Ataciso Cavalcante Mota

Ataciso Cavalcante Mota nasceu no dia 26 de fevereiro de 1906 no Município de Tauá, que está localizado no Sertão dos Inhamuns, no Estado do Ceará, distante 402 quilômetros da cidade de Fortaleza, sendo filho de Aureliano Cavalcante Mota e de Amélia Cavalcante Mota.
Os seus avós paternos se chamavam Vicente Ferreira da Mota e Maria Linda de Barros Cavalcante Mota, já os maternos eram Agostinho Silveira de Carvalho e Isabel Cavalcante de Carvalho.
Em sua infância e juventude, viveu com os seus pais em uma propriedade denominada de Sítio Todos os Santos, dentro dos limites geográficos do Distrito de Marruás, na zona rural do Município de Tauá.

“Marruás foi colonizado por fazendeiros oriundos do litoral pernambucano e do norte potiguar, logo após se instalarem na região central, ao final do século XVII, sendo uma das mais antigas povoações da região. O povoado fazia parte da estrada das boiadas (estrada onde o gado, principal criação do período, era transportado para ser vendido em outras regiões), que margeava o riacho Favelas, onde se localizava Boa Vista, atual vila de Marruás. A construção de uma nova capela, concluída no ano de 1822 e ampliada em 1874, coincide com a adoção de Santa Rita de Cássia como padroeira. Em 02 de setembro de 1874, através de Lei Provincial, é criado o distrito de Marruás, anexado a São João do Príncipe. Esta condição se mantém na reorganização administrativa de 1911, mas parte de seu território (Carnaúba) se desmembra para o vizinho Município de Maria Pereira, hoje Mombaça. Por meio do decreto nº 1.156, de 04 de agosto de 1933, o distrito passa também a pertencer ao Município vizinho, retornando em 13 de setembro de 1934, por força de um novo decreto, de nº 1.404. Em 1963, é elevado a categoria de Município pela Lei Estadual nº 6.663, retornando novamente a ser Distrito de Tauá em 1965.” (PREFEITURA DE TAUÁ, 2015: Disponível em http://www.taua.ce.gov.br/distrito/marruas. Acesso no dia 13 de julho de 2018)

Mais tarde, quando chegou a época de estudar, frequentou durante alguns meses uma escola na localidade de Catarina que era dirigida pelo Professor Gentil Domingues.
Nos últimos meses de 1931, depois de algum tempo de namoro, contraiu núpcias com uma parente, Luzia Sobreira Mota, que nasceu no dia 17 de outubro de 1914 e era carinhosamente conhecida pelo apelido de “Nenzinha”, sendo filha de Humildes Alves Sobreira e de Cristina Jatay Sobreira. Desse feliz matrimônio foi gerado apenas um filho, sendo ele o Dr. José Aroldo Cavalcante Mota.

“Quando do nascimento de seu único filho do primeiro matrimônio engravidou uma prima, com quem teve uma filha, ocasionando uma intriga terrível por parte dos parentes da moça, obrigando-o a mudar-se de Marruás para cidade de Boa Viagem com a mulher e o filho recém nascido.” (CAVALCANTE MOTA, 2003: p. 143)

Pouco tempo depois desses fatos, no dia 20 de junho de 1939, segundo informações existentes no livro C-02, pertencente ao Cartório Geraldina, tombo nº 566, folha 30v, sofreu com a notícia do repentino falecimento de sua esposa, ocorrido na cidade de Quixeramobim, sendo depois disso sepultada no Cemitério Parque da Saudade, que está localizado na Rua Joaquim Rabêlo e Silva, nº 295, na cidade de Boa Viagem.
Antes disso, em Boa Viagem, por recomendação de pessoas influentes do Município de Tauá, conheceu o agropecuarista Francisco Deoclécio Ramalho, com quem estabeleceu uma sociedade comercial, conseguindo dentro de pouco tempo construir uma pequena fortuna.

