Cemitério das Lembranças

AS INFORMAÇÕES BÁSICAS:

O Cemitério das Lembranças é uma necrópole pública, classificada como rural, que está localizada em uma localidade denominada de Lembranças, próximo da Rodovia Estadual CE-265, dentro dos limites geográficos do Distrito de Poço da Pedra, distante 42 quilômetros do Centro da cidade de Boa Viagem, no Município de Boa Viagem, no Estado do Ceará.

Imagem da entrada principal do Cemitério das Lembranças, em 2014.

Um cemitério, ou necrópole, é um lugar onde são sepultados os cadáveres humanos, e na maioria dos casos também são lugares de prática religiosa, sobre o Cemitério das Lembranças e a sua importância assim escreveu o Prof. Ednardo Brasil:

“O Cemitério das lembranças acolheu, praticamente, todos os mortos de minha região. Situava-se num lugar ermo e, por muitas décadas, apenas uma residência havia nas proximidades do campo-santo.” (BRASIL, 2022: p. 23)

A BASE LEGAL DE SUA NOMENCLATURA:

Essa importante cemitério, até os dias de hoje, ainda não possui uma nomenclatura regulamentada pela Câmara Municipal de Vereadores.

A HISTÓRIA DE SUA CONSTRUÇÃO:

Essa pequena necrópole, que é uma das mais antigas existentes no Município de Boa Viagem, foi organizada a mando do Capitão Américo Carneiro da Silva Oliveira nos últimos anos do século XIX, existindo registros paroquiais de sepultamento nesse local já em 1893, quando nesse registro é identificada como “Cemitério da Capela do Carneiro”.

Imagem tumular do Capitão Américo Carneiro da Silva Oliveira, em 2014.

Os mais antigos contam que esse agropecuarista pretendia construir um cemitério dentro de sua propriedade e mandou um de seus trabalhadores começar a organizar a sua estrutura onde havia três cruzes, uma ordem que dentro de pouco tempo foi esquecida, mais tarde esse agropecuarista estava com uma filha prestes a morrer e chamou esse trabalhador para cobrar-lhe o que tinha lhe mandado, surgindo daí o nome de Cemitério das Lembranças.
As três cruzes existentes nesse ponto marcavam o local onde em uma data desconhecida havia ocorrido uma briga que ceifou a vida de três pessoa, fato que deu origem a um dos topônimos do rio que passa em suas proximidades.

“Nessa época, quando um casal seguia a cavalo por uma das estradas do Sertão, sendo acompanhados por um arrieiro, ao passar nas proximidades de uma casa, o cachorro da fazenda assustou um dos cavalos, que derrubou a sua amazona e saiu arrastando o seu corpo morto. Nesse momento, indignado pelo acontecido, o esposo da mulher sacou um revólver e imediatamente atirou no cachorro até que, poucos momentos depois, o dono do animal revidou o disparo em direção do esposo da amazona caída, que faleceu com o tiro. Na troca dos tiros o arrieiro, para defender os seus patrões e a sua própria vida, atirou no dono do cachorro, que tombou morto. Como falamos anteriormente, não temos certeza da veracidade de tal fato, o certo é que a partir dessa confusão esse rio recebeu o nome de ‘Rio dos Cachorros’ pelos moradores da região. Nessa mesma história tem o surgimento de outro nome para o rio, pois se conta que o nome da mulher que morreu por conta da queda do cavalo era ‘Conceição’, embora acreditemos que esse nome faça referência a Nossa Senhora da Conceição.” (SILVA JÚNIOR, 2015: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/rio-conceicao/. Acesso no dia 27 de março de 2021)

Nos últimos anos da década de 1970, por conta de uma grande enchente colocada pelo Rio Conceição, também chamado de “Rio dos Cachorros”, esse cemitério teve parte de sua estrutura destruída, algo que danificou muitos túmulos.
Nesse cemitério existe também a Capela de Santa Luzia, que foi construída em uma data desconhecida, provavelmente pouco tempo depois da edificação do cemitério, sendo o local onde costuma ocorrer os ofícios fúnebres bem como uma casa que servia de rancho para os padres que vinham fazer as celebrações e em nossos dias se encontra em ruinas.

