A FORMAÇÃO COLONIAL:
Durante muitos anos vem sendo ensinado nas escolas municipais que o Alferes Antônio Domingues Álvares e a sua esposa, Agostinha Sanches de Carvalho, foram os primeiros habitantes das terras que constituíram a primitiva área do território boa-viagense.
Ao fazermos esta simples observação não temos qualquer propósito de contestar que realmente foram eles os fundadores dessa cidade, todavia precisamos compreender o contexto histórico em que viveram e qual o interesse na perpetuação desse mito que de certa forma já está sacralizado na cabeça de muitas pessoas.
Antes de nos aprofundarmos neste assunto julgamos oportuno lembrar que a cidade de Boa Viagem, que está localizada no Sertão Central do Estado do Ceará, se originou de uma fazenda e que, antes deles, outras pessoas já estavam estabelecidas por aqui tentando explorar as riquezas que essas terras poderiam produzir.
Para entendermos a origem histórica desse Município precisamos compreender a forma como se deu a sua colonização, daí então chegaremos a conclusão, observados os elementos, de que a decisão do deslocamento desse casal em fuga para essa região não foi obra do acaso e sim algo cuidadosamente premeditado.
Um pouco tempo antes, no início da colonização das terras brasileiras, o governo português fez de tudo para não onerar o tesouro real com novas dívidas, a corte desejava fazer riqueza para o seu país com a sua nova colônia sem ter a obrigação de investir nenhuma de suas “patacas”, estudava a possibilidade de ter grandes lucros com um baixo investimento:
“Povoar a sua nova conquista era fundamental para Portugal manter os seus domínios americanos e resistir às incursões estrangeiras. Mas, para povoar, era preciso apresentar uma alternativa de enriquecimento e de poder que não onerasse a Coroa.” (CAMPOS & GARCIA MIRANDA, 2005: p. 205)
Nesse tempo o Brasil foi fatiado e criteriosamente dividido entre aqueles que tinham prestígio e recursos disponíveis para explorar ao máximo às terras recém “descobertas”, visto que, nessa época, o comércio com o Oriente parecia ser bem mais lucrativo e a coroa portuguesa temia perder a sua nova conquista para as outras nações europeias.
A Capitania do Ceará foi criada em 1535 e era a menor entre as demais, possuía apenas 600 quilômetros de extensão ao longo do litoral e tinha como marco de limite o Rio da Cruz, em Camocim, ao Rio Jaguaribe, que se estende praticamente por toda a lateral da chapada do Apodi.
O primeiro donatário da Capitania do Ceará foi Antônio Cardoso de Barros, um fidalgo português que pouco se empenhou em promover o seu povoamento, tendo em vista que nessa época tinha outras ocupações comerciais e não se preocupou em investir em algo que, em longo prazo, não lhe daria o retorno financeiro desejado.
Esse fato fez com que, durante muitos anos, o litoral cearense ficasse a mercê dos corsários franceses, que rotineiramente negociavam com os selvagens no intuito de ganhar-lhes a confiança e ter-lhes como aliados em uma possível incursão militar.
A Capitania ficou em completo abandono até o ano de 1603, quando Pero Coelho de Sousa conseguiu autorização real para reconquistar e desenvolver o território cearense recebendo, por conta disso, o título de capitão-mor.
O primeiro objetivo desse novo explorador era impedir o comércio indígena com os invasores franceses e, logo em seguida, após ganhar-lhes a confiança, construir um núcleo de povoamento às margens do Rio Ceará usufruindo do potencial hídrico do Rio Jaguaribe a fim de partir para a colonização de seus afluentes.
Dentro de pouco tempo parte desse plano conseguiu obter êxito e uma pequena vila foi erguida com o nome de Fortim de São Tiago da Nova Lisboa, mas infelizmente, em 1605, uma terrível seca se abateu sobre essa Capitania e fez com que os seus habitantes, desesperados, se refugiassem no Forte dos Reis Magos, que está localizado no litoral do Rio Grande do Norte.
Frustrada essa tentativa uma nova investida foi feita por volta de 1607, dessa vez comandada pelos jesuítas Pe. Francisco Pinto e Pe. Luiz Figueira, que no dia 11 de janeiro celebraram o primeiro ofício cristão em nossas terras.
Nessa tentativa, dessa vez pela serra da Ibiapaba, os silvícolas da tribo Tocarijus trucidaram o Pe. Pinto esmagando-lhe à cabeça e por muito pouco o Pe. Luiz Figueira e os outros colonos conseguiram escapar do mesmo destino:
“Os índios nunca se conformaram com a tomada de suas terras, caças, pescas, frutos e raízes. Hostilizaram sempre. Os colonos viviam a morrer de fome por terras. E quando estas passaram do domínio público a propriedade privada, foi um Deus-nos-acuda a busca desenfreada por sesmarias.” (FERNANDES VIEIRA, 1977: p. 29)
Por fim a colonização do Ceará só obteve êxito a partir de 1611, quando Martim Soares Moreno, um dos colonos da frustrada tentativa feita por Pero Coelho de Sousa, anos antes, conseguiu conquistar a simpatia do Cacique Jacauna e fazer dele um importante aliado contra os holandeses.
Graças a esse aliado os portugueses conseguiram expulsar os invasores e conquistaram uma importante defesa para o nosso litoral, o Forte de Schoonenborch, uma importante posição de defesa que havia sido construído com os destroços de um forte abandonado, denominado de São Sebastião.
Depois desses episódios percebeu-se que as terras cearenses não eram próprias para o cultivo da cana-de-açúcar, mas possuíam forte potencial para a extração das drogas do Sertão e para a criação de gado às margens dos grandes rios:
“Nenhum povo tinha tanta facilidade para se adaptar em regiões tropicais do que o português. O clima mais árido ou mais frio não o amolecia. A terra mais adusta não enlanguescia e se por ali não existiam louras angélicas com quem se deitar, as negras e as mulatas serviam. A cultura de seu povo mandava que ele se adaptasse naturalmente às condições sociais do lugar, onde quer que se encontrasse. Não tivesse preconceito de raça! A miscigenação imediata com as mulheres de cor, vigorosas mestiças, dóceis indiazinhas e rebolentas negrinhas, era uma questão de força e necessidade. Até dizia com os interesses políticos e econômicos de seu Estado. Considerasse seu igual todo aquele que não fosse herege, que não descresse de Deus e não dirigisse em orações aos santos. Facilmente poderia ele conhecer um marrano ou um doente religioso: o padre estava sempre ao seu lado para saber da ortodoxia católica de alguma pessoa.” (FERNANDES VIEIRA, 1977: p. 27)
Até o século XVII a criação de gado bovino no Brasil desenvolveu-se nas regiões canavieiras, próximas do litoral, para atender às necessidades dos engenhos. Além de fornecer a carne e o couro o gado era utilizado como meio de transporte e força de tração para moer a cana-de-açúcar.
Aos poucos esses canaviais foram ocupando maiores extensões de terras, obrigando aos criadores de gado a penetrar o Sertão com os seus rebanhos e criando novos laços de relacionamento social.
Avançando pelo Sertão, os criadores atingiram o Rio São Francisco e não tardou muito até chegarem ao Rio Jaguaribe e aos seus afluentes, onde constituíram fazendas e pequenos núcleos de povoamento em terras que posteriormente lhes eram cedidas em cartas de sesmarias:
“Metade da história do Ceará é contada através dele. Não se pode falar do Ceará sem se tocar no Rio Jaguaribe. Ele é longo, desce com toda a beleza na época invernosa para o mar devorador e insaciável. Durante o verão fica estorricado, transformando-se em um imenso lençol de areia. O homem que eternamente luta com ele na disputa dos terrenos de aluvião, e por causa da cheias perde a sua lavoura, pode então plantar uma vazante.” (FERNANDES VIEIRA, 1977: p. 12)
As concessões dessas sesmarias eram requeridas pelos que se diziam dispostos a obterem terras para a criação bovina, ou mesmo para aumentar a quantidade de pasto das propriedades rurais já estabelecidas.
Alegavam os requerentes que o desenvolvimento econômico da região e a consequente renda de sua majestade só se tornaria expressiva com o aumento do rebanho.
As doações, ou datas, como geralmente eram conhecidas, correspondiam normalmente a duas léguas de comprimento por meia légua de largura, sendo que uma das condições para que as terras fossem datadas era a exigência da existência de água potável.
O sesmeiro, ao receber essa concessão, possuía a carência de dois anos para por em prática várias obrigações, entre esses deveres podemos listar o compromisso de pagar os dízimos a Deus, “dos frutos que nela houvesse“, catequizar os índios e se dispor à guerra quando solicitado pelo rei.
As distribuições dessas sesmarias iniciaram um intenso movimento de colonização em nossas terras e entre esses colonos, por volta de 1702, estava o casal Gil de Miranda Carneiro e Bárbara Maria de Barros, que mais tarde, em 1710, receberam a sesmaria de posse de onde hoje está a cidade de Boa Viagem:
“Em vista das palavras de outro requerimento de Gil de Miranda e Antônio Mendes Lobato, em que pedem a 25 de fevereiro de 1702, umas terras no Rio Salgado, assim concebido, que eles descobriram com outros companheiros umas terras no Distrito do Icó.” (BEZERRA, 1918: p. 86)
De rio em rio o gado, mansamente, sem existir cercas que lhe impedissem a livre escolha do pasto, veio trazendo o homem branco para o Sertão do Ceará e dentro de pouco tempo, em 1710, às terras de Boa Viagem foram finalmente requisitadas em concessão:
“Concedida no Brasil uma sesmaria, o concessionário ou o sesmeiro era obrigado a demarcá-la judicialmente dentro de dois anos, e pedir depois a confirmação régia, sob pena de perder a mercê; o que se estabeleceu por lei de 1703 e 1753; mas essa disposição era geralmente desprezada. Obtida a sesmaria poucos sesmeiros a demarcavam e buscavam confirmação pelo dispêndio e dificuldade que encontravam: mas, não obstante, metiam-se de posse das terras e o futuro trazia grandes contendas e dissensões pela falta de medição e pela coincidência de outras concessões. Os pleitos eram renhidos e nos sertões eram origem de assassinatos e desordens.” (ARARIPE, 2002: p. 133)
No texto lavrado da sesmaria concedida a Antônio Domingues Álvares, datado em 26 de junho de 1743, nos deixam pistas claras a respeito dos primeiros moradores de nossa região e da história da conquista e exploração dessas terras.
