David Vieira da Silva nasceu no dia 20 de janeiro de 1928 em um pequeno povoado denominado de Jacu, existente na zona rural do Município de Pombal, que está localizado em pleno Sertão paraibano, distante 371 quilômetros da cidade de João Pessoa, capital daquele Estado, sendo os seus pais Ariamiro José da Silva e Isaurina Isabel do Amor Divino.
Os seus avós paternos se chamavam José Francisco de Sousa e Maria Rosa do Nascimento, já os maternos eram José Vieira de Freitas e Antônia Egíbia do Nascimento.
Pelo importante fato de dependerem da agricultura e da pecuária para subsistência, os seus pais eram cativos das intempéries do clima nordestino e da boa vontade dos proprietários das terras em que trabalhavam como parceleiros.
Para alimentar a numerosa família que possuía, constantemente, os seus pais se obrigavam a procurar propriedades que fossem satisfatórias ao pagamento do seu uso, que dessem uma produção capaz de alimentar a sua prole e que gerassem lucro para futuramente investirem na aquisição da tão sonhada terra própria.
Algum tempo depois esse constrangimento de plantar em terras alheias chegou ao fim, quando o seu pai resolveu vender uma pequena propriedade em Jacu e adquirir uma bem maior próximo da vila de Brejo dos Santos, na época um importante Distrito pertencente ao Município de Catolé do Rocha:
“Em novembro de 1949, a família vendeu a pequena propriedade que tinha em Jacu e mudou-se para Brejo dos Santos, na época Distrito de Catolé do Rocha.” (MARINHO, 2014: p. 61)
No dia 15 de fevereiro de 1950, segundo informações existentes no Cartório de Registro Civil de Catolé do Rocha, tombo nº 1.402, folha 159v, aos 22 anos de idade, contraiu núpcias com uma de suas primas, Adalcina Vieira de Freitas, nascida em 10 de janeiro de 1934, sendo filha de José Vieira de Freitas Filho e de Maria Floriana Vieira, que morava nas proximidades das terras de seu pai, na vila de Brejo dos Santos.
“Após oito meses, já esperando o primeiro filho, deixou pais e irmão no referido Estado e vem com a esposa e familiares para o Município de Boa Viagem, no Estado do Ceará.” (MARINHO, 2014: p. 61)
Desse casamento foram gerados sete filhos, quatro homens e três mulheres, sendo eles: Deonete Vieira da Silva, Nilzete Vieira da Silva Carneiro, Dezuel Vieira da Silva, Adonias Vieira da Silva, Maria Floriana Vieira Neta, Rosemary Vieira da Silva Uchôa e Mário Vieira da Silva.
O jovem casal, que era cheio de planos, resolveu se aventurar em busca de melhores oportunidades para sobreviver e a esperança de felicidade poderia surgir em um local que não fosse muito povoado e que as terras, além de férteis, tivessem um valor comercial relativamente baixo, sendo que nessa época o Estado do Ceará parecia ser a melhor opção.
Nesse intuito decidiu conhecer o Município de Boa Viagem, um local potencialmente agradável que despertou a sua atenção graças às informações que foram recebidas por cartas de parentes que já residiam há alguns anos no Estado Ceará.
Pouco tempo antes disso, por problemas de intolerância religiosa, muitos paraibanos, de confissão protestante, fixaram residência nas localidades de Pitombeira e de Cachoeira, comunidades existentes nas proximidades da cidade de Boa Viagem:
“A perseguição aos protestantes de Brejo dos Cavalos, atual Brejo dos Santos, não se limitou à derrubada dos templos evangélicos, mas também às ameaças de morte e espancamentos que deixaram sequelas e, por conseguinte, até a morte. Todas as ações eram comandadas por um sacerdote católico chamado Padre Otaviano. Dentre as ações temerárias, só para deixar patente o nível rasteiro da perseguição imposta aos protestantes, o referido sacerdote chegou a disseminar entre toda a população que o batismo dos crentes se dava da seguinte forma: ‘o indivíduo ficava de ponta-cabeça, berrando igual a um bode, com uma vela preta na mão e um punhado de sal grosso no ânus’. Por esse motivo o pastor protestante da época, Rev. Briault, realizou, no final do ano de 1926, vários batismos no pátio externo da congregação, com o fito único de desmistificar o ardil montado pelo padre.” (CARNEIRO FILHO, 2008: p. 01)
Nos primeiros dias de outubro de 1950, juntamente com a família de seu sogro, fixaram residência na vila de Olho d’Água dos Facundos, uma propriedade adquirida meses antes através da intervenção de parentes que já residiam no Município de Boa Viagem.