“Em Boa Viagem, por recomendação do Cel Zeca Bastos, de Tauá, o fazendeiro Deoclécio Ramalho, com quem contratou uma sociedade para compra e venda de gado bovino, que durou toda a vida de ambos. O negócio visava comprar gado na região dos Inhamuns transportando os animais a pé para venda em Fortaleza… Em Fortaleza a boiada se dirigia à ‘Feira do Gado”, em Parangaba, para a disputa comercial entre os marchantes… A sociedade entre Ataciso e Deoclécio constitui-se na maior fornecedora de animais para consumo em Fortaleza.” (CAVALCANTE MOTA, 2003: p. 143-144)

Mais tarde, no dia 5 de novembro de 1944, segundo informações existentes no livro B-11, pertencente à secretaria da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, tombo nº 73, página 19, diante do Mons. Pedro Vitorino Dantas, contraiu núpcias com Nilda Carvalho Mota, nascida no dia 8 de agosto de 1920, sendo filha do Cel. José Cândido de Carvalho com Maria Emília Araújo de Carvalho.
No pleito eleitoral ocorrido no dia 7 de dezembro de 1947, militando nos quadros políticos do PSP – o Partido Social Progressista, desejando entrar na vida pública por meio de um mandato eletivo na Câmara Municipal de Vereadores, conseguiu ser eleito para uma das vagas do Poder Legislativo do Município de Boa Viagem ao receber 144 votos.

“Na política, quase todos os boiadeiros eram do Partido Social Progressista, do Professor Olavo Oliveira… Em Boa Viagem, a política girava entre os boiadeiros: Ataciso, Joaquim Vieira, Teofinho, do PSP; José de Lima e José Inácio, da UDN. O PSD não existia no Município. Ataciso foi em várias legislaturas vereador à Câmara Municipal.” (CAVALCANTE MOTA, 2003: p. 144)

Pouco tempo depois desse resultado, segundo informações existentes no livro B-11, pertencente ao Cartório Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 1.438, folha 187, no dia 7 de janeiro de 1948, confirmou os seus votos em uma cerimônia de casamento civil.
Desse relacionamento conjugal foram gerados oito filhos, todos homens, sendo eles: Ataciso Cavalcante Mota Filho, Aureliano Cavalcante Mota Terceiro, Hélio Cavalcante Mota, Francisco de Assis Carvalho Mota, José Cândido de Carvalho Neto, Jorge Alberto Carvalho Mota, Fernando Antônio Carvalho Mota e Hélder Carvalho Mota.

Imagem da família Cavalcante Mota.

Na eleição municipal seguinte, que aconteceu no dia 3 de outubro de 1950, ainda no PSP, desejando a sua reeleição, foi reconduzido à Câmara de Vereadores para o exercício de mais um mandato eletivo depois de receber a confiança de 245 eleitores, sendo o vereador com a segunda maior votação desse pleito.
Nessa legislatura, inicialmente prestou apoio aos projetos encaminhados pelo gabinete do Prefeito Aluísio Ximenes de Aragão, sendo eles: aprovação da compra de máquinas agrícolas, que posteriormente foram destinadas ao auxílio de pequenos agricultores; reforma e construção da área interna do Mercado Público Municipal Jessé Alves da Silva, que foi destinado à venda de carne; abertura e pavimentação em paralelepípedo de ruas do Centro da cidade; serviço de abertura e manutenção de rodovias municipais; manutenção do funcionamento de 39 escolas; reforma da cadeia pública; manutenção do motor e do gerador de iluminação da cidade e de campanhas em favor da vacinação do rebanho.
Ainda nessa época, deu parecer favorável a consulta que foi encaminhada pelo Governo Federal em favor da estatização do petróleo e acompanhou os trabalhos do Governo Municipal na luta contra um surto de varíola que atingiu o Município.
Nessa mesma legislatura, tendo preferência por um dos vereadores de seu partido, Francisco Vieira Lima, que era suplente, foi um dos protagonistas que ficaram inconformados com a posse do Vereador Eduardo Patrício de Almeida, que não assumiu a sua função no início dessa legislatura por conta de problemas em seus documentos.
Esse fato ocorreu em uma sessão no dia 16 de novembro de 1953, ficando registrado da página 43 à página 44v do livro de atas da Câmara Municipal:

“Declarando a seguir, o sr. presidente deu posse ao Vereador Eduardo Patrício de Almeida. Em seguida os Vereadores Ataciso Cavalcante Mota, Luiz Araújo, João Abreu Lima, Joaquim Pereira Cavalcante e o suplente de vereador, Francisco Vieira Lima, retiraram-se do recinto da sessão por não concordarem com o ato do presidente… Com data de 13 de novembro, mas só hoje recebido pelo sr. presidente, foi apresentado pelo suplente, o Vereador Francisco Vieira Lima, o requerimento solicitando a cassação do mandato do Vereador Eduardo Patrício de Almeida… Nesta ocasião, foi entregue o livro de presença para todos assinarem até que, ao chegar as mãos do Vereador Ataciso Cavalcante Mota, depois de assinar, chamou o suplente de vereador já afastado do exercício para assinar, e neste ato, contra o Vereador Eduardo Patrício de Almeida, foi agredido em palavras com o maior despautério humano… o suplente de vereador foi mandado afastar-se, e puxando o livro o deixou em pedaços, porque Cassimiro Nogueira Filho, secretário da prefeitura, e o Sr. Aluísio Ximenes de Aragão quiseram o tomar de suas mãos.”

Depois desse fato desagradável, os vereadores da bancada do PSP se recusaram em assinar o livro de atas.
Na eleição ocorrida no dia 3 de outubro de 1954, ainda militando na bancada do PSP, desejando conseguir o seu terceiro mandato, não conseguiu obter êxito nas urnas, ficando na suplência do seu partido.
Algum tempo depois dessa disputa, no dia 18 de setembro de 1957, por conta de uma licença solicitada pelo Vereador Raimundo Alves Campos, foi convidado pela mesa diretora da Câmara para assumir esse mandato.
Nessa legislatura, deu total apoio ao projeto do Prefeito Delfino de Alencar Araújo para construção do Açude Público José de Alencar Araújo, na localidade de Capitão-mor, que durante muitos anos serviu para abastecer a população da cidade de Boa Viagem.
Nos primeiros anos da década de 1960, desejando dar melhores condições de estudo para os seus filhos, decidiu migrar com a sua família para cidade de Fortaleza, onde costumava receber o seu gado para o abate no FRIFOR – o Frigorífico de Fortaleza.

Imagem de sua residência, na cidade de Fortaleza.

Nesse período, costumeiramente retornava para a sua terra natal no intuito de fiscalizar os serviços em suas duas propriedades, que se chamavam Fazenda Patos e Fazenda São José.

“Quando tudo parecia às mil maravilhas para os boiadeiros, eis que o mundo começou a mudar com o impacto das transformações ocorridas na segunda metade do século XX. O caminhão, único transporte de Boa Viagem para Fortaleza, passou a ocupar o seu espaço com muita majestade. Antes só transportava bode e porco para Fortaleza. De repente, um caminhão contratado pelo Joaquim Vieira transformou a carroceria em gaiola e transportou vinte gados para o consumo em Fortaleza… Em dez dias transportava duzentos animais, enquanto a pé, no mesmo período, os tangerinos só conseguiam conduzir cinquenta animais. O boi levado de caminhão, praticamente não sentia diferença no peso e na qualidade da carne. Todos os boiadeiros aderiram a nova formula, Ataciso não. Teimou e se deu mal. Perdeu o capital. Mas, não perdeu a capacidade de trabalhar. Depois de muita teimosia aderiu ao caminhão e foi até o fim da vida.” (CAVALCANTE MOTA, 2003: p. 145)

Alguns anos depois desses fatos, em 1987, padecendo de câncer, veio a óbito na cidade de Fortaleza.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi sepultado por seus familiares no Cemitério Parque da Paz, que está localizado na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, nº 4.445, no Bairro Passaré, na cidade de Fortaleza.

BIBLIOGRAFIA:

  1. BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Avivando Retalhos – Miscelânea. 2ª edição. Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1983.
  2. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. Os Morros – Realidade e Ficção. Fortaleza: ABC Editora, 2003.
  3. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
  4. PREFEITURA DE TAUÁ. História do Distrito de Marruás. Disponível em http://www.taua.ce.gov.br/distrito/marruas. Acesso no dia 13 de julho de 2018.
  5. TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ. Primeiras Eleições e Acervo Documental. Fortaleza: TRE, 2007.

HOMENAGEM PÓSTUMA:

  1. Em sua memória, na gestão da Prefeita Patrícia Pequeno Costa Gomes de Aguiar, por meio da lei nº 2.260, de 18 de março de 2016, na localidade de Cachoeirinha do Pai Senhor, no Município de Tauá, uma rua recebeu a sua nomenclatura.