Através desse valioso documento deduzimos que Gil de Miranda Carneiro e a sua esposa, Bárbara Maria de Barros, nunca residiram nas terras que hoje formam o nosso Município.
Acreditamos que a sua propriedade, nas proximidades da vila do Icó, era bem mais lucrativa e promissora do que essas terras localizadas no Sertão de Canindé, que eram bem distantes dos principais centros urbanos da época e bem mais suscetíveis a grandes períodos de estiagens.
Diante disso, impossibilitado de explorar essa nova conquista, quem sabe por conta da idade ou da longa distância, essas terras foram doadas, talvez como presente de casamento, um dote, a uma de suas filhas e, posteriormente, negociadas com Antônio Domingues Álvares.
A carta de solicitação de sesmaria de Antônio Domingues Álvares é bem clara quando nos diz que Phelipe Rodrigues e Barbosa de Barros, genro de Gil de Miranda Carneiro, durante alguns anos, morou com a sua esposa onde hoje está o Município de Boa Viagem, mas não nos revela os motivos que o fizeram vender essa propriedade, nem o seu valor, nem a quantidade de semoventes e tão pouco as benfeitorias realizadas durantes os anos de sua residência por aqui:
“… Senhor Capitão mayor e governador, diz Antônio Domingues Álvares que elle está possuhindo e dominando três légoas de terra de Cumprido e huma de Largo meya pera cada Banda, em hum Riacho chamado de Crateús do poente para o nascente, e vem fazer Barra em outro a que chamão de fundo Cruz, e dahy correm ambos juntos a desagoar no Rio Quixeramobim, as quais terras forão concedidas no anno de mil setecentos e doze…. Gil de Miranda Carneiro e sua esposa Bárbara Maria de Barros passaram a três léguas de terras a uma de suas filhas e a seu genro Phelipe Rodrigues e Barbosa de Barros, dos quais os ouve o suppte por compra, e os sobreditos as posssuhirão e tiverão sempre povoada com gados, e o suppllicante desde quando os comprou…” (NASCIMENTO, 2002: p. 51-52)
Hipoteticamente acreditamos que no Arraial de Nossa Senhora do Ó, posteriormente chamada de vila do Icó, todos tinham conhecimento das terras de Gil de Miranda Carneiro no Sertão de nossa Capitania.
Certos dessa hipótese, podemos deduzir também que Antônio Domingues Álvares, quando esteve nessa vila, provavelmente entre 1725 e 1730, de alguma forma tomou conhecimento da existência dessas terras e, possivelmente, tenha até tido algum contato com algum dos membros da família de Gil de Miranda Carneiro.
Acreditamos ainda que ele passou muitos dias perambulando pela vila do Icó, quem sabe até sendo um hospede de Gil de Miranda, espreitando uma simples oportunidade de falar com a sua amada Agostinha.
Confiamos ainda que Antônio Domingues Álvares sabia da existência dessas terras ou, quem sabe, Agostinha tinha amizade com a esposa de Phelipe Rodrigues, a filha de Gil de Miranda Carneiro, e que esses lhe dariam refúgio por algum tempo em sua propriedade após a planejada fuga.
Todas essas suposições nunca nos serão respondidas, mas o benefício da dúvida sempre estará do nosso lado e reforçará ainda mais os muitos mistérios que envolvem a vida desse simples casal.
Ainda nessa época, como sabemos, o Sertão era famoso por ser um ótimo local para quem quisesse se esconder da lei, era uma excelente opção de refúgio para criminosos que fugiam do alcance da justiça:
“Da Serra dos Cocos, dos Cariris Novos, da Chapada do Araripe, da Serra da Joaninha, da Serra Grande, das Várzeas do Icó, chegavam constantemente toda sorte de criminosos. Eram delinquentes primários que praticavam alguma vingança, eram cabras procurados pela milícia, eram recomendados de algum parente, jagunços de coronéis amigos, mas fora das graças dos políticos da Província ou da Corte, a quem o poderoso fazendeiro protegia seguramente contra toda e qualquer perseguição, pessoal ou legal.” (FERNANDES VIEIRA, 1977: p. 94)
A famosa e importante carta de sesmaria nos revela ainda que, depois de estabelecido, anos mais tarde, provavelmente depois de ter feito as pazes com o seu sogro, Antônio Domingues escreveu ao capitão-mor de nossa Capitania, João de Teyve Barreto e Menezes, no intuito de legalizar a situação de suas terras frente ao Governo Lusitano e alegou que a primeira carta de sesmaria, a que foi entregue a Gil de Miranda Carneiro, já não existia mais:
“… e o suplicante desde quando os comprou, pagando todos dízimos a Deus e porque a dita data se perdeo, e buscando o suplicante nos Livros dos Registros a não acha, e pera melhor conservação de seu dereyto pede a vossa Senhoria lha conceda por nova data em nome de sua majestade que Deus goarde as ditas três legoas de terra…” (NASCIMENTO, 2002: p. 52)
Essa carta nos informa ainda de sua prosperidade e o curso de como adquiriu essa gleba, porém não nos diz se a sua aquisição foi imediata ou se morou durante algum tempo com a família de Phelipe Rodrigues.
Outro tema que nos inquieta e nos desperta o interesse é o fato de que ele tenha se referido à inexistência dessa primeira carta de sesmaria, entretanto descobrimos que essa concessão, em conformidade com o que escreveu o historiador Antônio Bezerra, foi autorizada no dia 7 de novembro de 1710 e não em 1712, como equivocadamente ele alegou.
Vale a pena deixar claro também que, embora solicitando ao governo e depois passando a possuir essas duas cartas de sesmaria esse casal habitava na localidade denominada de Espírito Santo, hoje dentro dos limites do Município de Monsenhor Tabosa:
“Inicialmente, a sesmaria que tinha 3 léguas de terras, e possuía como título a Fazenda Espírito Santo, passara pela seguinte tramitação: Calixto Lopes da Silva requereu a Data de Espírito Santo em 1732. No mesmo documento, de Petição e Concessão, vem a transformação do dito imóvel (Espírito Santo) do poder de Calixto Lopes da Silva para Antônio Domingues Álvares, cujo teor escriturístico não explicita se a transferência da Fazenda Espírito Santo fora por efeito de herança, ou compra… Do 2º proprietário, Antônio Domingues Álvares, a Fazenda Espírito Santo passou às mãos de Antônio Ribeiro Campos, agora sim, por efeito de herança em virtude de Antônio Ribeiro Campos ser genro de Antônio Domingues Álvares.” (LIMA, 1994: p. 17-18)
Nessa época, sem a existência de cercas de arame farpado, o pecuarista precisava de grandes extensões territoriais para o seu gado e essa astuciosa forma de ampliar os seus limites geográficos tinha por objetivo fornecer uma maior quantidade de pastos ao seu rebanho.
Com o passar dos anos e a divisão em heranças essas terras, como também a dos outros sesmeiros que estavam dentro dos limites do Município de Boa Viagem, foram sendo divididas entre os parentes, agregados e os forasteiros que foram se estabelecendo paulatinamente nessa região.
A FORMAÇÃO ROMÂNTICA:
Como já foi mencionado anteriormente, a partir da metade do século XVI, a máquina estatal portuguesa foi se tornando cada vez mais dependente dos negócios atlânticos, pois a crise do comércio com o Oriente pôde aos poucos ser compensada pelo florescimento das atividades açucareiras na América do Sul e pelo tráfico de escravos negros oriundos da costa africana.
O eixo geográfico e econômico do Império português foi se deslocando gradativamente para o Oceano Atlântico, gerando possibilidade de altíssimos lucros para Coroa lusitana.
Nessa época a metrópole portuguesa vivia uma situação de contrastes sociais em suas ruas, ao mesmo tempo em que a aristocracia se fortalecia com os negócios de ultramar e grandes comerciantes associados ao Estado enriqueciam, a maior parte da população empobrecia.
Nesse contexto de crise social a vastidão e a fertilidade das terras americanas se constituíam em um forte atrativo para a vinda de europeus empobrecidos para o Continente Americano.
