Ednardo Rodrigues Brasil
O casamento consanguíneo é aquele que acontece entre parentes próximos, como tios e sobrinhos ou entre primos, por exemplo, o que pode representar risco para uma futura gestação devido a maior probabilidade de herança de genes recessivos responsáveis por doenças raras. Apesar de haver aumento da probabilidade de riscos associados ao casamento entre primos, nem sempre isso acontece.
Era sobre esse assunto que, na missa de domingo, Padre Ricardo tratava em sua homilia, sob os ouvidos e olhares atentos dos fieis presentes à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, da cidade de Madalena. Como era comum, naquele dia, estava ali toda a comunidade católica madalenense.
Ricardo era um americano que viera em missão àquela localidade, em meados dos anos 1990, e por lá permanece até hoje, mesmo aposentado da função de pároco como a comunidade de Boqueirão fazia parte da Paróquia de Madalena, padre Ricardo visitava com frequência nossa localidade. Era uma figura querida, mesmo não podendo ser considerada simpática. Era duro em seus sermões e não hesitava em expor a realidade, doesse em quem doesse.
Voltando à pregação daquele domingo, referido no início deste texto, o padre alertava sobre os riscos dos casamentos consanguíneos, dando ênfase às possibilidades dos filhos gerados por esse tipo de união nascerem com deformações.
Enquanto a maioria dos presentes ouvia atentamente os conselhos do capelão, alguém na audiência parecia incomodado com aquele assunto. Era Duda, um dos vários filhos de Aderaldo, que eram reconhecidos pela população daquela pequena urbe por serem desprovidos de beleza. Apesar do conceito de belo ser subjetivo, era unanimidade entre os moradores dali que os filhos de Aderaldo eram, realmente, feios.
Em meio ao sermão, para espanto de todos, Duda levantou-se e ousou discordar veementemente do vigário:
– Padre, eu não concordo com o senhor! Meu pai e minha mãe são primos legítimos, tiveram vários filhos e nós nascemos todos normais!
Padre Ricardo nem corou. Dirigindo-se ao seu interlocutor, argumentou, pacientemente:
– Filho, tu achas que com uma feiura dessa, vocês são normais?
Naquele momento, quebrou-se todo o protocolo religioso. As pessoas saíam, aos risos, pelas portas laterais do templo; os que permaneceram escondiam a cabeça entre as mãos ou no banco da frente. Depois de vários minutos, finalmente, a normalidade voltou. A Missa prosseguiu, mas sem a presença de Duda e sua família, que deixaram o local inconformados.
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