Jessé Alves da Silva nasceu no dia 8 de junho de 1939 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Sebastião Alves da Silva e de Delfina Vieira da Silva.
Os seus avós paternos se chamavam José Alves da Silva e Maria Delfina do Amor Divino, já os maternos eram Martins José da Silva e Francisca Vieira de Freitas.
Os seus pais eram provenientes do Município de Brejo dos Santos, que está localizado no Sertão do Estado da Paraíba, e fixaram residência no Município de Boa Viagem a partir dos primeiros anos da década de 1940 sendo motivados por uma forte onda de intolerância religiosa que ocorreu naquela época, e que lamentavelmente vitimou o seu avô paterno:
“Ao começar a demolição do templo os crentes que moravam próximos acordaram com o estrépito ensurdecedor dos predadores que agiam como vândalos descontrolados. Um dos presbíteros, José Alves da Silva, que era o patriarca de uma grande família que frequentava aquela igreja, não conformado com aquele barbarismo inconcebível foi reclamar daquela atitude. Os arruaceiros, com fúria infernal, bateram nele até deixá-lo gravemente ferido. Depois de alguns dias, não resistindo aos ferimentos, faleceu!” (OLIVEIRA, 1987: p. 106)
Os seus primeiros anos de vida foram marcados pelas constantes mudanças ocasionadas pelas intempéries de nosso clima, que faziam com que os seus pais, quase que constantemente, buscassem um local adequado para viver com dignidade.
Semelhantemente aos outros garotos de seu tempo, não tendo o privilégio de frequentar uma escola regular em sua primeira infância, a sua instrução acadêmica foi informal e possível graças ao interesse de seus pais em contratar uma professora particular.
Sendo educado em um lar profundamente piedoso, desde cedo, pôde contemplar a conduta cristã de seus pais e esse comportamento infundiu em seu espírito um forte temor a Deus.
Frequentemente os seus pais, que costumavam residir na zona rural do Município, conseguiam reunir a sua numerosa família e vizinhos em sua residência no intuito de realizar cultos de adoração ao Altíssimo, sendo acompanhados como ponto de pregação da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira.
Nos últimos meses de 1956, logo após a prematura morte de um de seus queridos irmãos, os seus pais decidem fixar residência na cidade de Boa Viagem na esperança de receber uma melhor assistência eclesiástica e social:
“Em 1955 uma morte prematura marca a vida dessa família, um de seus filhos, Martins Alves da Silva, de apenas 17 anos, cursando o primeiro ano de Bacharelado em Teologia no Seminário Teológico Congregacional do Nordeste, é acometido de uma terrível doença, o câncer. Em seu dormitório, na cidade do Recife, recebe uma pancada na perna direita que mais tarde veio a se originar em uma doença maligna. O período de convalescença foi sentido por toda a família. O seminarista, por medo, não quis aceitar a opinião médica de amputação. Conta-se que seus últimos dias foram marcantes sobre a terra. Os seus contemporâneos afirmam que Martins era um jovem que fazia sentir a presença de Deus, as pessoas que o vinham confortar saiam admirados com a confiança que ele possuía nos desígnios do Criador. Antes de sua morte chegou a preparar um grupo de pessoas para celebrarem cânticos de exaltação a Deus em seu velório, o seu enterro foi feito no cemitério da Várzea da Ipueira, foi uma despedida muito triste, ao ponto de seus familiares se desfigurarem em lágrimas. O testemunho do jovem Martins era muito apreciado na comunidade em que residia, tão marcante que, entre os amigos de confissão católica, foram feitos pedidos para que ele, depois de morto, rogasse a Deus por um copioso inverno. Coincidentemente, até esse dia, 26 de abril, a estação chuvosa parecia não começar, todos acreditavam que o ano seria de seca, mas, após a morte de Martins, depois que o seu corpo, dentro de uma rede, repousou no fundo da cova, veio um enorme temporal e todos regressaram para seus lares debaixo de uma forte tempestade.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 193-194)
A partir desse ano, com a organização eclesiástica da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem, passaram também a se constituir em uma importante coluna do trabalho protestante estabelecido na cidade de Boa Viagem.