Depois de algum tempo, já estabelecido, nas eleições municipais que ocorreram em 1954, Delfino de Alencar Araújo, que era candidato a prefeito, convidou o sogro de David Vieira da Silva a ser um dos articuladores de sua campanha, para isso fez-se necessário a mudança da família de seu sogro para cidade.
Logo depois de fixarem residência na cidade, após o período eleitoral, o seu sogro foi contratado como funcionário da prefeitura e iniciou a exploração de uma pequena mercearia no Centro da cidade.
Nessa mesma época, começou a incentivar a vinda de seu genro para zona urbana do Município, alegando que às condições de vida na cidade eram bem melhores.
Antes disso, no dia 5 de abril de 1957, conforme informações existentes no livro de atas da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem, foi eleito diácono da Congregação de Pitombeira, sendo consagrado no dia 24 de junho pelo Rev. José Borba da Silva Neto:
“Considerando a necessidade que tem a Congregação de Pitombeira de um diácono local, resolveu a Igreja separar, por voto unânime, o irmão David Vieira da Silva, para o diaconato, ficando o dia da sua consagração a critério do pastor da igreja.”
Nos primeiros dias de janeiro de 1958, decidiu mudar-se com toda a sua família para cidade, passando a residir nesse momento em uma casa que está situada na Rua Antônio Domingues Álvares, n° 221, Centro.
Nessa época, o principal centro urbano do Município, a cidade de Boa Viagem, oferecia as melhores condições para se viver e educar os seus filhos, e era também o local onde se iniciava às atividades da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem, onde foi um dos fortes cooperadores e mais tarde escolhido por sua assembleia de membros para servir como um de seus diáconos.
Com o seu deslocamento para cidade, resolveu investir as suas poucas economias em uma mercearia e posteriormente criou uma sociedade com o seu sogro em uma loja de tecidos e aviamentos de costura.
Segundo informações existentes em uma assembleia ocorrida no dia 6 de junho de 1958, juntamente com outros comerciantes, foi afastado da comunhão por insistir em abrir o seu estabelecimento comercial aos domingos, contrariando o artigo 37º do Regimento Interno da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem.
“Não tendo, porém, a assembleia se pronunciado sobre a matéria em foco, o sr. presidente sugeriu que se reformasse o Regimento Interno da igreja, revogando-se o parágrafo 5º do artigo 37 do mesmo, a fim de que a igreja não fosse constrangida a disciplinar tantos e tão úteis membros.”
Pouco tempo depois dessa polêmica, graças a um projeto de lei encaminhado à Câmara Municipal pelo Vereador Joaquim Vieira da Silva, foi sugerido o fechamento do comércio aos domingos, algo que não foi aprovado no primeiro momento, mas que retornou à pauta da legislatura que se seguiu e foi aprovado sem suscitar muitas divergências.
Em 1963, já estabilizado no comércio, conseguiu liquidar a sua sociedade com o seu sogro e adquiriu alguns lotes de terras da antiga propriedade onde residiu, na vila de Olho d’Água dos Facundos, acumulando a profissão de comerciante e de agropecuarista.
Pouco tempo depois, nos últimos anos da década de 1960, seduzido pelas querelas políticas da região, começou a se envolver mais diretamente na governabilidade de nosso Município, decidindo concorrer a uma das cadeiras do Poder Legislativo municipal.
