Joaquim Bezerra da Costa Mendes nasceu no dia 26 de abril de 1845 no Município de Quixeramobim, que está localizado no Sertão Central do Estado do Ceará, distante 203 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Ignácio Mendes Guerreiro e de Joana Gomes da Silva.
Os seus avós paternos se chamavam José da Silva Bezerra e Joanna Baptista Guerreiro, já os maternos eram Luciano Alves da Costa e Joana Alves da Costa.
Alguns dias depois, em 18 de maio, seguindo o costume da confissão religiosa de seus pais, recebeu o sacramento do batismo pelas mãos do Pe. Francisco Jorge de Sousa.
Na época de seu nascimento, veio ao mundo pelas mãos de uma parteira na vila de Boa Viagem, que também era conhecida pela alcunha de “Cavalo Morto” e era apenas um pequeno povoado existente dentro dos limites geográficos do Município de Quixeramobim.
“Distrito criado com a denominação de Boa Viagem, ex-povoado de Cavalo Morto, pela lei provincial nº 1.025, de 18 de novembro de 1862. Elevado à categoria de vila com a denominação de Boa Viagem, pela lei provincial nº 1.128, de 21 de novembro de 1864, desmembrado de Quixeramobim.” (IBGE, 2010: Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017)
Sabemos pouca coisa de sua infância e juventude, sendo que o primeiro registro de sua vida encontramos no dia 30 de novembro de 1867, quando juntamente com os seus familiares, esteve presente na solenidade de ordenação de seu irmão, o Pe. Francisco Ignácio da Costa Mendes, que logo foi designado pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem.
Mais tarde, no dia 3 de novembro de 1874, juntamente com os seus familiares, partilhou a dura perda de um de seus irmãos, o Professor João de Araújo da Costa Mendes, um dos fundadores do Ateneu Cearense.
Alguns anos depois, se estabeleceu como comerciante na Rua Almeida Castro, nº 176, próximo à Praça da Redenção, na cidade de Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte.
Segundo relatos da época, nos primeiros meses de 1883, provavelmente dentro dos quadros da Loja Maçônica 24 de Junho e engajado com o movimento abolicionista, foi eleito presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense:
“Foi assim que nasceu, no dia 6 de janeiro de 1883, a ‘Sociedade Libertadora Mossoroense’. Entregue inicialmente à presidência provisória de Romualdo Lopes Galvão, a entidade logo recebeu a adesão dos homens e mulheres mais importantes da sociedade local, e pouco depois constituiu a sua diretoria definitiva, composta por Joaquim Bezerra da Costa Mendes, presidente, Romualdo Lopes Galvão, vice-presidente, Frederico Antônio de Carvalho, primeiro-secretário, e Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque, orador. O estatuto da sociedade era breve e definitivo, já que o seu único artigo, sem parágrafos, determinava taxativamente que ‘todos os meios são lícitos a fim de que Mossoró liberte os seus escravos’. Nessa ocasião existiam na cidade apenas 86 escravos, dos quais cerca de 40 foram alforriados poucos meses depois, no dia 10 de junho.” (DANNEMANN, 2013: p. 2)
Pouco tempo depois, no dia 30 de setembro de 1883, por decisão da Câmara de Vereadores daquele Município, foi declarada a libertação dos escravos, fato bastante comemorado pelo presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense:
“Ilustríssimos senhores presidente e vereadores da Câmara Municipal: A Sociedade Libertadora Mossoroense, por seu presidente abaixo-assinado, tem a honra de participar a V. Excia. que amanhã, dia 30 de setembro, terá lugar a proclamação solene da Liberdade em Mossoró. E, pois, cumpre-me o grato dever de convidar V.S. e seus respectivos colegas, representantes do Município, para que se dignem de tomar parte nessa festa patriótica que marcará o dia mais augusto da cidade e do Município de Mossoró. A emancipação mossoroense é obra exclusiva dos filhos do povo; a esmola oficial não entrou cá. Sua Majestade, o Imperador, quando lhe comunicamos a próxima libertação do nosso território, foi servido de enviar a dizer-nos pelo senhor Lafayette, presidente do Conselho de Ministros, que nos agradecia. A libertação está feita e ninguém apagará da história a notícia do nosso nome. Os mossoroenses são dignos de serem olhados com admiração e respeito, hoje e daqui a muito tempo, por cima dos séculos. A Sociedade Libertadora Mossoroense se congratula com V. Excia. por tão faustoso acontecimento. Deus guarde a V.S., ilustríssimo senhor Romualdo Lopes Galvão, digno presidente da Câmara Municipal desta cidade de Mossoró. O presidente, Joaquim Bezerra da Costa Mendes.” (DANNEMANN, 2013: p. 2)
A solenidade de publicação dessa decisão foi acompanhada de perto pela sociedade mossoroense, que enfeitou a cidade no intuito de festejar aquela grande vitória.
