Eládio Alves da Silva nasceu no dia 11 de março de 1925 no Município de Catolé do Rocha, que está localizado no Sertão paraibano, distante 411 quilômetros da cidade de João Pessoa, sendo filho de Belízio Alexandre dos Santos e de Regina Alves da Silva.
Os seus avós paternos se chamavam Alexandre José dos Santos e Luíza Maria do Espírito Santo, já os maternos eram José Alves da Silva e Maria Delfina do Amor Divino.
Mais tarde, por volta de 1931, quando tinha apenas seis anos de idade, de forma inesperada, o seu pai faleceu e a sua vida sofreu uma enorme mudança.
Pouco tempo depois desse triste fato a sua mãe contraiu um novo matrimônio, dessa vez com Amâncio Estevam da Silva, que era filho de Luiz Xavier com Francisca da Silva.
O seu padrasto, que era um homem de temperamento muito rude, o adotou como filho em seu registro de nascimento e lhe deu uma educação muito rígida, algo que não podia ser interferido por sua mãe.
Nessa época, segundo alguns de seus contemporâneos, entre a sua infância e adolescência, algo comum nesse tempo, o único conforto conhecido por ele e seus irmãos era o “cabo da enxada”.
Na safra, passava praticamente o dia todo no roçado, na estiagem, nas frentes de serviço, que eram sustentadas pelo Governo Federal; e nas horas de folga, pelos caminhos escarpados por onde conduzia uma tropa de burros que pertencia ao seu padrasto.
“Nascido em Catolé do Rocha… seu pai morreu ainda jovem e não sabe precisar com quantos anos ele faleceu. A sua mãe casou novamente, dessa vez com Amâncio Estevam. Este era muito duro com meu pai, que aos seis anos de idade trabalhava na roça o dia inteiro e sofria muitas ameaças do padrasto, que segundo meu pai batia em sua mãe, minha avó Regina. Meu pai ficava com raiva e quando atingiu quinze anos resolveu trabalhar por conta nas frentes de trabalho contra as secas sustentadas pelo Governo do Estado. A intenção de conseguir esse dinheiro era ganhar liberdade do jugo de seu padrasto, que o ameaçava com um chicote caso não o entregasse o dinheiro.” (SANTOS, 2015: p. 1)
Em 1944, próximo de completar 19 anos de idade, insatisfeito em ter de entregar grande parte das suas poucas economias ao seu padrasto, decidiu sair de casa juntamente com um de seus irmãos e viver por conta própria.
Nessa época, residindo no interior do Estado da Paraíba, o protestantismo ganhava corpo graças ao empenho dos missionários da UESA – a União Evangélica Sul Americana, e a sua família foi um dos núcleos alcançados pela mensagem dessa confissão cristã.
“A UESA nasceu durante uma das célebres convenções de Keswick, na Inglaterra, onde os líderes das igrejas protestantes daquele país não se conformaram com a decisão tomada na Conferência Mundial de Missões Estrangeiras realizada em 1910, em Edimburgo, determinando excluir a América Latina da esfera missionária sob a alegação de que a região já vinha sendo cristianizada pela Igreja Católica Apostólica Romana, igreja de credo cristão.” (S.N.T)
Nos primeiros meses de 1946, sentindo-se vocacionado ao ministério pastoral, foi encaminhado por sua comunidade eclesiástica aos estudos teológicos no Instituto Bíblico de Fortaleza, o atual Seminário Teológico Congregacional do Nordeste, que na época funcionava na capital cearense, onde recebeu as noções propedêuticas do curso e de conhecimento geral.
“Meu pai contava que foi para o Seminário Teológico Congregacional ainda jovem, onde estudou por dois anos. Nessa época, quando entrou em férias, resolveu visitar o seu tio José dos Santos, onde conheceu a sua futura esposa.” (SANTOS, 2015: p. 1)
Nessa época, graças a uma forte amizade que havia conquistado de um pastor presbiteriano, que se chamava Rev. Pedro Bezerra da Silva, conseguiu a manutenção financeira para garantir os seus estudos.
