Boa Ventura

AS INFORMAÇÕES BÁSICAS:

A Boa Ventura, que também é conhecida como Fazenda Boa Ventura, é um pequeno povoado existente na zona rural do Município de Boa Viagem, que está distante pouco mais de 36 quilômetros do Centro da cidade de Boa Viagem, no Estado do Ceará.

Imagem da localidade de Boa Ventura, em 2020.

Dentro da divisão politico-geográfica, em relação ao Marco Zero, essa localidade está localizada na região norte do Município, dentro dos limites do território do Distrito de Boqueirão.

A ORIGEM DE SEU TOPÔNIMO:

Designação toponímica classificada como complexa, esse termo significa boa sorte, tendo origem no nome italiano “bonaventura”, que é formado a partir da união das palavras “buona”,  que quer dizer “bom, boa” e “ventura”, que quer dizer “sorte”, tendo sido conhecida em um passado distante como “Poço Cercado”, sendo desconhecido o tempo e o motivo de sua modificação.

AS SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:

Estando no pé da Serra do Boqueirão, em um passado longínquo, essa localidade já possuía algumas casas distantes umas das outras, sendo a maioria de taipa, servindo às famílias dos trabalhadores rurais que eram moradoras das várias fazendas existentes nessa região, que desde essa época já viviam da criação extensiva de gado e do plantio de culturas como milho, feijão, algodão, mandioca e outras nas terras que margeiam o Rio Conceição, também conhecido como “Rio dos Cachorros”.
O primeiro topônimo conhecido dessa localidade foi Poço Cercado, que até 1895 pertencia ao casal Francisco da Costa Freire e Maria Carolina de Paula, que lhe adquiriram por compra de Lázaro Alves Feitosa.

“Era agropecuarista e durante muitos anos residiu com a sua família em uma localidade denominada de Poço Cercado, atualmente conhecida como Fazenda Boa Ventura, nas proximidades do Rio Conceição, dentro do território do Distrito do Boqueirão. Foi casado com Maria Carolina de Paula, com quem gerou vários filhos, dentre eles destacamos:  Manoel da Costa Freire, Antônia Carolina de Paula, Joaquim da Costa Freire, João da Costa Freire, Cordulino da Costa Freire, José Paulo da Costa, Rogério José da Costa, Francisco da Costa Freire Filho e Maria Henrique de Nazaré, que depois de casada passou a se chamar de Maria de Nazaré Bezerra.” (SILVA JÚNIOR, 2021: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/francisco-da-costa-freire/. Acesso no dia 11 de agosto de 2023)

Nesse ano, no dia 15 de abril, com o inesperado falecimento do patriarca, os seus herdeiros abriram um inventário de forma amigável e dividiram o seu patrimônio.
Algum tempo depois, ainda desconhecemos o motivo e o tempo em que ocorreu essa mudança, possivelmente na primeira metade do século XX, já pertencendo ao agropecuarista José Alves de Oliveira, essa localidade teve o seu topônimo modificado.

Imagem da casa sede da Fazenda Boa Ventura, em 2020.

Nessa época, nos primeiros anos da década de 1930, mesmo com as incertezas da seca, essa localidade assistiu o seu primeiro surto de progresso, inicialmente com as melhorias físicas de sua capela, que foram patrocinadas pelo seu proprietário, e logo depois com a construção ou ampliação de seu principal açude, possivelmente com mão de obra financiada pelo Governo do Estado.

“Diante disso, segundo registros paroquiais, possivelmente nos últimos anos da década de 1890, surgiu no coração de seus frequentadores a necessidade de um espaço adequado para essas celebrações, quando essa capela ficou conhecida como ‘Capela de São José do Rio Nossa Senhora da Conceição.’ Mais tarde, por volta de 1930, essa capela passou por algumas melhorias patrocinadas pelo Agropecuarista José Alves de Oliveira, tendo recebido a sua bênção em uma solenidade presidida por Dom Manoel da Silva Gomes, bispo de Fortaleza, quando esteve em visita pastoral a essa freguesia.” (SILVA JÚNIOR, 2019: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/capela-de-sao-jose-boa-ventura/. Acesso no dia 19 de abril de 2020)

Depois disso, por volta de 1939, por muito pouco essa propriedade não foi adquirida por uma família de protestantes que migravam do Estado da Paraíba, negócio que só não foi concretizado por conta da interferência do Mons. José Gaspar de Oliveira.