O Velho Mundo já não era mais capaz de dar o sustento a todos os seus filhos e alguns deles, portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e outros, eram forçados a ir buscar subsistência longe de suas pátrias, principalmente aqueles que tinham o sangue judeu correndo por suas veias:
“Mais atingidos pela crise inflacionária, aos pobres do reino português restava um último motivo de orgulho, oriundo da hegemonia da mentalidade aristocrática: a identidade cristã. Os seus olhares rancorosos se voltaram para as comunidades que viviam nos bairros judaicos, as judiarias, e para os cristãos novos, vistos sempre com desconfiança. Ataques a essas comunidades e denúncias de seus membros ao Tribunal do Santo Ofício eram práticas correntes da população empobrecida e de mercadores cristãos-velhos, estes motivados por interesses e rivalidades mercantis. Por ironia, tantos judeus e cristãos-novos quanto os cristãos-velhos tinham na América uma alternativa para as dificuldades verificadas na Metrópole. Por sua extensão e possibilidades de enriquecimento, a América tornou-se um lugar de refúgio para a comunidade judaica portuguesa.” (CAMPOS & GARCIA MIRANDA, 2005: p. 211)
No início do século XVIII uma família de judeus-portugueses emigrou de sua terra natal com destino à colônia portuguesa na América do Sul na intenção de obter melhores condições de vida e o principal, construírem fortuna:
“Na primeira metade do século XVIII o português Manuel da Rocha Franco, casado com Maria Sanches de Carvalho, seu cunhado Domingos Sanches de Carvalho e as sete filhas do casal: Antônia Franco de Carvalho, Senhorinha de Carvalho, Anacleta Sanches de Carvalho, Eugênia Gonçalves de Carvalho, Agostinha Sanches de Carvalho, Lina de Carvalho e Bernardina Sanches de Carvalho emigraram de Portugal com destino ao Brasil.” (NASCIMENTO, 2002: p. 49)
Quando essa família chegou ao Brasil logo fixou residência na vila de Olinda, que está localizada no litoral da Capitania de Pernambuco, onde, não sabemos por qual motivo, visto que, nessa época, a mineração na região das Minas Gerais parecia ser bem mais lucrativa, Manuel da Rocha Franco decidiu começar a exploração de uma mina de cal:
“Viviam em Pernambuco muitas famílias de cristãos-novos, expulsos de Portugal e Espanha, vindos de Amsterdã. Algumas levas, por autodefesa, abraçaram o Cristianismo, mas nunca dispensaram suas práticas judaicas, embora ocultamente. Outras haviam fugido para evitar as perseguições do Santo Ofício.” (FERNANDES VIEIRA, 1977: p. 30)
O negócio com a pequena mina de cal, ao que nos parece, não ia tão bem, o ramo da pecuária parecia ser bem mais lucrativo do que o da construção civil. Sobre esse assunto Nascimento (2002: 49), em sua obra Memórias de Minha Terra, nos informa que os sogros de Manuel da Rocha Franco eram “Agostinho de Carvalho e Ana Gonçalves de Carvalho, os quais, em Pernambuco, constituíram a grande família dos Carvalhos” e estes eram prósperos pecuaristas da região, bem como senhores de escravos:
“Originários da Ilha de Itamaracá, Rocha e Franco, do bisavô Manuel da Rocha Franco, que tinha um irmão Capitão-mor na Ribeira do Acaraú, eram famílias que existiam em França desde tempos remotos. Arnaldo da Rocha foi companheiro de D. Galdim Pires, mestre da Ordem do Templo. Teve esta família armas em Portugal… Sanches, da bisavó, Maria Sanches de Carvalho, vinha de D. Diniz, rei de Portugal, que teve dois filhos: D. Afonso e Fernão. Carvalho foi uma família que teve, além do brasão de armas, solar e muitas terras em Coimbra.” (FERNANDES VIEIRA, 1977: p. 62)
Embora acreditemos que a causa da migração da família de Manuel da Rocha Franco para o Brasil seja o mesmo da maioria dos outros portugueses, fazer fortuna, para alguns o real motivo está fortemente ligado ao romance de uma de suas filhas, Agostinha Sanches de Carvalho, com o Alferes Antônio Domingues Álvares, um jovem de sangue judeu-português:
“Os chamados cristãos-novos ou judeus convertidos ao catolicismo foram, a rigor, o principal alvo da ação inquisitorial portuguesa por mais de duzentos anos e os mais estigmatizados, ao menos do ponto de vista jurídico, pela obsessão da ‘pureza de sangue’ que grassava em Portugal.” (SOUZA, 1997: p. 239)
Apesar do jovem alferes ter sangue marrano não acreditamos que o verdadeiro motivo esteja ligado simplesmente a sua ascendência judaica, pois a família da esposa de Manoel da Rocha Franco, como afirma Nascimento (2002: 49), “a grande família dos Carvalhos, a que pertenciam muitos judeu-portugueses”, também tinha em suas veias o sangue do povo de Israel:
“A partir do século XV a situação dos judeus tornou-se particularmente difícil na península ibérica. Em 1492, ano da primeira viagem de Colombo, foi anunciada a obrigatoriedade da conversão dos judeus ao Cristianismo na Espanha. As perseguições levaram milhares de judeus a fugirem para outras regiões europeias, principalmente para Portugal e França. Pouco tempo depois, a onda de segregação e violências, também se estendeu para terra lusitana, que também culminou na imposição da fé cristã às comunidades judaicas, em 1495. Criavam-se na península ibérica duas novas características sociais: o cristão-velho, que havia gerações professava a religião cristã, e o cristão-novo, judeu recentemente convertido ou que tinha algum parente judeu entre os seus avós e bisavós. Entre os cristãos-novos, duas diferenciações: o converso, sempre suspeito de judaísmo, e o marrano, que mantinha a sua fé original mas praticava exteriormente a religião cristã apenas para sobreviver.” (CAMPOS & GARCIA MIRANDA, 2005: p. 176)
Supomos que o romance não era permitido pelos pais de Agostinha pelo fato de Antônio Domingues Álvares ser um jovem que não possuía recursos financeiros suficientes para dar-lhe uma vida digna.
Contudo, se a nossa opinião não estiver correta, se o verdadeiro motivo estiver ligado ao preconceito racial, ambicionava a todo o custo esconder o seu parentesco com o povo judeu, em outras palavras, tinha vergonha da descendência de sua esposa.
Por essa razão procurava a todo o custo “purificar” o sangue de sua família através do casamento de suas herdeiras. Ele desejava realizar o enlace matrimonial de suas filhas com homens que as projetassem socialmente, se porventura permitisse tal união estaria selando o seu futuro, Agostinha seria uma excluída social pelo fato de ter optado em relacionar-se com um descendente de judeu.
Pouco tempo depois, informado do paradeiro da família Rocha Franco, chegou ao porto do Recife uma embarcação de bandeira lusa que trazia a bordo, entre os seus passageiros, Antônio Domingues Álvares, que, meses antes, havia dado baixa de seu posto de alferes no exército português, e que, decidido pela paixão, viera ao encontro de sua amada na longínqua colônia portuguesa na América do Sul:
“Alferes é um posto ou uma graduação militar existente nas forças armadas de alguns países. Normalmente corresponde a um posto das categorias de oficial subalterno ou de cadete oficial. Originalmente o alferes era o encarregado do transporte da bandeira ou estandarte de um exército, unidade militar, ordem de cavalaria ou outra instituição militar, civil ou religiosa. Posteriormente transformou-se em um posto militar, ao qual já não estava necessariamente inerente o exercício da função de porta-bandeira. No entanto, em diversas forças armadas, continua a manter-se a tradição dos alferes mais novos de cada unidade serem designados para a função de porta-bandeiras.” (S.N.T)
Constantemente informado com as notícias que vinham das docas e decidido a mudar de ramo o velho patriarca decidiu embrenhar-se no Sertão com a sua família na intenção de cumprir o propósito que o trouxe ao Brasil, prosperar financeiramente:
“O Sr. Manuel da Rocha Franco tratou de liquidar seus negócios em Olinda e partiu para o Ceará, fugindo pela segunda vez do judeu, que pretendia fazer parte de sua família, deparando com uma bela chapada, onde surgia uma vila, denominada de Icó.” (NASCIMENTO, 2002: p. 49)
A família de Manoel da Rocha Franco, saindo de Olinda, fixou residência próximo ao Rio Salgado, nas proximidades do Arraial Novo dos Icós, posteriormente denominado simplesmente de vila do Icó, um povoado localizado no território da Capitania do Ceará, voltando os seus esforços para o plantio de cereais e a criação de gado.
Depois de estabelecidos começaram a prosperar financeiramente e as suas filhas, depois de algum tempo, foram se casando com pessoas de influência política e econômica dessa região.
Para o cauteloso patriarca tudo indicava que Antônio Domingues Álvares esquecera a bela Agostinha. A enorme distância entre Olinda e o Icó, mais de 650 quilômetros, fazia com que se acreditasse que nunca mais se ouviria falar daquele mancebo, por isso, estava tranquilo na esperança de não mais sofrer o assédio do insistente rapaz.
Algum tempo depois, atento a qualquer informação que o levassem ao destino de sua amada, desiludido pela esperança de ter as bênçãos de seu sogro, Antônio Domingues descobriu o roteiro daqueles que tanto procurava e decidiu que dessa vez não iria mais falar com o patriarca e sim iria propor uma fuga a sua querida Agostinha.
Depois disso, certificado da veracidade das informações recebidas, Antônio Domingues passou alguns dias escondido em algum lugar nas proximidades da fazenda de seu futuro sogro espreitando uma oportunidade de falar com a sua amada:
“Certo dia, Agostinha ordenou à sua negrinha de companhia que fosse ao mato apanhar alguns espinhos de mandacaru, objetivando facilitar o trabalho manual de coser rendas em sua almofada.” (NASCIMENTO, 2002: p. 49)
A tão esperada oportunidade surgiu quando esse se encontrou com uma escrava que estava a colher espinhos de mandacaru no meio do mato, hábito muito comum naquela época.
Insistentemente pediu a jovem mucama, que talvez o conhecesse, que entregasse um bilhete para sua ama e que logo à noite esperava a resposta daquela missiva no mesmo local. Movida pelo amor e pela longa saudade Agostinha foi ao encontro do seu amado, acompanhada de sua escrava, pronta para a cautelosa e planejada fuga:
“Sem perda de tempo, montaram num fogoso cavalo. A história não nos revela se havia outro animal, o que podemos presumir é que Agostinha viajou na garupa e sua mucama na lua da sela fugindo rumo ao imprevisível.” (NASCIMENTO, 2002: p. 50)
O jovem casal, depois de uma longa e fatigante viagem, dirigiu-se para a vila da Mocha, posteriormente denominada de Oeiras, na época o principal povoado da Capitania do Piauí, distante mais de 450 quilômetros de sua origem, na intenção de se casarem, pois sabiam que ali havia alguns padres jesuítas que estavam realizando as Santas Missões.
Mas o intento não ocorreu como esperavam, por falta dos documentos apropriados tiveram de adiar o casamento para outra oportunidade. Diante dessa nova dificuldade tomaram outros rumos, cavalgaram por mais 400 quilômetros até chegarem aos Sertões do Quixeramobim, que está localizado na Capitania do Ceará.
Pouco sabemos se a decisão de vir por essas bandas foi proposital ou obra do acaso, sabemos apenas que ao se aproximarem do local onde hoje está à vila de Domingos da Costa, temerosos de serem encontrados pelos jagunços que foram enviados a mando do pai de Agostinha, pressentiram que estavam sendo seguidos.
Para dificultar ainda mais a desesperada fuga, o cavalo que os conduzia morreu pela fadiga da longa e cansativa viagem próximo a uma lagoa, que era banhada no período de chuvas pelas águas do Riacho Crateú.
A tradição oral conta que, em desespero, e temendo serem alcançados pelos supostos jagunços, Agostinha prometeu que se escapassem de seus perseguidores mandariam construir, naquele local, uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Boa Viagem.
Para quem conhece um pouco da história religiosa da humanidade é bem complexo imaginarmos esse momento, tendo em vista que os dois tinham sangue judeu, povo que, historicamente, possui uma forte aversão à idolatria.
Sobre a vida religiosa desse casal, que é cercada de mistério, infelizmente não sabemos muito, ou quase nada, tudo o que se fala sobre isso, hoje, é montado em cima de conjecturas e suposições piegas que muitas vezes até aumentam a intensidade desse clamor, algo que interessa profundamente à confissão romana.
