José Terceiro de Sousa nasceu no dia 7 de julho de 1908 no Município de Boa Viagem, que está localizado no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará, distante 217 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo o primogênito entre os sete filhos do casal Alfredo de Sousa Terceiro e Maria Clotildes de Sousa Camelo, popularmente conhecida como “Cotinha”.
Os seus avós paternos se chamavam João de Sousa Terceiro e Joana Alves Ferreira, já os maternos eram Vicente Camelo de Sousa e Francisca Jorge de Sousa.
Na época em que nasceu o Município de Boa Viagem não dispunha de uma casa de parto, fato que obrigou aos seus pais a contar com os valiosos serviços de uma parteira na localidade de Pitombeira, onde passou grande parte de sua infância.
“Durante muitos anos, os únicos profissionais de saúde existentes em nossa região foram às parteiras, mulheres que normalmente recebiam esse aprendizado de forma hereditária, ou seja, a filha de uma parteira acompanhava a sua mãe no atendimento às mulheres em trabalho de parto auxiliando-a de acordo com as necessidades do momento, possibilitando, assim, após algum tempo de prática, o aprendizado para continuidade do ofício.” (SILVA JÚNIOR, 2016: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/saude/. Acesso em 25 de outubro de 2016)
Algum tempo antes do seu nascimento, logo que casaram, os seus pais residiam na Fazenda Barrigas e com muito esforço, contando com a ajuda dos seus avós, conseguiram fazer algumas economias no intuito de adquirir uma pequena propriedade rural.
Depois da compra de alguns hectares em Pitombeira, distante 17 quilômetros da cidade de Boa Viagem, o jovem casal passou a residir em uma pequena e rústica casa de taipa que já existia dentro de sua propriedade.
Logo que chegaram à nova residência as dores de parto já começaram a incomodar dona Cotinha e essa foi carinhosamente assistida durante toda a madrugada por mãe Candinha, afamada parteira daquela região.
No dia 11 de outubro, três meses depois do seu nascimento, obedecendo a ordenança do batismo, seguindo às tradições da Igreja Católica Apostólica Romana, os seus pais se deslocaram até a Capela de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Jerusalém, próximo a localidade de Várzea da Ipueira, no intuito de se encontrarem com o Mons. José Cândido de Queiroz Lima, pároco do Município.
Nessa ocasião, seguindo o costume da confissão religiosa de seus pais, os seus padrinhos foram Manuel Alves Ferreira e Francisca de Sousa Terceiro:
“Ao terminar o sacramento do batismo, Padre José Cândido bateu em sua cabecinha pelada e disse profeticamente: – Esse menino vai ser padre!” (BARROS LEAL, 1983: p. 142)
O pequeno José e a sua família viviam de forma espartana em Pitombeira, os seus pais incessantemente dedicavam-se ao cultivo da terra e a criação de animais e, por volta de 1912, graças a esses esforços, conseguiram ampliar a sua propriedade.
Com a expansão da área da fazenda, na intenção de conseguirem mais conforto, os seus pais decidiram se mudar para uma casa que ficava às margens da estrada carroçável que serve de acesso à cidade de Boa Viagem.
A nova casa escolhida para abrigar a família servia como ponto de referência para os tropeiros e viajantes que costumavam passar por ali para pedir informação ou refrescar a sede.
Entre esses viajantes, habitualmente, o pároco do Município costumava passar por aquela estrada no intuito de realizar os ofícios pastorais de sua comunidade e essas visitas serviram para o despertamento de sua futura vocação:
“Certo dia, pela manhã, Padre José Cândido passou, abençoou os compadres e afilhados e prosseguiu caminho até a Serra da Guia para uma confissão de hora da morte. Voltou à fazenda dos amigos ao escurecer do dia, trazendo a hóstia consagrada que o moribundo não tivera condição de receber. Após a sóbria ceia, pediu aos compadres para acenderem as velas do santuário e, de joelhos, rezou em voz alta até tarde da noite. José, o futuro ministro de Cristo, embora sem entender as palavras do padrinho vigário, custou a conciliar o sono. Desde então, gostava de repetir: – Eu vou ser padre!” (BARROS LEAL, 1983: p. 143)
A decisão tomada em sua infância não foi um mero desejo, paulatinamente o curso da sua vida foi sendo levado ao exercício do sacerdócio.
Nos últimos meses de 1915, uma terrível seca se abateu sobre o Nordeste, em Boa Viagem a estiagem gerou uma forte carestia, as notícias que diariamente chegavam não eram nada animadoras, nessa época o Governo do Estado não possuía um plano de contingência e pouco se fazia para minimizar o sofrimento da população cearense.
Os milhares de flagelados que perambulavam pelos áridos caminhos do Sertão, quando não morriam de fome, eram presos e em seguida encaminhados para o “Campo de Concentração” que existia no Alagadiço, próximo da cidade de Fortaleza.
Diante desse quadro desesperador, o seu pai decidiu se deslocar com a sua família e os seus poucos pertences para a sua terra natal, o Município de Santa Quitéria, que está localizado na região Noroeste do Estado do Ceará, deixando para trás as suas terras e a recordação dos bons dias de outrora.