Pouco tempo depois, oferecendo melhores condições para o seu funcionamento, o seminário mudou as suas instalações para cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco, e os seus alunos foram obrigados a seguir para o novo endereço:
“Em 1937, liderado pelo Rev. Herry Briault, florescia o campo evangelístico da Paraíba e, com o apoio da UESA, foi criado o Instituto Bíblico de Patos, onde prestaram colaboração vários pastores, entre os quais destacamos o Rev. Paulo Moody Davidson e o Rev. Percy Bellah. Em 1944 o IBP foi transferido para cidade de Fortaleza, mudando o nome para Instituto Bíblico Nordestino. Em 1949 ficou decidido que o Instituto Bíblico de Fortaleza seria transferido para o Recife e oficializado como instituição denominacional. Localizou-se a princípio na Avenida 17 de Agosto, no Bairro do Monteiro, tendo como diretor o Rev. Paulo Moody Davidson. Somente em 1952 foi adquirido o terreno com mais de 9.000 m² no Bairro Tejipió onde, em 1954, foi construído o atual prédio principal do Seminário.” (LEITÃO, 1984: p. 49)
Nos primeiros dias de julho de 1948, estando no período de férias, decidiu visitar um de seus tios paternos que morava no Município de Brejo dos Santos, localizado no Sertão paraibano, e lá conheceu uma de suas primas, de quem logo se afeiçoou.
Correspondido em seus sentimentos de afeto, não demorou muito para tomar coragem e pedir a bela jovem em casamento, algo que foi logo permitido.
Alguns meses depois desse pedido, no dia 3 de novembro de 1948, conforme informações existentes no Cartório Olímpio Maia, que está localizado na Avenida Venâncio Neiva, s/n°, Centro, na cidade de Brejo dos Santos, contraiu matrimônio com Dinalva dos Santos, que era nascida no dia 15 de maio de 1932, sendo filha de José Santos Filho e de Joana Carolina dos Santos.
“Meu avô, José Santos filho, era filho do ‘Padim Santo’, ou José Alexandre dos Santos, que tinha quatro filhos: José Santos Filho, Porcina Luiza dos Santos, Belizio Alexandre dos Santos e Ana Luiza do Amor Divino.” (SANTOS, 2015: p. 1)
Desse matrimônio foram gerados 11 filhos, cinco mulheres e seis homens, sendo eles: Diosdete Alves dos Santos, Divanira Alves dos Santos, Deonides Alves dos Santos, Edinaldo Alves dos Santos, Edmílson Alves dos Santos, Edílson Alves dos Santos, Deuselite Alves dos Santos, Edvaldo Alves dos Santos, Dejacyra Alves dos Santos, Erivaldo Alves dos Santos e Erivan Alves dos Santos.
Sendo inexperiente com a vida conjugal, sem possuir um mínimo de orientação sobre planejamento familiar, logo teve de optar entre os estudos e o trabalho para sustentar os seus filhos.
Nessa época passava parte do ano na cidade do Recife, longe de sua esposa, e nas férias voltava para o Estado da Paraíba, mantendo nesse tempo a residência fixa no Município de Brejo dos Santos na companhia de seu sogro, que era comerciante e possuía uma pequena propriedade rural.
Nos últimos anos da década de 1950, intensificando-se uma forte onda de perseguição movida pela intolerância religiosa contra os protestantes da região, muitos deles decidiram migrar de suas terras para outras partes do país.
Ainda nessa época, sendo a densidade demográfica do Estado da Paraíba muito alta e o preço das terras agricultáveis da região caríssimas, a família de seu sogro optou por migrar para o Estado do Ceará, onde o preço das terras eram mais em conta com aquilo que poderiam pagar.
Naquela época o Estado do Ceará era uma unidade da República Federativa do Brasil que tinha vários atrativos para o povo paraibano: possuía uma baixa taxa de densidade demográfica, preços baixos e fertilidade do solo suficiente que só era afetado em períodos de longa estiagem.
Nos últimos messes de 1951 o seu tio e sogro, que já conhecia o Município de Boa Viagem, resolveu voltar ao Sertão cearense instalando-se na zona rural desse Município em uma localidade denominada de “Catirina“, que está localizada dentro da área territorial do Distrito de Poço da Pedra.
Mais tarde, nos primeiros dias de março de 1952, decidiu também aventurar-se do Estado da Paraíba em uma visita ao seu sogro, que já estava bem estabelecido no Estado do Ceará.
Agradando-se do local visitado, prontamente resolveu se estabelecer com a sua família na propriedade do seu sogro e nesse mesmo tempo conciliava o trabalho no campo com as atividades evangelísticas nas localidades de Lembranças e de Madeira Cortada, que nessa época eram assistidas pela Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira.