Se esse clamor foi algo de dentro do coração, ou apenas o reflexo de piedade por conta do desespero, não temos como mensurar, o que sabemos e que alguns anos depois eles cumpriram a promessa.
Era muito comum a um marrano, naquela época, valer-se de um santo publicamente, possuir um padroeiro ou, na melhor das hipóteses, construir uma capela, como uma forma de fugir da incriminação social que os podia levar para as chamadas da fogueira do Santo Ofício.
Isso servia até de prova para afirmar a catolicidade da pessoa frente às outras, no intuito de sair das vistas do tribunal eclesiástico, principalmente para um cristão-novo e os seus descendentes.
Antes disso, conta-se que um dos jagunços, ao chegar às proximidades onde hoje está à vila de Domingos da Costa, sofreu de contrações espasmódicas dos músculos, se contorcendo em dores por conta do tétano.
Por conta desse motivo, os jagunços regressaram urgentemente para a vila do Icó, deixando o casal fugitivo viver em paz até uma nova oportunidade de serem encontrados.
Depois de algum tempo, tranquilizado pelo fim da perseguição, Antônio Domingues Álvares resolveu retornar ao Recife, na Capitania de Pernambuco, no intuito de conseguir a documentação necessária para a realização de seu tão sonhado enlace matrimonial.
Nesse período, durante a sua ausência, não sabemos por quanto tempo e nem o local exato de seu esconderijo, Antônio Domingues deixou a sua amada e a pequena mucama escondidas.
Algumas fontes nos relatam que elas ficaram em uma casinha de taipa, próxima à casa de um fazendeiro de sua confiança, provavelmente Phelipe Rodrigues e Barbosa de Barros, o genro de Gil de Miranda Carneiro, nas proximidades do Riacho Crateú e da mesma lagoa onde falecera o seu possante cavalo algum tempo antes.
Alguns anos mais tarde, essa referida lagoa recebeu a alcunha de “Lagoa do Cavalo Morto”, em terras que eram pertencentes ao Município de Santo Antônio de Quixeramobim.
Nesse período de breve afastamento, um fato marcou muito o início da vida conjugal desse jovem casal, de uma forma lastimável, a pequena mucama, que nunca teve o seu nome revelado, foi morta por uma onça:
“Certa noite, Agostinha ouvindo uma pancada na porta, ordenou que sua acompanhante fosse examinar o que ocorria. Infelizmente era uma onça, que devorou a mucama. Ao regressar, Domingues encontrou Agostinha chorosa e abatida, com o triste acontecimento, que também muito o abalou.” (NASCIMENTO, 2002: p. 51)
Contemporâneos dessa história nos dão conta de que, finda tristeza pelo trágico incidente, os noivos finalmente conseguiram se casar e algum tempo depois conseguiram celebrar as pazes dentro da família.
Algum tempo depois, segundo relatos do Prof. Manoel Ximenes de Aragão, o casal prosperou financeiramente com os lucros da pecuária, e por volta de 1772 doaram terras e gado para formação do patrimônio e a construção da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, que posteriormente foi elevada à condição de igreja matriz paroquial.
Ainda sobre esses fantásticos e românticos acontecimentos, ficamos surpresos com a escassa historiografia local produzida durante todos esses anos sobre esse misterioso casal, fato que suscita divergências no meio acadêmico.
“Muitos historiadores de Boa Viagem parecem pouco interessados em pesquisa árdua e séria, atendo-se a lenda romântica – tipo Romeu e Julieta – e por isso inconsistente e até ridícula, em torno da origem do Município.” (FERNANDES MENDES, 2015: p. 24)
Sobre os seus descendentes, alguns relatos afirmam que eles geraram poucos filhos, algo bastante incomum para essa época, sendo eles: Lina Alves de Carvalho, Maria do Ó de Carvalho, Izabel da Silva de Carvalho, Ana do Nascimento Vidal, Ana Gonçalves de Carvalho, Antônio Domingues de Álvares Júnior, Francisco Domingues Álvares e Luciano Domingues Carvalho.
Com relação a morte do casal, o mistério que os cerca envolve o local de seus túmulos, onde Agostinha, que faleceu antes de seu esposo, possivelmente tenha sido sepultada no Município de Saboeiro, onde residia uma de suas filhas.
Já Antônio Domingues, que na velhice ficou sendo cuidado por uma de suas filhas na localidade do Espírito Santo, acreditamos que esteja em algum local próximo à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, onde em um passado longínquo existia um cemitério:
“Dizia a octogenária, triste e chorosa, talvez relembrando os seus falecidos sepultados ao lado da capelinha: Senhora Raimunda, esta morte, esta morte!” (NASCIMENTO, 2002: p. 54)
Sobre a sua residência, como falamos anteriormente, algumas fontes nos afirmam que o casal não residia na vila de Cavalo Morto, primeiro topônimo de Boa Viagem, e sim em um local na zona rural denominado de Espírito Santo, hoje dentro dos limites geográficos do Município de Monsenhor Tabosa, que antigamente pertencia ao Município de Boa Viagem:
“Vimos também o 2º proprietário da Fazenda Espírito Santo fora Antônio Domingues Álvares, não se sabendo, porém, com exatidão, se o mesmo adquirira as terras do Espírito Santo por espólio de Calixto Lopes da Silva, compra, ou benesse da coroa real… O certo é que Calixto Lopes da Silva e Antônio Domingues Álvares são, na ordem cronológica, os 2 desbravadores oficiais das terras que hoje perfazem o topo e as ilhargas da Serra das Matas.” (LIMA, 1994: p. 23)
Como foi visto, o pedido de concessão dessas terras seguiu o padrão legal exigido pelo governo, o que nos leva a crer ter existido um escritório especializado para formalizar esse tipo de petição.
“Eram as sesmarias outorgadas mediante pedido escrito em que o pretendente declarava o seu nome ou o do beneficiário, o lugar de sua moradia, a localização geográfica da terra solicitada e o objetivo que tinha em mente, este, em geral, na região nordestina, visando a criação de gados.” (TORRES VIANA, 2020: p. 46, apud OLIVEIRA, 2006)
Nessa época, precisando de uma grande quantidade de terras para servir de pasto ao seu gado, solicitou do governo a possessão de duas sesmarias, a de Boa Viagem e outra denominada de Capitão-mor, residindo com a sua família durante muitos anos na localidade de Espírito Santo, fora de suas possessões, onde acreditamos ter falecido depois de provar a viuvez.
A FORMAÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA:
Como fica fácil de perceber, semelhantemente a cidade de Roma, capital italiana, a cidade de Boa Viagem possui uma história romântica que é cheia de mistérios, mas o Município não se tornou o que é por conta de sua lírica história de formação, ninguém moraria nele se ele não oferecesse as condições básicas necessárias para a subsistência de seus habitantes.
Na realidade, ao contrário do que muitos pensam, quando esse casal por aqui chegou essa terra já era bem habitada, já existindo pessoas que de alguma forma exploravam os recursos naturais existentes nessa região:
“Não sabemos, com precisão, o dia, mês e ano em que Antônio Domingues e Agostinha chegaram a esta terra que, aliás, já era habitada por algumas pessoas. Em 1712, para ratificar o que estamos dizendo, o casal Gil de Miranda Carneiro e sua mulher Bárbara Maria de Barros recebeu uma concessão de três léguas de terra, no Riacho Crateú (primeiro nome de Boa Viagem). Essa concessão foi repassada, em 26 de junho de 1743, pelo Capitão-mor João de Teyve Barreto e Menezes, Governador do Ciará Grande, a Antônio Domingues, nosso segundo donatário, aqui chegando antes de 1743, considerado o fundador desta terra, em vista a construção da capela, por volta de 1772. A partir dessa data foi mudado o nome, de Riacho do Cavalo Morto para Boa Viagem, em virtude da boa e feliz viagem empreendida pelos nossos fugitivos.” (NASCIMENTO, 2002: p. 54)
Algum tempo depois, nesse povoado, como em qualquer comunidade interiorana, a construção de uma capela se tornou em um marco de grande importância para a sua população.
Essa pequena e simples edificação religiosa, muitas vezes tosca, serviu durante muitos anos como ponto de referência para àqueles que não conheciam a região e de orgulho para os moradores das proximidades que rotineiramente a frequentavam.
O templo se constituiu em um ponto de encontro das pessoas que muitas vezes demoravam a se ver, local onde se ficava a par das novidades dos grandes centros, das fofocas da localidade e dos flertes entre os jovens.
O deslocamento mensal de um pároco, ou de outros religiosos para essa comunidade, se constituía em uma novidade impar e era celebrada por todos como símbolo de status e prestígio da comunidade frente ao bispo da diocese.
Aos poucos, com o passar dos anos, foram sendo construídas pequenas casas no entorno da pequena capela e o pequeno núcleo urbano foi paulatinamente sendo formado.
Depois disso, as casas soltas passaram a formar pequenas ruas e essas se tornaram em uma pequena vila, com um pequeno e sortido comércio que conseguia a façanha de atrair os poucos sertanejos que moravam em suas proximidades.
Para essa pequena vila veio residir, depois de muito tempo, boticários, mesinheiras, parteiras, ferreiros, professores, advogados e uma série de profissionais liberais que são necessários ao progresso de uma inexpressiva localidade do interior cearense.
A cidade de Boa Viagem começou assim, aos poucos deixou de ser uma pequenina fazenda e se tornou em uma imponente cidade, desde o início a sua economia girou em torno da agricultura e da pecuária, foi um grande curral desbravado por muitos vaqueiros e tangerinos, servindo durante muitos anos como um criatório de gado ao céu aberto para produzir as famosas “charqueadas cearenses”.
Como sabemos, ainda nessa época, a coroa portuguesa não permitia a criação de gado no litoral nordestino, pois essa prejudicava o plantio da cana-de-açúcar, até então o principal produto da balança comercial da Colônia.
Nesse intuito, buscando aumentar a área de plantio, desde cedo se percebeu que o litoral cearense não servia para o desenvolvimento desse precioso produto. Diante desses problemas uma das saídas encontradas pelos criadores de gado foi trazer os rebanhos para o Ceará.