Próspero agropecuarista, honesto comerciante, exemplo de chefe de família e detentor de destacadas virtudes morais, conseguiu a façanha de ser eleito vereador no dia 15 de novembro de 1966 depois de receber a confiança de 541 eleitores.
Em Boa Viagem, nessa época, por conta dos coronéis, a ARENA – a Aliança Renovadora Nacional, o seu partido, estava dividido em dois blocos e curiosamente, nessa eleição, a ARENA 2 consegui fazer oito vereadores, sendo que os três primeiros eram de confissão protestante, algo inacreditável para essa época, tendo em vista que a maioria da população era de confissão católica.
Nessa legislatura, dando apoio aos projetos vindos do gabinete do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, aprovou dotação orçamentaria para implantação de um tiro de guerra no Município de Boa Viagem; aprovou a aquisição de uma propriedade e a posterior construção do Hospital e Casa de Saúde Adília Maria de Lima; aprovou a doação da propriedade em que foi construída a Agência do Banco do Estado do Ceará e aprovou a implantação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto na cidade de Boa Viagem.
Próximo ao fim do seu primeiro mandato, a Justiça Eleitoral determinou a redução da legislatura que se seguiu, período administrativo que ficou conhecido na história política de nosso país como o “Mandato Tampão”:
“Visando unificar o período das eleições majoritárias e proporcionais no país, a Justiça Eleitoral, baseada na nova legislação em vigor, determinou que os candidatos, eleitos em 15 de novembro de 1970, deveriam ter um mandato mais curto de maneira que, na próxima eleição, fossem eleitos do presidente da república ao vereador no mesmo pleito.” (COSTA, 2002: p. 357)
Para esse pleito, ainda na ARENA, onde recebeu o incondicional apoio do Prefeito José Vieira Filho, foi indicado para compor uma das chapas como vice-prefeito, tendo o nome do Vereador Osmar de Oliveira Fontes para prefeito.
Na chapa da oposição, que era encabeçada por José Vieira da Costa, tinha como vice o nome do Agropecuarista Raimundo Alves Campos.
Depois disso, no dia 15 de novembro de 1970, logo após a abertura das urnas, o resultado confirmou a preferência popular para a chapa de Osmar Carneiro, que recebeu 4.707 votos contra os 3.089 votos da candidatura adversária.
Em sua primeira gestão, como vice-prefeito, teve a oportunidade de assumir o comando do Poder Executivo por diversas vezes, tendo em vista o ótimo relacionamento com o prefeito que, muitas vezes, precisava se ausentar do Município.
Pouco tempo depois, nos primeiros meses de 1973, desejando o desenvolvimento educacional de nossa população, realizou a doação de uma grande propriedade que está situada na Rua Alfredo de Sousa Terceiro, nº 742, no Bairro Tibiquari, onde pouco tempo depois foi construída uma escola que veio a ser uma referência no novo modelo de ensino adotado pelo Governo do Estado, o ensino através do televisor.
Nessa mesma época, adquiriu para a sua propriedade um equipamento indispensável para o homem do campo, um trator. Naquele ano, iniciando a quadra chuvosa de 1976, empolgado com a sua nova aquisição, resolveu arar a sua propriedade na localidade de Olho d’Água dos Facundos não atentando para a falta de experiência no manuseio dessa ferramenta. Infelizmente, sem a habilidade suficiente para controlar a força da possante máquina, outras versões afirmam que o mesmo padeceu de um derrame ao volante, sofreu um terrível acidente na qual o trator tombou e esmagou o seu corpo:
“A sua vida foi subitamente retirada em um trágico acidente, quando se deslocava da Fazenda Bom Sucesso, outra de suas aquisições, para a Fazenda Olho d’Água.” (MARINHO, 2014: p. 62)
De acordo com as informações existentes no livro C-12/1, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 5, folha 35, faleceu no dia 17 de janeiro de 1976, em um dia de sábado, prestes a completar apenas 48 anos de idade.