Imagem do casarão das lembranças, em 2019.

Sobre essa casa, os seus moradores e o cemitério, o Professor Ednardo Brasil nos relata um acontecimento muito engraçado:

“Na grande casa de pau-a-pique, moravam três irmãos solteirões, conhecidos apenas por Janoca, Bidia e Milu. Católico fervoroso, o trio encarava com muita tranquilidade o fato de morar quase dentro do cemitério. Janoca, o mais velho e único homem da família, sofria da chamada doença de Blout, um distúrbio de alteração no crescimento da tíbia que, no seu caso, levou ao arqueamento total das pernas, tornando-se uma pessoa bem peculiar e de aparência que, inevitavelmente, chamava à atenção. Sempre vestido de branco, era comum Janoca fazer passeios noturnos por entre os túmulos, enquanto, de rosário numa das mão e lamparina na outra, tirava o terço. Aquilo, para nós, que perdíamos o sono com estórias de almas, não era meramente uma prova de coragem, mas de loucura total. Questionado sobre seus hábitos nada comuns, o homem simplesmente dizia: – ‘Caboco Véi, os morto não faz mal a ninguém; eu tenho medo é dos vivo!’ Como a Lei da Natureza não falha, Janoca foi envelhecendo e, cada vez mais, reclamava das dores nas pernas, dentre outras coisas. Lamentava não poder mais trabalhar e que isso era equivalente a ser um ‘homem morto’. Mas a vida seguia. Ao lado do Cemitério das Lembranças, passa a estrada que liga a atual BR-020 a alguns Distritos do Município. Nas décadas de 1970 e 1980 era comum passar por ali caminhões carregados, principalmente de algodão, produto abundante à época. A qualquer hora do dia ou da noite, poderia transitar por ali um bruto com destinos e mercadorias variados. Certa noite, depois da caminhada noturna e do terço, Janoca dormia na tranquilidade de sua casinha, quando foi acordado por um barulho do motor engasgado e marteladas em lataria. Imaginou o óbvio. Devia ser algum caminhão quebrado. Ser humano solidário que era, não pensou duas vezes. Pegou a lamparina debaixo da rede, puxou para fora o pavio, acendeu o fósforo e, seguindo o barulho, foi oferecer o socorro possível ao motorista. Na escuridão total e próximo ao cemitério, o homem tentava desesperadamente uma solução rápida para o problema do veículo. De repente, percebe se aproximar a pequena chama de uma lamparina, o que já lhe arrepiou dos pés à cabeça. Beirou o desespero quando viu aquela criatura esquisita, de pernas tortas e totalmente de branco, segurando o objeto luminoso. Pensou em correr, porém, as pernas, praticamente paralisadas, não ajudavam. Janoca aproximou-se e principiou uma conversa: – ‘Tá precisando de ajuda, Cabôco Véi?’ O motorista quase sem voz, conseguiu responder: – Amigo, preciso mover uma peça aqui, mas não tenho força suficiente para fazer isso sozinho. Janoca tirou o grande chapéu de palha da cabeça, coçou a careca e lamentou: – ‘Ô, Cabôco Véi, fico muito triste por num poder lhe ajudar. Fosse o tempo que eu era vivo…!’ A conversa se encerrou por aí. O motorista disparou numa carreira rumo à Fazenda Belmonte, de propriedade do Sr. Eduardo Patrício, lugar mais próximo dali. Lá chegando, bateu com desespero na porta do fazendeiro e pediu para entrar, pelo amor de Deus. Indagado pelo dono da casa sobre o seu desespero, o homem contou do defunto de pernas tortas que lhe oferecera ajuda. Sr. Eduardo Patrício, que era vizinho de Janoca, caiu na gargalhada e tentou esclarecer para o motorista o mal entendido. Argumentou que o homem, apesar da aparência estranha, era uma boa alma, sempre disposta a ajudar a quem por ali passasse e tivesse alguma dificuldade. Além disso, reiterou que Janoca estava ‘vivinho da silva’. Tempo perdido. O ‘chofé’ pediu dormida e só saiu dali depois de clarear o dia. Depois daquele encontro, aquele motorista ainda passou algumas vezes por aquela rota, mas, somente durante o dia e sem jamais conseguir tirar da memória a imagem do defunto de pernas tortas segurando a chama de outro mundo.” (BRASIL, 2022: p. 23-26)