As boiadas cearenses eram engordadas soltas pelo Sertão e depois tangidas com destino ao porto da vila do Aracati, no litoral da Capitania, onde eram abatidas, salgadas e depois embarcadas no intuito de alimentar os habitantes dos vastos canaviais do litoral brasileiro:
“O Aracati teve início com o funcionamento das oficinas ou charqueadas do Ceará, que foram responsáveis por possibilitar a competitividade da pecuária no Estado, tendo em vista os privilégios da Zona da Mata pernambucana com a cultura canavieira. Aracati transformou-se então em produtor de carne seca e no principal porto de exportação deste produto para as regiões canavieiras, além de continuar a ser um ponto de apoio militar. A possibilidade de abate e conservação da carne, através do charque, foi a principal responsável pela ocupação e desenvolvimento das terras do Ceará. Por volta de 1740 já existiam oficinas em Aracati, inicialmente no pequeno Arraial de São José dos Barcos do Porto dos Barcos do Jaguaribe, depois elevada à categoria de vila com o nome de Santa Cruz do Aracati, hoje cidade do Aracati. O comércio de carne e couro atraía abastados senhores de locais diversos. Aracati manteve-se por longo tempo como a localidade de maior influência de formação econômica, social e política do povo cearense.” (S.N.T)
Devido a sua história econômica, não fica difícil de entender que esse modo de criação de gado, e de exploração das terras cearenses, influenciou as relações político-sociais da sua gente.
Outro produto que serviu para trazer progresso ao Ceará, e em especial à nossa região, foi o algodão, ele foi o grande responsável por fixar, por muito tempo, o sertanejo a terra.
A cotonicultura se constituiu em um importante fator para o enriquecimento e o desenvolvimento do Ceará, especialmente para Boa Viagem, fato que despertou ao interesse do governo em intensificar a cobrança de impostos, que eram comumente sonegados.
Nesse tempo, devido à grande capacidade de produção e à boa qualidade de sua terra para o fornecimento dessa fibra, a nossa região recebeu certa projeção nacional, inclusive, ainda nessa época, chegou a estar entre os três maiores produtores de algodão no mundo.
Por conta disso, conforme as informações existentes no periódico O Cearense, ano 77, edição do dia 23 de agosto de 1847, 1ª página, o presidente da Província do Ceará, Inácio Correia Vasconcelos, solicitava a opinião do bispo diocesano, D. João da Purificação Marque Perdigão, em transformar a vila de Boa Viagem em freguesia:
“Para poder satisfazer a requisição da Assembleia Legislativa, desta Província eu vou rogar a V. Excia. a bondade de antepor sua opinião e juízo sobre a pretensão constante do incluso requerimento dos habitantes da povoação de Boa Viagem do Município e freguesia do Quixeramobim, para criar-se ali uma freguesia com os limites propostos no projeto sob o nº 48, de 31 de junho do ano próximo passado.”
Parece que, de imediato, essa solicitação não foi respondida positivamente pois, de acordo com as informações publicadas no periódico Gazeta Oficial, de 19 de novembro de 1862, ano I, edição nº 37, página 2, ela só foi elevada à categoria de matriz pela resolução nº 1.025, de 18 de novembro de 1862, quando ela foi finalmente desmembrada da freguesia de Santo Antônio de Pádua, do Município de Quixeramobim:
“O Bacharel José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, Cavalheiro da ordem de Cristo, e presidente da Província do Ceará. Faço saber a todos os seus habitantes que a assembleia provincial decretou e eu sancionei a seguinte resolução:
Art. 1º – Fica erecta a categoria de matriz a Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, com a mesma denominação, desmembrada da freguesia de Santo Antônio de Quixeramobim.
Art. 2º – A freguesia terá por limites: a leste, os mesmos do Distritos de Boa Viagem; ao Norte, a freguesia de Quixeramobim pelo Rio Madalena, desde a sua foz até a fazenda deste nome e as fazendas Umary, Lages, Cachoeira e Boqueirão, na estrada de Canindé; ao Oeste os da freguesia de Quixeramobim, Ipú e Santa Quitéria; ao Sul os da freguesia de São João do Príncipe e Maria Pereira.
Art. 3º – O pároco e o coadjutor da nova freguesia perceberão as côngruas respectivas marcadas por lei, revogadas as disposições em contrário.
Mando portanto a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da presente resolução que as cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contem.”
Pouco tempo depois, o bom desempenho econômico dessa região foi finalmente reconhecida pela Assembleia Legislativa da Província quando no dia 21 de novembro de 1864 foi criada uma nova unidade territorial que tinha como sede a vila de Boa Viagem, antiga Cavalo Morto, recebendo assim a sua emancipação política do Município de Quixeramobim, até então a principal vila da Província do Ceará em nossa região:
“Seria, contudo, na década de 1860 que haveria um incremento na procura do algodão cearense pelo mercado exterior, em consequência da desorganização da produção dos Estados Unidos, principal fornecedor dessa fibra para a Europa, envolvidos na Guerra da Secessão.” (FARIAS, 1997: p. 105)
Com o passar dos anos e a crescente retomada desse mercado pelos norte-americanos, a produção algodoeira boa-viagense sofreu uma séria retração por conta das várias estiagens e do aparecimento da praga do bicudo, especialmente no final do século XX:
“O bicudo-do-algodoeiro é um besouro da família dos curculionídeos, originário da América Central, de coloração cinzenta ou castanha e mandíbulas afiadas, utilizadas para perfurar o botão floral e a maçã dos algodoeiros. É tido como uma importante praga agrícola nos Estados Unidos da América, e a espécie foi introduzida no Brasil em 1983, causando prejuízos nas plantações de algodão do Nordeste.” (S.N.T)
Atualmente, além da pecuária, existe o plantio para subsistência de arroz, milho, feijão, mandioca e batata, mas o agricultor de nosso Município aposta as suas esperanças no plantio da mamona e nos incentivos governamentais para fabricação do bio-combustível, algo que passa por um grave momento de ocaso.
A nossa economia depende também da exploração da dolomita, da produção em grande escala de tinta em pó solúvel, de um variado comércio varejista, e registramos ainda o nascimento de um pequeno polo de fabricação de calçados:
“A economia se baseia na agricultura, sendo os produtos: feijão, milho, mandioca e algodão (herbáceo e arbóreo); em algumas áreas, há o cultivo de fruticultura e horticulturas; na pecuária, podemos destacar a criação de bovinos, ovinos, caprinos e suínos, bem como a avicultura, a indústria de cal e diversas microindústrias.” (FRANCO & CAVALCANTE VIEIRA, 2007: p. 19)
Nos últimos anos, graças ao Sol, registramos a existência no Município de muitas usinas solares e a possibilidade de receber o investimento para exploração da energia eólica.
Diante disso, mesmo com a variedade em sua produção nos últimos anos, a economia desse Município é bastante frágil, dependendo excessivamente das estações chuvosas.
A FORMAÇÃO POLÍTICA:
Como observamos anteriormente, esse Município já possuía alguns moradores no final do século XVIII, colonos vindos de outras regiões do Brasil fixaram residência nessas paragens tendo em vista que isso era do interesse da coroa portuguesa, que pouco tempo antes disso proibiu a criação de gado no litoral por conta do cultivo da cana-de-açúcar e incentivou a sua penetração para o interior do Continente.
Nessa época, de 1621 a 1774, por conta das dificuldades de comunicação e gerenciamento, o Brasil estava dividido em duas regiões administrativas independentes: o Estado do Maranhão, com capital em São Luís, até 1737, quando foi transferida para Belém, passando a chamar-se de Estado do Grão-Pará e Maranhão; e o Estado do Brasil, com capital em Salvador, até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro.
No livro XIV de Sesmarias, página 131, registra-se que em 1712, Gil de Miranda Carneiro e a sua esposa, Bárbara Maria de Barros, receberam a concessão de três léguas de terras, que na época era conhecida como Riacho Crateú, das mãos do Capitão-mor João de Teyve Barreto e Menezes, Governador do “Ciará Grande”:
“João de Teyve Barreto e Menezes, nomeado capitão-mor por patente régia de 9 de outubro de 1742, foi empossado no governo a 2 de fevereiro do ano seguinte.” (ARARIPE, 2002: p. 192)
Por conta de não possuímos um conhecimento detalhado desses fatos, sabemos que, tempos depois, estas terras foram entregues à filha do casal e ao seu genro, Phelipe Rodrigues, que passaram a residir nessa região.
Alguns anos depois, já estabelecidos no local, por conta da irregularidade do clima e a mudança de eixo econômico, supomos que tenham desanimado e possivelmente os afastado de sua conquista, buscando outro local para residir.
Nesta mesma época, na segunda metade do século XVIII, por essas terras, chegou o casal Antônio Domingues Álvares e a sua esposa, Agostinha Sanches de Carvalho, que receberam, mais tarde, no dia 26 de junho de 1743, o termo de posse da referida terra.
A propriedade, que tinha o prestígio de ter uma capela, para tornar-se próspera, desde cedo passou a ser um local para criação de gado e, muitos anos depois, ao plantio de algodão, espécie que foi introduzida e durante muito tempo foi o principal produto de plantio dessa região:
“Em fins do século XVIII e início do XIX, o algodão se efetivava como poderosa atividade econômica, aliada à pecuária, e compunha parte do fisco metropolitano.” (VIEIRA JUNIOR, 2004: p. 36)
Algum tempo depois, essa pequena capela, que era o ponto de destaque dessa localidade, por meio da lei provincial nº 1.025, de 18 de novembro de 1862, foi elevada a condição de paróquia.
No ano seguinte, a vila de Boa Viagem já possuía 80 casas, e, graças ao bom desempenho de sua produção agrícola, ganhou um significativo aumento em sua população, 1279 habitantes, o que resultou em sua emancipação política através da lei nº 1.128, de 21 de novembro de 1864.
Com o recebimento dessa autonomia política, somente no dia 7 de janeiro de 1869 foi instalada a nossa Câmara Municipal de Vereadores, que teve como primeiro desafio a demarcação dos limites geográficos daquilo que veio a ser o Município de Boa Viagem.
Com relação a essa demarcação de terras, temos de afirmar que não foi algo fácil de ser feito, tendo em vista que o Município de Quixeramobim não queria perder significativos recursos em seu erário.
Nessa época, bem diferente de hoje, os Municípios brasileiros sobreviviam somente daquilo que conseguiam arrecadar em impostos dentro de seus limites, e quanto mais terras mais impostos a cobrar.