Depois disso, encerrada a sessão, as comemorações festivas tomaram conta da cidade, prolongando-se pelo restante do dia.
Nessa ocasião foi criado também o “Clube dos Spartacos”, uma sociedade filantrópica que era composta na sua maioria por escravos libertos e cuja destinação principal era a de amparar e abrigar os companheiros de sofrimento que conseguiam fugir de seus donos e procuravam aquela região para iniciar uma nova vida.
Toda essa agitação aconteceu cerca de cinco anos antes que a Princesa Isabel assinasse a famosa “Lei Áurea”, acabando de vez com a escravidão em todo o território nacional.
A partir do dia 30 de setembro de 1883, essa data passou a ser comemorada como a grande data cívica da cidade de Mossoró, especialmente depois do dia 13 de setembro de 1913, quando a lei nº 30 decretou que ela passaria a ser feriado municipal:
“Os registros sobre esse episódio relatam que ‘foi um dia festivo aquele 30 de setembro. A cidade amanheceu com as ruas todas engalonadas de folhas de carnaubeiras e bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava todos os ares. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia no 1º andar do prédio da cadeia pública, onde funcionava a Câmara Municipal. O presidente da sociedade, Joaquim Bezerra da Costa Mendes, abriu a solene e memorável sessão, lendo em seguida diversas cartas de alforria dos últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado discurso, declarou ‘livre o Município de Mossoró da mancha negra da escravidão’.” (DANNEMANN, 2013: p. 2)
O seu nome esteve envolvido também na comissão que organizou a ampliação do Cemitério de São Sebastião, uma importante necrópole que existe na cidade de Mossoró, que desde 1863 já sofria com a necessidade de espaço.
Nas últimas décadas do século XIX a cidade de Mossoró começou a despontar como uma importante praça comercial, passando a atrair comerciantes de todo o Oeste da Província do Rio Grande do Norte e da Província do Ceará, principalmente da cidade do Aracati.
Mas esse espantoso crescimento comercial e urbano necessitava também de transformações na estrutura urbana da cidade, que aliado aos discursos de higienização da época contribuíam desde o início da década de 1870 para disciplinar o comércio local e reforçar a construção de obras que melhorassem a vida da cidade, entre elas um lugar para os mortos.
Nessa época, no dia 1º de maio de 1880, de acordo com às informações apresentadas em discursos pelo Dr. Rodrigo Lobato Marcondes Machado, presidente da Província do Rio Grande do Norte, temos conhecimento de que:
“Uma das causas que actuaram poderosamente para o péssimo estado sanitário de Mossoró foi o abandono dos cadáveres de milhares de victimas à flor da terra, quase insepultos. Não havia senão um pequeno cemitério feito para as necessidades ordinárias do lugar, e o enterramento já se fazia fora dos muros. O Sr. Dr. Manoel Hemeterio Rapôzo de Mello e o seu distinto companheiro de commissão Joaquim Bezerra da Costa Mendes começaram, logo em abril do ano passado, a construção de um grande cemitério, abrangendo, não só o terreno ocupado, como o necessário para não faltar em caso nenhum espaço às sepulturas que a morte fosse exigindo. Essa grande obra, com uma bonita capella logo na entrada, foi concluída dentro de pouco tempo, e determinou principalmente aquella rápida redução do obituario, de que já fallei a V. Exc.”