Observando as experiências do tempo, nos primeiros meses de 1916, a sua família resolveu retornar para Pitombeira, o novo ano prometia um bom inverno, nesse ano a colheita foi promissora, para o pobre sertanejo os anos de escassez pareciam que finalmente tinham chegado ao fim.
Em 1917 o inverno foi diferente dos últimos anos, quando pesadas chuvas fizeram com que praticamente quase toda a lavoura fosse levada pelas águas do Rio Juazeiro, um importante tributário do Rio Quixeramobim.
No ano seguinte, observando o crescimento dos filhos e a necessidade de uma boa educação, os seus pais resolveram mudar para cidade, pois ali teriam a oportunidade de receber as noções da cartilha do ABC e das quatro operações matemáticas.
Embora a sede do Município na época não diferisse muito do campo a mudança de ares representava uma profunda transformação no cotidiano de sua família, tudo parecia novo e estranho. A família passou a ter que se acostumar com o cotidiano da vida urbana, uma vizinhança, o Código de Posturas, que restringia certas liberdades do campo, e com a vida social da cidade.
O seu pai passou a comercializar o que conseguia produzir e, sempre que podia, nas horas vagas, acompanhava os poucos trabalhadores que cultivavam a sua terra, já a sua mãe passou a fabricar broas de goma para serem comercializadas no Mercado Público Municipal Jessé Alves da Silva, bem como na saída das missas.
O local escolhido para residirem na sede ficava um pouco distante do Centro da cidade, uma casa de alpendre que era construída aonde hoje é o Bairro Vila Holanda, ali foi alfabetizado e iniciou a sua brilhante carreira acadêmica.
Aos poucos foi se adaptando a vida urbana, costumeiramente brincando na companhia de seus irmãos e com os filhos dos poucos vizinhos que existiam nas areias do Rio Boa Viagem, aonde relatos da época nos dão conta de que o seu brinquedo predileto era um pequeno realejo.
Na cidade a vida urbana proporcionou-lhe também a oportunidade de um contato mais intenso com a vida religiosa de sua paróquia, não demorando muito para que ele estivesse próximo ao Mons. José Cândido participando das missas e de todas as atividades que a igreja podia lhe propiciar.
Por volta de 1920 a população da cidade de Boa Viagem aguardava ansiosamente o início das Santas Missões que eram organizadas pelos padres franciscanos, que vinham do Município de Canindé, entre esses religiosos capuchinhos encontrava-se o italiano Frei Marcelino:
“Foi Frei Marcelino de Milão a figura completa do seguidor de São Francisco de Assis, por suas andanças missionárias, dentro das quais avultava a pregação, incorporando-se desse modo a todos os outros continuadores da obra de Cristo, na divulgação do Evangelho, que teve início há quase dois mil anos. Nasceu Frei Marcelino em Cuzano, na Província da Lombardia, na Itália, em 6 de setembro de 1882, filho de Luís Oriani e Virgínia Caimi. O futuro capuchinho, no século, chamava-se Ernesto Oriani. Professou solenemente a 24 de agosto de 1904; ordenou-se a 18 de março de 1905. Nesse mesmo ano viajou para o Brasil, que se tornaria o campo fértil de sua doutrinação. Veio providencialmente para o Ceará, onde, de modo específico, desenvolveu seu apostolado. Pertenceu aos conventos de São Francisco de Assis, em Canindé, e do Sagrado Coração de Jesus, em Fortaleza.” (MOTA, 1991: Disponível em https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1991/1991-FreiMarcelinodeMilaoMensageiroIdealFranciscano.pdf. Acesso em 13 de junho de 2015)
Percebendo a potencial vocação do rapaz, despertou no frei a imediata vontade de oferecer-se para levá-lo ao Colégio Franciscano de Canindé, mas o Mons. José Cândido previamente já havia preparado outro roteiro, a cidade do Espírito Santo de Morada Nova, que está localizada na região do Jaguaribe.
Nessa cidade havia uma conceituada escola, de propriedade de um parente da Família Terceiro, o Cônego Nelson Terceiro de Farias, que além de vigário da cidade também era prefeito, que por seu parentesco forneceu-lhe uma bolsa de estudos e abriu-lhe as portas de sua casa:
“Padre Nelson Terceiro de Farias era filho de José Terceiro de Farias e de Maria Terceiro de Farias, nasceu em Santa Quitéria, em 1882, e foi ordenado por Dom Joaquim José Vieira em 1905. Foi coadjutor das freguesias de Crateús e Pacoti, e depois pároco em Independência, cargo que exerceu durante o período de 5 anos, transferindo-se para Morada Nova.” (TORRES, 1996: p. 41)
Nos últimos meses de 1923, aos quinze anos de idade, após a conclusão dos estudos em Morada Nova, o jovem rapaz foi encaminhado ao Seminário Episcopal do Ceará, na cidade de Fortaleza, no intuito de receber a sua desejada formação eclesiástica.
Nessa ocasião, em sua matrícula, a sua manutenção no estabelecimento ficou ajustada na quantia de 45 mil réis, visto que conseguiu um abatimento de 50% em suas prestações.
O pagamento das mensalidades não era fácil de ser conseguido, pois no Sertão, naquela época, o dinheiro era algo escasso, onde praticamente quase todas as transações eram realizadas a base da troca de produtos “in natura”.
