Delfina Vieira da Silva

Delfina Vieira da Silva nasceu no dia 27 de dezembro de 1911 no Município de Catolé do Rocha, que está localizado no Sertão paraibano, distante 411 quilômetros da cidade de João Pessoa, sendo filha de Martins José da Silva e de Francisca Vieira de Freitas.
Os seus avós paternos se chamavam José Antônio da Silva e Delfina Maria da Conceição, já os maternos eram Pedro Vieira Carneiro e Maria Floriana de Morais.
Na época do seu nascimento veio ao mundo em uma localidade denominada de “Brejo dos Santos”, que nesse período era conhecida pelo topônimo de “Brejo dos Cavalos”.
A mudança desse nome ocorreu por conta de uma grande onda de intolerância religiosa ocorrida nos últimos anos da década de 1930, na mesma época em que ocorria grandes transformações em sua vida e de sua família.

“A Igreja Evangélica Congregacional instalou-se nesse  Município em 1928. O pastor era o Rev Henry Briault, de nacionalidade inglesa, que trabalhou, de certo modo, pelo progresso do lugar. Pelos anos de 1937 a 1939, as duas forças religiosas do lugar tiveram divergências, desentendimento este que gerou até violência.”  (IBGE, 2000: Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/brejo-dos-santos/historico. Acesso no dia 24 de fevereiro de 2018)

Alguns anos antes disso, no dia 8 de julho de 1923, juntamente com os seus familiares, partilhou da notícia do falecimento de sua genitora, que faleceu inesperadamente por conta de um parto, fato que motivou ao seu pai a constituir um novo relacionamento conjugal e a migrar com alguns de seus filhos em 1926 para o Município de Boa Viagem, no Estado do Ceará.
Nessa época, antes de mudarem de Estado, alguns de seus irmãos demonstraram grande insatisfação com essa mudança, fazendo com que alguns deles permanecessem em sua terra natal, algo que fortaleceu a sua opinião em ficar ao lado de seu pretendente.

“A fuga de sua filha não mudou os seus planos, Martins José da Silva deu continuidade a sua intenção de vir para o Ceará com o restante de sua família.” (SILVA JÚNIOR, 2010: p. 215)

Pouco tempo depois desses acontecimentos, no dia 30 de agosto de 1929, segundo informações existentes no Cartório de Registro Civil de Catolé do Rocha, tombo nº 21, página 185, prestes a completar 18 anos, contraiu matrimônio com Sebastião Alves da Silva, que era nascido no dia 30 de abril de 1907, sendo filho de José Alves da Silva e de Maria Delfina do Amor Divino.
Desse matrimônio foram gerados doze filhos, sete homens e cinco mulheres, sendo eles: Samuel Alves da Silva, Idelzuite Alves da Silva, Delzumira Alves da Silva, Jerniel Alves da Silva, Martins Alves da Silva, Jessé Alves da SilvaBenjamim Alves da Silva, Irenilda Alves da Silva, Natanael Alves da Silva, Iraci Alves de Freitas, Jurandi Alves da Silva e Juraci Alves da Silva.
Nesse tempo, como já foi dito, por conta das divergências religiosas em sua vizinhança, testemunhou cenas de violência por conta dessa intolerância, algo que atingiu o seu sogro e contribuiu para o seu falecimento:

“Mas nessa mesma noite de festa começavam os problemas com os católicos daquele sítio e região; eles não possuíam um templo, uma capela sequer, e ficaram tomados de inveja, eles que se diziam pertencer a igreja verdadeira estavam em desvantagem.” (CARNEIRO, 2006: p. 27)

Enquanto isso, no Estado do Ceará, muitos de seus parentes, dentre eles o seu pai, se estabeleceram em uma localidade denominada de Pitombeira, distante 17 quilômetros da cidade de Boa Viagem, onde começaram a prosperar por conta das boas colheitas e da multiplicação de seus gados.

Imagem do casal e de seus filhos.