“Meu pai, mesmo não conseguindo concluir o seu curso de teologia, tomou conta de pequenas congregações, sendo a primeira delas em Marizópolis, depois em Currais Novos e em seguida Caicó. Recebendo um mísero ordenado, tinha a responsabilidade de sustentar cinco filhos, daí passou a trabalhar como mascate, vendedor ambulante que também era chamado de ourives, viajando constantemente para cidade de Juazeiro do Norte, onde comprava suas mercadorias.” (SANTOS, 2015: p. 2)
Nos primeiros dias de janeiro de 1953, poucos meses depois de estabelecido no Município de Boa Viagem, recebeu o convite de pastorear a Igreja Evangélica Congregacional de Marizópolis, que na época estava localizada em um pequeno Distrito pertencente ao Município de Sousa, no Estado da Paraíba.
Nessa época, no meio congregacional, por necessidades do campo, era comum jovens seminaristas assumirem as responsabilidades pastorais de uma comunidade enquanto aguardavam concluir os seus estudos, para em seguida receberem a ordenação eclesiástica da Convenção Denominacional do Nordeste.
Aceitando o agradável desafio, partiu na frente deixando os seus filhos e a sua esposa, que estava de resguardo, na companhia de seu sogro, conseguindo finalmente reuni-los em março de 1953.
No anos seguinte, surge um novo desafio eclesiástico, quando a convite do Rev. Pedro Bezerra da Silva é indicado ao pastoreio da Igreja Presbiteriana de Caicó, um próspero Município localizado no Estado do Rio Grande do Norte.
“No Rio Grande do Norte a Igreja Presbiteriana chegou pelo interior em 1885 pelas mãos do Rev. De Lacy Wardlaw. Podemos dizer ainda que o berço da Igreja Presbiteriana do Brasil em terras Potiguares foi Mossoró. Em 1887 o Rev. Wardlaw visita Natal, mas só em 1895 é que a nossa capital passou a ter um pastor definitivo, o Rev. William Calvin Porter… Pouco tempo depois estabeleceu-se no Sertão do Rio Grande do Norte as congregações de Macaíba, Curumataú, Penhas, Assú, Arês, Angicos, Goianinha, Canguaretama, Fazenda Bola, Baixio, Mossoró, Ceará-Mirim, São Miguel, Nova Cruz, Brejinho do Soter, Currais Novos, Flores, Caiada e Caicó… Na região do Seridó a Igreja Presbiteriana chegou por volta de 1899, tendo se instalado na cidade de São Miguel do Jucurutu… e depois na fazenda Baixio. Muitas outras personalidades fizeram e fazem a história recente da Igreja Presbiteriana de Caicó, como os pastores: Pedro Bezerra, Anselmo Rodrigues, Marcos Severo e Marcos José…” (DANTAS, 2016: Disponível em https://anselmosantana.com.br/2019/05/13/igreja-presbiteriana-de-caico-comemora-121-anos-de-evangelizacao/. Acesso no dia 13 de setembro de 2017)
Vale lembrar que, nessa época, devido ao forte avanço missionário protestante, existia uma parceria firmada entre os presbiterianos e os congregacionais, onde era comum pastores e seminaristas de uma denominação prestarem serviço a outra.
Pouco tempo depois, ainda entre os presbiterianos, por influência do Rev. Pedro Bezerra da Silva, recebeu uma nova designação, dessa vez para assumir os trabalhos da Igreja Presbiteriana de Currais Novos, ainda no Estado do Rio Grande do Norte.
Nos primeiros meses de 1958 decidiu retornar para zona rural de Boa Viagem, estabelecendo-se nas proximidades da casa de seu sogro, que nessa época era vaqueiro do General José Góes de Campos Barros na localidade de Guajiru.
“Havia muito queijo, muito leite e por conta daquele ano ser muito seco meu avô alimentava o gado com mandacaru assado no fogo. Pouco tempo depois o meu avô decidiu ir para o Paraná… e nós ficamos morando em uma casa de taipa escorada com uma forquilha de aroeira que o Sr. Manoel Sabino gentilmente nos cedeu.” (SANTOS, 2015: p. 2)
Algum tempo depois, em 1964, desejando dar oportunidade de estudo aos filhos, decidiu se estabelecer com a sua família na cidade de Boa Viagem, onde fixou residência na Rua Delfino Alves Pinheiro e Lima, s/nº, esquina com a Rua Antônio Domingues Álvares, no Bairro Vila Azul, onde se tornou um dos pilares da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem.