Aos poucos o dinheiro era adquirido, sendo poupado com todo o esforço, e quando essa quantia chegava ao seu valor era prontamente encaminhado por alguém de confiança para capital.
Tudo parecia caminhar bem até que, no primeiro semestre do segundo ano de curso, uma triste notícia lhe tomou de assalto quando o seu pai, no dia 16 de janeiro de 1924, com apenas 49 anos de idade, veio a óbito por conta de sarampo, fato que prejudicou seriamente a possibilidade de sua permanecia no seminário.
Sendo o filho primogênito, tinha agora sobre os seus ombros a grande responsabilidade de retornar para a sua casa no intuito de cuidar de sua mãe e dos seus irmãos, não tendo mais como ser mantido naquela casa de ensino.
Essa triste notícia foi divulgada por dentro de todo o seminário, fazendo com que os seus colegas e amigos, compadecidos com essa situação, combinassem que mensalmente se cotizariam para ajudar-lhe nas mensalidades.
Nas férias, quando retornava para cidade de Boa Viagem, recebia a valiosa ajuda de amigos e infalivelmente a quantia de 50 mil réis de seu protetor e amigo Mons. José Cândido:
“Até sua pobre parenta, Alexandrina Camelo, costureira dos seminaristas, deu-lhe de presente uma batina que seus colegas diziam feita de retalhos.” (BARROS LEAL, 1983: p. 144)
No quinto ano de curso, final dos preparatórios, o ecônomo e vice-reitor do seminário, Pe Pedro Zinguelê, comunicou-lhe a suspensão do desconto de sua mensalidade, era mais uma barreira a ser rompida.
Sem desanimar, não passava por sua cabeça a possibilidade de sacrificar ainda mais a sua sofrida família, conseguiu uma oferta de trabalho através de parentes e amigos fora do seminário.
Algum tempo depois, boas notícias finalmente começaram a surgir, um mantenedor secreto de dentro de uma das famílias mais nobres da cidade de Fortaleza se prontificou em custear-lhe as despesas até à formatura:
“Três anos antes de sua ordenação sacerdotal a situação era periclitante, parecendo inevitável a sua saída do seminário. Foi quando José foi agraciado pela divina providência. Padre Zinguelê avisou que uma pessoa da família do Coronel José Gentil Alves de Carvalho iria custear a sua ordenação em caráter sigiloso, o que efetivamente foi mantido até hoje.” (BARROS LEAL, 1983: p. 145)
Ainda nessa época, meses antes de sua ordenação sacerdotal, uma “denúncia” irresponsável quase lhe prejudica o início de seu ministério, quando uma senhora muito religiosa da comunidade, que curiosamente era sua madrinha, escreveu ao bispo acusando-o de jogatina e de conversas com as moças da paróquia, algo tido como reprovável para os costumes desse tempo:
“Quando José de Sousa Terceiro estava perto de receber ordenação sacerdotal visitou Boa Viagem e foi prejudicado por uma denúncia de D. Totônha do Prado, que residia em Várzea Alegre do Prado.” (BARROS LEAL, 1996: p. 107)
Preocupado com a gravidade das denúncias, o bispo resolveu pedir explicações do fato ocorrido entrando em contato com o Mons. José Cândido, que juntamente com o farmacêutico Antenor Gomes de Barros Leal conseguiram dar explicações do mau entendido.
Pouco tempo depois, no dia 30 de novembro de 1933, aos 25 anos de idade, depois de dez anos de estudos e muitas provações, finalmente foi ordenado sacerdote romano por Dom Manuel da Silva Gomes, arcebispo de Fortaleza.
Em seguida, no dia 1º de dezembro, celebrou a sua primeira missa na Capela do Asilo de Alienados de São Vicente de Paulo, mais conhecido como Asilo da Parangaba, que está localizado na Avenida João Pessoa, na cidade de Fortaleza.
Logo após o término de suas atividades estudantis, imediatamente organizou a sua bagagem e partiu para a sua primeira experiência pastoral, tendo a grata satisfação de ser designado como pároco auxiliar da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, a sua querida terra natal.
Nessa época o povo de Boa Viagem vivia um momento de baixa estima, pouco tempo antes, no dia 20 de maio de 1931, o Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Távora, interventor do Estado, havia decretado a extinção do Município, que voltou à condição de Distrito do Município de Quixeramobim:
“O interventor federal do Estado do Ceará, Manoel do Nascimento Fernandes Távora, considerando que a atual organização municipal deve ser modificada por não atender ao interesse público; Considerando que, para a constituição de qualquer Município, se torna necessária uma população nunca menor de quinze mil habitantes, uma renda anual não inferior a trinta contos de reis e outros fatores de valor; Considerando que muitos dos atuais Municípios não preenchem esses requisitos, sendo meras expressões territoriais, sem vida própria. Considerando que, dest’art, para proporcionar aos Municípios uma existência normal, se impõe a supressão de alguns deles, decreta: Art. 1º – O território do Estado divide-se, administrativamente; em 51 Municípios e estes em Distritos. Art. 4º – Ficam extintos os seguintes Municípios:…. Campos Sales, Conceição do Cariry, Santa Cruz, Várzea Alegre…. Boa Viagem que passará respectivamente a fazer parte do Município de Quixeramobim…” (CAVALCANTE MOTA, 1989: p. 38-39)
Mas isso não importava, naquele momento a tristeza tinha de ser esquecida, a momentânea derrota política da localidade dava lugar a grande alegria de ver um filho da terra em ascensão.