Sabendo disso, nos primeiros meses de 1940, desejando uma melhoria de sua qualidade de vida, juntamente com o seu esposo, veio para o mesmo destino de seu pai, sendo que o seu estabelecimento definitivo em terras cearenses não foi fácil, indo e voltando para o Estado da Paraíba outras vezes:

“Ainda em 1938 os irmãos Sebastião Alves da Silva e José Vieira Filho, por causa da perseguição religiosa em Catolé do Rocha e Brejo dos Santos – PB deixam a Paraíba e fixam residência em Pitombeira, no Município de Boa Viagem, dando inicio a uma congregação.” (FRAGOSO VIEIRA, 1990: p. 1)

Nessa primeira passagem moraram próximo ao Rio Conceição, também conhecido como o “Rio dos Cachorros”, em uma localidade chamada de Lembranças, na propriedade de Antônio Ramiro Carneiro Bié.
Pouquíssimo tempo depois, nos primeiros meses de 1941, passaram uma curta temporada em Pedra Branca, uma localidade rural que existe próximo da vila de Ibuaçu, antigamente denominada de “Socorro”, até que, em 1942, retornaram novamente para o Estado da Paraíba:

“Depois surgiu outra congregação em Pedra Branca, também no Município de Boa Viagem. Esses trabalhos tornaram-se depois congregações da Igreja Evangélica Congregacional de Cachoeira, dirigida na época pelo Rev. Paulo Moody Davidson.” (SANTANA FILHO, 1996: p. 12)

No ano seguinte, mais uma vez retornando para o Município de Boa Viagem, o seu esposo adquiriu uma propriedade pertencente ao seu irmão, Argemiro Vieira da Silva, e para lá mudou-se estabelecendo-se com os seus filhos.
Nessa época, em sua residência, ocasionalmente eram realizados os cultos da localidade, que costumeiramente tinha a presença de um grande e atento auditório, mantendo também um trabalho religioso na localidade de Pocinhos.
Mais tarde, em 1955, uma morte prematura marcou a vida de sua família, pois um de seus filhos, Martins Alves da Silva, de apenas 17 anos, cursando o primeiro ano do curso de Bacharelado em Teologia no Seminário Teológico Congregacional do Nordeste, foi acometido de uma terrível doença, o câncer.
Conta-se que em seu dormitório, na cidade do Recife, em um momento de brincadeira, recebeu uma pancada na perna direita, que mais tarde veio a se tornar em uma doença maligna, sendo que o período de convalescença foi sentido por toda a família, pois o seminarista, por medo, não quis aceitar a opinião médica de amputação.
Os últimos dias desse jovem foram marcantes sobre a face da terra, pois os seus contemporâneos afirmam que era um rapaz que fazia sentir a presença de Deus, as pessoas que o vinham confortar saiam admirados com a confiança que ele possuía nos desígnios do Criador.
Antes de sua morte, chegou a preparar um grupo de pessoas para celebrarem os cânticos de exaltação a Deus a serem feitos em seu velório, tendo o seu sepultamento sido feito no Cemitério de Santa Ana, na vila de Várzea da Ipoeira.
O testemunho desse jovem era muito apreciado na comunidade em que residia, tão marcante que, entre os amigos de confissão católica, foram feitos pedidos para que ele, depois de morto, rogasse a Deus por um copioso inverno.
Coincidentemente até esse dia, 26 de abril, a estação chuvosa parecia não começar, todos acreditavam que o ano seria de grande seca, mas, depois que o seu corpo, dentro de uma rede, repousou no fundo da cova, veio um enorme temporal e todos regressaram para seus lares debaixo de uma forte tempestade.
Nos primeiros meses de 1956, depois desse marcante episódio, a sua família se estabeleceu definitivamente na cidade de Boa Viagem, onde se constituíram em uma grande força para o trabalho protestante que se iniciava na cidade, passando a residir na Rua 26 de Junho, nº 325, Centro.

Imagem do casal.