Esses impostos, anualmente, eram colocados em leilão para quem os arrematassem por uma maior quantia, ou seja, o Município, para ter imediatamente uma grande soma em dinheiro, não arrecadava os impostos e sim terceirizava o seu direito de arrecadação.
Sobre o número de habitantes dessa época, o que sabemos de relevante é que, de acordo com o censo demográfico acontecido em 1872, apontou que a nossa população era de aproximadamente 9.000 pessoas e, por conta da seca ocorrida em 1877, e da grande migração, em 1900, a nossa população diminuiu para aproximadamente 6.700 habitantes.
“Todas as correspondências enviadas do interior da Província, nos primeiros meses da seca de 1877, tinham em comum os espantosos relatos acerca da terrível condição dos moradores do sertão, mesmo os que podiam ser chamados de pessoas de posses. A partir do mês de maio, em quase todas as regiões da Província, especialmente as do centro-sul e dos inhamuns, a solução foi a emigração em massa. Num primeiro momento, os retirantes procuraram as cidades ou vilas maiores do próprio sertão. os pequenos e médios proprietários abandonaram terras e venderam ou trocaram seus escravos. Os agregados, sem posse alguma, simplesmente juntaram-se às fileiras de desesperados em busca de locais onde pudessem sustentas as suas famílias.” (FERREIRA NETO, 2006: p. 69)
Nessa época, os trabalhos da Câmara Municipal foram seriamente prejudicada por aproximadamente cinco anos, sendo um grande retrocesso para o desenvolvimento do Município de Boa Viagem.
Antes disso, no período imperial, não havia prefeito eleito, o presidente da câmara era quem exercia essa função ao lado dos outros vereadores, homens de maior projeção econômica na comunidade que eram escolhidos pela camada dos proprietários rurais, que estavam divididos entre eleitores de província e de paróquia.
No final do século XIX, com a extinção do governo monárquico de D. Pedro II pelo Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, acontecido no dia 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República através de um decreto.
Por esse decreto determinou-se o fim do Império, do Conselho de Estado e da vitaliciedade do Senado, a Câmara dos Deputados foi dissolvida e a família imperial foi banida do Brasil por se temer uma reviravolta política.
Nesse tempo, todas as Províncias brasileiras, que doravante passaram a ser denominadas de Estados, aderiram pacificamente ao novo regime de governo, e logo essas transformações chegaram aos Municípios. Os grupos republicanos estaduais foram autorizados a assumir as rédeas do poder executivo e desencadearam um efeito cascata sobre os Municípios.
Aos poucos, foram sendo nomeados pelo Governo Federal os presidentes para os Estados, que eram espécie de interventores, e estes receberam poder para dissolver as assembleias provinciais e as câmaras municipais, indicando em seguida os conselhos de intendência.
Em nosso Município o Conselho de Intendência funcionou durante muitos anos em locais adaptados, estando em alguns momentos na Rua Agronomando Rangel, depois na Rua Antônio Domingues Álvares e, posteriormente, em uma das salas do sobrado que por muitos anos abrigou à Prefeitura de Boa Viagem, localizado na Rua José Rangel de Araújo, nº 144, Centro.
Antes disso, no dia 12 de julho de 1892, o Estado do Ceará adotou a sua primeira constituição e nela ficou estabelecida que as administrações municipais teriam dois órgãos: a Câmara de Vereadores e a Intendência.
Dizia ainda que as funções de intendente e de vereador eram exercidas voluntariamente, não havendo gratificação, fato que somente foi modificado através da lei nº 464, de 12 de setembro de 1898.
Nessa época, os vereadores eram eleitos quadrienalmente, por sufrágio direto e aberto dos eleitores de paróquia, já o intendente era escolhido por maioria de votos entre os vereadores, com um mandato de dois anos, sendo permitida a recondução.
No dia 26 de setembro de 1895, através da lei estadual nº 264, a escolha do intendente passou a ser feita por nomeação do Governador, que como nos referimos anteriormente era chamado de Presidente do Estado, posteriormente essa lei foi revogada pela lei nº 764, de 12 de agosto de 1904.
Outro fato que merece ser mencionado é que o período iniciado em 1889, denominado de República Velha, ou Primeira República, estendeu-se até 1930, com a ascensão de Getúlio Dornelles Vargas ao poder.
Antes disso, no plano federal, a fase inicial do governo republicano ficou sob o controle dos militares, por isso é chamada de República da Espada e os membros do governo provisório, escolhidos desde o dia 11 de novembro de 1889, pertenciam a diversas correntes de opinião.
Essa heterogeneidade política dos ministros seria a causa das futuras divergências que comprometeriam o sucesso inicial da nova administração. No mês seguinte à proclamação da República foram convocadas eleições para escolha de uma nova constituinte, marcada para o dia 15 de setembro de 1890, que desencadeou uma luta entre as diversas correntes políticas pela hegemonia dentro do novo regime de governo.
Essas disputas culminaram com a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca no dia 23 de novembro de 1891, em seu lugar assumiu o vice-presidente, o Marechal Floriano Vieira Peixoto, que prontamente depôs e substituiu todos os Presidentes dos Estados e estes as lideranças municipais.
Depois de muitas agitações políticas, nossos poucos registros afirmam que somente em 1926 foi eleito o primeiro prefeito de nosso Município, sendo ele Luís Ximenes de Aragão, um jovem de promissor passado político.
No segundo pleito, o povo decidiu escolher o nome de Manoel Araújo Marinho, conhecido por “Nél Araújo”, herdeiro político da família Araújo, que administrou o Município por pouco tempo, pois no dia 28 de outubro de 1930, por força do Decreto nº 193, seguindo o que previa a Revolução de 1930, o Dr. Manuel do Nascimento Fernandes Távora, governador provisório do Estado, indicou o nome de Teodoro Amaro de Oliveira como interventor do Município até o dia 20 de maio de 1931, quando esse foi extinto, voltando a pertencer ao Município de Quixeramobim:
“O Interventor Federal do Estado do Ceará, Manoel do Nascimento Fernandes Távora, considerando que a atual organização municipal deve ser modificada por não atender ao interesse público; Considerando que, para a constituição de qualquer Município, se torna necessária uma população nunca menor de quinze mil habitantes, uma renda anual não inferior a trinta contos de reis e outros fatores de valor; Considerando que muitos dos atuais Municípios não preenchem esses requisitos, sendo meras expressões territoriais, sem vida própria. Considerando que, dest’art, para proporcionar aos Municípios uma existência normal, se impõe a supressão de alguns deles, decreta: Art. 1º – O território do Estado divide-se, administrativamente; em 51 Municípios e estes em distritos. Art. 4º – Ficam extintos os seguintes Municípios:…. Campos Sales, Conceição do Cariry, Santa Cruz, Várzea Alegre…. Boa Viagem que passará respectivamente a fazer parte do Município de Quixeramobim…” (CAVALCANTE MOTA, 1989: p. 38-39)
Perdendo a sua autonomia política, Boa Viagem voltou à condição de Distrito de Quixeramobim e o nosso Município, que não possuía forças políticas significativas frente aos interesses dos Municípios vizinhos, só reobteve a sua autonomia política definitiva através da lei nº 260, de 28 de dezembro de 1936, graças ao empenho e aos esforços de Francisco Rangel de Araújo – o Agronomando Rangel, filho de nosso primeiro interventor, José Rangel de Araújo, e sobrinho de Manoel Araújo Marinho:
“Em Boa Viagem não havia coronéis, porque o centro das decisões políticas ficava em Quixeramobim. A Revolução de 1930 extinguiu essas forças políticas, tomando-lhes as armas, desarticulando-as e reduzindo de modo acentuado o seu poder.” (CARVALHO FILHO, 2008: p. 39)
Logo após a reconquista dessa autonomia, durante alguns anos, a nossa população voltou a sofrer com os problemas produzidos pelas prolongadas estiagens e isso causou uma forte migração, tendo em vista que os governos pouco faziam para modificar esse quadro.
Nos primeiros anos da década de 1940, o censo demográfico revelou que a nossa sede possuía apenas 719 habitantes e conseguindo retomar a sua autonomia política conhecendo o governo de vários interventores, sendo eles: José Rangel de Araújo, Capitão Raimundo Ferreira do Nascimento, Antenor Gomes de Barros Leal, Walter Batista de Santana, Dr. Lourival Soares e Silva, Enedina de Carvalho, Aluísio Ximenes de Aragão, Tenente José Silvino da Silva e por fim Joaquim Vieira Lima, quando houve a denominada “abertura política”.
Nesse período de nomeação de interventores, registrou-se também um dos principais crimes de motivação política de nossa história, o assassinato do ativista José Inácio de Carvalho, até hoje sem elucidação.
Ainda no plano político, já no início da década de 1950, esse cenário continuava sendo totalmente norteado pela vontade da família Araújo, que assistiu a retomada do Poder Executivo pelo Prefeito Manoel Araújo Marinho.
Logo após o término de sua administração, por sua indicação e apoio, foi eleito o seu ex-cunhado, Aluísio Ximenes de Aragão, irmão do Prefeito Luís Ximenes de Aragão.
Nessa gestão, os embates políticos culminaram com o assassinato do Vereador Antônio de Queiroz Marinho – o Totonho, filho do Prefeito Manoel Araújo Marinho, e da entrega de parte de nosso território geográfico para formação do Município de Monsenhor Tabosa.
Por conta desses episódios a família Araújo voltou ao comando do Poder Executivo com a indicação popular do nome de Delfino de Alencar Araújo, e logo depois com o Dr. Gervásio de Queiroz Marinho, filho do Prefeito Manoel Araújo Marinho, que depois de várias tentativas conseguiu também a façanha de ser eleito como deputado estadual.
Nessa mesma década, várias famílias oriundas do Estado da Paraíba, algumas delas motivadas por intolerância religiosa, passaram a se estabelecer e a prosperar nas terras cearenses, especificamente no Município de Boa Viagem.
Daí por diante, já na década de 1960, o cenário político começou a passar por uma lenta mudança graças ao gradativo deslocamento de membros da família Araújo para a capital e o preenchimento dessas lacunas deixadas pelos descendentes dos paraibanos.