“Com todos esses parentes morando no Ceará, Manoel Maria de Jesus resolveu se aventurar em Boa Viagem, e, em 1939, veio averiguar a região para confirmar a compra de uma propriedade que antes de sua vinda havia sido intermediada por um de seus filhos que já morava aqui. A propriedade era chamada de Boa Ventura, media 2.000 ha., a 36 km da sede do Município e pertencia a José Alves de Oliveira. O negócio foi acertado pelo valor de 63 mil contos de réis. O motivo da venda se deu pelo fato de José Alves de Oliveira ter constituído uma nova família e estar se separando de sua primeira esposa, Corina Pereira Nóbrega. Esse fato levou a José Alves de Oliveira a se mudar para o Choró Limão, Distrito de Quixadá, de onde resolvia o negócio da venda. Para finalizar o negócio, Manoel Maria de Jesus decidiu enviar para o Ceará, no intuito de concretizar a transação, dois de seus filhos, Cícero e Pompeu, que a contra gosto vieram, pois não queriam sair do Jacu. Entretanto, quando chegaram a Boa Viagem, foram se agradando da terra e mudaram de opinião. O negócio estava prestes a ser fechado quando o pároco do Município, Pe. José Gaspar de Oliveira (*1905 †2000), interrompeu o acordo, visto que, na propriedade, havia um templo romano e este alegava que os protestantes iriam derrubá-lo.” (SILVA JÚNIOR, 2015: p. 181-182)

Depois desse episódio, entre 1940 e 1945, surgiu o proprietário ideal para posse desse terreno, pois sem a intromissão de terceiros foi negociada com o General José Góes de Campos Barros, que lhe adquiriu pelo montante de 150 mil-réis, tendo entre seus trabalhadores presidiários da capital que por ali constituíram família.
A venda dessa localidade gerou um burburinho sobre o destino de aplicação de parte desse dinheiro, fato que até nos dias de hoje ainda é comentado na região por seus moradores.
Conta-se que depois de dividido, ao retornar para Serra do Baturité, sem existir bancos na região, José Alves de Oliveira colocou o dinheiro dentro de uma “cumbuca” e esta dentro de uma parede até que, por conta da inflação, dentro de algum tempo o dinheiro perdeu o seu valor, tendo sido inclusive retirado de circulação.

“O novo padrão monetário, o cruzeiro, planejado desde a criação da Caixa de Estabilização em 1926, só entrou definitivamente em circulação em 1942, com valor correspondente a 1.000 réis e subdivisão em centavos e simbolizado por Cr$… No que tange ao papel-moeda, a última emissão do Tesouro Nacional com o padrão mil-réis ocorreu em 1936, nos valores de 200.000, 100.000 e 50.000. Aproveitaram-se, de início, as cédulas do Tesouro Nacional do antigo padrão, que receberam um carimbo com o respectivo valor em cruzeiros. Para atender às necessidade de troca, as antigas cédulas de 1.000 réis do Banco do Brasil foram utilizadas com o valor de 1 cruzeiro, sem aposição do carimbo. As emissões do Tesouro Nacional tiveram início em 1943 com cédulas fabricadas pela American Bank Note Company. Cédulas de 5.000 réis, com o retrato do Barão do Rio Branco, passaram a substituir as moedas desse mesmo valor devido à escassez de matéria-prima para a cunhagem de moedas durante o tempo da guerra (1943-1945).”

Nesse meio tempo, ao ser explorada por um proprietário de outra região, que foi habituado a ver outras formas de produção e com poder aquisitivo diferenciado dos demais, logo a propriedade foi equipada com um engenho e outras novidades tecnológicas para o campo.

Imagem das ruínas do engenho da Fazenda Boa Ventura, em 2004.

Nesse engenho se produzia muita rapadura e cachaça, fazendo com que essa propriedade passasse a ser bastante conhecida em toda região como local de grande fartura e desenvolvimento.

“Uma propriedade muito bem estruturada pelo general, com o plantio de feijão de corda, milho, mandioca, algodão herbáceo e mocó, cana-de-açúcar, engenho para fabrico de rapadura e cachaça. Funcionou como um centro de irradiação de novas técnicas, comprovando o sucesso, pela fartura dominante e o seu desenvolvimento no amplo sentido.” (FAMÍLIAS CEARENSES. Disponível em http://www.familiascearenses.com.br/index.php/2-uncategorised/116-um-bairro-chamado-damas-genealogia-5-parte. Acesso no dia 19 de abril de 2020)

Nessa mesma época, na extensão da propriedade que margeia o rio, foram edificados canais de irrigação que levavam água para o campo por meio de gravidade. Esses canais eram alimentados por três represas existentes dentro do perímetro dessa localidade, o “Açude Grande”, que recebe o nome da localidade; o “Açudinho”, que recebe o nome de Açude Boa Ventura II, e o Açude Madeira Cortada, que fica na outra margem do Rio Conceição.