O desafio não era pequeno, a soberba poderia tomar conta dos seus sentimentos, mas isso não aconteceu, o menino pobre e filho de uma viúva, que saiu praticamente sem ser percebido de sua casa, voltava para a sua cidade com a pompa de um chefe de Estado:
“No dia 8 de dezembro celebrou a 1ª missa solene em Boa Viagem, com a presença de Monsenhor José Cândido de Queiroz Lima, o vigário Padre Francisco José Oliveira e o Padre Domingos Vasconcelos, vigário de Monsenhor Tabosa, que mui gentilmente trouxe a banda de música para a grande festa. A santa missa foi acolitada pelo nosso querido e inesquecível amigo José de Queiroz Sampaio.” (BARROS LEAL, 1983: p. 145)
Nessa ocasião foi emocionalmente recebido pelo Mons. José Cândido que, em sua fala, expressou a sua alegria em ver o fruto de seus longos anos à frente da paróquia e de ter batizado o novo sacerdote quando criança:
“Logo depois do abraço de Monsenhor José Cândido, Padre José Terceiro beijou-lhe a mão e seguiram-se então os cumprimentos de seus colegas, o beijo emocionado de sua mãe e logo o burburinho porque todos queriam ser os primeiros a oscular a sua mão.” (BARROS LEAL, 1983: p. 145)
Logo após a missa as comemorações tiveram continuidade, quando um farto banquete foi oferecido para uma legião de convidados na residência de Ana Gonçalves Leitão, esposa do comerciante e ex-Prefeito Salviano de Sousa Leitão.
“Estou vendo ainda por uma janela de minha memória a chegada do Padre José Terceiro a Boa Viagem, em 1934, após sua ordenação. Foi ele no meu tempo o primeiro filho da terra a tornar-se vigário. A sua chegada ocorreu no final da tarde, num caminhão dirigido pelo Luiz Araújo. A cidade estava engalanada, havia um arco de palhas de coqueiro erguido na entrada da praça central [na época chamada de Praça Dr. João Tomé de Sabóia e Silva, atual Praça Antônio de Queiroz Marinho], entre a casa do tio Rangel e o mercado. Era a porta de acesso do novo vigário à sua terra natal. Seguia um corredor de postes com bandeirolas coloridas até o sobrado de Dona Ana Gonçalves, onde ficou hospedado. À noite, foi-lhe oferecido um jantar festivo com a presença de inúmeros convidados.” (CARVALHO FILHO, 2008: p. 45-46)
Alguns meses depois de sua chegada ocorreu um fato que deixou em intensa tristeza toda a sociedade boa-viagense, quando o Mons. José Cândido de Queiroz Lima, já em avançada idade, ficou profundamente enfermo.
Nesse momento coube a ele a difícil missão de acompanhar de perto os últimos momentos de vida daquele moribundo que lhe batizou, lhe deu a primeira eucaristia, lhe despertou à vocação e lhe encaminhou aos estudos no seminário.
Depois de alguns dias, percebendo o avançado estado de debilitação do doente e contando com o auxílio do Pe. João Epifânio de Freitas Guimarães, ex-vigário da freguesia de Pedra Branca, concedeu o último sacramento e o santo viático ao combalido enfermo:
“Em 12 de outubro de 1934, já enfermo, conduzido em numa liteira por muitos amigos, inclusive pelo seu enfermeiro particular, o farmacêutico Antenor Gomes de Barros Leal. Faleceu às 12h30min do dia 27 de novembro do mesmo ano com a idade de 85 anos e dois meses, cercado do carinho e da dedicação dos membros de sua família e dos ex-paroquianos.” (CAVALCANTI, 1968: p. 75)
No dia 5 de janeiro de 1935, após as últimas formalidades de entrega da paróquia, realizadas pelo Mons. Francisco José de Oliveira, que meses antes havia sido transferido para o Município do Quixeramobim, finalmente tomou posse de sua querida freguesia.
Os longos anos de estudos e privações finalmente seriam postos à prova, o seu conhecimento e o seu temperamento iriam enfrentar o grande desafio de serem testados justamente em meio a uma comunidade que o conhecia e que o viu crescer.
A sua primeira experiência como clérigo não foi fácil, muitos dos seus paroquianos eram seus amigos de infância e talvez por isso o seu pastorado no Município de Boa Viagem tenha se tornado breve, pois em dezembro desse mesmo ano a Arquidiocese de Fortaleza realizou uma permuta de sacerdotes entre a Paróquia de São Francisco de Paulo, em Aratuba, localizada na região Norte do Estado, e a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, no Sertão de Canindé, no Estado do Ceará.
Nessa ocasião deixou a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem aos cuidados do experiente Pe. Francisco Assis de Castro Monteiro e seguiu para enfrentar novos desafios em Aratuba, na época um pequeno Distrito do Município de Pacoti, que era conhecido pelo topônimo de “Santos Dumont”.
Algum tempo depois, em 1938, com a nova divisão da área territorial da Igreja Católica no Estado do Ceará, a cidade de Limoeiro do Norte foi escolhida como sede de uma nova diocese e as freguesias dentro de sua jurisdição passaram por algumas transformações, dentre elas a mudança de alguns párocos.
