Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro

AS INFORMAÇÕES BÁSICAS:

A SANBRA – a Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro S/A, é a sigla de uma empresa que antes de ser desativada no Município de Boa Viagem tinha o seu escritório localizado na Rua Aderbal Carneiro de França, nº 66, no Bairro Osmar Carneiro, na cidade de Boa Viagem, no Estado do Ceará.

Imagem do escritório da SANBRA, em 2012, hoje desativado.

Durante anos essa empresa, que algum tempo depois recebeu a concorrência da BAISA, a Boa Viagem Agroindustrial S/A, foi uma das grandes compradoras de algodão e mamona em nossa região.

O OURO BRANCO NO MUNICÍPIO DE BOA VIAGEM:

A cotonicultura, durante muitos anos, se constituiu em uma importante atividade agrícola para história econômica do Estado do Ceará, especialmente para o Município de Boa Viagem:

“Boa Viagem, antes do aparecimento da praga do bicudo, por volta de 1986, configurava entre os dez maiores produtores de algodão do Estado. Em 1973, por exemplo, produziu um milhão de arrobas. A partir de 1983, com as pesadas estiagens e a presença indesejável do inseto devorador de nosso ‘ouro branco’, houve uma grande redução na produção desse precioso produto. Em 1994, colhemos, aproximadamente, 100.000 arrobas e em 1999, 34.200.” (NASCIMENTO, 2002: p. 33-34)

Através do chamado “Ouro Branco” o Município de Boa Viagem tornou-se conhecido e destacou-se como um dos grandes produtores de algodão do Ceará, chegando até a possuir algumas pequenas fábricas de beneficiamento da preciosa pluma:

“Tivemos, ainda, fábricas de beneficiar algodão, pertencentes a Salviano de Souza Leitão, José Leorne Leitão, Manoel Araújo Marinho, Antônio Ximenes de Aragão, Francisco Felix Marinho, Raimundo Soares e a João Barbosa Lima Filho.” (NASCIMENTO, 2002: p. 34)

Com essa significativa produção da fibra logo o Município chamou atenção da SANBRA, uma importante empresa especializada em produtos como o agave, óleo, mamona e outros artigos comestíveis, além de trabalhar com o próprio algodão.

Imagem dos funcionários da SANBRA no fim da década de 1960.

A empresa, que é uma filial da companhia argentina BUNGE, a partir dos primeiros anos de 1920, aos poucos, foi se expandindo pelo Nordeste brasileiro até que, em 1935, instalou-se em Campina Grande, no Estado da Paraíba.
Alguns anos depois, com a finalidade de comprar o algodão e a mamona que eram produzidos na região do Sertão Central, uma agência da empresa se instalou no Bairro de Nossa Srª de Fátima.
A sua instalação deu-se por volta de 1962, sendo o senhor Abdon Francisco da Rocha o seu primeiro gerente até meados de 1972, quando foi substituído por Clóvis Oliveira, que permaneceu até 1973, ano em que a aludida empresa foi extinta em nossa cidade.

Imagem de um caminhão carregado com algodão, década de 1970.

Nessa época o produto adquirido do campo era cuidadosamente estocado próximo ao escritório da empresa no Bairro de Nossa Srª de Fátima, para depois ser transportado para Campina Grande, onde recebia o beneficiamento.

A CIDADE DE CAMPINA GRANDE E O ALGODÃO:

Na cidade de Campina Grande, que na época era considerada a Liverpool brasileira, por ser o local onde era constituída à fábrica, a sede da empresa era uma verdadeira cidade, pois gerava vários empregos, diretos e indiretos.
Sobre esse assunto, segundo uma reportagem do Diário da Borborema, que foi realizada pelo jornalista Severino Lopes, descobrimos que essa empresa atraiu importantes investimentos para cidade de Campina Grande:

“Outra multinacional, a Anderson Clayton, aportou na cidade na época causando impacto na economia local e atraindo comerciantes e grandes firmas exportadoras. Todas foram obrigadas a se modernizar e a investir para não correr o risco de ser engolida dentro do processo de competição.”

Ainda sobre esse assunto, de acordo com o historiador Gervásio Batista Aranha, em Campina Grande, com a sua instalação, ocorreu um grande desenvolvimento local, pois próximo à indústria foram sendo criados vários comércios, produzindo riqueza para uma cidade que não parava de crescer.
Conhecida como a “Liverpool” brasileira, a cidade era o segundo pólo de comércio de algodão do planeta e é de consenso histórico que se o Estado da Paraíba tivesse a época um porto do tamanho do de Recife, Campina Grande seria a primeira no ranking mundial do comércio de algodão e até poderia ser uma das maiores cidades do Nordeste.

Imagem da fábrica da SANBRA, na cidade de Campina Grande.

Evidentemente que ao chegar à cidade de Campina Grande a SANBRA representou um marco na vida econômica da cidade, pois ela investiu não só no setor de comercialização do algodão, mas no setor de transformação do trabalhando com a fabricação de óleo de caroço de algodão e pasta para gado, não sendo apenas um depósito.
Ainda sobre esse assunto, disse o historiador Gervásio Batista Aranha em reportagem do Diário da Borborema, que uma das principais teorias para o declínio do comércio do algodão em Campina Grande foi o fato que após a quebra da bolsa em 1929, os grandes produtores de café de São Paulo optaram por outros tipos de lavouras, entre elas o cultivo do algodão.
A concorrência foi fatal para uma cidade que não tinha como aumentar a sua produção em virtude de não ter como exportar em larga escala por conta dos problemas portuários aqui já citados.

O BICUDO E O DECLÍNIO DA PRODUÇÃO DE ALGODÃO:

A praga do bicudo, até hoje muito mal explicada, foi o “tiro definitivo” no outrora grande comércio de algodão em todo o Nordeste.

Imagem do bicudo, inseto que contribuiu para o declínio da produção algodoeira.

A BUNGE, aos poucos, resolveu fechar todas as suas agências, trazendo um grande prejuízo para a região, entre os fatores que levara a desativação da SANBRA em Boa Viagem podemos destacar:

  1. A estiagem;
  2. As pragas;
  3. A destruição dos inimigos naturais do bicudo;
  4. A distância entre a empresa e o produtor;
  5. A falta de assistência técnica dos órgãos governamentais;
  6. As técnicas de manejo do solo já ultrapassadas;
  7. Os atravessadores;
  8. A compra do produto na folha.

Nos anos que se seguiram, ainda acreditando na exploração dessa cultura, o Governo Municipal, através de sua secretaria da agricultura, vem tentando investir no seu renascimento, algo muito difícil, pois depende do desejo do mercado consumidor e de vários fatores alheios ao poder de seus produtores.

Imagem de agricultores da região e um seminário sobre o plantio do algodão, em 1999.

Nessa jornada, ao longo dos anos, um importante parceiro é a EMATERCE, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará, que dentro de suas possibilidades presta consultoria aos agricultores interessados na reimplantação e desenvolvimento dessa cultura.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BANCO DO NORDESTE DO BRASIL. Boa Viagem. Fortaleza: Sem editora, 1983.
  2. FRANCO, G. A.; CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
  3. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  4. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão. A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Fortaleza: PREMIUS, 2015.