AS INFORMAÇÕES BÁSICAS:
O Açude da Comissão de Socorros e Serviços Públicos foi uma pequena represa construída nos últimos anos do século XIX pelo Governo da Província do Ceará e tinha por finalidade abastecer aos moradores da cidade de Boa Viagem, centro urbano que está localizado no Sertão de Canindé, no Município de Boa Viagem, no Estado do Ceará.
Uma barragem, que também recebe o nome de açude, ou represa, é uma barreira artificial feita de concreto ou terra compactada, construída em rios ou riachos, para a retenção de grandes quantidades de água.
A BASE LEGAL DE SUA NOMENCLATURA:
Essa represa nunca recebeu uma nomenclatura do Governo Municipal, sendo que esse vocativo foi utilizado por muito tempo por conta do grupo de pessoas que coordenou a sua construção.
A HISTÓRIA DE SUA CONSTRUÇÃO E O SEU FIM:
Esse pequeno açude foi construído em etapas nos últimos anos do século XIX, especialmente entre os anos de 1877 a 1888, momento em que utilizou a mão de obra das vítimas da seca nas frentes de trabalho que eram patrocinadas com recursos da Coroa.
Em uma das etapas de sua construção, nos últimos meses de 1879, alguns dos seus trabalhadores foram acometidos por varíola e febre, tendo falecido dentro de poucos dias cinco pessoas, algo que assustou aos membros da Comissão de Socorros e a Câmara Municipal de Vereadores, que imediatamente autorizou a contratação de um boticário chamado Raimundo Albertino de Carvalho, profissional que colocou os doentes em isolamento em uma casa afastada do centro da vila, onde prestou assistência médica.
Sobre os falecidos com essas doenças, onde infelizmente não possuímos as suas identidades, os seus corpos foram sepultados no Cemitério Parque da Saudade, onde ainda existem túmulos que contam a história dessa época.
Nesse meio tempo, segundo informações existentes no periódico Gazeta do Norte, ano III, página 3, nº 272, edição do dia 7 de dezembro de 1882, uma quinta-feira, por determinação da Assembleia Provincial, foi liberada uma verba de 1:000$000 (hum conto de réis) para sua construção.
Ainda nessa época, sendo beneficiada pela lei Pompeu-Sinimbú, a Comissão de Socorros e Serviços Públicos do Município de Boa Viagem investiu a mão-de-obra dos desvalidos para sua construção.
“Esse projeto pretendeu corrigir o desequilíbrio econômico entre o Norte e o Sul a partir da proposta de aproveitar a força de trabalho disponível durante as secas para realizar obras públicas, haja vista que elas significavam progresso material. Para tornar exequível essa proposta foi necessária elaborar uma política de socorros públicos, caracterizada por uma estrutura de assistência aos desvalidos que fosse centralizada em Fortaleza, capital do Ceará. Essa política de socorros evoluiu junto com o projeto de progresso, posto que ambos estavam interligados.” (FREITAS SOUZA, 2015: p. 179)
Nessa época, os recursos destinados a execução dessa obra eram administrados por uma comissão de moradores da cidade, de preferência governistas, que eram previamente nomeados para essa finalidade no intuito de favorecer apenas aos seus aliados.
Sem a existência de tratores ou máquinas de tração que revolvessem a terra como temos hoje, a sua construção só pôde acontecer graças ao trabalho braçal dos vários homens envolvidos na obra, que utilizavam os animais de carga para arrastar a terra em couros de boi para aos poucos formar a parede de contenção da represa.
No dia 18 de dezembro de 1906, fornecendo informações sobre a capacidade hídrica do Município de Boa Viagem, o Intendente Francisco de Assis Marinho relatou em um ofício a existência de 24 pequenos açudes, sendo 23 particulares e um público, fornecendo ainda algumas particularidades dessa represa, uma delas é que ele sangrou pela primeira vez em 1894.
Nos primeiros meses de 1920, na gestão do Prefeito Coronel José Cândido de Carvalho, o Município de Boa Viagem passava por outra impiedosa seca e graças a intervenção do Governo do Estado o acesso entre a cidade de Boa Viagem e o Quixeramobim foi aberto, passando por cima da parede dessa barragem, involuntariamente tornando-a por muitos anos um cartão postal e de lazer da cidade.
“Era também comum, fora do inverno, nosso banho no açude da provisão. Fora construído num período de seca pelos ‘cassacos’, humildes e famintos agricultores que abandonavam suas propriedades agrícolas. Ficava praticamente no subúrbio, no fundo da casa do Zeca Pompílio…” (CARVALHO FILHO, 2008: p. 32)
Alguns anos depois, em 1954, na gestão do Prefeito Delfino de Alencar Araújo, logo após o término das obras do Açude Público José de Alencar Araújo – o Capitõ-Mor, essa represa aos poucos passou a ser desprezada pelos moradores da cidade.