O bispo de Limoeiro do Norte, Dom Aureliano Matos, logo que assumiu, resolveu nomear-lhe como novo vigário da Paróquia de São Vicente, na freguesia de Pereiro, na região do Vale do Jaguaribe.
No Município de Pereiro, desenvolveu uma reconhecida ação evangelizadora e administrativa nessa paróquia, rotineiramente percorrendo várias léguas em uma motocicleta, tornando-se, por tal circunstância, conhecidíssimo naquela região.
“Vigário de Pereiro, de 31 de dezembro de 1935 a 29 de janeiro de 1943; posse 12 de janeiro de 1936. Em Pereiro exerceu profícua ação evangelizadora e administrativa.” (SILVEIRA, 2004: p. 505)
As suas atividades pastorais, naquele Município, se estenderam também à Paróquia de São Miguel Arcanjo, em São Miguel, um Município da região Oeste do Estado do Rio Grande do Norte.
Devido ao seu reconhecido trabalho e a influência política conquistada, colaborou ativamente para o desenvolvimento do Município de Pereiro, e os seus esforços foram plenamente satisfeitos quando conseguiu, juntamente com outros personagens da região, a implantação da eletrificação da sede daquele Município.
O seu nome ficou tão querido nessa região que, anos mais tarde, no dia 15 de novembro de 1966, o seu irmão, João Terceiro de Sousa, foi eleito vice-prefeito de Francisco Nogueira de Queiroz na chapa da ARENA 2 – a Aliança Renovadora Nacional, recebendo a confiança de 1.235 votos contra os 915 de Humberto Queiroz, que pertencia aos quadros da ARENA 1.
A mesma façanha voltou a repetir-se no pleito eleitoral do dia 15 de novembro de 1970, quando João Terceiro de Sousa recebeu a preferência de 2.102 eleitores e tinha ao seu lado Francisco Pessoa de Moura como vice-prefeito.
Nesse pleito a chapa adversária era formada por José Lira Guerra e Geraldo Marques de Melo, que pertenciam aos quadros do MDB – o Movimento Democrático Brasileiro, e receberam apenas o apoio de 1.748 sufrágios, o que tornava irrefutável a simpatia da comunidade pereirense pelo nome da Família Terceiro.
No dia 29 de janeiro de 1943, um horizonte de novos desafios lhe foi imposto pela diocese, quando o Bispo Dom Aureliano Matos transferiu-lhe para a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, no Município de Russas, que está localizado na região do Baixo Jaguaribe.
Tomou posse dessa paróquia no dia 19 de fevereiro, inicialmente como cooperador e algum tempo depois, no dia 27 de julho de 1944, como vigário.
Nessa freguesia o seu trabalho se tornou de grande utilidade para o bispado, entretanto enfrentou uma série de problemas e conflitos com o Dr. Júlio Barbosa Maciel, juiz de direito dessa comarca, irmão de Josias Barbosa Maciel, que foi intendente do Município de Boa Viagem, bem como do Dr. Godofredo Barbosa Maciel, destacado advogado cearense.
Esse problemas estavam relacionados à fundação de um centro espírita na sede do Município, fato que foi amplamente divulgado pelo jornal Gazeta de Notícias de Fortaleza, naquele ano:
“Como já é do conhecimento público, fundou-se na cidade de Russas, deste Estado, dia 10 do corrente, por feliz iniciativa do integro Juiz de Direito Dr. Júlio Maciel, o ‘Centro Espírita Rodolfo Teófilo’ de Russas. No mesmo dia para aquela solenidade de caráter espiritual e jurídico, que satisfez, intrinsecamente, as exigências das leis constituídas do país, em seus dispositivos legais, partiu desta capital fraternalmente convidada, uma luzida caravana, constituída de representantes de entidades espíritas federalizadas, de jornalistas e demais pessoas gradas. Mas, infelizmente, podemos afirmar que Russas, foi, mais uma vez, para vergonha de seus ilustres filhos, naquele dia funesto, teatros de vis perseguições e de desmoralizações às normas das sagradas verdades cristãs, por parte, naturalmente, de indivíduos conhecidos como inescrupulosos e velhacos, que por um desses caprichos do bosa destino, residem naquela e em outras terras hospitaleiras e dignas, para as desrespeitar e explorar. São eles nossos irmãos espirituais atrasados.”
Nessa época o Dr. Júlio Barbosa Maciel era um dos principais nomes da poesia cearense, ocupando a cadeira nº 38 da ACL – a Academia Cearense de Letras, sendo sócio correspondente da CEC – a Confederação Espírita Cearense.
Mas tudo isso não importava, o estabelecimento de um grupo de confissão espírita na cidade de Russas, algo estranho para uma comunidade tradicionalmente católica, causou um grande choque para à liderança romana daquela paróquia.
A instalação do Centro Espírita Rodolfo Teófilo aconteceu na residência do Dr. Júlio Barbosa Maciel, que era situada na Praça Monsenhor João Luís, nº 245, no Centro da cidade de Russas.