Depois disso, enfrentando graves problemas financeiros, decidiu abandonar a cidade de Mossoró e retornou com a sua família para cidade de Fortaleza:
“O seu grande apego pela causa redentora arruinou a sua casa comercial de estivas e compra de gêneros da região. Falido comercialmente, passou a residir na capital cearense, sem jamais esquecer a destacada posição exercida no movimento libertador deste Município.” (ROSADO & ROSADO MAIA. Disponível em https://colecaomossoroense.org.br/site/wp-content/uploads/2018/07/A-SAGA-DA-ABOLI%C3%87%C3%83O-MOSSOROENSE-III.pdf. Acesso no dia 15 de maio de 2015)
Nessa época, segundo o anúncio do dia 12 de fevereiro de 1881, publicado no jornal Gazeta do Norte, temos conhecimento de que passou a comercializar na capital cearense em uma casa comercial denominada de “Palhabote Cearense”, que estava localizada na Rua Formosa, nº 100, Centro, onde algum tempo depois funcionou o Colégio de São José.
“Continua vendendo milho novo, 64 litros garantidos, feijão e aguardente de 1ª qualidade pelo menor preço do mercado.”
De acordo com as informações publicadas no jornal Gazeta do Norte, nº 44, página 1, edição do dia 23 de fevereiro de 1886, foi nomeado pelo Governo da Província do Ceará para assumir a função de agente fiscal das oficinas, função que ocupou por um bom tempo.
No dia 2 de maio de 1890 foi nomeado amanuense da biblioteca pública de Fortaleza no lugar de João Pereira do Amaral e na mesma época ocupou algumas funções na Comissão de Socorros de Pacatuba.
No dia 21 de janeiro de 1891 foi surpreendido com a notícia do falecimento de um de seus irmãos, Manuel Teófilo da Costa Mendes, e alguns anos depois, no dia 1º de junho de 1900, juntamente com os seus familiares, lamentou a triste perda do seu estimado irmão, o Pe. Francisco Ignácio da Costa Mendes, que na época era o pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no Município de Meruoca.
Faleceu na cidade de Fortaleza, no dia 16 de abril de 1903, prestes a completar 58 anos de idade.
BIBLIOGRAFIA:
- CASCUDO, Luís da Câmara. Notas e Documentos para a História de Mossoró. Disponível em www.colecaomossoroense.org.br. Acesso no dia 15 de abril de 2012.
- COSTA, Almir Nogueira da. Mossoró Nossa Terra. Rio Grande do Norte: SESC, 2008.
- IBGE. Histórico de Boa Viagem. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=230240&search=ceara|boa-viagem|infograficos:-historico. Acesso no dia 13 de julho de 2017.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- NONATO, Raimundo. História Social da Abolição em Mossoró. 2ª edição. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 2008.
- O MOSSOROENSE. Lei nº 30 criou o feriado de 30 de setembro. Disponível em http://www2.uol.com.br/omossoroense/130906/conteudo/cotidiano.htm. Acesso no dia 13 de setembro de 2017.
- STUDART, Guilherme. ANTONIO CUNHA MENDES In: Dicionário Bibliográfico Cearense. 1º v. Edição Fac-simile. Fortaleza: SECULT, 2012, p. 72.
- STUDART, Guilherme. JOÃO DE ARAÚJO DA COSTA MENDES In: Dicionário Bibliográfico Cearense. 1º v. Edição Fac-simile. Fortaleza: SECULT, 2012, p. 450 – 451.
- ROSADO, Vingt-un; ROSADO MAIA, América Fernandes. A saga da Abolição Mossoroense. Disponível em https://colecaomossoroense.org.br/site/wp-content/uploads/2018/07/A-SAGA-DA-ABOLI%C3%87%C3%83O-MOSSOROENSE-III.pdf. Acesso no dia 15 de maio de 2015.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Uma das ruas da cidade de Mossoró, a antiga Rua das Flores, teve o seu nome alterado para Rua Bezerra Mendes;
- Na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, através da lei nº 818, de 12 de dezembro de 2002, uma das ruas do Bairro Alto da Queiroz, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura.
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