José Ribeiro e Silva

José Ribeiro e Silva nasceu no dia 13 de setembro de 1844 no Município de Quixeramobim, que está localizado no Sertão Central do Estado do Ceará, distante 203 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Antônio Ribeiro e Silva e de Maria Joana Ribeiro Lima
Os seus avós paternos se chamavam Luciano do Nascimento e Silva e Anna Rosa Ribeiro, já os maternos eram Francisco Alves de Lima e Ana Clara da Conceição.
Pouco tempo depois do seu nascimento, em 6 de dezembro, seguindo o costume da confissão religiosa de seus pais, recebeu o sacramento do batismo pelas mão do Pe. Francisco Jorge de Sousa.
Na época do seu nascimento a cidade de Boa Viagem, que também era conhecida pelo topônimo de “Cavalo Morto”, era apenas um pequeno povoado existente dentro dos limites geográficos do Município de Quixeramobim:

“Distrito criado com a denominação de Boa Viagem, ex-povoado de Cavalo Morto, pela lei provincial nº 1.025, de 18 de novembro de 1862. Elevado à categoria de vila com a denominação de Boa Viagem, pela lei provincial nº 1.128, de 21 de novembro de 1864, desmembrado de Quixeramobim.” (IBGE, 2000: Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017)

No dia 2 de dezembro de 1876, segundo informações existentes no livro B-01, pertencente à secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, página 148v, em um ofício celebrado pelo Pe. Francisco Ignácio da Costa Mendes, contraiu matrimônio com Maria da Conceição Ribeiro, sendo filha de Lucas Ribeiro do Nascimento e de Benedita Alves Cabral.
Desse casamento foram gerados dez filhos, cinco homens e cinco mulheres, sendo eles: Luís Ribeiro e Silva, João Ribeiro e Silva, Viremont Ribeiro e Silva, Manoel Ribeiro e Silva, Jovita Ribeiro e Silva, Joaquim Ribeiro e Silva, Maria Ribeiro e Silva, Luziânia Ribeiro Gomes e Amélia Ribeiro e Silva.
Era abolicionista e segundo registros foi um dos fundadores da Sociedade Libertadora de Boa Viagem, que foi uma entidade filantrópica que congregava aqueles que queriam por fim à escravidão, conforme registro a seguir:

“Era impossível que o Município de Boa Viagem continuasse por mais tempo estacionário, sem receber um impulso do magno e generoso movimento libertador que se desenvolve, estendendo-se por todos os ângulos da Província. Omnia tempus habent. Era pois chegada também a vez de Boa Viagem tomar um lugar, embora dos últimos, no grande festim da liberdade. No dia 1º de Julho, reunidos no salão da municipalidade, diversos cavalheiros dos mais prestantes da localidade, a convite do Revmo. Vigário da freguesia, e presente grande número de senhoras, instalou-se uma sociedade denominada Libertadora de Boa Viagem, cujo fim será promover, por todos os meios legítimos, a libertação do Município… O presidente declarou instalada a sociedade, apresentando 17 cartas de liberdade, todas oferecidas espontaneamente, dos quais 7 foram oferecidas pelo Capitão Antônio Sabino de Araújo, sendo declarados libertos os seus últimos escravos: Maria, Maria, Magdalena, Anna e Francisca; 2 por parte de sua digna mãe, D. Maria Sabina da Conceição, concedendo liberdade aos seus dois últimos escravos: João e Luíza; e 1 por parte de sua irmã, D. Maria de Jesus Araújo, a sua única escrava, Raymunda; 3 oferecidos pelo prestante cidadão Joaquim Cavalcante Bezerra, libertando as suas escravas: Benedicta, Galdina e Águeda; 2 pelo Capitão Vicente Alves da Costa, concedendo liberdade aos seus dois escravos: Caetano e Nicácio; 1 pelo cidadão José Rabêlo e Silva, libertando a sua escrava Maria; 1 pela digna professora pública dessa vila, D. Joaquina Beleza de Macêdo Nogueira, libertando a sua única escrava,  Joana; 1 oferecido pelo cidadão João Lobo dos Santos, dando liberdade a sua escrava Alexandrina e finalmente 1 oferecido pelo cidadão Manoel Mendes Machado. São poucos os escravos que restam no Município, talvez não excedam a 40. Mas a sociedade não conta com bastantes recursos para acelerar, como desejara, a sua completa extinção. Entretanto, convencidos como já devem estar os senhores de que improfícua será a resistência que por ventura poderão opor, serão levados a libertar voluntariamente os poucos que ainda restam. E prazam a Deus que se realizem as aspirações do digno presidente da Libertadora de Boa Viagem, isto é, que brevemente possamos dizer por nossa vez a Província: não há mais senhores e nem escravos no Município de Boa Viagem.”