Sobre esse assunto, na edição do dia 15 de janeiro de 1948, a Gazeta de Notícias de Fortaleza nos trouxe a seguinte informação:
“A instalação do Centro Espírita Rodolfo Teófilo, de Russas, realizou-se na residência do ilustrado Dr. Júlio Maciel, juiz de direito da comarca, fazendo-se presentes muitas famílias de Russas e de Fortaleza, diversas representações de sociedades espíritas, sendo a ata de instalação assinada pelo dinâmico Dr. Carlos Furtado Lobo, Dr. Júlio Maciel e cidadãos Eugênio Francisco de Sousa e senhora, Izaias Ponte, Antônio Domingos da Silva, José Elias Maia Perdigão, Manuel Anselmo da Silva, José Elias Correia, Francisco Sousa Lima, Mário Milton Torres Ferreira, Raimundo Nunes da Silva, Valter Vieira Leitão, Anderson Gonçalves…”
Diante desse impasse, segundo o mesmo periódico, de forma intolerante, resolveu reunir um grupo de pessoas de sua comunidade para irem à residência do juiz no intuito de apedrejarem à casa, aonde eram feitas as reuniões kardecistas.
Como resultado desse triste episódio, algumas pessoas saíram machucadas nesse infeliz acontecimento:
“Foi um quadro desolador o que se verificou naquele momento: uma multidão de assalariados, munidos de pedras, de paus, armados, tendo na mão muitas latas de gás vazias, vaiou, não só os caravaneiros da ‘Terceira Revelação’, como também apedrejaram barbaramente, em frente à porta da residência do juiz de direito, Dr. Júlio Maciel, cuja sala de visita ficou grossa de pedras, atiradas pela massa inconsciente, submissa às ordens de pessoas ateias, maléficas e irresponsáveis, deleitando-se com a pancadaria ensurdecedora que se estabeleceu, sem nenhuma garantia policial, em meio à praça pública. Saíram pessoas feridas, o que é desumano!”
No mesmo dia, após esse evento, ainda não satisfeito, se dirigiu à comunidade por meio do equipamento de rádio da paróquia e falou insidiosas injúrias contra os perseguidos, fazendo-se necessário a intervenção das autoridades locais em favor dos espíritas.
Ainda tratando sobre esse assunto, o jornal Gazeta de Fortaleza, edição do dia 22 de janeiro, nos relata o seguinte:
“No dia da inauguração do referido centro, a irradiadora paroquial concitou o povo de Russas a não permitir a dita inauguração, nem que para isso fosse necessário recorrer à violência. (…) Além disso, o Sr. Vigário, aproveitando-se da sua irradiadora, dirigiu insultos a todos os que se encontraram em Russas para assistir as solenidades iniciais do Centro Espírita Rodolfo Teófilo, e seguidamente continuou, no mesmo diapasão, procurando inutilmente atingir o integro Sr. Juiz de direito da comarca. Os ânimos se exaltaram. As autoridades, solicitadas, intervieram, sendo a irradiadora paroquial apreendida pelo órgão competente, por infração aos dispositivos legais.”
Alguns dias depois, segundo o mesmo periódico, em 22 de janeiro, a trégua durou pouquíssimo tempo, assim que re-obteve a posse da radiadora paroquial continuou a usá-la para difamar o centro espírita:
“Infelizmente aquela interdição foi de curta duração, não produzindo assim os efeitos desejados e permitindo que o Sr. Vigário de Russas, novamente de posse de sua irradiadora, voltasse agora, numa demonstração de desequilíbrio mental e falta de noção de responsabilidade do seu cargo, com mais calor e agressividade, a insultar aqueles que professam em Russas um culto diferente do seu.”
Depois de algum tempo, após esse episódio, se dedicou a motivar aos agricultores da região ao cooperativismo, investindo esforços na construção da Casa Paroquial, do Colégio Diocesano Padre Anchieta e do Seminário Diocesano Cura d’Ars.
O seu intenso desempenho como vigário, em defesa dos interesses da Igreja Romana, se fez notar dentro do Vaticano até que, no dia 19 de fevereiro de 1948, por decisão do Papa Pio XII, foi designado sucessor de Dom Juvêncio de Brito na Diocese de Caetité, que está distante 757 quilômetros da cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia.
Pouco tempo depois, no dia 20 de junho de 1948, com apenas 40 anos de idade, foi sagrado bispo na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário por Dom Aureliano Matos, bispo de Limoeiro do Norte, escolhendo como dístico de seu brasão o texto em latim do Evangelho segundo São Lucas, capitulo 5:5, “Laxabo Retes”, que quer dizer: “lançarei as redes”.
A cerimônia foi bastante concorrida, estiveram presentes, além dos bispos sagrantes, o governador do Estado, Faustino de Albuquerque e Sousa, o Senador Virgílio de Morais Fernandes Távora, o General Otávio da Silva Paranhos e uma representação da Assembleia Legislativa de Estado, que foi integrada pelos Deputados Manoel Castro Filho, Franklin Chaves e Aristides Ribeiro.
Poucos dias depois, em 26 de junho, tomou posse de sua diocese e sob a sua administração a frente do bispado destacamos o empreendimento de inúmeras reformas nos templos de várias paróquias, na Catedral Diocesana de Santa Ana, bem como a construção de novos templos, centros pastorais, capelas no interior e casas paroquiais.