Depois que chegou a cidade, o seu esposo iniciou a exploração de uma mercearia no Mercado Público Municipal, sendo que nessa época a sua clientela era formada principalmente pelos homens alistados nas forças de trabalho patrocinadas pelo Governo Federal contra a estiagem.
Mais tarde, na manhã do dia 30 de maio de 1977, juntamente com a sua família, foi surpreendida pelo trágico acidente sofrido pelo seu filho primogênito, algo que também lhe trouxe muita dor:

“Em uma dessas viagens, quando buscava o entroncamento que levasse à Rodovia Federal Alberto Santos Dumont, a BR-116, trafegava pelo Estado de Goiás e estava atrasado para a entrega dos animais. Nessa oportunidade o veículo era conduzido por um inexperiente motorista, de apenas 23 anos de idade, visto que não sabia dirigir e provavelmente estava bastante cansado da enfadonha viajem. O seu caminhão Mercedes Bens 1113, de cor vermelha, sofreu um grave acidente frontal envolvendo uma caçamba que estava carregada de arroz, nesse desastre todos os envolvidos vieram a óbito.” (SILVA JÚNIOR, 2009: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/samuel-alves-da-silva/. Acesso no dia 30 de abril de 2016)

Pouco tempo depois, no dia 24 de novembro de 1979, antes mesmo de ter se recuperado de sua recente perda, em uma infeliz coincidência, uma nova tragédia se abateu sobre a sua família, quando foi surpreendida pela notícia do falecimento de seu neto, Hélio Alves da Silva, em um acidente automobilístico:

“Apesar da significativa perda tudo caminhava bem em sua vida até que, na noite do dia 24 de novembro de 1979, sozinho em sua cabine, trafegando pela Rodovia Estadual CE-060, conhecida como ‘a rodovia do algodão’, quando voltava da cidade de Juazeiro do Norte, ao atingir a localidade de Sítio Bravo, prestes a entrar na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, o seu veículo sofreu um gravíssimo desastre. Nessa ocasião o caminhão já vinha descarregado e em alta velocidade até que, quando chegou a um local de declive e em curva, perdeu a direção e bateu violentamente contra um corte que ainda existe na rodovia. No impacto o veículo tombou violentamente na pista danificando todo o lado direito, deixando o seu motorista gravemente ferido.” (SILVA JÚNIOR, 2009: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/helio-alves-da-silva-2/. Acesso no dia 30 de abril de 2016)

Mais tarde, no dia 20 de janeiro de 1990, prestes a completar sessenta e um anos de convivência conjugal, foi surpreendida pelo falecimento de seu esposo, que veio a óbito com 82 anos de idade.
Nesse mesmos ano, no dia 26 de novembro, foi agraciada por unanimidade pela Câmara Municipal de Vereadores com o título de cidadania boa-viagense.
Segundo informações existentes no livro C-07, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 5.686, folha 155, faleceu na cidade de Boa Viagem no dia 26 de setembro de 2010, prestes a completar 99 anos de idade.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, n° 295, Centro.

Imagem do mausoléu da Família Alves, em 2013.

BIBLIOGRAFIA:

  1. CARNEIRO, Osmar de Lima. Fotografando o Amor. História de uma igreja perseguida. João Pessoa: JRC, 2006.
  2. CARNEIRO FILHO, David Vieira. A Perseguição aos Protestantes em Catolé do Rocha. Boa Viagem: Sem Editora, 2008.
  3. FRAGOSO VIEIRA, Ezequiel. A História da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem. Boa Viagem: Sem Editora, 1997.
  4. IBGE. A história do Município de Brejo dos Santos. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/brejo-dos-santos/historico. Acesso no dia 24 de fevereiro de 2018.
  5. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  6. SANTANA FILHO, Manoel Bernardino de. Viagem ao Nordeste. O CRISTÃO. Rio de Janeiro, 1996. p. 12.
  7. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.
  8. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Samuel Alves da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/samuel-alves-da-silva/. Acesso no dia 30 de abril de 2016.
  9. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Hélio Alves da Silva. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/helio-alves-da-silva-2/. Acesso no dia 30 de abril de 2016.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão do Prefeito Dr. Fernando Antônio Vieira Assef, através da lei n° 1.100, de 20 de maio de 2011, uma escola da rede municipal recebeu o seu nome.