Imagem de uma das calhas de irrigação, em 2020.

Nos primeiros meses de 1962, desejando estar mais próximo de suas posses, o General Góes negociou a sua posse com o agropecuarista Clóvis Holanda de Oliveira.
Nessa época, por volta de 1965, os moradores dessa localidade receberam uma equipe de professores da UFBA – a Universidade Federal da Bahia, e da Universidade da California, em destaque os antropólogos Dr. Allen Willard Jonnson e Dr. Carlos Caroso, que promoveram diversos estudos com a população local, regressando com outros experimentos em outras oportunidades.
Mais tarde, em 1997, essa fazenda foi negociada com o INCRA – o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, onde o seu patrimônio foi avaliado da seguinte forma:

“Assim sendo, restou perfeitamente esclarecido na decisão embargada, inclusive em seu dispositivo, ao fixar a indenização nos seguintes termos: R$ 117.230,86 – referente ao VTN [Valor da Terra Nua]; R$ 514.947,84 – referente às benfeitorias não reprodutivas e R$ 5.486,40 pelas benfeitorias reprodutivas, perfazendo um total a ser indenizado de R$ 637.665,10.” (REVISTA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL: Disponível em https://www5.trf5.jus.br/boletins/revista_jurisprudencia/documentos/59.pdf. Acesso no dia 24 de maio de 2020)

Depois de consumado os atos legais o INCRA instalou um de seus assentamentos com 70 edificações, que foi divido em três núcleos: o Assentamento Boa Ventura, com 53 casas, escola, capela e posto telefônico; a Boa Ventura, com 7 casas nas proximidades da casa sede da fazenda, e os Pereiros, onde foram construídas 13 casas e posteriormente o Governo Municipal construiu uma escola.
No presente, a Boa Ventura e o Assentamento está localizado na margem do trecho carroçável da Rodovia Estadual CE-265, que eventualmente recebe melhorias pelo Governo do Estado.

“A obra tem início saindo da BR-020 até o Assentamento Boa Ventura e segue até a localidade de Belo Horizonte beneficiando os moradores da região de Boqueirão e a todos que trafegam por aquelas estradas… O benefício é uma parceria da prefeitura com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/CE).” (População da zona rural recebe obra de piçarramento de mais de um milhão de reais. Disponível em https://www.boaviagem.ce.gov.br/informa.php?id=80. Acesso no dia 6 de fevereiro de 2020)

Segundo o relato dos moradores mais antigos da região, por conta da fertilidade existente no solo, todos os seus proprietários nutriram o sentimento de arrependimento por terem se desfeito dessa fazenda.

AS LOCALIDADES DE SUA VIZINHANÇA:

O acesso para localidade de Boa Ventura, saindo da cidade de Boa Viagem, é feito por via terrestre por meio da Rodovia Federal Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, a BR-020, seguindo depois pelo trecho carroçável da Rodovia Estadual CE-265.

Imagem do mapa da região.

A localidade de Boa Ventura tem em sua vizinhança as seguintes localidades: Areia dos Albertos, Assentamento Boa VenturaAroeiras, Catirina, Pereiros, Rodeador e Lajes dos Rogérios, ficando no limite com o Município de Madalena.

OS EQUIPAMENTOS EXISTENTES NA LOCALIDADE:

Na localidade de Boa Ventura os seus habitantes possuem alguns equipamentos para facilitar as suas vidas, bem como a dos moradores de sua vizinhança, sendo eles:

  1. Capela de São José;
  2. A Escola de Ensino Fundamental Neusa Guedes de Campos Barros;
  3. O Açude da Boa Ventura;
  4. O Açude da Boa Ventura II;
  5. O Cemitério da Boa Ventura – Abandonado.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BRAGA, Renato. Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Ceará. v. 1º. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1964.
  2. FAMÍLIAS CEARENSES. Um bairro chamado Damas. Disponível em http://www.familiascearenses.com.br/index.php/2-uncategorised/116-um-bairro-chamado-damas-genealogia-5-parte. Acesso no dia 19 de abril de 2020.
  3. FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
  4. JOHNSON, Allen Willard. Sharecroppers of the Sertão. Economics and Dependence on a Brazilian Plantation. Califórnia: Stanford University Press, 1971.
  5. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  6. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Andarilhos do Sertão: A Chegada e a Instalação do Protestantismo em Boa Viagem. Boa Viagem: Premius, 2015.
  7. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Capela de São José. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/capela-de-sao-jose-boa-ventura/. Acesso no dia 19 de abril de 2020.
  8. SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Francisco da Costa Freire. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/francisco-da-costa-freire/. Acesso no dia 11 de agosto de 2023.

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