Essa agremiação antiescravagista, que foi fundada no dia 1º de julho de 1883, recebeu publicidade de seus atos através de uma nota publicada no periódico O Libertador, ano 3, nº 162, de 28 de julho de 1883, e tinha o seu nome na função de 1º secretário em sua diretoria.
Durante anos foi o estafeta responsável pelo serviço postal do Município de Boa Viagem, passando essa responsabilidade, alguns anos mais tarde, para as suas herdeiras.
Em sua residência recebia as encomendas postais da população e semanalmente, costumeiramente às sextas-feiras, dependendo da demanda, recolhia o malote enviado da cidade de Fortaleza na cidade de Quixeramobim, fazendo esse percurso a cavalo.
Segundo algumas notas contidas no jornal a Esquerda, ano 1928, página nº 4, edição nº 49, geralmente, na capital do Estado, os correios anunciavam aos interessados, nos periódicos em circulação, o dia e o horário em que o malote estava sendo fechado e o destino da mala postal:

“O correio da estrada de ferro de Baturité expedirá malas sexta-feira: Damas, Barro Vermelho, Mondubim, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Guaiuba, Água Verde, Acarape, Redenção, Canafístula, Aracoiaba, Putiú, Baturité, Coité, Mulungu, Caridade, Canindé, Riachão, Castro, Caio Prado, Junco, Quixadá, Laranjeiras, Floriano Peixoto, Francisco de Hollanda, Uruquê, Quixeramobim, Senador Pompeu, Afonso Pena, Sussuarana, Iguatu, José de Alencar, Cedro, Lavras, Ingazeiras, Lagoinha, São Pedro do Cariry, Várzea Alegre, Maria Pereira, Tauhá, Arneiroz, Boa Viagem, Independência, Vertentes, Novo Oriente, Cratheús, Telha, Tamboril, Missão Velha, Goianinha, Porteiras, Milagres, Brejo dos Santos, Joazeiro, Crato, Jardim, Barbalha, Maurity e Novo Exu. Fechamento das malas: Ordinária – às 20 horas. Registrada – às 19 horas. Aos domingos as malas se fecharão às 11.30, e, nos feridos, às 12.30 horas, caso não haja serviço extra.”

Logo após a Proclamação da República, acontecida no dia 15 de novembro de 1889, foi indicado pelo Governo Estadual para compor o Conselho de Intendência do Município entre o dia 14 de fevereiro e o dia 11 de agosto de 1890.

Imagem da Família Ribeiro e Silva.

Conforme as informações fornecidas no dia 20 de outubro de 1891 pelo jornal O Estado do Ceará, edição nº 349, por um ato do Governo do Estado, alegando motivos de incompatibilidade, visto que assumiu o comando da delegacia do Município, foi desligado da Intendência Municipal e em seu lugar assumiu Manoel Benício Bezerra de Meneses.
Pouco tempo depois, finda a incompatibilidade dessa função, recebeu uma nova indicação política e voltou a ocupar o Conselho de Intendência entre o dia 12 de setembro e o dia 15 de outubro de 1891 no lugar de Manoel Benício Bezerra de Meneses.
Nesse período, como membro do Conselho de Intendência do Município manteve constante correspondência com o Governo do Estado informando sobre a quantidade de escolas, igrejas e outros patrimônios públicos do Município; responderam relatório sobre obras públicas e a Comissão de Socorros; organizaram as mesas eleitorais para escolha dos deputados; reorganizaram a coleta de impostos.
Nessa legislatura os funcionários públicos passaram meses sem receber os seus pagamentos e ocorreu a autorização para formação de uma Guarda Municipal, ocorrendo também algumas intrigas relacionadas a sua presidência, que era assumida mensalmente por um dos membros da intendência.

“Art. 1º – Até definitiva Constituição dos Estados Unidos do Brasil e do Estado Confederado do Ceará, ou antes, se assim convier, o poder municipal nesse Estado será exercido por um Conselho de Intendência Municipal, composto de cinco membros, sob a presidência de um deles, eleito na primeira sessão de cada mês…” (RIBEIRO, 2005: p. 12)

No dia 29 de maio de 1892 colocou o seu nome na disputa por uma das cadeiras do Poder Legislativo, onde conseguiu ser eleito para o mandato que teve início no dia 15 de outubro de 1892 e foi encerrado no dia 10 de junho de 1896.
Nesse período, juntamente com os seus pares, elegeu como intendente Manoel Benício Bezerra de Menezes, responsável pelo Poder do Executivo do Município.
Nessa legislatura, quando o Município de Boa Viagem atravessava os rigores de uma estiagem, seguindo o que previa o Projeto Pompeu-Sinimbú, juntamente com os seus companheiros de vereança acompanhou a última fase da construção da Casa de Câmara e Cadeia Pública, onde também passaria a funcionar a escola da vila; acompanhou a construção da base do Mercado Público Municipal Jessé Alves da Silva, que só foi concluído por volta de 1919; assinou o manifesto do desejo de instalação de uma linha de telégrafo para cidade de Boa Viagem, um verdadeiro avanço para época; acompanhou os trabalhos de assistência médica que atenderam às pessoas que sofriam por conta de uma epidemia de varíola que ocorreu no Município; promoveu a abertura de novas ruas e o melhoramento no saneamento e limpeza das ruas já existentes.
No dia 28 de agosto de 1897, em acordo com uma matéria publicada pelo periódico A República, ano  VII, número 189, compunha uma das cadeiras do Conselho Municipal de Educação.
Depois dessa legislatura, passando um tempo fora da vida pública, militando nos quadros políticos do PRF – o Partido Republicano Federalista, decidiu retornar para uma nova disputa eleitoral, onde foi reconduzido para o exercício do mandato que teve início no dia 10 de junho de 1904 e foi concluído no dia 10 de junho de 1908.
Segundo matéria publicada no Jornal do Ceará, edição do dia 22 de abril de 1904, nº 20, página 4, a disputa eleitoral que definiu os componentes dessa legislatura ocorreu no dia 1º de maio, uma eleição que ficou marcada em todo Estado por fraudes e violência, especialmente em Boa Viagem, onde segundo esse periódico José Rabêlo e Silva criou meios para garantir o sucesso eleitoral daqueles que apoiavam a Oligarquia Accioly.