Observamos na imagem acima algumas pessoas da Família Veras Araújo, que utilizaram o sangradouro do açude como ponto de encontro, em um dia de domingo, para registrar um agradável momento em família.
Com o passar dos anos, por conta das várias construções irregulares no seu entorno e das fracas quadras chuvosas, as suas águas foram sendo paulatinamente poluídas com o esgoto e pelo sabão da lavagem das roupas, causando grande incomodo aos moradores de suas proximidades por ter se tornado um depósito de sujeira e especialmente de pernilongos.
Por fim, nos primeiros meses de 1980, no governo do Prefeito Benjamim Alves da Silva, a parede de contenção das águas desse açude foi inutilizada e o local do seu reservatório, aos poucos, passou a ser aterrado para loteamento.
Para alguns moradores, se o Governo do Município na época tivesse preservado e revitalizado esse pequeno açude, hoje a cidade teria uma lagoa artificial próximo ao Centro, que sem dúvida seria um excelente ponto da exploração do turismo.
Em nossos dias a parede desse açude é à base da Rua Enedina de Carvalho e as suas águas estavam represadas dentro do perímetro onde hoje está uma parte do Bairro Boaviaginha.
Sobre a exploração turística, próximo da parece desse açude existe uma lavanderia desativada, que seria um ótimo local para construir um memorial sobre a seca de 1877-1879, abrigando também o acervo da Biblioteca Pública Municipal Venceslau Vieira Batista e o Arquivo Público Municipal.
AS CURIOSIDADES DO AÇUDE:
Uma barragem de sua importância exerceu muita influência sobre a população abastecida por ela, gerando alegria ou comoção por ocasião de seu sangramento ou seca:
- Os anos em que sangrou:
- 1894;
- 1974.
- Os anos em que ficou completamente seco:
- 1878;
- 1914;
- 1931;
- 1958.
Uma informação que merece ser mencionada nesse artigo foi a utilização de suas águas em 1973 como local de encontro para celebração de batismos pelos membros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério Templo Central.
“Na manhã daquele domingo de setembro, na bacia do Açude da Comissão de Socorros e Serviços Públicos de Boa Viagem, localizada entre os bairros Boaviaginha e José Rosa, quinze pessoas receberam o batismo por imersão, algo incomum até então na cidade de Boa Viagem que foi testemunhado por muitos curiosos.” (SILVA JÚNIOR, 2017: Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/igreja-evangelica-assembleia-de-deus-templo-central-historia/. Acesso no dia 2 de novembro de 2023)
Nessa época, a celebração desse tipo de ofício costumava reunir uma grande quantidade de curiosos, principalmente pessoas de confissão católica, que não estavam habituados a ver um batismo por imersão.
AS CARACTERÍSTICAS DO AÇUDE:
Esse açude, quando foi construído, possuía estas características, sendo que algumas delas podem ter sido modificadas por conta dos anos de assoreamento.
LOCALIZAÇÃO:
Administração: Governo Municipal.
Coordenadas: (S) 05º 06′ 23.7” (W) 039º 44′ 39.9”.
Município: Boa Viagem.
Distrito: Boa Viagem (Sede).
Localidade: Boa Viagem.
Sistema: Banabuiú.
Rio: Comissão.
HIDROLOGIA:
Bacia Hidrográfica:
Capacidade:
BARRAGEM:
Comprimento do Coroamento:
Largura do Coroamento:
Altura Máxima:
Cota:
SANGRADOURO:
Cota:
Largura:
TOMADA D’ÁGUA:
Tipo:
Comprimento:
Diâmetro:
BIBLIOGRAFIA:
- BRAGA, Renato. Dicionário Geográfico e Histórico do Ceará. Tomo II. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1967.
- FRANCO, G. A. & CAVALCANTE VIEIRA, M. D. Boa Viagem, Conhecer, Amar e Defender. Fortaleza: LCR, 2007.
- GOMES, Raimundo Pimentel. Corografia Dinâmica do Ceará. Fortaleza: Departamento de Imprensa Oficial do Ceará, 1970.
- NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
- SILVA JÚNIOR, Eliel Rafael da. Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério Templo Central. Disponível em https://www.historiadeboaviagem.com.br/igreja-evangelica-assembleia-de-deus-templo-central-historia/. Acesso no dia 2 de novembro de 2023.
- SOUSA BRASIL, Thomaz Pompeo de. Ensaio Estatístico da Província do Ceará. Tomo I. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 1997.
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