Esse período foi marcado pelo fim da “Oligarquia Araújo”, que foi substituída pela “Oligarquia dos paraibanos”. Nesse tempo, segundo o Dicionário Geográfico e Histórico do Ceará, a população do Município de Boa Viagem estava assim distribuída:
“O censo de 1960 apurou para o Município de Boa Viagem a população de 31.804 habitantes com a seguinte distribuição: o Distrito de Boa Viagem possuía 15.819 habitantes, sendo que 2.274 moravam na sede e 13.545 moravam nos 2.663 domicílios espalhados em seu território. Em Domingos da Costa havia 4.173 habitantes, sendo que 194 residiam na sede do Distrito e 3.979 residiam nos 667 domicílios espalhados pelo seu território. No Ibuaçu havia 7.587 habitantes, sendo que 109 moravam na sede do Distrito e 7.847 residiam nos 1.196 domicílios espalhados pela área de seu território e em Jacampari havia 4.225 habitantes, sendo que 201 residiam na sede do Distrito e 4.024 residiam nos 693 domicílios espalhados pela área de seu território.” (BRAGA, 1967: p. 99)
O maior ícone dessa época foi o Deputado José Vieira Filho – o Mazinho, que conseguiu a façanha de administrar o nosso Município por diversas vezes, como também eleger muitos daqueles a quem apoiara, dentre eles destacamos: Benjamim Alves da Silva, Osmar de Oliveira Fontes – o Osmar Carneiro e o seu irmão, o Dr. Francisco Vieira Carneiro – o Major Carneiro.
Nas últimas décadas, de 1980 a 2004, o seu maior adversário político foi o grupo encabeçado pelo Dr. Francisco Segismundo Rodrigues dos Santos Neto – o Dr. Sérgio, que durante mais de vinte anos exerceu forte liderança no Município e projetou o nome do Dr. Fernando Antônio Vieira Assef como o seu virtual herdeiro político.
Nesse meio tempo não podemos deixar de registrar o impeachment de dois prefeitos, sendo eles o Dr. Francisco Segismundo Rodrigues dos Santos Neto e do Dr. Francisco Vieira Carneiro, que por esse motivo cometeu suicídio.
Chegando ao século XXI o Município de Boa Viagem tem assistido a um quadro político bastante desgastado por conta da decadência moral de alguns de seus representantes, que tem forjado candidaturas e governos ganhos através de liminares fundamentadas nas brechas da incapacidade de nossa justiça.
Alguns de nossos principais representantes estão fichados pelo que diz a lei complementar nº 135, de 4 de junho de 2010, e as principais lideranças políticas estão divididas entre os seus interesses pessoais, se comportando como cabos eleitoreiros nanicos e sem expressão significativa.
Carecemos urgentemente de um líder que seja filho da terra e que agregue carisma, qualidades morais e intelectuais que consigam a façanha de projetar o Município no cenário político estadual:
“No plano político, o Município de Boa Viagem não é diferente dos outros Municípios do País. Aqui, reproduzimos em uma escala bem menor, aquilo que também é feito na esfera do Governo Estadual e Federal… por incrível que pareça, as amizades e até os vínculos familiares são condicionados pelas posições políticas tomadas, sendo a capacidade profissional do sujeito medida pela quantidade de votos que ela consegue reunir… Diante disso, o povo, que também não é vítima, assiste perplexo àquilo que ele mesmo produz, favorecendo alianças que na realidade são algemas.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 169)
Nas últimas eleições para a escolha do Governo Estadual, em 2014, testemunhamos que em cada esquina havia um comitê eleitoral e que o eleitorado do Município de Boa Viagem consegue a proeza de contribuir com a eleição de vários deputados, estaduais e federais, mas ao mesmo tempo está sozinho, sem um representante diretamente ligado a terra e que de fato conheça os verdadeiros problemas de sua gente.
Nesse momento, assistimos perplexos que o Município de Boa Viagem vive e se conforma com às migalhas que caem da mesa de Municípios como Tauá, Quixeramobim e Parambu, conforme relato do escritor Anderson Mota:
“As relações viciadas entre gestores e políticos dos Inhamuns e de Quixeramobim levaram a que nossa região renunciasse em favor daquela cidade a um benefício que representaria a solução de um dos mais graves problemas de nossa população – a saúde pública.” (CAVALCANTE MOTA, 2013: p. 17)
No pleito eleitoral ocorrido nos últimos meses de 2016, depois da fragorosa vitória da Prefeita Aline Cavalcante Vieira, a esperança do povo foi vertiginosamente tolhida por conta dos vários acordos firmados nos bastidores com as lideranças que a levaram ao poder, fazendo com que já em seu primeiro ano de governo se construísse um enorme desgaste popular, chegando ao cúmulo de surgirem rumores de CPI’s já em seus primeiros meses de mandato e posteriormente a uma derrota na mesma proporção para o Prefeito José Carneiro Dantas Filho – o Régis Carneiro.
Nos primeiros meses de 2021, sob um novo governo, mesmo passando pela pandemia do COVID-19, o povo assistiu encantado a um choque de gestão que investiu na urbanização da cidade e das vilas, na reforma e construção de prédios públicos e outras importantes obras que colocaram por quatro anos seguidos esse prefeito entre os melhores do Estado do Ceará.
UMA SÍNTESE CRONOLÓGICA DOS PRINCIPAIS FATOS:
- 25/02/1702 – Emissão da concessão real da posse das terras nas proximidades do Rio Salgado, que está localizado nas proximidades do Arraial de Nossa Senhora do Ó, atual cidade do Icó, ao casal de pioneiros: Gil de Miranda Carneiro e Bárbara Maria de Barros;
- 07/11/1710 – Emissão de uma concessão real de posse de três léguas de terras para colonização do Sertão da Capitania do Ceará, próximo ao rio denominado de Quixeramobim, onde atualmente está a cidade de Boa Viagem, ao casal Gil de Miranda Carneiro e Bárbara Maria de Barros;
- 1720/1725 – Chegada em Olinda, que está localizada na Capitania de Pernambuco, da família de Manoel da Rocha Franco;
- 1725/1730 – Fuga de Antônio Domingues Álvares e de Agostinha Sanches de Carvalho da vila do Icó e chegada nas terras que atualmente formam o Município de Boa Viagem;
- 26/06/1743 – Transferência da concessão real de posse de Gil de Miranda Carneiro e Bárbara Maria de Barros para Antônio Domingues Álvares e Agostinha Sanches de Carvalho;
- 26/06/1743 – Emissão de uma concessão real de posse de três léguas de terras para colonização do Sertão da Capitania do Ceará, próximo ao rio denominado de Capitão-Mor, também conhecido como Floresta, onde atualmente está à cidade de Boa Viagem, ao casal Antônio Domingues Álvares e Agostinha Sanches de Carvalho;
- 22/07/1772 – Doação de terras para formação do patrimônio da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem feita por Antônio Domingues Álvares;
- 08/03/1808 – Chegada da corte portuguesa ao Brasil;
- 1810/1814 – Nomeação e permanência do primeiro capelão, Pe. Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque Melo – o Pe. Mororó, designado para comunidade de Boa Viagem;
- 07/09/1822 – Proclamação da Independência do Brasil;
- 18/11/1862 – Elevação da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem à categoria de paróquia, ou freguesia, em cumprimento da lei provincial nº 1.025;
- 18/11/1862 – A localidade de Boa Viagem, antigamente denominada de Cavalo Morto, e elevada a categoria de Distrito do Município de Quixeramobim em cumprimento da lei provincial nº 1.025;
- 04/05/1863 – Posse do primeiro vigário de Boa Viagem, Pe. Antônio Correia de Sá;
- 21/11/1864 – Emancipação política do Município de Boa Viagem através da lei provincial nº 1.128;
- 21/11/1864 – A vila de Boa Viagem é elevada a categoria de sede do Município através da lei provincial nº 1.128;
- 07/01/1869 – Instalação da Câmara Municipal de Vereadores;
- 10/03/1884 – Libertação dos escravos no Município de Boa Viagem;
- 25/03/1884 – Libertação dos escravos na Província do Ceará;
- 13/05/1888 – Libertação dos escravos no Brasil;
- 11/11/1888 – Instalação do Cartório de Registro Civil;
- 15/11/1889 – Proclamação da República;
- 10/06/1892 – Criação do Distrito de Olinda, atual Jacampari, por meio da lei municipal nº 1;
- 20/05/1931 – Extinção do Município por meio do decreto nº 193, que passou a pertencer, novamente, ao Município de Quixeramobim;
- 28/12/1936 – Restauração da autonomia política do Município através da lei estadual nº 260;
- 20/12/1938 – A vila de Boa Viagem é elevada à categoria de cidade através da lei estadual nº 448;
- 20/12/1938 – Criação do Distrito de Socorro, atual Ibuaçu, através da lei estadual nº 448;
- 30/12/1943 – Os Distritos de Olinda e Socorro passaram a denominar-se respectivamente de Jacampari e Ibuaçu através da lei estadual nº 1.114;
- 16/08/1948 – O Município de Boa Viagem recebe a instalação de sua comarca;
- 01/12/1949 – Instalação do Cartório Eleitoral;
- 22/11/1951 – Criação do Distrito de Domingos da Costa através da lei estadual nº 1.153;
- 19/12/1963 – Criação do Distrito de Guia por meio da lei estadual nº 6.961;
- 10/06/1999 – Criação do Distrito de Ipiranga por meio da lei municipal nº 686;
- 10/06/1999 – Criação do Distrito de Águas Belas por meio da lei municipal nº 688;
- 04/09/2001 – Criação do Distrito de Massapê dos Paés por meio da lei municipal nº 761;
- 11/10/2001 – Criação do Distrito de Poço da Pedra por meio da lei municipal nº 773;
- 11/10/2001 – Criação do Distrito de Boqueirão por meio da lei municipal nº 775;
- 11/10/2001 – Criação do Distrito de Várzea da Ipoeira por meio da lei municipal nº 777;
- 11/10/2001 – Criação do Distrito de Olho d’Água dos Facundos por meio da lei municipal nº 779;
- 02/10/2008 – Criação do Distrito de Olho d’Água do Bezerril por meio da lei municipal nº 1.003.
BIBLIOGRAFIA:
- ABREU, Júlio. Fragmentos da História Política do Ceará. Vitória da Conquista: Gráfica Cruzeiro do Sul, 1956.