Na cidade, juntamente com os seus outros irmãos, dividia parte do seu tempo nas lides do campo em uma pequena propriedade que foi adquirida por seus pais na localidade de Pitombeira, e em uma mercearia que estava localizada em um dos boxes do Mercado Público Municipal.
Era agropecuarista, comerciante e foi casado com Maria de Lourdes da Silva Alves, que nasceu no dia 11 de abril de 1944, sendo filha de Antônio Vieira da Silva com Raimunda Mendes da Silva.
Desse matrimônio foram gerados quatro filhos, três homens e uma mulher, sendo eles: Jersom Alves da Silva, Jecimá Alves da Silva, Jessé Alves da Silva Filho e Jedson Alves da Silva.
“No ano de 1959, passou esse destemido e benemérito empreendedor a dedicar-se ao ramo comercial, destacando-se na compra e venda de milho, feijão, mamona, oiticica e, sobretudo, algodão, quando a nossa terra figurava entre os dez maiores Municípios produtores dessa valiosa fonte de riqueza, que era o nosso ‘Ouro Branco’. Com o seu carisma, amizade e confiança de seus concidadãos, obteve ele tamanho êxito que, em pouco tempo, superou os antigos comerciantes, como: Walkmar Brasil, Antônio Carneiro, Josa Pinto, dentre outros.” (MARINHO, 2014: p. 111)
Durante muitos anos residiu com a sua família na Rua 26 de Junho, s/nº, esquina com a Rua Padre Mororó, no Centro da cidade de Boa Viagem.
Mais tarde, com a proximidade do pleito eleitoral que ocorreu no dia 15 de novembro de 1976, teve o seu nome cotado para disputar o Poder Executivo municipal, porém abriu mão dessa indicação em favor de seu irmão, Benjamim Alves da Silva, que nessa época era o presidente da Câmara Municipal de Vereadores.
No dia 30 de maio de 1977, foi surpreendido pelo trágico falecimento de seu irmão, Samuel Alves da Silva, com quem empreendia uma sociedade que trazia gado para o FRIFOR – o Frigorífico Industrial de Fortaleza:
“Nessa oportunidade o veículo era conduzido por um inexperiente motorista, de apenas 23 anos de idade, visto que não sabia dirigir e provavelmente estava bastante cansado da enfadonha viajem. O seu caminhão Mercedes Bens 1113, de cor vermelha, sofreu um grave acidente frontal envolvendo uma caçamba que estava carregada de arroz, nesse desastre todos os envolvidos vieram a óbito.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível em www.historiadeboaviagem.com.br. Acesso em 31 de maio de 2016)
Pouco tempo depois desse fato, no dia 24 de novembro de 1979, recebeu a notícia do falecimento de seu sobrinho, Hélio Alves da Silva, que por coincidência também faleceu em um desastre automobilístico:
“Sozinho em sua cabine, trafegando pela Rodovia Estadual CE-060, conhecida como “a rodovia do algodão”, quando voltava da cidade de Juazeiro do Norte, ao atingir a localidade de Sítio Bravo, prestes a entrar na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, o seu veículo sofreu um gravíssimo desastre.” (SILVA JÚNIOR, 2010: Disponível em www.historiadeboaviagem.com.br. Acesso em 31 de maio de 2016)
Algum anos depois, no dia 27 de setembro de 1988, juntamente com o Dr. Francisco Segismundo Rodrigues dos Santos Neto e outros acionistas, efetivou o projeto de implantação de uma rádio AM na cidade de Boa Viagem, que recebeu o nome de Rádio Liberdade e tinha por objetivo combater o posicionamento ideológico e político da única emissora de rádio da cidade, a Rádio Asa Branca, pertencente ao grupo político de José Vieira Filho.