Encerrou-se precocemente a trajetória de vida de um homem trabalhador e honesto que certamente seria um bom gestor de nosso Município e naquele momento os boa-viageses vestiram-se de luto e prantearam a perda de um homem que possuía um futuro promissor.
Logo após o seu repentino falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado no mausoléu da família que existe no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, Centro.
Poucos dias depois, no dia 25 de março de 1976, o Coronel José Adauto Bezerra, Governador do Estado do Ceará, juntamente com várias autoridades do Município, compareceram a solenidade de inauguração da Escola de Ensino Fundamental David Vieira da Silva que, em sua memória, recebeu a sua denominação.
Alguns anos depois, no pastorado do Rev. Ezequiel Fragoso Vieira, na vila de Olho d’Água dos Facundos, conduzido por sua esposa, foi concretizado um de seus maiores sonhos, a construção de uma pequena congregação da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem.
“No final do ano de 1984, pensando em expandir o seu trabalho evangelístico e doutrinário, bem como atender as necessidades de diversos membros, a Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem organiza… A irmã Adalcina Vieira de Freitas inicia um trabalho em Olho d’Água dos Facundos, na zona rural do Município de Boa Viagem.” (FRAGOSO VIEIRA, 1997: p. 5)
HOMENAGEM PÓSTUMA:
- Em sua memória, o seu nome foi colocado pelo Governo do Estado em uma unidade de ensino da rede estadual de educação;
- Em sua memória, na gestão do Prefeito Benjamim Alves da Silva, embora ainda sem legislação, a rua que divide os Bairros Centro e Tibiquari, na cidade de Boa Viagem, recebeu a sua nomenclatura;
- Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho, embora ainda sem legislação, na vila de Olho d’Água dos Facundos, no Município de Boa Viagem, uma das ruas recebeu a sua denominação.
BIBLIOGRAFIA:
- CARNEIRO FILHO, David Vieira. A Perseguição aos Protestantes em Catolé do Rocha. Boa Viagem: Sem Editora, 2008.
- CAVALCANTE COSTA, João Eudes. Retalhos da História de Quixadá. Fortaleza: ABC Editora, 2002.
- FRAGOSO VIEIRA, Ezequiel. A História da Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem. Boa Viagem: Sem Editora, 1997.
- MARINHO, Antônia de Lima. A Filha do Nordeste e Frutos Nordestinos. Boa Viagem: Maximu’s Impressões Gráficas, 2015.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão: A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Boa Viagem, CE: Premius, 2015.
Pingback: Biografias | História de Boa Viagem
Pingback: Rua David Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: Administração de 1971 – 1973 | História de Boa Viagem
Pingback: Administração de 1967 – 1971 | História de Boa Viagem
Pingback: Deonete Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: Avenida Deonete Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: JANEIRO | História de Boa Viagem
Pingback: Osmar de Oliveira Fontes | História de Boa Viagem
Pingback: Raimundo Alves Campos | História de Boa Viagem
Pingback: Rua David Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: Escola Estadual de Educação Profissional David Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: Igreja Evangélica Congregacional de Olho d’Água dos Facundos | História de Boa Viagem
Pingback: José Vieira da Costa | História de Boa Viagem
Pingback: José Vieira de Freitas Filho | História de Boa Viagem
Pingback: Igreja Evangélica Congregacional de Boa Viagem | História de Boa Viagem
Pingback: Escola de Ensino Fundamental David Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: Adonias Vieira da Silva | História de Boa Viagem
Pingback: Francisco Alves de Sousa | História de Boa Viagem
Pingback: Eliane da Silva Alves | História de Boa Viagem
Pingback: Adalcina Vieira de Freitas | História de Boa Viagem
Pingback: Maria Cristina Pontes Vieira | História de Boa Viagem
Pingback: Uziel Vieira da Silva | História de Boa Viagem