- ABREU, João Capistrano de. Capítulos de História Colonial 1500-1800. Os Caminhos Antigos e Povoamentos do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
- ALVES, Joaquim. História das Secas – Séculos XVII a XIX. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2003.
- ARAGÃO, Raimundo Batista. Escravidão e Abolicionismo. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1988.
- ARAGÃO, Raimundo Batista. História do Ceará. 1º Período (1531 a 1621). 1º v. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1983.
- ARAGÃO, Raimundo Batista. História do Ceará. 2º Período (1760 a 1830). 2º v. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1984.
- ARAGÃO, Raimundo Batista. História do Ceará. 3º v. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1985.
- ARAGÃO, Raimundo Batista. História do Ceará. 4º v. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1986.
- ARAGÃO, Raimundo Batista. História do Ceará – Síntese Didática. 5º v. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1985.
- ARARIPE, Tristão de Alencar. História da Província do Ceará: Dos Tempos Primitivos até 1850. Fortaleza: Edições Fundação Demócrito Rocha, 2002.
- BARROS Leal, Antenor Gomes de. Recordações de um Boticário. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1980.
- BARROS Leal, Antenor Gomes de. Avivando Retalhos. 2ª edição, Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1983.
- BARROS Leal, Antenor Gomes de. As Voltas que o Mundo Dá. Fortaleza: Editora RBS, 2001.
- BARROS Leal, Antenor Gomes de. Coletânea – Temas Diversos. Fortaleza: Casa de José de Alencar, 1996.
- BARROSO, Gustavo. À Margem da História do Ceará. Fortaleza: ABC Editora, 2004.
- BARROSO, Gustavo. Terra de Sol. 8ª edição. Fortaleza: ABC Editora, 2004.
- BEZERRA, Antônio. Algumas Origens do Ceará. Fortaleza: Assis Bezerra, 1918.
- CAMPOS, Flávio de & GARCIA MIRANDA, Renan. A Escrita da História. São Paulo: Escala, 2005.
- CAPANEMA, Guilherme Schurch de. A Seca no Ceará. Fortaleza: Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2006.
- CARVALHO FILHO, José Cândido de. Boa Viagem da Minha Infância. Brasília: Thesauros/Itiquira, 2008.
- CARNEIRO MARTINS, Oswaldo Evandro. Da Negritude do Ceará. Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza, v. 117º, Tomo CXVII, Ano CXVII, 2003.
- CASTELO, Plácido Aderaldo. História de Ensino no Ceará. Fortaleza: Departamento de Imprensa Oficial, 1970.
- CAVALCANTE MOTA, Anderson Francisco. A face sombria da política tauaense. Fortaleza: Arte Visual, 2013.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. Boa Viagem, Realidade e Ficção. Fortaleza: Multigraf, 1996.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. As “Sete Irmãs” e a História Política do Ceará. Fortaleza: Multigraf, 2000.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1889-1930). 2ª edição. Fortaleza: ABC Editora, 1999.
- CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará (1930-1945). Fortaleza: Stylus Comunicações, 1989.
- CIGOLINI, Adilar Antônio. Ocupação do Território e a Criação de Municípios no Período Imperial Brasileiro. v 14º, nº 1, página 7-19, jan/abr de 2015. Disponível em www.mercator.ufc.br. Acesso no dia 14 de janeiro de 2018.
- CUNHA, Euclides Rodrigues Pimenta da. Os Sertões. São Paulo: Editora Nova Cultura, 2002.
- ESPÍNOLA, Rodolfo. Vicente Pinzón e a Descoberta do Brasil. Rio de Janeiro: TOPBOOKS, 2001.
- FARIAS, Aírton de. História do Ceará: Dos Índios à Geração Cambeba. Fortaleza: Tropical, 1997.
- FERNADES VIEIRA, Enéas Braga. O Nobre da Vila. Crato: Itaytera, 1977.
- FERREIRA NETO, Cicinato. A Tragédia dos Mil Dias: A Seca de 1877-79 no Ceará. Fortaleza: Premius, 2006.
- FILGUEIRA, Marcos Antônio. Os judeus foram nossos avós. 2ª edição. Coleção Mossoroense. Mossoró: Fundação Vingt-Un Rosado, 2011.
- FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
- FREITAS SOUZA, José Weine. Secas e Socorros Públicos no Ceará. Um Projeto de Desenvolvimento para o Norte (1877-1932). Projeto História, Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História. São Paulo, nº. 52, p. 178-219. jan/abr. 2015. Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/23269. Acesso no dia 13 de março de 2018.
- FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos: Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento do Urbano. 15ª edição. São Paulo: Global, 2004.
- GIRÃO, Raimundo. A Marcha do Povoamento do Vale do Jaguaribe (1600 – 1700). Fortaleza: SUDENE, 1986.
- GIRÃO, Raimundo. A Abolição no Ceará. Fortaleza: Editora Antônio Batista Fontenele, 1956.
- LEAL, Vinícius Barros. A Colonização Portuguesa no Ceará: O Povoamento. Fortaleza, UFC/Casa José de Alencar, 1993.
- LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996.
- LIMA, Geraldo Oliveira. Gênese da Paróquia de Monsenhor Tabosa. Rio de Janeiro: Marques Saraiva, 1994.
- LIMA, Oliveira. Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro: TOPBOOKS, 1997.
- LIRA, João Mendes. Subsídios para a História Eclesiástica do Ceará. Sobral: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1984.
- MACÊDO, Deoclécio Leite de. Notariado Cearense. História dos Cartórios do Ceará. v. 4º. Fortaleza: Expressão Gráfica, 1991.
- MACÊDO, Nertan. O Clã de Santa Quitéria – Memória histórica sobre vaqueiros políticos e eruditos. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1980.
- MACIEL, Antônio Felipe. Notas Sobre o Povoamento do Ceará e o Surgimento das Primeiras Freguesias, Municípios e seus Desmembramentos. Maranguape: Prellus Editora, 2018.
- MELO, Clemilton da Silva. Chefatura de Polícia do Ceará. 1884-1889. Tomo III. Fortaleza: RDS Editora, 2013.
- MELLO, José Antônio Gonçalves de. Tempo dos Flamengos: Influência da Ocupação Holandesa na Vida e na Cultura do Norte do Brasil. 2ª edição. Recife: Secretaria da Educação e Cultura de Pernambuco, 1978.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Boa Viagem: Ruas, Praças e Avenidas. Boa Viagem: Gráfica Guarany, 1986.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Um Pouco de Boa Viagem. Boa Viagem: Gráfica Guarany, 1990.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- OLIVEIRA, André Frota de. A Fortificação Holandesa do Camocim. Fortaleza: Expressão, 1995.
- OLIVEIRA, José Cláudio de. História do Ceará. De Pero Coelho a Adauto Bezerra. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1977.
- OLIVEIRA ARAÚJO, Maria Neyara. A Miséria e os Dias. História da Mendicância no Ceará. São Paulo: Editora Hucitec, 2000.
- PEIXOTO, João Paulo M. & PORTO, Walter Costa. Sistemas Eleitorais. Brasília: Instituto Tancredo Neves/Fundação Friedrich Naumann, 1987.
- PELOSI FALCÃO, Marlio Fábio. Dicionário Toponímico, Histórico e Geográfico do Nordeste. Fortaleza: Artlaser, 2005.
- PINHO TAVARES, Iris Eliete Teixeira Neves de. O Município Brasileiro: Sua Evolução Histórico-Constitucional. Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro. nº. 209. p. 169-187. jul/set. 1997. Disponível em http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile/47050/46035. Acesso no dia 14 de janeiro de 2018.
- POMPEU SOBRINHO, Thomaz. História do Ceará: Protohistória Cearense. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1946.
- POMPEU SOBRINHO, Thomaz. Esboço Fisiográfico do Ceará. 3ª edição. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
- RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
- RIBEIRO, Samuel. Geografia do Ceará: Física, Humana, Econômica e Corográfica. Fortaleza, 1990.
- RIEDEL, Oswaldo de Oliveira. Perspectiva Antropológica do Escravo no Ceará. Fortaleza: UFC, 1988.
- SANTOS, Milton & SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: Território e Sociedade no Início do século XXI. 11ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2008.
- SECULT. Da Senzala para os Salões. Fortaleza: SECULT, 1988.
- SEVERO, Renato Ferreira. Genealogia Barbosa Severo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2013.
- SEVERO, Renato Ferreira. Genealogia Barbosa Severo & Ferreira Leão. Fortaleza: Gráfica LCR, 2017.
- SILVA, Paulo César. Potentados das Ribeiras do Jaguaribe. Feitosas e Montes, duas famílias pastoris deflagram um dos maiores conflitos por terra no Ceará setecentista. Tauá: UICLAP, 2022.
- SILVA, Pedro Alberto de Oliveira. História da Escravidão no Ceará. (Das Origens à Extinção). Fortaleza: Imprensa Universitária, 2002.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão: A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Boa Viagem: Premius, 2015.
- SIMÃO, Marum. Quixeramobim – Recompondo a História. Fortaleza: Multigraf, 1996.
- SCHIMMELPFENG, Gisela Paschen. A Mulher e a Abolição. Fortaleza: SECULT, 1984.
- SOUZA, Laura de Melo. História da Vida Privada no Brasil. Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa. v. 1º. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
- STUDART, Guilherme. Geografia do Ceará. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2010.
- STUDART, Guilherme. Datas e Factos para a História do Ceará. 2º v. Edição Fac-simile. Fortaleza: SECULT, 2001.
- TAVARES, Iris Eliete Teixeira Neves de Pinho. O Município Brasileiro: Sua Evolução Histórico Constitucional. Rio de Janeiro. 1997.
- THÉBERGE, Pedro. Esboço Histórico Sobre a Província do Ceará. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001.
- TORRES VIANA, José Vandeir. História de Itatira: dos primórdios aos dias atuais. Canindé: Gecanindé, 2019.
- UCHOA RIBEIRO. Valdir. Conselhos de Intendência do Ceará. Fortaleza: Premius Editora, 2005.
- VIEIRA JÚNIOR, Antônio Otaviano. Entre Paredes e Bacamartes. História da Família no Sertão (1780-1850). Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004
- VIEIRA FILHO, José. Minha História Contada por Mim Mesmo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2008.
- WEHLING, Arno & WEHLING, Maria José C. de M. Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.