Mais tarde, por volta de 2006, depois de sofrer uma nova inundação na quadra invernosa de 2004, graças a um trabalho de filantropia realizado pelo agropecuarista e comerciante Pedro Marcolino, esse cemitério recebeu muitas melhorias em sua faixada, passando a ter grades de ferro em sua principal entrada e a capela recebeu piso cerâmico.

A SUA ESTRUTURA:

Para executar bem as suas atividades, gerando conforto para os seus visitantes, o Cemitério das Lembranças possui a seguinte estrutura:

  1. Capela: 1.

O CEMITÉRIO COMO FONTE DE PESQUISA E DE TURISMO:

Poucas pessoas acreditam, mas um cemitério é um excelente ponto de turismo regional. Apoiando essa ideia, segundo informações fornecidas pelo Jornalista Valdenir Rodrigues, que foram publicadas no site www.boaviagemnoticias.com.br, edição do dia 30 de outubro de 2014, temos uma pequena noção do fluxo de pessoas que visitam esses locais no Dia de Finados:

“Como manda a tradição católica, os dois principais cemitérios da cidade de Boa Viagem, Parque da Saudade e Parque da Esperança, deverão contar com uma grande aglomeração de visitantes. São milhares de pessoas, dentre os quais parentes e amigos, muitos vindo de outras cidades, que virão visitar os seus entes queridos que já se foram.”

Depois dessa importante data do calendário cristão, o Dia de Finados, ao que muitos pensam, o cemitério fica esquecido mas, na verdade, nos dias de hoje, o cemitério se constitui em uma importante ferramenta da economia criativa:

“O turismo em cemitério tem como foco principal a exploração do patrimônio artístico e arquitetônico; para isso, alguns cemitérios até foram transformados em cemitérios-museu. Um outro motivo que move o turismo cemiterial é a busca de personalidades, que mesmo depois de mortas continuam sendo veneradas, até mais do que quando estavam vivas. Para poder conservar os mausoléus, no caso dos cemitérios-museu, a saída encontrada foi a mercantilização do espaço, ou seja, além de alguns eventos que são realizados o visitante é obrigado a pagar uma entrada.”

Embora esse cemitério possua essa excelente potencialidade econômica o Governo do Município, ou as empresas do setor de turismo, ainda não despertaram para investir na exploração desse nicho de mercado.
Outra importante função dos cemitérios na atualidade é a coleta de informações, que são cuidadosamente interpretadas por um profissional de pesquisa chamado de cemiteriólogo.

AS SUAS CARACTERÍSTICAS:

As principais características do Cemitério das Lembranças, no Distrito de Poço da Pedra, são as seguintes:

  • Administração: Secretaria da Infraestrutura.
  • Altitude: 319 mts.
  • Área:
  • Contato: 88.3427-1132.
  • Coordenadas: (S) 04º 52′ 00.2” (S) 039º 41′ 38.9”.
  • Propriedade: Governo do Município.
  • Tipo: Público.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BRASIL, Ednardo Rodrigues. Nem crônica nem conto mas, conto assim mesmo. Sem Editora: Boa Viagem, 2022.
  2. FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
  3. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  4. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Rio Conceição. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/rio-conceicao/. Acesso no dia 27 de março de 2021.

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