Segundo matéria do jornal O Povo, edição do dia 15 de julho de 1983, essas ações administrativas proporcionaram o aumento da participação do número de pessoas nas celebrações, o acréscimo do número de sacerdotes na diocese e o fortalecimento da identidade católica entre as suas ovelhas:
“Espírito combativo, empenhou-se em muitas realizações, tendo de enfrentar, no seu pastoreio, a intransigência que, naquela época, gerava conflitos entre católicos e protestantes.”
Outro fato que marcou essa época está registrado no jornal Diário do Nordeste do dia 15 de junho de 1983, segundo esse periódico, em 9 de março de 1950, quando presidia a procissão do Sábado de Aleluia, defrontou-se com um impasse religioso causado por conta dos fogos de artifício que foram cair, inesperadamente, sobre a casa do Rev. Augusto Araújo, um pastor presbiteriano.
Esse embaraço gerou uma grave crise religiosa entre as duas confissões cristãs, repercutido até no plenário da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, sob o patrocínio do Deputado Rev. Basílio Catalá de Castro, que diplomaticamente se envolveu nesse triste e cômico episódio.
No dia 9 de dezembro de 1955, depois de sete anos presidindo a Diocese de Caetité, foi transferido para a Arquidiocese de São Salvador da Bahia como bispo auxiliar do Arcebispo Dom Augusto Álvaro Cardeal da Silva.
“Dom José Terceiro de Sousa, terceiro bispo da Diocese de Caetité, assumiu o pastoreio entre os anos de 1948 a 1955. Natural do Ceará, Dom José Terceiro deixou grandes marcas na diocese como a construção do Seminário Diocesano, sonhado desde Dom Manuel, que ele assumiu como meta e se empenhou em constantes campanhas, buscando adquirir recursos para a concretização da obra; outra obra deixada por Dom José Terceiro foi à ampliação do palácio episcopal, construindo o andar superior. Em 1954, ano em que a Paróquia de Caetité celebrava o seu bicentenário, Dom José Terceiro realizou a Semana Eucarística, estando presente o Arcebispo de São Salvador, Cardeal da Silva, Dom Augusto Álvaro, Dom João Rezende Costa, bispo de Ilhéus, e Pe. Álvaro Negromonte, nacionalmente conhecido pelo seu trabalho com a catequese. Ao deixar a diocese em 1955, Dom José Terceiro foi transferido para a Arquidiocese de São Salvador, como bispo auxiliar. Ainda assim continuou como administrador apostólico até 1957, quando foi nomeado para bispo da Diocese de Caetité Dom José Pedro Costa, mineiro da cidade de Serro.”
Nessa função, prestou valiosos serviços à comunidade católica soteropolitana nas Basílicas de Nosso Senhor do Bonfim, Nossa Senhora da Conceição da Praia, São Sebastião e na Catedral da Sé, até ser transferido, em 9 de novembro de 1957, para a Província Eclesiástica de Alagoas.
Pouco tempo depois, no dia 19 de março de 1958, assumiu os trabalhos da Diocese de Penedo, diocese sufragânea da Arquidiocese de Maceió, substituindo Dom Felício da Cunha Vasconcelos.
Nesse bispado, desenvolveu uma jornada de atividades de quase 19 anos ajudando a construir um grande legado para à Igreja Romana até que, no dia 18 de maio de 1976, aos 68 anos de idade, resignou-se de seu múnus eclesiástico e fixou residência na capital cearense.
Na cidade de Fortaleza, passou a morar em uma pequena casa nas proximidades da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Fátima, aonde exercia a capelania do Colégio das Dorotéias e ajudava aos bispos da Arquidiocese nas visitas pastorais até que, em 16 de abril de 1983, uma terrível noticia causou-lhe enorme sofrimento abalando de vez a sua frágil saúde.
O pistoleiro Idelfonso Maia da Cunha, conhecido por “Mainha”, matou quatro pessoas no Posto Universal, que está localizado na Rodovia Federal Alberto Santos Dumont, a BR-116, nas proximidades do Município de Alto Santo, entre às vítimas desse bárbaro assassinato estavam o seu irmão, João Terceiro de Sousa, ex-prefeito de Pereiro e a sua cunhada, Raimunda Nilda Santos.
Sobre esse bárbaro crime, assim afirmou o jornal O Povo na edição do dia 4 de janeiro de 2011:
“Idelfonso Maia Cunha, conhecido como ‘Mainha’, nasceu em Alto Santo-CE, no dia 28 de outubro de 1955. Era considerado o maior pistoleiro do Nordeste, acusado de quase 100 mortes nos anos 80, nos Estados do Ceará, Paraíba, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Em 13 de fevereiro de 1977 matou o prefeito de Alto Santo (CE), Expedito Leite. A partir daí, começou o ‘rosário’ de crimes do matador. Em 23 de janeiro de 1982 matou Orismilde Rodrigues da Silva, que o chamou de ‘ladrão de cavalos’; Em 4 de novembro de 1982 matou Altamiro Vieira Leite e Altevir Fernandes de Sousa em Alto Santo (CE), esses eram pistoleiros contratados por seus inimigos do Estado do Rio Grande do Norte para matá-lo, por esse crime foi absolvido por 5×2, por se tratar de legítima defesa; Em 16 de abril de 1983 chacinou em Alto Santo (CE), João Terceiro de Sousa, ex-prefeito de Pereiro (CE), sua esposa Raimunda Nilda Santos, o motorista Francisco de Assis e o soldado da PM João Odeon de Araújo, que apenas pegou uma carona com o ex-prefeito; Em 17 de junho de 1983 matou por vingança Iran Nunes de Brito, no Bairro Aldeota, na cidade de Fortaleza.”