“Meu pai era presidente da Missão Evangelizadora e desbravava o sertão de Boa Viagem. Ele viajava muito, passando de 15 a 20 dias fora de casa. Até os dias de hoje encontro pessoas que conheceram o meu pai e sempre diziam: ‘O seu Eládio era muito educado, quando chegava em nossas casas e estávamos rezando o terço ou uma novena ele ficava ali observando respeitosamente.” (SANTOS, 2015: p. 2)
Ao ganhar a confiança das pessoas, aos poucos conquistou a liberdade de marcar cultos ao ar livre ou na casa de pessoas conhecidas em localidades como: Olho d’Água dos Facundos, Xique-Xique, Mandacaru, Poço da Pedra, Santa Terezinha e outros, onde costumava levar o Rev. Ezequiel Fragoso Vieira.
“Sempre alugavam um caminhão aos sábados e nele levavam os jovens… a igreja possuía um serviço de som movido a um gerador a óleo diesel, equipamento que tocava discos de vinil. Nos cultos era estendido um cordão de lâmpadas, algo incomum naquele sertão que não conhecia iluminação elétrica.” (SANTOS, 2015: p. 2)
Em um desses cultos pelo interior, interessado em sua animação, por falta de um motorista profissional, foi o responsável por assumir o volante, fato que por pouco não terminou em desastre.
“Uma vez o meu pai, por inexperiência no volante, quase cometeu um desastre com a rural da igreja. Ele foi dirigir o carro, pois não havia motorista e o pastor estava viajando. Na estrada que dá acesso a Fazenda Boa Ventura, o veículo deu um encosto na barreira e algumas pessoas ficaram feridas de leve, depois desse episódio ele nunca mais quis dirigir a rural.” (SANTOS, 2015: p. 2)
Estabelecido na cidade de Boa Viagem, decidiu abrir uma pequena joalheria na Rua Agronomando Rangel, s/nº, Centro, nos fundos do antigo Posto Uirapuru, onde mantinha boa clientela.
Pouco tempo depois, em fevereiro de 1976, decidiu migrar com parte de sua família para cidade de Brasília, onde deu significativa contribuição para abertura de um trabalho congregacional na capital do país.
“Eu fique maior de idade e fui para Brasília-DF, onde vivi 15 anos, onde arte do período frequentei a Igreja Betel de Taguatinga e logo depois alguns irmãos congregacionais chegaram em Brasília, pessoas do Rio de Janeiro, do Ceará e de outros Estados. Com esse encontro decidimos nos reunir na Asa Sul SQS Plano Piloto, sempre em prédios alugados, até que fomos ajudados com ofertas e construímos um templo da Igreja Evangélica Congregacional no Plano Piloto. Lembro-me de alguns nomes como o Presbítero Acácio e sua família, que eram do Rio de Janeiro; o Rev. Hospirio e sua família, que eram da Paraíba; o Presbítero Eládio Alves da Silva, meu pai; Isaías Alves e sua família, da Paraíba; Antônio Paiva e Maria Pequena, sua esposa, irmã do Barrinha, de Boa Viagem, que não me lembro o nome correto, só sei que era da Barriguda, irmão do Major do Foto.” (SANTOS, 2015: p. 2)
Depois disso, no dia 3 de outubro de 1989, de forma inesperada, faleceu aos 64 anos de idade em Brasília, sendo sepultado pelos seus familiares no Cemitério Campo da Esperança, que está localizado na Asa Sul da cidade.
BIBLIOGRAFIA:
- DANTAS, Anselmo. Igreja Presbiteriana de Caicó comemora 121 anos de evangelização. Disponível em https://anselmosantana.com.br/2019/05/13/igreja-presbiteriana-de-caico-comemora-121-anos-de-evangelizacao/. Acesso no dia 13 de setembro de 2017.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SANTOS, Edinaldo Alves dos. Autobiografia. Boa Viagem: Texto não publicado, 2015.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Benjamim Alves da Silva, através da lei nº 558, de 22 de maio de 1992, uma das ruas que se estendem pelos Bairros de Nossa Srª de Fátima e Osmar Carneiro recebeu a sua nomenclatura.
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