Imagem do artigo de jornal.

Nessa legislatura, como ocorreu na anterior, participou da escolha do intendente municipal, cadeira que foi ocupada nesse período primeiramente por Francisco de Assis Marinho e logo depois por Manoel de Assis Marinho.
Em setembro de 1904, de acordo com uma nota emitida pelo Jornal do Ceará, edição nº 271, atendendo a um anúncio do farmacêutico Barros Leal, compartilhou de uma boa notícia com os leitores desse periódico conforme nota a seguir:

“José Ribeiro e Silva, Agente do Correio e Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Boa Viagem, por nomeação legal, etc. Tenho a honra e a satisfação de me dirigir a V. S. para lhe manifestar o meu reconhecimento pela cura de minha neta Alice com as pílulas de velame, fabricadas por V. S. [Ela] sofria há 8 meses [com] duas chagas; usou diversos remédios e sempre a se considerar o mal permanecente, quando deparei com o anuncio das referidas pílulas; mandei vir uma caixa e só com o uso desta restabeleceu-se.”

Essa carta provavelmente tenha sido divulgada nesse jornal com o patrocínio do farmacêutico José Antônio Barros Leal, que divulgava os seus produtos e utilizava a correspondência com os seus clientes para atestar a veracidade dos mesmos diante da comunidade.
Residiu com a sua família na cidade de Boa Viagem em uma bela casa que estava localizada na Rua Agronomando Rangel, s/nº, Centro, onde também mantinha uma agência postal dos correios.
No dia 18 de setembro de 1883, na qualificação do conselho dos guardas ativos do 52º Batalhão da Guarda Nacional de Boa Viagem, o seu nome figurava com a matrícula nº 27 no “Quarteirão da Vila”, onde era designado como guarda de linha, chegando ao posto de capitão algum tempo depois.
O 52º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional foi criado através do decreto nº 4.520, de 28 de abril de 1870, sendo desmembrado do Município de Quixeramobim e tinha como comandante o Tenente Coronel José da Silva Bezerra Júnior.

“A Guarda Nacional foi uma força paramilitar organizada por lei no Brasil durante o período regencial, em agosto de 1831, para servir de ‘sentinela da constituição jurada’, e desmobilizada em setembro de 1922. No ato de sua criação lia-se: ‘Com a criação da Guarda Nacional foram extintos os antigos corpos de milícias, as ordenanças e as guardas municipais.’ Em 1850 a Guarda Nacional foi reorganizada e manteve as suas competências subordinadas ao ministro da Justiça e aos presidentes de província. Em 1873 ocorreu nova reforma que diminuiu a importância da instituição em relação ao Exército Brasileiro. Com o advento da República a Guarda Nacional foi transferida em 1892 para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Em 1918 passou a Guarda Nacional a ser subordinada ao Ministério de Guerra através da organização do Exército Nacional de 2ª Linha, que constituiu de certo modo sua absorção pelo Exército.” (S.N.T)

Faleceu em data e local desconhecido e, depois das despedidas fúnebres que são de costume, teve o seu corpo sepultado por seus familiares em um mausoléu existente no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, Centro.

Mausoléu da Família Ribeiro.

Imagem do mausoléu da Família Ribeiro, em 2014.

BIBLIOGRAFIA:

  1. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1889-1930). ABC: Fortaleza, 1996.
  2. FERREIRA NETO, Cicinato. A Tragédia dos Mil Dias: A seca de 1877-79 no Ceará. Premius: Fortaleza, 2006.
  3. IBGE. Histórico do Município de Boa Viagem. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017
  4. PEIXOTO, João Paulo M. & PORTO, Walter Costa. Sistemas Eleitorais no Brasil. Brasília: Instituto Tancredo Neves, 1987.
  5. RIBEIRO, Valdir Uchôa. Conselhos de Intendência no Ceará. Fortaleza: Premius, 2005.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito Cícero Carneiro Filho – o Cordeiro, através da lei nº 80, de 28 de maio de 1966, uma das praças de nossa cidade recebeu a sua nomenclatura, denominação que foi desrespeitosamente alterada pela lei nº 127, do dia 18 de abril de 1969, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho.