No passado, quando grande parte dos moradores do Município de Boa Viagem não possuíam energia elétrica em suas casas, um televisor era algo raro, coisa de rico, e o rádio era o veículo de comunicação de maior importância, tanto para o divertimento quanto para reverência das pessoas, dependendo muito da grade de programação da emissora.
Nessa época parte do cotidiano das pessoas incluía ouvir esse aparelho, ele era o companheiro certo em qualquer tipo de serviço, principalmente em uma cidade pequena, onde a fofoca corre solta e estar bem informado é essencial.
O amor das pessoas pelo rádio era tão grande que, nas compras mensais de qualquer família, parte do orçamento era dedicado para ele, que tinha o seu estoque de pilhas garantido com o “carrego”, já os mais “ricos” tinham rádios alimentados por baterias, um luxo!
Quanto às emissoras do interior, que geralmente eram mal aparelhadas, onde nem todos os profissionais recebiam treinamento para fazer uma programação de acordo com o público ouvinte do horário, muito menos noções sobre ética, sobre músicas impróprias ou de duplo sentido, aprendiam tudo, no dizer popular: – NA TORA!
Na década de 1980, pelas manhãs, o Rev. Ezequiel Fragoso Vieira, na Rádio Asa Branca, apresentava o Programa Encontro com Deus, que era patrocinado pela Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem.
Era um programa solene, muito agradável, gostoso de ouvir, trazia músicas sacras e um rico sermão, possuindo um público fiel, tanto na cidade quanto no campo!
Ao caminhar pelo interior, era comum encontrar um rádio pendurado ou ao pé das cercas dos currais, onde os sertanejos ordenhavam o gado ouvindo a Palavra de Deus, já na cidade, o rádio era um dos fiéis equipamentos da cozinha, onde desde cedo já estava ligado e sendo atentamente ouvido por quem preparava o café daqueles que iriam abrir os seus comércios.
Certo dia, como era de costume, o Rev. Ezequiel Fragoso se despedia de seus ouvintes com uma das músicas de Luiz de Carvalho, cantor sacro muito apreciado, e logo depois a emissora anunciaria o próximo programa, ou entraria com um anunciante da grade comercial, mas nesse dia aconteceu algo diferente, que gerou muita gozação nas esquinas da cidade.
Mal o Luiz de Carvalho encerrou a sua interpretação o operador de áudio, desatento, colocou a música “Vida de Carpinteiro“, interpretada pelo Trio Nortista, uma música de duplo sentido que dizia o seguinte:
Os ouvintes mais atentos caíram no riso por conta da dissociação de temas, outros, os mais “santos”, ficaram indignados com o fato, que gerou fofoca de todos os tipos pela gafe cometida pela emissora, chegando ao ponto de ocorrer um diálogo entre M.B. Sousa, um de seus principais locutores, e o operador de áudio:
Disse M.B. Sousa, com aquele sotaque carioca que lhe era peculiar: – Ó Wertas, o pastor termina um programa religioso e você coloca uma música destas? De duplo sentido, deixando o homi com o prego na mão?
Nos outros dias, mais atentos, os operadores passaram a ter mais cuidado com o que faziam e a história aos poucos foi sendo esquecida.
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