1940vol2_djvu.txt. Acesso no dia 2 de outubro de 2019.
  5. TERRAS DE BARAÚNAS. Cosma Caluête. Disponível em http://terrasdebaraunas.blogspot.com/2015/06/cosma-caluete.html. acesso no dia 7 de junho de 2019.