Logo após esse episódio a saúde do velho pastor ficou seriamente abalada até que, na manhã do dia 14 de julho de 1983, aos 75 anos anos de idade, percebendo um forte sangramento pelo nariz, foi socorrido e encaminhado ao Hospital Cura d’Ars, mas, pouco tempo depois, às 10h20min, o seu corpo exalava o último suspiro.
Depois de todos os procedimentos médicos o seu cadáver foi imediatamente transladado para Catedral Metropolitana de Fortaleza, onde foi velado por uma multidão de amigos segundo nos relata a matéria do jornal O Povo do dia 16 de julho de 1983, tendo seu corpo sepultado na Capela da Ressurreição:
“Dom Edmilson Cruz e 40 padres celebraram a missa de corpo presente de Dom José Terceiro de Sousa, ontem, na Catedral Metropolitana, onde o corpo foi sepultado. Dom José Terceiro morreu quinta-feira, no Hospital Cura D’Ars, de parada cardíaca, aos 75 anos…. Depois da missa, os padres saíram em procissão, para a Capela do Ressuscitado, onde Dom José Terceiro foi sepultado. Só foi permitida a entrada dos padres e familiares no local, onde outros três bispos estão lá sepultados. No enterro, alguns padres emocionados, choraram a morte do bispo.”
Muitos anos antes disso, o Governo Municipal de Boa Viagem procurou reconhecer e imortalizar o nome de seu filho ilustre em uma das principais instituições de ensino da cidade.
No dia 20 de maio de 1963, depois de elevados esforços, na companhia do Pe. José Patrício de Almeida, pároco local, viu a realização da construção de um sonho desejado por toda a população, que era a construção de uma escola ginasial.
Sobre ele, assim afirmou o escritor e memorialista Prof. Cícero Pinto do Nascimento em sua obra “Memórias de Minha Terra”:
“Dom Terceiro foi, inegavelmente, um grande benfeitor. Por onde passou deixou importantes obras sociais…. Na sua terra, construiu, com a valiosa ajuda dos amigos, especialmente do Dr. Manuel Vieira da Costa, prefeito na época, o Colégio Dom Terceiro, de incalculável valor para esta comunidade.” (NASCIMENTO, 2002: p. 85)
Não podemos medir ou julgar um homem fora do seu contexto histórico, temos a obrigação de perceber as nuances que formaram o seu caráter para entendermos o porquê de tal ou qual atitude.
Longe de qualquer demagogia ou juízo precipitado precisamos apreender que Dom José Terceiro de Sousa foi, como qualquer outro homem, falível, de temperamento forte, apaixonado por suas convicções e muitas vezes intolerante para com aqueles que pensavam diferente de suas ideias, algo comum para a sua época.
Reconhecemos o seu valor e a grandiosidade do seu nome pelo bom e fecundo trabalho prestado a sociedade brasileira, em especial a boa-viagense.
BIBLIOGRAFIA:
- BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Avivando Retalhos – Miscelânea. 2ª edição. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1983.
- BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Recordações de um Boticário. 2ª edição. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1996.
- CARVALHO FILHO, José Cândido de. Boa Viagem da Minha Infância. Rio de Janeiro: Thesauros/Itiquira. 2008.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1930-1945). Fortaleza: Stylus Comunicações, 1989.
- CAVALCANTI, Francisco de Sales. Traços biográficos do Mons. José Cândido de Queiroz Lima. Fortaleza: Revista do Instituto Histórico, 1968.
- LIRA, João Mendes. Subsídios para a História Eclesiástica e Política do Ceará. Fortaleza: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1984.
- MACÊDO, Deoclécio Leite de. Notariado Cearense – História dos Cartórios do Ceará. V II. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1991.
- MOTA, Hélio. Frei Marcelino de Milão, mensagem do ideal franciscano. Disponível em https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1991/1991-FreiMarcelinodeMilaoMensageiroIdealFranciscano.pdf. Acesso em 13 de junho de 2015)
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM. Livro de registro dos batismos. 1906-1909. Livro A-09. Tombo nº 367. Página 133.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. A História da Saúde no Município de Boa Viagem. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/saude/. Acesso em 25 de outubro de 2016.
- SILVEIRA, Aureliano Diamantino. Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará (1700-2004). 1º Vol. Fortaleza: PREMIUS, 2004.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Manuel Vieira da Costa – o Nezinho, uma escola comunitária recebeu a sua nomenclatura. Pouco tempo depois, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, através da lei nº 73, de 9 de outubro de 1965, essa unidade de ensino foi encampada pelo Município de Boa Viagem e mais tarde passou a pertencer ao Governo do Estado do Ceará.
Parabéns, pelo belíssimo trabalho e visão que estão tendo para o engrandecimento e sustentação da Historia do nosso município.
” Um povo sem história é um povo sem raiz” Devemos ser responsáveis para que essa frase não nos atinja.
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