“Foi fundada pelo Dr. Francisco Segismundo Rodrigues dos Santos Neto, tendo outros sócios: Fernando Antônio Vieira Assef, Francisco Gomes Maciel, Hozano Melo Cavalcante, Francisco Valdeni Vieira da Silva, Adelmo Vieira de Freitas, José Mendes Vieira, Manoel Vaz Filho, Francisco Andrade Teófilo Girão, Francisco Valter Silva e Jessé Alves da Silva.” (NASCIMENTO, 2002: p. 243)
Nesse ano, depois do rompimento com o grupo político do Deputado José Vieira Filho, deu incondicional apoio ao projeto político de seu irmão em retomar à cadeira de prefeito do Município de Boa Viagem.
Nessa época, depois da vitória política de seu irmão, juntamente com o seu cunhado, Adelmo Vieira de Freitas, protagonizaram a organização de inesquecíveis vaquejadas e exposições no Parque de Vaquejadas e Eventos Joaquim Vieira de Lima.
No dia 20 de janeiro de 1990, juntamente com toda a sua família foi surpreendido pelo repentino falecimento de seu pai.
Alguns anos mais tarde, mesmo sofrendo com a cegueira por conta da diabetes, procurava manter o mesmo respeito de outrora como homem empreendedor. Quando concretizava um negócio, fazia questão de colocar a sua assinatura pedindo ao seu acompanhante para que colocasse a sua mão esquerda sob a linha, e com a mão direita escrevia sob o dedo polegar no contrato.
Ainda nesse período, quando comprava gado, para o espanto de todos, ao passar a mão no animal, era capaz de dizer o seu peso.
Faleceu na cidade de Fortaleza, aos 68 anos de idade, no dia 18 de junho de 2007.
Depois do seu falecimento o seu corpo foi trazido para cidade de Boa Viagem, onde foi velado no templo da Igreja Evangélica Boa-viagense e conseguiu reunir uma grande quantidade de amigos e familiares para o seu culto fúnebre, que foi celebrado pelo Rev. Ezequiel Fragoso Vieira.
Logo após a cerimônia o seu corpo foi levado para o mausoléu da família que existe no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, Centro.
BIBLIOGRAFIA:
- CARNEIRO, Osmar de Lima. Fotografando o Amor. História de uma igreja perseguida. João Pessoa: JRC, 2006.
- CARNEIRO FILHO, David Vieira. A Perseguição aos Protestantes em Catolé do Rocha. Boa Viagem: Sem Editora, 2008.
- FRAGOSO VIEIRA, Ezequiel. A História da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem. Boa Viagem: Sem Editora, 1997.
- MARINHO, Antônia de Lima. A Filha do Nordeste e Frutos Nordestinos. Boa Viagem: MAXIMU’S, 2015.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- OLIVEIRA, Josué Alves de. Vocação e Projeção. Santos: A Tribuna de Santos, 1987.
- SANTANA FILHO, Manoel Bernardino de. Viagem ao Nordeste. O CRISTÃO. Rio de Janeiro, 1996. p. 12.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Samuel Alves da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/samuel-alves-da-silva/. Acesso no dia 30 de abril de 2016.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Hélio Alves da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/helio-alves-da-silva-2/. Acesso no dia 30 de abril de 2016.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, através da lei nº 972, de 27 de setembro de 2007, o Mercado Público da cidade de Boa Viagem recebeu a sua denominação e uma herma com a sua imagem;
- Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho, através da lei nº 985, de 19 de dezembro de 2007, uma das ruas que se estendem pelos Bairros Alto do Motor e Vila Azul, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura;
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, através da lei nº 1.091, de 28 de março de 2011, orientado pelo Ministério Público através do Promotor Dr. Marcus Vinícius Amorim de Oliveira, por força da lei nº 6.454, de 24 de outubro de 1977, que trata sobre a proibição da utilização do nome de pessoas vivas em edifícios públicos, bem como no que está escrito na Lei Orgânica do Município, a Escola de Ensino Fundamental Maria Helena Diniz França, que está localizada no Bairro Recreio, teve o seu nome alterado para Escola de Ensino Fundamental Jessé Alves da Silva:
“Art. 14 – É vedado ao Município: VIII – Atribuir nome de pessoa viva a rua, praças, logradouros públicos, pontes, viadutos, reservatórios d’água, praças de esporte, estabelecimentos de ensino, hospitais, maternidade, auditórios, salas, distritos e povoados.”
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